quarta-feira, abril 30, 2008

Para pensar - parte 4


Mais Marcha da Maconha: falácias lógicas
A defesa da descriminação das drogas não se exerce sem algumas formidáveis falácias lógicas. Se eu fosse fazer piada, diria que parece argumento de gente sob o efeito da maconha: costuma haver um fosso entre as premissas e a conclusão, típico de quem perde a trilha da objetividade. Vamos a algumas delas:

A – O álcool faz mais mal à saúde e provoca mais mortes do que a maconha
Sempre que se tenta provar que alho é igual a bugalho, o bugalho sai beneficiado, não é? Quando não se distingue a diferença entre o joio e o trigo, o joio sai ganhando. Conhecemos os efeitos, realmente devastadores, do consumo de álcool, uma droga legal (embora ilegal para menores), entre os jovens. Mas me digam aí: já conhecemos os efeitos da massificação do uso da maconha?

B – Então por que não proibir também o consumo do álcool?
Quem faz essa pergunta quer proibir o consumo do álcool ou liberar o consumo das outras drogas? A pergunta é retórica. Já sei a resposta. Logo, é preciso considerar que:
- quem propõe essa questão admite os efeitos nocivos do álcool;
- admitindo os efeitos nocivos do álcool, pede um tratamento isonômico para a maconha;
- sendo um tratamento isonômico, então admite os efeitos nocivos da maconha também;
- se admite, em vez de defender a redução dos danos, está reivindicando a sua ampliação.
- Há falha lógica no que vai acima?

C – O álcool é vendido para menores.
É verdade. Acho que lugar de quem vende álcool para menores é a cadeia. Desde o princípio, estou defendendo a lei, não o contrário.

D – Considerar uma droga lícita ou ilícita é uma questão de convenção
Sob certo ponto de vista, tudo em sociedade é uma questão de convenção: da proibição de certas drogas à interdição do incesto e da pedofilia. Há interdições e liberdades que fazem avançar as sociedades. Há outras que as fazem mergulhar na anarquia e na decadência. Hábitos, costumes, interdições e liberações vão sendo socialmente construídos e criando uma cadeia de valores imateriais, uma verdadeira “cultura”. No caso da pressão — extremamente minoritária, é bom deixar claro — pela liberação das drogas, é essa cultura que salta para o primeiro plano.
Boa parte dos consumidores de drogas acredita firmemente que a substância faz com que tenham uma espécie de “iluminação”, abrindo a sensibilidade para percepções que, de outro modo, não se revelariam. É... Vai ver é o efeito dos neurônios sendo torrados. No Morro do Alemão ou no Jardim Ângela, essa expressão quase poética da droga inexiste. Os valores são outros.

E – Legalize-se a droga, o narcotráfico acaba, e o crime, também
É a mais tola de todas as proposições. O principal fator que alimenta o crime é a impunidade, é a incapacidade de o estado fazer cumprir a lei. Se, um dia, se vendessem cocaína e maconha no bar da esquina, quem hoje se dedica ao tráfico de drogas — porque quer, não porque seja obrigado — passaria a ser operário da construção civil? Médico? Engenheiro? Balconista? Acho que não, né?
Legalizadas as drogas, sem o enfrentamento do crime, os hoje criminosos das “substâncias ilícitas” seriam, se me permitem, “criminosos de outros crimes”. Não é a ilegalidade da droga que faz o criminoso, mas a disposição de não reconhecer o limite que foi socialmente imposto, transgredindo-o. Suponho, aliás, que a facilitação e, pois, a popularização de mais substâncias que alteram a consciência elevariam exponencialmente a prática de crimes.
Essa gente do miolo mole que sai fazendo marcha em defesa da maconha supõe que todos os consumidores de drogas estão apenas em busca de autoconhecimento e do, como vou dizer?, desregramento dos sentidos em busca do “próprio eu”. O único “povo” que esses caras conhecem é o que faz malabarismo em farol. Devem achar que é tudo culpa das “zelite”, como se eles próprios não a integrassem. E aí queimam um baseado.
Para pensar - parte 3


Ainda a Marcha da Maconha: de individualistas e libertários
Escrevi abaixo um post sobre a tal Marcha da Marconha. E, claro, não tardaram a chegar os defensores da manifestação. Eu realmente fico muito impressionado com a fragilidade lógica dos argumentos quando o assunto é droga, mas deixo isso para o post seguinte.

