sexta-feira, outubro 26, 2001

O fim do Electric Funeral


Outra notícia ruim no rock pesado brasileiro. Chega ao fim a tradicional banda Electric Funeral, a melhor banda cover do Black Sabbath do Brasil. A notícia está no site do programa de rádio Backstage. O baterista e líder da extinta banda é jornalista e radialista Vitão Bonesso, produtor e apresentador do programa veiculado pela rádio Brasil 2000 FM (107,3 MHZ em São Paulo).
Em seu site, Bonesso comunica o fim da banda alegando que, ao longo de 12 anos, houve um cansaço natural, já que a banda é um projeto paralelo de outros músicos importantes. Além de Bonesso na bateria, a banda tinha ainda o guitarrista Hélcio Aguirra e o baixista Nélson Britto, ambos da banda de hard rock Golpe de Estado, uma das mais importantes da história do rock brasileiro.
Segundo Bonesso, a banda estava sem vocalista há muitos meses e, em virtude dos compromissos profissionais de seus integrantes, estava difícil encontrar datas para ensaios, shows e mesmo reuniões simples para bate-papo. Ele afirma que estava sobrecarregado de trabalho em relação à banda e percebia um distanciamento de Aguirra e Britto em relação ao Electric Funeral. Para preservar a amizade, achou por bem anunciar a sua saída da banda, o que na prática é o fim do conjunto. Pena...
Governo Olívio Dutra envolvido com jogo do bicho


Denúncia de ligações do governo gaúcho petista de Olívio Dutra com o jogo do bicho e com o crime organizado ligado ao carnaval de Porto Alegre. As denúncias são graves e envolvem a alta cúpula da polícia civil e da Secretaria de Segurança do Estado. Começa mal a campanha de Lula à Presidência da República.... e deu no Jornal Nacional...

