quarta-feira, setembro 14, 2011

Existem pessoas com saudades da época em que bandas tinham vida



Música sem vida. É assim que muitos profissionais do ramo, de diferentes níveis de sucesso, vêem o atual mercado nacional e internacional. A tecnologia avança cada vez mais, para o bem e para o mal, mas muita gente não tem dúvida: a forma como se trabalha hoje na composição, gravação e até mesmo em shows está deixando o sentimento e a camaradagem de lado.

O último expoente a mencionar essa questão foi o guitarrista do Jethro Tull, o inglês Martin Barre, de 65 anos, em entrevista dada na edição de junho da revista brasileira Roadie Crew. “Antigamente as bandas tinham vida de verdade. Hoje em dia a gente troca e-mails uma vez por semana e só nos vemos quando tem trabalho.”

O vocalista da banda, Ian Anderson, esteve recentemente no Brasil com sua banda solo, mas tocando somente o repertório do Jethro Tull. A miniturnê do vocalista na América do Sul e do Norte foi acertada meio que de forma precipitada, mas o cantor não perdeu muito tempo ao tentar arregimentar o grupo principal. Recrutou músicos que tocam normalmente com ele em outros projetos e que estavam disponíveis e caiu na estrada.

Claro que esse é um exemplo um tanto forçado e nem tão complicado, mas a constatação (e não queixa) de Barre mostra como as coisas estão diferentes atualmente, e como afeta o trabalho em uma banda que já tem 44 anos de carreira.

Assim como os processos de gravação mudaram nos últimos 50 anos, os procedimentos para compor e tocar ao vivo, ou mesmo de gerenciamento de negócios, mudaram na condução das bandas. Mas não deixa de ser sintomático que veteranos explicitem, mesmo que não seja em tom de reclamação, que as bandas de rock na atualidade, novas ou velhas, estão perdendo um importante ingrediente na produção musical.

É cada vez mais comum a composição de músicas entre bandas de portes grande e médio ser feita à distância, com trocas de arquivos digitais pela internet. “É comum que isso aconteça. Quando Ralf Scheepers cantava conosco, morava a mais de 700 quilômetros de distância. Às vezes ele tinha de ficar duas ou três semanas em hotel ou na casa de um dos integrantes para compor e gravar nos anos 90. Hoje Scheepers e muitos outros artistas trocam arquivos pela rede com as adições de suas partes ou mesmo seu trecho na composição”, afirmou Kai Hansen, guitarrista do Gamma Ray, banda alemã de heavy metal, quando esteve no Brasil há dois anos.

O Brasil, o processo também é largamente usado. Andre Matos, ex-vocalista do Angra e do Shaman, hoje em carreira solo e cantando no Symfonia, cansou de usar a internet para trocar informações e impressões com Sascha Paeth, guitarrista e produtor alemão e parceiro no projeto hard rock Virgo. A banda gaúcha Hangar também costuma trabalhar desta forma, já que um dos seus líderes, o baterista Aquiles Priester, mora em São Paulo.

“A internet facilitou demais a vida. Dá para compor e gravar em parceria com alguém que pode estar em qualquer lugar do mundo. Uma banda pode gravar um CD sem que seus integrantes tenham se visto no estúdio ou mesmo tenham estado na mesma cidade”, disse o baterista, um entusiasta da tecnologia.

Isso não é novidade, é óbvio, mas o que chama atenção é que começam a surgir declarações como a de Barre no Brasil e no exterior. Um guitarrista de hard rock e heavy metal paulistano, integrante de uma banda que atualmente está congelada – e que pediu para não ter o nome revelado – vai mais fundo do que o guitarrista do Jethro Tull: “Não se tem mais tesão de gravar e compor atualmente. As gravações estão cada vez mais chatas, cada um grava seu instrumento em um horário diferente, a banda não se encontra no estúdio. Cada vez mais a composição é feita em computador e a troca de idéias acaba sendo por computador. Cada um manda sua parte por computador, um trabalha em cima do arquivo do outro e para por aí. A conseqüência disso são álbuns cada vez mais previsíveis, assim como as apresentações, e cada vez menos orgânicos.”

Ele narra ainda uma experiência estranha que viveu em São Paulo, quando sua banda deveria abrir o show de um grupo sueco de heavy metal, mas que foi cancelada na véspera do show. “Ninguém se preocupou em saber se isso ia causar problemas ou não. A banda decidiu que não queria mais abertura e pronto. Mesmo assim fomos ao show e ficamos um bom tempo nos bastidores antes e depois do show, já que tínhamos feito amizade com os roadies dos gringos. O quinteto ficou dividido em dois ambientes separados, que eram os camarins, e os caras não conversavam entre eles, pareciam completos estranhos, mesmo estando quase dez anos juntos. E os roadies contaram que era assim na Suécia, que os caras se conheciam há muito tempo, mas moravam em locais distintos, compunham separadamente e gravavam os CDs da mesma forma. As demos e fitas-guia eram enviadas por e-mail e cada um, em seu estúdio caseiro, gravava suas partes. O produtor pegava esse quebra-cabeça e montava o CD, às vezes com a presença de um ou outro membro. Assim não dá. Tenho pouco mais de 30 anos de idade, mas ainda sou do tempo em que se compunha junto com o parceiro no mesmo ambiente, seja no estúdio ou no boteco, e que todo mundo estava junto gravando. Quem terminava de gravar ficava lá até os outros terminarem. Não há mais vida…”

Desanimador? Talvez. Não creio que seja totalmente perceptível para o ouvinte comum esse tipo de ambiente e de circunstância, mas alguns mais fanáticos podem começar a associar alguns fatos e alguns comportamentos de seus ídolos, quebrando o encanto.

