sábado, setembro 11, 2010

Saudades da CUT


Comecei a aprender alguma coisa sobre política no antigo ginásio, hoje ensino médio, lendo jornais.

As figuras predominantes na época, começo dos anos 80, eram Lula e Jair Meneguelli, então presidente da CUT, no lado do bem, e os nefastos Paulo Maluf, Franco Montoro, Orestes Quércia e toda uma corja que se amontoava no PMDB e no PDS (depois PFL, depois DEM), do lado do mal.

Ninguém falava de outros nomes. Gilson Menezes era um petista restrito ao ABCD como prefeito de Diadema. Djalma Bom era um petista que foi muito bem votado como deputado federal, mas também pouco ultrapassava os limites das sete cidades.

Meneguelli era o cara. Em seguida veio Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, que unificou e criou o Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD, foi presidente da CUT e virou deputado federal. Só perdia em importância política para Lula.

Luiz Martinho trilhou o mesmo caminho de Vicentinho, ganhou projeção nacional como presidente do sindicato, subiu ainda mais como presidente da CUT, virou ministro e prefeito de São Bernardo.
Ou seja, a CUT tinha importância mais do que fundamental na política brasileira: era crucial para a existência de uma oposição séria e programática, com conteúdo. Aprendi bastante sobre política com a CUT e seus líderes.

Cadê a CUT agora? Só leio alguma coisa nos noticiários dos jornais às vésperas do 1º de Maio. A CUT sumiu dos jornais, da TV da vida cotidiana.

A Força Sindical, por seu lado, virou um feudo de um grupelho ligado ao PDT e ao deputado federal Paulinho da Silva. Submergiu da mesma forma que a CUT.

A perda de relevância – tomara que momentânea – da CUT não tem a ver diretamente com a administração do presidente Arthur Henriques.

É fruto de um processo que começou ainda nos anos 90 e, ironia do destino, acabou sendo parcialmente vítima do sucesso da política econômica que chegou ao auge no governo Lula.

Aparentemente, as pessoas precisam menos dos sindicatos e os colocaram em quarto plano em suas vidas pessoais. Ainda há demandas trabalhistas gigantescas no Brasil, mas a vida do trabalhador nos últimos oito anos, especialmente, melhorou bastante. O foco mudou.

Portanto, ou a CUT justifica seu passado e retoma a sua relevância na vida trabalhista e política do Brasil, ou terá o destino da Força Sindical e de outras pseudo-centrais, meros cartórios que servem apenas para tomar dinheiro do governo.

Da mesma forma, os sindicatos precisam se reinventar, até mesmo se tornar ONGs, com mais abrangência e mais funções sociais.

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD caminha há anos nesta direção, mas precisa ser mais rápido e mais ágil. A instituição, infelizmente, também está ausente dos noticiários. Isso é ruim para a sociedade brasileira.

quinta-feira, setembro 09, 2010

Cenas hilárias da eleição


A cada eleição o horário eleitoral gratuito na TV e no rádio piora, e muito. A Quantidade de seres execráveis que ofendem a inteligência do eleitor é imensa, gente sem o menor pudor para expor de maneira vexatória, seja por conta das frases idiotas, pelos erros crassos de português ou simplesmente pelos nomes ridículos que adotam.

A moda agora é fazer jingles com paródias de músicas famosas. São os casos de seres inomináveis como Lindolfo Pires (DEM), um candidato a deputado estadual na Paraíba, que assassinou “Beat It”, de Michael Jackson. Escute a pérola:

http://www.youtube.com/watch?v=vpIzP09JwDE

Já o candidato a deputado estadual Claudir Maciel (PSB), cometeu o seguinte crime contra “I Want to Break Free”, do Queen, em Santa Catarina:

http://soundcloud.com/user9340729/eu-vou-votar-no-claudir-23123

Nem mesmo candidatos sérios escapam do vexame, como Cândido Vacarezza (PT), candidato à reeleição em São Paulo para deputado federal. Sua “versão” para a péssima “Rebolation” é de chorar:

http://soundcloud.com/user9340729/vaccarezza-reboletion

Mas hilário mesmo é ver gente completamente sem noção desfilar um monte de bobagens ideológicas, nas quais partidecos como PSTU e PCO são especialistas.

Uma coitada, candidata do PCO a deputada estuadal, não teve vergonha de bradar a “presença da Polícia Militar” no campus da USP, quando a corporação teve de intervir algumas vezes para tentar acabar com a baderna de grevistas e estudantes vagabundos.

Essa é a sua “plataforma”: lutar para “livrar” a USP da polícia e tornar o campus um lugar livre para a atuação de ladrões e criminosos em geral, além de permitir aos baderneiros e estudantes nem um pouco interessados em estudar fazer qualquer tipo arruaça, vandalismo e depredações.