quinta-feira, outubro 25, 2001

Uma prece para ninguém - Epílogo



Depois de muito tempo, o dia ameaçava finalmente raiar, mas ainda assim a escuridão tomava conta do horizonte. A chuva cessara, e ele hesitava a cada pensamento. O penhasco não estava muito longe, e a hora de decidir era aquela, imaginou. Tudo caminhava para aquele desfecho, mas um medo insano o imobilizava por completo.
E eis que os sinos voltaram a badalar. Ali, deitado de lado, protegido por uma rocha saliente, começou a tentar se desvencilhar daquele ruído que lhe soava insuportável. O sonho estava real demais e já era hora de despertar, só que nada acontecia.
Os sinos começaram a ficar nítidos. As badaladas estavam mais próximas. Olhou para cima e percebeu uma claridade inquietante. Com muita dificuldade, ergueu-se e observou uma espécie de casa a cerca de 300 metros de onde estava, na outra estremidade do penhasco. A casa não estava ali quando chegou ao topo.
Parecia com um autêntico sobrado de praia. Bem no alto, no que parecia ser a frente da propriedade, um sino, dando um aspecto de igreja. A casa estava toda iluminada. Na mureta da frente da casa, a menina de vestido branco estava sentada e olhava de modo distraído para o horizonte.
Sentia-se agora completamente atraído por aquela visão que sabia (sabia?) ser irreal. Aquilo era uma visão, a casa não existia, não estava ali quando ele atingira o topo. Mas a visão estava real demais para ser ignorada.
Pensou que finalmente conseguiria tocar a garota, depois de se aproximar com muita dificuldade da casa. Se ela era a resposta para tudo, já era hora de ela revelar o que realmente estava acontecendo no mundo. Ele não percebera, mas a garota não estava mais na mureta, e sim dentro da casa, olhando para ele de uma janela lateral.
Subiu a pequena escada que dava acesso ao que seria uma varanda e dirigiu-se à porta de entrada. Como que por pensamento a porta se abriu. A claridade dentro da sala era tanta que ofuscava completamente a vista. Só depois de algum tempo é que ele conseguiu ver onde estava e o que era aquele ambiente. Aos poucos a casa começou a ficar familiar. Ecos da memória começaram a pipocar em sua mente, escavando e resgatando fantasmas há muito escondidos no subconsciente.
A garota continuava com seu olhar inquisitivo, amedrontando-o. Enquanto começava a suar frio, o cordão de metal envolta de seu pescoço pareceu-lhe mais pesado e mais apertado. A sensação de desconforto aumentava na medida em que a menina olhava cada vez mais fixamente para ele. Amparou-se em uma das paredes da sala e agora estava sufocando. O cordão estava cada vez mais pesado e apertado. O calor estava insuportável e sentia que a medalha do cordão queimava-lhe a pele do peito. Aos poucoa começou a arriar pela parede, com fraqueza aumentando bastante. Pela primeira vez sentiu medo da morte.
Enquanto se mantinha sufocado e de joelhos, a menina aproximou-se, mas não tao perto. Ela apontou o dedo indicador da mão direita em sua direção. Subitamente a pressão no pescoço diminuiu e ele passou a respirar com um pouco mais de facilidade. O medalhão no peito parou de queimar, mas o cordão permanecia pesado.
A menina virou-se e foi para uma escada, subindo lentamente. Mesmo enfraquecido, estava sendo impelido a segui-la. Levantou-se com dificuldade e foi á escada. Amparado pelo bastão, começou a subir lentamente. Após alguns minutos, já no alto, viu a menina entrar no que parecia ser o quarto principal, de onde vinha um forte vento e uma claridade cegante.
Nem percebeu quando chegou ao quarto. O que percebeu era que ali dentro todo o barulho cessou. Um silêncio reconfortante dominava o ambiente, que estava muito bem decorado. Uma enorme cama estava do outro lado do recinto, coberta com o que parecia ser um lençol de seda. Os móveis - mesas, cadeiras, criado-mudo, penteadeira - eram todos de estilo clássico, de madeira escura. O papel de parede era claro, avermelhado, e o lustre era enorme, cheio de pingentes.
Na cama, uma mulher deitada, com a cabeça no colo da menina de branco. Quando pensou que o ambienbte lhe traria paz de espírito, a visão das duas mulheres na cama caiu como uma bigorna em sua cabeça. O silêncio tornou-se opressor novamente, o cordão começou a apertar-lhe novamente o pescoço, sufocando-o. Caiu de joelhos, ao mesmo tempo que um turbilhão de imagens passavam pela sua mente.
O rosto inerte da mulher na cama era conhecido. Era muito mais do que conhecido. O peso de anos e anos de fuga e desespero caíam agora sobre os seus ombros. Jamais poderia escapar daquilo que poderia ser chamado de justiça atemporal: onde quer que esteja, seja aonde for, a justiça será feita.
Com muito medo e pavor, sufocado pelo cordão, olhou novamente para o rosto da garota deitada na cama, que vestia uma túnica vermelha. Imediatamente vieram as imagens da linda e fulgurante garota que jazia na cama sorrindo e correndo pelo gramado de uma imensa propriedade. Em seguida, ela subia uma imensa escadaria, que parecia não ter fim. A escadaria era a mesma da casa onde esava naquele momento. Assim como o quarto da imagem seguinte era o mesmo onde estava. A garota chorava enquanto agarrava-se a uma cortina, tentando se proteger de golpes dados com bastão. Ele reconhecia a mão que segurava o bastão. Aquele relógio o denunciara. Era o seu próprio relógio de pulso, aquele que ganhara de presente do pai quando tinha 12 anos de idade e o qual jamais tirou do pulso.
As imagens começaram a ficar cada vez mais rápidas. Agora, em sua mente, a garota estava deitada, inerte e ensanguentada com a mesma roupa, na mesma posição e na mesma cama que via quando abria os olhos. Aí começou o fogo.
Abriu os olhos depois de um espasmo de desespero e percebeu que o próprio quarto onde estava tinha chamas na cortina da janela e na cama. Caindo de fraqueza, estava agora deitado, tentando inutilmente arrancar o cordão do pescoço, que apertava cada vez mais.
Estava prestes a desfalecer quando a menina de branco aproximou-se e tirou o cordão do pescoço. A garota de túnica vermelha estava oa lado da garotinha e apresentava um bonito colar com a letra V no medalhão. Ela olhava fixamente para o rosto dele, quase enegrecido pela fumaça.
A garotinha retirou o cordão e colocou-o na frente do rosto dele para que pudesse vê-lo. Em lugar do medalhão, havia uma frase escrita: "Vitória se foi". O desespero dele foi tamanho que sentiu uma dor lancinante nas costas. Não é possível que Vitória havia voltado para transformar sua vida, ou o que restava dela, num inferno.
Mesmo diante das imagens incontestáveis que foram induzidas em sua mente (assim acreditava), ainda se recusava a crer que a havia matado. Aquilo era um sonho, um desagradável sonho, por mais que a fumaça invadisse agora as suas narinas e os pulmões. Antes que a mesma fumaça o obrigasse a fechar os olhos, ainda teve tempo de ver a menina e Vitória saírem do quarto de mãos dadas como se nada estivesse acontecendo. e não esqueceram de fechar a porta.
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Estava deitado nu em um quarto completamente escuro. Estava frio e não conseguia sentir nenhuma parte de seu corpo. De algum lugar de fora do quarto, escutou o seguinte diálogo:
- E agora?
- Apenas mate-o.
Foi a última coisa que ouviu.