A reivindicação para legalizar drogas é basicamente um assunto de classe média: o povo mesmo, como sabemos, é contra. Entre outras razões porque ele é a maior vítima do narcotráfico. Há entre os defensores, basicamente, duas vertentes:

- A minoritária: esta argumenta que é uma questão de liberdade individual e tenta jogar Milton Friedman contra mim, mais ou menos como um desafio: “Que liberal é você?”. O economista defendeu a legalização das drogas. Já contei aqui, conto de novo: a revista “República/Primeira Leitura”, que eu dirigia, deu um capa debatendo a descriminação das drogas. E já tocava no problema essencial: um país pode fazê-la sozinho? É claro que não. O mundo vai acatar a proposta? Não vai. Então esse debate é ocioso.
Isso nos devolve para o terreno da realidade, o das drogas ilegais. Consumi-las é integrar a cadeia do crime organizado. É uma questão de fato, não de gosto ou de opinião. Sem aquele que consome, não há quem possa vender: o narcotraficante.
É evidente que fumar ou não fumar maconha, cheirar ou não cheirar cocaína, comer ou não comer bacon, tudo isso é uma questão de escolha. E as pessoas devem arcar com o peso de suas escolhas. A democracia brasileira diz que o tráfico de drogas e a apologia do consumo são crimes. Quem quer fazer uma coisa e/ou outra tem de pagar o preço.

- A majoritária: para essa turma, consumir maconha — e, suponho, outras drogas também — é uma espécie de capítulo das liberdades civis. O sotaque ideológico é diferente do expresso pelo grupo anterior. Aquele considera que é uma manifestação do saudável individualismo; este outro pretende que é uma expressão de um direito coletivo. Em suma, aquele grupo teria um viés, digamos, mais à direita; este outro, mais à esquerda. Haveria uma sociedade reacionária, conservadora, que estaria reprimindo um “direito”, como se “direitos” não fossem socialmente construídos também; como se houvesse o “direito natural” de fumar maconha, o que é balela. E quem se opõe à legalização é, então, reacionário.

Ah, sim: reclamam de eu ter me referido aos consumidores de maconha como “maconheiros”. Devo chamar como?
- “Apreciadores de uma droga injustamente considerada ilícita?”
- “Consumidores de maconha”?
- “Novos libertários”?
Os fumantes também merecerão uma alcunha politicamente correta? “Consumidores de tabaco?”
Continuo no post seguinte, com considerações sobre as falácias lógicas dos supostos libertários e supostos individualistas.
Para penssar - parte 2



Os maconheiros têm até um blog para divulgar a sua marcha. Se quiser visitar , clique aqui. Fazer a apologia da maconha é crime, como eles mesmos reconhecem lá. Mas aí recorrem a uma droga ainda mais antiga: a hipocrisia. Dizem estar apenas informando e querendo debater.

O artigo 33, § 2º da já bastante liberal Lei 11.343 deixa claríssimo:
“Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa.” A íntegra da lei está aqui.

Já disse: sou um chato legalista. Essa “marcha” tem de ser proibida. Se, uma vez proibida, as pessoas insistirem em promovê-la, então não vejo outra saída: cana! Esse negócio de que todo mundo tem o direito de marchar contra a lei de que discorda em nome da liberdade de expressão tem quais limites éticos? Deve haver quem defenda a pedofilia, por exemplo, porque, afinal, na civilização grega, etc e tal... Se os valentes querem patrocinar a causa, que arrumem um representante no Congresso que esteja disposto a assumi-la.