A democracia é maravilhosa, mas às vezes é engraçada, e muitas outras bastante cansativa.

quarta-feira, setembro 08, 2010

Descobriram que Itaquera existe


Onde fica Itaquera mesmo? É um bairro? É uma cidade? Quem lê os jornais paulistanos em busca de informações sobre os 100 anos do Corinthians tem a nítida impresão que a imprensa só descobriu agora o fundão da zona leste da Capital.

Repórteres escrevem sobre o local como se estivessem em outro mundo, em um lugar inóspito e habitado por tribos indígenas que nunca tiveram contato com os “ocidentais”.

É impossível não notar, além do despreparo de alguns profissionais, o preconceito implícito em muitos textos, especialmente na descrição da pobreza e da falta de infraestrutura básica no entorno do chamado centrinho de Itaquera.

O que diriam eses jornalistas, então, se soubessem da existência de locais ainda mais problemáticos em Mauá, por exemplo, ou em favelas paupérrimas na periferia de São Bernardo?

Essa espetacularização da pobreza e a falta de senso crítico ao se publicar qualquer declaração estapafúrdia sobre os supostos “beneficios” que o “suposto” estádio traria mostram claramente uma falta de compromisso como a informação.

Nenhuma publicação da Grande São Paulo se preocupou em analisar o que pode significar a obra-factoide para a região - não vai acontecer nada, não vai trazer crescimento, não vai gerar empregos, pois nenhum estádio do mundo teve esse poder.

Itaquera? Muito prazer…

terça-feira, setembro 07, 2010

À mercê da delinquência estatal


A internet é terra de ninguém desde sempre, onde são cometidos crimes variados e fraudes diversas. O roubo de dados sigilosos é coisa comum, especialmente em relação a dados bancários e senhas para qualquer coisa. O mundo ainda engatinha na tentativa de coibir e punir esses crimes – no Brasil, então, a coisa é bem pior.

Quando o crime é cometido pelo Estado, então a situação é de total descontrole administrativo e de terror institucionalizado.

A cada semana surgem novas denúncias de utilização de dados privados sigilosos para fins políticos, eleitorais e criminais. É o fim do direito constitucional à privacidade garantido pela Constituição.

Qualquer funcionário de quinto escalão consegue ter acesso a informação financeira e patrimonial de qualquer cidadão brasileiro. É uma arma poderosa demais nas mãos de funcionários públicos graduados.

Imagine então nas mãos de gente desqualificada e pronta para delinquir, dentro de um Estado aparelhado em plena campanha eleitoral.

O crime cometido por funcionários da Receita Federal – e, ao que parece, do ABCD – é hediondo. Vasculhar a vida financeira e patrimonial de adversários políticos é um atentado à democracia e ao Estado de direito.

Significa que qualquer um de nós pode ser vítima de quadrilhas instaladas na administração pública que podem usar informações de forma política ou até mesmo para chantagear, extorquir e roubar.

O governo federal demora para dar explicações. Trata a questão como se fosse uma coisa menor, uma simples “infração administrativa”.

Lamentavelmente a face mais asquerosa e preocupante do aparelhamento do funcionalismo federal se manifesta no fim do governo Lula. Quem vai nos salvar?
Mais uma lei que precisa ‘pegar’


O grau de civilização de um povo é medido, entre outras coisas, pela adesão e respeito às leis, qualquer lei. É quase inacreditável que ainda tenhamos de ouvir com muita frequência que no Brasil existem leis que pegam e outras que não pegam. Imagine então o que dizer de um estrangeiro quando ouve tal coisa.

Esse abuso de incentivar leis a “não pegarem” tem uma parcela imensa de responsabilidade das empresas, e falo de grandes multinacionais.

Um dos exemplos recentes é a norma técnica, com força de lei, que o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça editou em junho a respeito dos telefones celulares.

O órgão do Ministério da Justiça considera agora o telefone celular um item essencial da vida moderna, tanto para o trabalho como para o cotidiano de estudantes e donas de casa.

Portanto, a partir de agora quem tiver celular com defeito ainda dentro da garantia pode procurar uma loja do fabricante e exigir a troca imediata do aparelho ou o dinheiro de volta, desde que apresente a nota fiscal.

Por que isso? Porque fabricantes, lojas e assistências técnicas descumpriam sistematicamente o Código de Defesa do Consumidor (CDC), ignorando a lei e enrolando o cliente na hora de consertar o aparelho.

O jogo de empurra criminoso, em alguns casos, fez com que consumidores esperassem seis meses por telefones no conserto.

Evidentemente que os fabricantes chiaram, e muito. A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), que representa essas empresas, diz claramente que a norma técnica do governo é apenas uma “recomendação”, e não lei. Mentira absurda e abjeta.

Nesta quinta-feira, por exemplo, o DPDC recusou proposta de “flexibilização” da norma que manda trocar imediatamente celulares com defeito, desde que estejam na garantia.