quarta-feira, outubro 24, 2001

Uma prece para ninguém - Capítulo 8




Ele chegou ao pé do penhasco e desfaleceu de cansaço. Acordou com uma pequena garoa, mas que o deixou inteiramente molhado. O céu estava escuro. Era noite ou ainda era o amanhecer daquele dia insano? Tentou se levantar mas faltou-lhe equilíbrio. Caiu de boca na areia molhada. Em nova tentativa de se levantar, sua mão involuntariamente esbarrou em uma espécie de cordão grosso de pescoço.Na verdade, sua mão foi espetada por uma das pontas do que parecia ser um crucifixo.
Sentou-se novamente e ficou observando e admirando o objeto. De imediato não identificou o objeto, mas não perdeu muito tempo com isso. Uma forte sonolência o acometeu e acabou adormecendo mais uma vez.
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Acordou com o barulho das ondas e com mais uma forte garoa. Parecia que o dia estava novamente amanhecendo, com alguns fiapos de luz atravessando as nuvens, mas só parecia. O cordão de metal ainda estava em sua mão. Não lembrava de como o tinha encontrado. Instintivamente colocou-no pescoço. Sua preocupação agora era como chegar ao topo dos quase cem metros de penhasco, segundo seus cálculos.
Não havia solução, exceto pelo fato de que um pequeno vulto o olhava de modo severo. Estava às suas costas, mas logo ele a percebeu. Era uma menina, pouco menos de dez anos de idade, mas com uma pele alva e um vestido igualmente branco. Por alguns instantes ele duvidou de que ela realmente estava ali. Esfregou os olhos. Ela já não estava mais no local onde estivera.
Imaginava que era alucinasção pelo fato de estar exausto e com fome, mas eis que a garota reaparece, agora à sua frente.
Assustado, começa a procurar a parede do penhasco para se apoiar. Ela o olhava fixamente. Num piscar de olhos e ela desaparece, reaparecendo agora perto da água da praia, mais distante. Ele estava petrificado e começou a suar muito quando aquele "fantasma" caminhou em sua direção. A poucos passos a garota, que em nenhum momento alterou o seu semblante, apontou para ele e em seguida para o cordão em seu pescoço. Com o olhar duro e inqusitivo, pareceu dar-lhe um recado. Em seguida virou-se para o lado direito dele e começou a andar em direção a uma das extremidades do penhasco, que adentrava o mar.
Mesmo apavorado, sentiu-se compelido a segui-la. Manquitolando e apoiado no bastão de madeira, foi aos poucos se arrastando atrás da criança. Ao chegar à reentrância do penhasco para o mar (o rochedo interrompia a continuidade da praia), viu uma pequena fenda. Esgueirou-se por ela e percebeu uma passagem oculta. Era um corredor muito escuro por dentro da rocha. Guiando-se por uma pequena fresta de luz, seguiu em frente, ora tropeçando, ora esbarrando em saliências.
O que pensou ser uma fresta de luz era na verdade a menina, que emanava um brilho intenso e o esperava ao final daquele corredor. Era uma espécie de rampa com uma escada ao final. A menina seguia a passos rápidos e ele tentava aos trancos e barrancos percorrer aquele caminho.
Após muito tempo subindo por entre o paredão de rocha, chegou ao que parecia ser uma escada esculpida nas rochas. Não havia mais sinal da garota. A cada degrau vencido, parecia que a morte o agarrava pelos pés e o puxava para baixo. Foram horas de suplício até que sentiu o vento frio carregado de chuva vindo de cima. Pouco tempo depois estava no cume do penhasco. Arrastou-se pesadamente para trás de uma rocha, onde mantinha-se parcamente protegido. Ainda estava escuro e o dia ameaçava aparecer, mas nunca aparecia.
Cada vez que pensava em desistir definitivamente, a imagem da menina vinha-lhe à mente. Não era possível que agora, justo agora que ele tinha mais uma oportunidade de acabar com aquele inferno. No penhasco, pensou, era a única forma de tentar voltar à vida com um salto no escuro. Ou voltava à vida ou saía dela. Não aguentava mais aquele delírio. Mesmo assim sentia-se imobilizado. Estava convencido de que tinha suficiente coragem para perpetrar o que estava chamando de "último vôo". Mas então porque não levantava e se arrastava até a beira do penhasco? Não tinha resposta, mas a criança sempre aparecia em sua mente. Assim sendo, ela só poderia ser a resposta para aquilo tudo.