Sabem o que é curioso? Uma marcha a favor do cigarro, por exemplo, seria de pronto repudiada — inclusive por gente que defende a da maconha. “Ah, mas cigarro já é legal; não precisa de marcha”. Sim, mas os fumantes são hoje quase párias sociais, não é mesmo? Estou, de fato, chamando a atenção para uma questão: essa marcha da maconha toca num flagelo social: o fato de as drogas hoje consideradas ilícitas serem consideradas ainda um valor “de resistência”, o que faz com que se transformem numa espécie de "cultura".

Pior: os maconheiros querem fazer de conta — e só por isso o filme Tropa de Elite foi repudiado por alguns “descolados” — que o consumidor de droga não integra a cadeia do tráfico e, portanto, da violência e do crime organizado. O argumento de que a legalização da maconha diminuiria a violência é só uma tolice irresponsável. No mesmo caminho, seria preciso tornar legal a venda das outras substâncias: cocaína, crack, heroína — ou os traficantes de maconha migrariam pra elas, certo? Mais: o Brasil não fará isso sozinho. A Inglaterra, por exemplo, está na contramão: apertando o cerco também contra a maconha.

Falei que a lei brasileira já é bastante liberal. E é. Leiam parte do artigo 28:
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
§ 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.

Como se vê, o chamado “consumidor” — se o sujeito portar a substância apenas para seu consumo — já não vai em cana. Liberal por quê? Ora, o traficante, que vai para a cadeia, não vende se não tiver quem compre. É o que se chama uma “relação”.

Assim, o corolário óbvio da tal Marcha da Maconha é um só: ela não atende, vamos dizer, às necessidades dos consumidores. Serve mesmo é aos interesses dos traficantes. Mas, na dialética perturbada desses caras, eles só estariam querendo acabar com o tráfico. Ah, sim: entre os apoiadores do blog da Marcha da Maconha está uma tal Aborda (Associação Brasileira de Redutoras e Redutores de Danos). Mais uma vez, a política de redução de danos a serviço da promoção de danos.
Para pensar bastante - parte 1

Argumentos consistentes contra as drogas

Os textos a seguir foram retirados do blog de Reinaldo Azevedo, jornalista que colabora com a revista Veja. O blog está no site da revista. Geralmente não me agradam os textos dele, mas estes merecem uma relexão. Afinal, raramente ele acerta...

Marcha dos maconheiros tem de ser proibida. E quem marchar tem de ser preso. É a lei!
Leia o que vai abaixo, na Folha. Volto depois:
O Ministério Público de São Paulo luta na Justiça para impedir a realização da marcha da maconha no próximo domingo, marcada para as 14h no parque Ibirapuera. A marcha ocorre também em diferentes cidades do mundo neste final de semana e em mais 11 cidades brasileiras na tarde de domingo.
Com o pedido de medida liminar, o Ministério Público espera decisão semelhante à concedida pela Justiça a seu órgão corresponde na Bahia.
"Em pelo menos três Estados houve decisões desse tipo. Difundir o uso de droga é crime previsto já na própria Lei de Entorpecentes. Esperávamos uma decisão favorável ainda hoje [ontem], o que não ocorreu até as 19h", afirmou o promotor Marcelo Luiz Barone, um dos autores do pedido juntamente com a promotora Paula Castanheira Lamenza.
(...)
Um dos participantes do Coletivo da Marcha da Maconha, o sociólogo Renato Cinco, diz que a manifestação é uma questão de liberdade de expressão e que o movimento tentará derrubar as liminares.
"Queremos mostrar a nossa opinião sobre uma lei [que caracteriza a maconha como substância ilegal]. A proibição gera conseqüências muito piores que a legalização."
Segundo Cinco, foi informado que os participantes não devem portar maconha durante a realização da marcha.

segunda-feira, abril 28, 2008

A final do cavalo branco


Por ROBERTO VIEIRA
Publicado no Blog de Juca Kfouri



Há 85 anos o futebol não era o rei dos esportes.

Era o plebeu dos esportes.

Mas o dia 28 de abril de 1923 mudou a história do futebol.

O primeiro jogo oficial em Wembley. Wembley ainda inacabado.

A final da FA Cup entre Bolton Wanderes e West Ham.

Um belo dia de primavera em Londres com a presença do Rei George V.