A proposta, que não foi detalhada pelo órgão, é de autoria das empresas Nokia, Motorola, a – acompanhada de LG, Samsung e Sony Ericsson –, que estiveram reunidas com o DPDC.
As sugestões das empresas, de forma correta, foram descartadas porque contrariavam o Código de Defesa do Consumidor (CDC). Nem a Abinee e nem os representantes dos fabricantes informaram o teor da proposta feita ao Ministério da Justiça. A nota do DPDC indica que a proposta não atendia a obrigatoriedade de que a troca fosse imediata.

“Embora o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor esteja sempre aberto ao diálogo e ao recebimento de novas iniciativas dos fabricantes que sinalizem o respeito à regra prevista no CDC, entende que os consumidores devem ser respeitados e as trocas devem ocorrer imediatamente”, diz uma nota do DPDC sobre a recusa da proposta.

A Nota Técnica 62/CGSC/DPDC/2010 do Ministério da Justiça, publicada no dia 23 de junho, classificou o celular como “bem essencial” e determinou a obrigatoriedade da troca imediata dos aparelhos defeituosos.

A mudança foi motivada pelo fato de o celular ser o produto que mais registra reclamações nos Procons (24,87% do total de 100 mil reclamações em 21 Procons estaduais e 18 municipais).

Segundo o DPDC, as lojas fogem da responsabilidade e as fabricantes encaminham os casos para as assistências técnicas, que retêm os aparelhos para investigar eventual culpa dos consumidores.

Ou seja, as empresas multinacionais que fabricam e vendem celulares no Brasil insistem em afirmar que o governo apenas “recomendou” a troca imediata. Uma dessas empresas chegou até a recomendar em seu site que suas lojas próprias não seguissem a orientação do DPDC. A repercussão foi péssima, e o texto foi retirado.

Entretanto, nas lojas, repórteres do Jornal da Tarde, se passando por clientes, ouviram claramente de funcionários: “Recebemos orientação para não cumprir tal determinação”.

Em algumas situações, os funcionários simplesmente diziam que tal lei não existia. Numa delas, encontraram um consumidor irado e chato, que chamou a polícia, esfregou na cara do gerente a determinação no Diário Oficial da União e acionou o fabricante no Juizado Especial Cível pedindo indenização por danos morais.

Essa lei vai pegar? Infelizmente, vai depender de nós.

domingo, setembro 05, 2010

Onde a civilidade venceu o oportunismo


Um empresário de São Bernardo, leitor assíduo do ABCD Maior, me alertou outro dia ( ou será que, na verdade, ele me cobrou?) sobre uma questão: a campanha da Associação Viva São Bernardo para impedir a construção do cadeião da cidade no bairro Baeta Neves, perto do centro, não pode ser enquadrada nos casos que citei outro dia a respeito de Higienópolis, Pompeia, Perdizes e Moema?

Não, eu respondi. É unânime entre especialistas em urbanismo e segurança pública a tese de que presídios e centros de detenção precisam estar em regiões isoladas ou com pouca densidade demográfica, como nos Estados Unidos e na Europa. Não foi por outro motivo que a Penitenciária do Carandiru foi desativada.

O cadeião seria construído no terreno atrás do 1º Distrito Policial para substituir a carceragem destruída e inviável daquela delegacia. Manter estruturas penitenciárias em locais densamente povoados dificulta a manutenção e eventuais combates a rebeliões e fugas – como acontece hoje em Santo André, no cadeião que fica ao lado do 4º DP, na Vila Palmares.

Além do mais, tanto em São Bernardo como em Santo André os cadeiões chegariam bem depois dos moradores, e em áreas densamente povoadas.

Sob qualquer ponto de vista a construção do cadeião de São Bernardo na avenida Armando Ítalo Setti seria um despropósito.

O Baeta Neves e o centro são áreas densamente povoada e com movimento digno de uma metrópole. Construí-lo ali seria o maior erro, pois se trataria apenas de mera conveniência, já que o terreno da delegacia é do governo do Estado.

A mobilização iniciada pela Associação Viva São Bernardo conseguiu a rara proeza de unir políticos locais que eram adversários ferrenhos. Juntos, vereadores, deputados estaduais e federais fizeram um barulho danado e chamaram a atenção do governo do Estado.

A princípio alheio à movimentação, o então prefeito Maurício Soares (na época no PSB), então com boas relações com o Palácio dos Bandeirantes, evitou se envolver no assunto para não melindrar aliados, até que sua aguçada sensibilidade política percebeu o tamanho da encrenca.

Soares decidiu encampar o pleito depois de certa pressão de aliados municipais e usou seu ótimo relacionamento com o governador Mário Covas para ajudar a administração estadual a desistir da ideia e alterar o local do cadeião.

Mesma sorte não tiveram os moradores da Vila Palmares, de Santo André. Não houve movimentação popular forte o suficiente para chamar a atenção de políticos andreenses do prefeito de então para barrar o cadeião na área do 4º DP. Isso só aumenta o mérito da Associação Viva São Bernardo.