Imagens da festa do rock


Aí vão cenas importantes dos concertos de rock beneficentes para arrecadar fundos para as famílias de vítimas dos atentados ao World Trade Center:


Roger Daltrey (esq.) e Pete Townshend, do Who


Eric Clapton (esq) e Paul McCartney


Paul McCartney


Eric Clapton (esq.) e Buddy Guy


Rod Stewart em Washington


Keith Richards (esq.) e Mick Jagger, ambos dos Rolling Stones

terça-feira, outubro 23, 2001

Uma prece para ninguém - Capítulo 7



Ofegante e completamente molhado de suor, instintivamente ele se afastava da fonte de calor se arrastando para o meio da microvila. A cabeça e a perna doíam demais, mas aos poucos ele retomava a consciência. Todas os casebres estavam pegando fogo. Seu único refúgio era a praia. Parando para respirar e descansar, admirou o espetáculo de longe. Estava se especalizando naquela piromania. Primeiro o posto de gasolina, depois o Porsche, agora aqueles casebres. Ainda não conseguia entender o porquê de fazer aquilo, mas sentia imenso alívio quando o fazia.
Quando anoiteceu a vila ainda ardia. Apesar de saber que de nada adiantaria, no íntimo esperava que aquele fogaréu chamasse a atenção de alguém. Mas de quem, se havia um complô de Deus contra ele, obrigando-o a ser o único ser humano do planeta?
Esfriou um pouco com uma ventania fora de hora vinda do mar. Ele se arrastou para perto de uma mureta que separava a praia dos casebres e conseguiu ainda se beneficiar um pouco do calor das chamas. Foi a última coisa que fez naquela noite.
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Aquele era o pior despertar que teve na sua vida. O frio era intenso, o vento cada vez mais forte, mas o que o incomodava era que tinha caído de boca na aria, sem contar a lancinante dor de cabeça. Por alguns segundos achou que a tudo estava acabando, mas toda aquela circunstância deixou de ter importância a partir do momento em que pensou ter ouvido sinos badalando.
O dia amanhecia lentamente e o vento trazia o ruído do sul, ao longo da praia. Cada vez mais em estado mental confuso, simplesmente deixou-se levar pela idéia de que os sinos eram a resposta para tudo, ou melhor, eram a solução daquele pesadelo. Como que entorpecido pela cantoria de uma sereia, lançou-se na direão de onde achava que estava a origem do som. Primeiro arrastou-se. Depois reuniu forças, equilibrou-se no bastão e passou a a caminhar lentamente.
Teve a impressão de que andava há horas, mas o dia não amanhecia definitivamente. O céu permanecia naquela zona híbrida entre a madrugada e a manhã. Olha para trás e não via mais nem mesmo a fumaça do incêndio dos casebres.
O som dos sinos continuava intermitente, mas ele nunca se aproximava. Tinha a impressão de que, por mais que caminhasse em direção ao ruído, jamais chegaria a lugar algum.
Exausto, sentou-se à beira da água e procurava algo no horizonte para entender o que se passava. Tentava ignorar a dor da perna lesionada, mas em alguns momentos gritava por não suportá-la. A questão é que não escutava a sua voz.
Quando parecia que iria desfalecer para sempre, um sopro de esperança invadia seu cérebro ao ouvir os sinos, intermitentes e profundamente apelativos. Não conseguiu saber como pôs-se de pé, mas quando percebeu já estava novamente em marcha, perto de uma pequena elevação.
Com muito esforço subiu aquela que parecia ser uma duna. Como que por encanto o som dos sinos pareceu estar menso distante. O estranho é que agora o som parecia estar vindo do oceano. Viu ao longe, bem longe, um penhasco. Como que por impulso foi em direção a ele. Decdiu parar de pensar. Seu único objetivo agora era chegar ao penhasco. Quem sabe dessa vez terria mais sucesso do que da vez anterior no promontório.