Quase uma tragédia.

Pra quem imagina as multidões no Maracanã em 1950, surpresa!

Mais de 250 mil pessoas assisitiram o jogo em Wembley.

126.047 pagantes. O restante, invadindo até o campo de jogo.

Mas, os tempos e os ingleses eram outros. A multidão no centro do gramado estava de bom humor.

E o constable George Scorey montado em Billy, seu cavalo branco, conseguiu levar os torcedores até na beira do gramado.

Onde ficaram até o fim do jogo.

Jogo que não precisou de linhas laterais, nem linhas de fundo.

As quatro linhas do gramado eram humanas. Como nas peladas de fim de semana.

Quando a bola batia em um torcedor era lateral, escanteio ou tiro de meta.

O primeiro gol foi marcado por David Jack.

Mas foi o segundo que entrou para a história.

O atacante J.R. Smith do Bolton chutou. A bola entrou no gol e voltou.

Rebatida por torcedores que estavam... dentro da barra.

O Bolton Wanders venceu por 2 x 0.

O Rei voltou plebeu para seu palácio.

E o futebol mostrou quem era o Rei. Do Império Britânico. E do mundo.

Com a ajuda inestimável de Billy.

Pra completar, um tributo recente.

Uma nova ponte para pedestres foi construída nas cercanias do Estádio de Wembley em 2006.

Foi lançada uma votação pela BBC para batizar a ponte.

Adivinhem quem venceu a votação na frente de Alf Ramsey, Bobby Charlton e Geoff Hurst?

Pois é!

Com um terço dos votos, a ponte se chama 'A Ponte do Cavalo Branco'!

Há 85 anos o futebol não era o rei dos esportes.

Era o plebeu dos esportes.

Mas o dia 28 de abril de 1923 mudou a história do futebol.
A final do cavalo branco


Por ROBERTO VIEIRA
Publicado no Blog de Juca Kfouri



Há 85 anos o futebol não era o rei dos esportes.

Era o plebeu dos esportes.

Mas o dia 28 de abril de 1923 mudou a história do futebol.

O primeiro jogo oficial em Wembley. Wembley ainda inacabado.

A final da FA Cup entre Bolton Wanderes e West Ham.

Um belo dia de primavera em Londres com a presença do Rei George V.

Quase uma tragédia.

Pra quem imagina as multidões no Maracanã em 1950, surpresa!

Mais de 250 mil pessoas assisitiram o jogo em Wembley.

126.047 pagantes. O restante, invadindo até o campo de jogo.

Mas, os tempos e os ingleses eram outros. A multidão no centro do gramado estava de bom humor.

E o constable George Scorey montado em Billy, seu cavalo branco, conseguiu levar os torcedores até na beira do gramado.

Onde ficaram até o fim do jogo.

Jogo que não precisou de linhas laterais, nem linhas de fundo.

As quatro linhas do gramado eram humanas. Como nas peladas de fim de semana.

Quando a bola batia em um torcedor era lateral, escanteio ou tiro de meta.

O primeiro gol foi marcado por David Jack.

Mas foi o segundo que entrou para a história.

O atacante J.R. Smith do Bolton chutou. A bola entrou no gol e voltou.

Rebatida por torcedores que estavam... dentro da barra.

O Bolton Wanders venceu por 2 x 0.

O Rei voltou plebeu para seu palácio.

E o futebol mostrou quem era o Rei. Do Império Britânico. E do mundo.

Com a ajuda inestimável de Billy.

Pra completar, um tributo recente.

Uma nova ponte para pedestres foi construída nas cercanias do Estádio de Wembley em 2006.

Foi lançada uma votação pela BBC para batizar a ponte.

Adivinhem quem venceu a votação na frente de Alf Ramsey, Bobby Charlton e Geoff Hurst?

Pois é!

Com um terço dos votos, a ponte se chama 'A Ponte do Cavalo Branco'!

Há 85 anos o futebol não era o rei dos esportes.

Era o plebeu dos esportes.

Mas o dia 28 de abril de 1923 mudou a história do futebol.