domingo, agosto 02, 2020

Infraestrutura do entretenimento no Brasil corre risco de apagão na retomada pós-pandemia

Marcelo Moreira



As mulheres que são mães terão suas carreiras erodidas ou destruídas pela pandemia, segundo vaticina texto publicado no site da revista Crescer, da Editora Globo. É uma consequência perversa que terá reflexos no mercado de trabalho e no valor da remuneração, que deve cair.

Em situação muito, mas muito pior estão os profissionais de infraestrutura de espetáculos e entretenimento. A manifestação que fizeram neste domingo (2), em São Paulo, chamou a atenção para o fato de que mais de 95% dos trabalhadores desse subsetor estão sem trabalhar e sem renda. 

Foram muito poucos que conseguiram acesso ao auxílio emergencial de R$ 600 pago pelo governo, já que a informalidade predomina entre esses trabalhadores que montam palcos, carregam equipamentos e fazem as ligações elétricas necessárias, entre outras atividades.

Como praticamente não existem cadastros confiáveis de artistas e profissionais de infraestrutura, e a informalidade predomina, esses profissionais ficaram de fora de qualquer programa assistencial na pandemia. E certamente ficarão de fora dos critérios estabelecidos pela Lei Aldyr Blanc para que o setor receba os cerca de R$ 3 bilhões aprovados pelo Congresso.

Mas há uma pergunta que precisa ser feita e que diz respeito a outro aspecto do pós-pandemia de coronavírus: haverá algum tipo de mercado de infraestrutura de entretenimento? Haverá profissionais suficientes para algum tipo de retomada?

Ninguém aguenta ficar sem renda por muito tempo e certamente terá de virar em em outros (sub)empregos para sobreviver. Estarão disponíveis pra quando os espetáculos retornarem - e certamente em "câmera lenta"? Será que esse povo vai se submeter novamente a funções insalubres, mal remuneradas e totalmente instáveis?

Se as mães que trabalhavam terão suas carreiras comprometidas, profissionais que fazem de tudo para que você desfrute do entretenimento simplesmente correm trisco de verem suas carreiras deixarem de existir. E não haverá auxílio emergencial que dê jeito nesta questão.

A epidemia mostrou o quanto as sociedades humanas, em todos os continentes, são vulneráveis. Entretanto, evidenciou também que há lugares que sempre estiveram mais bem aparelhados para enfrentar esse tipo de crise. Não é o caso do Brasil, evidentemente, com seus mais de 93 mil mortos e 2,5 milhões de infectados.

As precisões mais otimistas dão conta de que teremos a volta parcial dos espetáculos e shows a partir de junho ou julho de 2021. 

Até lá, entre 1 milhão e 2 milhões de profissionais do entretenimento, do nível técnico, ou seja, aquela galera que faz de tudo para que você assista sem percalços o seu evento, estará impossibilitado de exercer suas funções e de ser remunerado. Terá de procurar outra profissão/ocupação. Correremos o risco de ter um apagão funcional/operacional no retorno das atividades, se e quando isso ocorrer. É um desamparo total.

A manifestação de hoje foi necessária e bem-vinda, ainda que quase inútil no sentido de sensibilizar a sociedade. Infelizmente, o entretenimento, incluindo a gastronomia, é o último dos setores a receber algum tipo de atenção. 

É supérfluo? Até certo ponto se estabelecermos um ranking de prioridades. Não é prioridade, mas não pode ser abandonado e ignorado, com sugerem alguns "técnicos" e especialistas. 

É uma cadeia produtiva importante que precisa de assistência, coisa que a Lei Aldyr Blanc, apesar de bem-vinda, está longe de representar o alento necessário. Estamos muito preocupados com o agora, é claro, já que a maioria dos profissionais do setor não recebeu qualquer auxílio e vai para o quinto mês sem remuneração. 

Mas é preciso também olhar um pouco para o futuro pós-pandemia. Que tipo de economia encontraremos? Haverá trabalho para os antigos profissionais do entretenimento? Ou serpa que teremos o apagão de mão-de-obra, já que muitos procurarão outras funções e podem recusar a trabalhar novamente com artes e espetáculos?

Que não deixemos a manifestação de hoje passar batido. Arte, cultura e entretenimento são fundamentais e essenciais para a vida e geram muitos empregos. A recuperação da economia depois do vírus passa pelo bem-estar e pelo desempenho vigoroso desses setores.


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