segunda-feira, outubro 22, 2001

Uma prece para ninguém - Capítulo 6



Acordou depois de um violento acesso de tosse, expelindo água salgada. A boca estava cheia de areia. O sol estava forte agora, queimando-lhe a face machucada. Procurou certificar-se de que estava vivo. A maior prova disso era a sua perna esquerda, que doía muito. Estava quebrada? Provavelmente.
ele tentou se arrastar até as pedras para fugir da água do mar. Minutos depois, exausto, tentava entender porque continuava vivo. As explicações eram vagas, mas não faziam diferença naquele momento. A questão agora era a seguinte: se ele não conseguia nem ao menos morrer, o que esperar do resto de sua lamentável vida?
Ele tentava se locomover em direção ao que parecia ser uma vila de pescadores ao longe, na própria praia. Pelas suas contas e pela posição do sol, imaginava ser no meio da tarde quando finalmente atingiu os limites dos cinco casebres mal construídos. Teriam se passado mais de cinco horas desde que tinha voltado à consciência e seu esforço fora descomunal. Com a ajuda de um bastão, postou-se de pé e conseguiu entrar no primeiro casebre a sua direita.
Sentiu cheiro de café. Um bule no fogareiro antiquíssimo ainda fumegava. Com uma xícara suja na pia, bebeu um pouco e passou a acreditar que realmente poderia escapar daquela dimensão esquisita onde caíra. Lutava para livrar-se do sonho, mas não conseguia. Agora, com aquele café quente, esperava ter condições de escapar daquele pesadelo.
Seu aspecto era o pior possível: sujo, descalço, com as roupas rasgadas e com hematomas e cortes por todo o corpo. O fim da linha ainda estava bem longe, ele pressentia.
Só lhe restava agora chorar. E chorou, chorou bastante de desespero.
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Decidiu percorrer as outras quatros casas da microvila. Nem sinal de ser vivo. Em uma delas parecia que alguém estivera ali há pouco. Estava tudo arrumado e havia cheiro de comida. Teve um pouco de ânimo e comeu um pedaço de bolo de chocolate. Procurou desesperadamente uma bebida alcoólica, qualquer uma. Não achou.
Na sala exígua desse casebre, havia um punhado de estopa em um canto. Sentou-se nele e procurou esforçar-se para adormecer. Desde que tinha despertado naquela maldita dimensão ele imaginava que, dormindo, poderia acordar de volta à normalidade. No entanto, não seria daquele vez que conseguiria.
Apesar disso, parecia que as coisas começariam a fazer sentido. Não tinha idéia se estava sonhando ou não, mas a imagem era nítida. A garota estava a pouco mais de cinco metros dele em um gramado imenso. Ela apontava para ele, inquisitorialmente. Ele gritava pelo nome dela. Sua angústia aumentou ao perceber que sua voz não saía. Tentou levantar, mas estava preso ao chão. Ela apontava o dedo para ele acusando-o, culpando-o, com ira nos olhos.
Para ele as coisas estavam piorando, e de forma bem depressa. Era tudo o que ele não precisava naquele momento, um fantasma do passado para acelerar a sua queda no inferno. Ele queria gritar, mas a voz não saía. Ele queria agarrá-la, mas não conseguia se mover.
O campo gramado agora virou uma imensa fogueira. A garota continuava a apontar para ele, mas lentamente se afastava até desaparecer dentro das chamas. Tudo estava quente, sentia até mesmo seu cérebro parecia cozinhar. Insuportavelmente quente. E angustiante. E tenebrosamente assustador. Ele estava preso a um dimensão desconhecida e ansiava por ajuda, por ter a companhia de alguém para dividir seu desespero, mas o máxio que atingiu foi ter a desesperadora visão dela, ali, parada, apontando para ele. Logo ela, que estava morta.