Seja como for, parece ser um caminho sem volta. Não para dizer que hoje não existe mais música ou bandas com “vida”, mas está claro que para parte expressiva de músicos ou do público a evolução dos métodos e procedimentos de gravação/composição/execução nem sempre surgem para melhorar…

domingo, setembro 11, 2011

Ex-astro da axé music agora quer ser estrela do heavy metal



Quando a pseudobanda de heavy metal Massacration surgiu, em 2002, como extensão de um programa de humor da MTV Brasil, repercussão dividiu os apreciadores do gênero: a maior parte detestou por se ver retratada, de certa forma, por um grupo zoando com todos os clichês do gênero. Outra parte entendeu espírito da coisa e gostou, achando bem engraçada intenção humorística.

O resultado é que a coisa deu tão certo que o que era zoeira e mero apêndice de um programa de humor virou um projeto musical quase sério: as brincadeiras e sacanagens com o gênero permanecem, assim como o humor rasteiro e, de certa forma, escroto, mas agora faz shows em todo o Brasil, participa de festivais e já rendeu dois CDs hilários.

Brincadeira ou oportunismo? Com certeza a primeira coisa, e merece aplausos por aproveitar uma oportunidade de fazer graça com um tema “sagrado” e ainda ganhar elogios da turma. Mas parece que tem gente querendo “colar” na onda do Massacration, mas fazendo um trabalho de profundo mau gosto.

Luiz Caldas é um músico e instrumentista baiano que fez fama no Nordeste, e depois em todo o Brasil, compondo e executando hits de axé music a partir do final dos anos 80. Fez sucesso e se tornou um bem-sucedido artista e empresário do ramo.

Esquecido pela grande mídia, de vez em quando é objeto de reportagens de TV do tipo “que fim levou?” ou “onde está fulano?”. Nestas reportagens, fala de sua carreira e nunca deixa de ressaltar o que ele chama de “ecletismo” musical, já que aprecia e até executa peças de vários gêneros, “até de heavy metal”, como fez questão de ressaltar em uma reportagem para a TV Globo.

E eis que, para nosso assombro – literalmente –, aos 48 anos, Luiz Caldas reaparece fantasiado de vampiro, acompanhado por uma banda com integrantes fantasiados com temas ligados ao terror, tocando no Programa do Jô, de Jô Soares, na TV Globo, na madrugada de sexta para sábado, já avançando pelo dia 9 de julho.

Foi anunciado como líder de uma banda de heavy metal (????) que iria tocar uma música heavy metal (?????) em português. Quem diria, o heavy metal servindo de inspiração, parâmetro – e refúgio – para fracassados e exilados em geral…

O que se viu em seguida foi medonho – literalmente. Se aquilo era sério, ficou pior do que péssimo. Se era brincadeira, não teve a menor graça, pis todos os clichês do mundo, desde as letras até o visual, foram utilizados, e da pior maneira. Parecia uma banda de música infantil de peça sobre vampiros para crianças de cinco anos de idade.

A música? Qualquer coisa que se diga é pouco para descrever o quanto é ruim e rasteiro. Vejam no vídeo o final do texto e tirem suas conclusões.

Oportunismo? Totalmente. Motivado por qual sentimento? “Se ele é um dos criadores do axé, então é um ser possuído pelo demônio, nada mais natural do que virar metaleiro”, foi uma criativa frase escrita por um sacripanta no YouTube.
Algo parecido ocorreu no final dos anos 80, quando Alceu Valença decidiu “compor” um blues, que inundou as emissoras de rádio da época, provocando a ira dos blueseiros nacionais, na época em alta e conquistando mais espaço.

Seja lá qual for o motivo, não passa de oportunismo barato e de péssima qualidade. Logo essa iniciativa estará na lata de lixo da história. O que chama a atenção é a falta de pudor em mergulhar em um estilo musical alheio ao que sempre fez na vida – axé music, o que por si só demonstra que tipo de carreira ele conduziu e o tipo de “música” que ele criou.

Se queria fazer rock, então que fizesse com competência, seja para zoar, como fez o Massacration, ou para entrar de cabeça no gênero, como fez Hudson Cadorini, ex-integrante da dupla sertaneja Edson e Hudson.

Se era para achincalhar, o Língua de Trapo fez com maestria há 25 anos com a “música” “Os Metaleiros Também Amam”, que inclusive foi incluída em um festival da TV Globo.

Oportunistas e aproveitadores existem aos montes por aí, e principalmente na música brasileira. Caldas é só mais um. Conseguiu um segundo e meio de atenção no Jô Soares e aqui no Combate Rock. Retornará rapidinho para o ostracismo, para sorte da humanidade.