E o impensável aconteceu. A gravadora brasileira Universal, contra todos os prognósticos, resolveu lançar no Brasil a edição dupla de "Live at Leeds", clássico do grupo inglês The Who gravado em 1970. Essa edição foi lançada nos Estados Unidos e na Inglaterra no ano passado, fato que comentei aqui.
A atitude da Universal é mais do que louvável, mesmo que a edição brasileira não seja a de luxo lançada no resto do mundo (que vem com embalagem de papelão, fotos exclusivas na contracapa e livreto com 32 páginas. No Brasil a edição de luxo custa R$ 85,00, importada, na Galeria do Rock. A edição brasileira, em CD duplo, custa R$ 45,00 em média e pode ser achada em qualquer boa loja de discos do país.
"Live at Leeds" frequenta as listas de dez melhores discos ao vivo de todos os tempos. É um item indispensável para quem gosta de rock. Ali é o auge da banda, com Roger Daltrey cantando como nunca e Keith Moon mostrando que foi o melhor baterista da história do rock ao lado de John Bonham (Led Zeppelin). Pete Townshend mostra ser um estupendo guitarrista no CD 1 e fica mais comedido no CD 2, que é a parte da apresentação da ópera-rock "Tommy" ao vivo. Nesse CD ele deixa Moon e o baixista John Entwistle brilharem, sendo que este transforma seu baixo numa autêntica guitarra-base.
Por questões de custos, a Polydor inglesa editou "Live at Leeds" apenas com seis músicas e pouco mais de 30 minutos em 1970, sendo que ali existem uma versão maravilhosa de "Magic Bus" (a melhor versão desta música, com mais de sete minutos), e uma viagem em "My Generation" (ao final da música os quatro fazem uma jam que dura 14 minutos).
Somente em 1999 é que Pete Townshend, o líder do Who, autorizou o lançamento de toda a discografia da banda com faixas adiconais (ao vivo ou inéditas). "Live at Leeds" ganhou assim outras oito músicas que faziam parte da lista original de músicas da primeira parte do show. Apesar dos pedidos da gravadora, Townshend relutava em permitir o lançamento da segunda parte do show - "Tommy"ao vivo - por dois motivos: achava que a performance deles não fora boa (um absurdo completo) e a sua falta de tempo para supervisionar pessoalmente a mixagem e a remastrização. O guitarrista foi convencido pela gravadora somente em 2001.
Ao contrário do que as reportagens da imprensa brasileira fazem crer, o Who não tocou "Tommy" na íntegra pela primeira vez em "Live at Leeds". Na verdade, a íntegra só foi regsitrada ao vivo de fato na turnê de 1989. Desde o começo da turnê de "Tommy", que começou no fesdtival de Woodstock, em agosto de 1969, a banda tocava apenas parte da ópera-rock.
Em Leeds, o concerto de 14 de fevereiro registrou uma versão rara de "Tommy" ao vivo porque continha mais músicas daquele álbum do que o normal. Entretanto, faltam em "Live at Leeds" músicas-chave para que a obra fosse entendida, como "Cousin Kevin", "Sensation" e "Welcome", enquanto que coutras viraram apenas vinhetas.
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