Discriminação e preconceito contra o rock nas escolas


Uma coisa desagradável vem acontecendo com bastante frequência pelo Brasil afora e mostra como é grande a ignorância e o mau-caratismo que imperam em boa parte das escolas de ensino médio e fundamental, públicas e privadas. Em recente carta publicada no Ringue, fórum eletrônico de leitores da revista Rock Brigade, um professor de história carioca de uma escola particular reclamava da discriminação que estava sofrendo de alunos, funcionários, outros professores e da direção da escola por gostar de rock pesado e expor suas opiniões em sala de aula.
Durante uma semana ele resolveu discutir com seus alunos de sétima e oitava séries as questões ligadas ao atentado terrorista contra Nova York. No tópico em que discutia diferenças de opiniões, religiões e estilos de vida, ele resolveu analisar a letra traduzida de "Run to the Hills", do Iron Maiden, sem executá-la no gravador portátil. Segundo o professor, aquele seria um bom exemplo de respeito a outras formas de pensamento, já que o grupo executava rock pesado mas tinha idéias humanistas em suas letras, revelando tolerância.
Mas não é que um grupo de alunos evangélicos se sentiu ofendido quando viram a capa do CD "The Number of the Beast", que contém a música analisada (para quem não viu a capa, traz o mascote da banda, Eddie, travestido de demônio e pisoteando várias coisas sob fundo verde)? Não contentes com isso, esses nojentos evangélicos foram se queixar à diretoria, que repreendeu o professor por levar "objetos inadequados para análise de conteúdo". E o mais incrível: todos os professores do colégio apoiaram a diretoria contra o professor roqueiro.
Esse é uma amostra perfeita do lixo que se tornou o ensino médio brasileiro, com professores preconceituosos, despreparados e totalmente incompetentes. O nível está muito baixo e as nefastas influências de seitas religiosas e do chamado "senso crítico comum" acabam por piorar cada vez mais o nível da educação brasileira.
São frequentes as reclamações de estudantes de cidades do interior, de escolas públicas e privadas, a respeito de discriminação e preconceito por causa do som que ouvem e das roupas que vestem. E não é nada cômodo saber que nos Estados Unidos acontece exatamente a mesma coisa. Infelizmente a tolerância e o respeito não fazem parte do currículo escolar nem do Primeiro Mundo nem do Terceiro.

domingo, outubro 21, 2001

Bad Company anuncia novo retorno e nova formação



Para muitos, é uma boa notícia. Para outros, nem tanto. A banda Bad Company anunciou em outubro deste ano que pretende continuar as suas atividades, agora sob a liderança do fabuloso cantor Paul Rodgers, um de seus fundadores. Assim, o quarteto entra definitvamente na onda dos "retornos"de "dinossauros" que assolou a década de 90 (cujos exemplos não faltam: Who, Kansas, Eagles, Kiss com formação original, Black Sabbath com formação original, entre muitos e muitos outros).
Para os fanáticos pelo "classic rock" e pelo rock dos anos 70, é uma notícia e tanto. Rodgers terá agora a companhia de Simon Kirke, o baterista original do Bad Company e que foi companheiro do vocalista no Free (que durou de 1968 a 1973), e dos puco conhecidos David "Bucket" Colwell (guitarra) e Rick Wills (baixo).
Essa formação fez diversos shows neste ano nos Estados Unidos e recentemente assinou contrato com a TBA Entertainment Corporation, empresa especializada em administrar a carreira de artistas. A parceria já está rendendo frutos. A TBA está planejando uma grande turnê do Bad Company pelos EUA no ano que vem, na qual deve ser gravado o primeiro DVD/ vídeo ao vivo do conjunto, com previsão de lançamento para o segundo semestre de 2002.
A gestação dessa nova encarnação do Bad Company começou em 1998, quando Mick Ralphs, o guitarrista original da banda, iniciou os trabalhos para fazer a compilação "Anthology", uma caixa com quatro CDs a ser lançada no ano seguinte com o melhor dos 25 anos de carreira do conjunto inglês. Ralphs, ex-Mott the Hoople, manteve a chama do Bad Company acesa mesmo com a saída do carismático Paul Rodgers em 1982. Desde então, até meados dos anos 90, houve mais uma deserção, o baixita Boz Burrell, e a banda vagou sem um décimo do prestígio que tinha nos anos 90. Apesar de ter por um bom tempo como vocalista o inglês Robert Hart, a banda se afundou cada vez mais.
Após um longo período de inatividade, Ralphs foi convocado pela gravadora da banda para coordenar os trabalhos de "Anthology". Deixando os ressentimentos de lado, Ralphs convidou Rodgers, Kirke e Burrell para participarem do projeto, que previa a escolha das músicas mais marcantes e de faixas rarassss, muitas não editadas.
O trabalho foi realizado de forma fácil e o entendimento entre eles foi bom. Ralphs não perdeu tempo e propôs que os quatro da formação original compusessem e gravassem quatro músicas em estúdio para servir de chamativo para a caixa. Todos aceitaram e o quarteto fundador, reunido depois de 17 anos de separação, compôs e gravou no começo de 1999 as músicas "Tracking Down a Runaway", Ain't It Good", "Hammer of Love" e "Hey, Hey". A caixa foi um sucesso e rendeu uma elogiada turnê pelos Estados Unidos e pela Inglaterra. No entanto, cada um tomou o seu rumo após a reunião.
Diante disso, causou surpesa o anúncio da volta definitiva do Bad Company ao mercado, sem Mick Ralphs e Boz Burrell e capitaneada por Paul Rodgers, que jamais cogitou até o ano passado reformar suas antigas bandas - Free, Bad Company, The Firm e The Law -, já que sua carreira solo estava indo muito bem, principalmente com a boa acolhida de seu CD ëlectric", de 1999. Resta agora torcer para que não seja apenas um retorno caça-níqueis, sem rpeocupação com a qualidade.




Kiss FM continua matadora


A rádio Kiss FM de São Paulo - 102,1 MHZ - continua sendo a melhor opção para quem gosta de rock de qualidade no dial paulistano. Apostando cada vez mais no cocneito "classic rock" - músicas mais importantes do gênero (e para nossa sorte nem tão importantes assim, mas igualmente maravilhosas) editadas entre 1960 e 1985, muito difundido na Inglaterra e nos Estados Unidos - o público da emissora cresce cada vez mais. Merece ser conferida. No final de semana de 20 e 21 de outubro, durante uma das tardes, uma sequência para arrebatar os amantes do rock progressivo: a primeira das três partes de "Journey to the Center of the Earth", de Rick Wakeman, "Starless", do King Crimson, "The Power and the Glory", de Gentle Giant, "Elephant Talk", outra do King Crimson, e "Set the Control of the Heart of the Sun", do Pink Floyd. À noite, uma sequência pedasa: "Judgement Day", do Whitesnake, "School's Out", de Alice Cooper, "For Those About to Rock"e "Rock'n'roll Ain't Noise Pollution", do AC/DC, e a mágica "Dance the Night Away", do Van Halen. Essa rádio vai longe.