sábado, julho 09, 2011

Rock ruim incentiva crianças a ouvir rock bom?


A sala do conservatório estava cheia. O calor era forte, mesmo para o interior do Estado de São Paulo neste começo de outono. Muita gente boa que fez parte do rock da cidade estava lá para ver a exibição de formatura dos filhos.

Um garoto magro, de cabelos longos presos em um rabo de cavalo, incomodado com o blazer elegante que vestia, nem olhou para a plateia quando subiu ao palco. Com um violão Ovation tinindo de novo e maravilhosamente afinado, executou três peças para demonstrar o que aprendera no violão clássico aos 13 anos de idade.

Não parecia estar nervoso. Quando começou a tocar, ficaram nervosos todos os roqueiros que apreciam boa música. Naquele conservatório de Jundiaí, o menino executou quatro partes de “Concerto Suite for Electric Guitar and Orchestra in Eb menor, Opus 1”, clássico do mago da guitarra sueco Yngwie Malmsteen.

A execução foi perfeita, assim como algumas partes de “Concert for Group and Orchestra”, do Deep Purple, para encerrar com uma peça de Bach. Ao agradecer os efusivos aplausos e sair do palco, o garoto tirou o blazer. Vestia uma camisa preta do Dream Theater. Isso ocorreu em 2008. Hoje o mesmo garoto toca em três bandas de rock pesado e está prestes a se tornar um músico erudito _ e conhece muito de rock.

Ontem, durante uma festa de pré-adolescentes, uma garota de dez anos, bem vestida para festa, me perguntou o que eu achava da banda Paramore. Respondi que não gostava, que era bem fraquinha e que faltava na qualidade nas músicas. Ela ficou me olhando intrigada, e depois me mostrou um CD da boa banda feminina The Runaways.

“Quem lhe deu isso?”, eu perguntei. “Meu pai. Vimos o filme delas em DVD e fiquei emocionada. Mas agora eu não sei mais o que fazer: gosto do Restart e do Paramore, mas agora amo essa banda…”

Com a minha característica falta de sensibilidade de metaleiro radical, nem pensei duas vezes: “Esqueça Paramore e a bandinha colorida. Runaways é a melhor porta de entrada para o rock.” Ela fez cara feia e entrou para o saguão do prédio. Para minha surpresa, ela era a guitarrista da bandinha de rock da escola que tocou três músicas na festa, duas da tal Paramore e uma do Restart.

Para quem teve a paciência de ler as duas historietas, a questão que fica e que dominou a conversa entre os demais pais, roqueiros das antigas e com graus variados de informação sobre o que rola atualmente, foi a seguinte: até que ponto é válido incentivar as crianças a ouvir rock, mesmo que seja porcaria, como forma de iniciação?

Um ex-baterista de pouco talento, mas muita paixão por Neil Peart, do Rush, tentou definir a questão. “Tá, Restart é bem ruinzinho, é o ‘Menudo’ dessa geração, mas pelo menos é rock, não é pagode, axé ou sertanejo. Que meu filho escute CPM 22, Fresno e outras coisas emo, mesmo que sejam ruins. é mais instrutivo do que o resto.”

Os cinco roqueiros se dividiram neste papo de arquibancada, em que nem mesmo quem fala mais alto tem razão e a discussão acaba com pouca ou nenhuma conclusão.

Há cinco anos eu achava que ouvir CPM 22 era melhor do que nada – axé, pagode, sertanejo e MPB cabeçuda são nada. “Pelo menos é rock”, dizia eu, na esperança que o emocore dos garotos servisse ao menos para despertar o interesse das crianças para o que realmente importava no rock.

Mudei de opinião. Na verdade não faz diferença, a julgar pelas conversas que frequentemente tenho com amigos e pelo que leio nos jornais. São poucas as crianças que mantém algum interesse genuíno pela música quando a febre passa. Essas bandas adolescentes somem assim que as crianças e pré-adolescentes de dois anos atrás crescem. Alguém aí sabe por onde anda CPM 22 e NX Zero?

A grande maioria da molecada, pelos relatos de pais, professores e irmãos de crianças e pré-adolescentes, adere a algum ritmo musical por modismo, e geralmente não faz diferença: começa com Restart, depois pula para Paramore e desemboca em Luan Santana. A relação com a música fica superficial.

Isso explica, em parte, porque os roqueiros são mais fanáticos e interessados em música, na média, do que os apreciadores de outros gêneros. Talvez explique porque a maioria de nossos amigos é tolerante com a música, sendo capazes de se divertir, à maneira deles, no show do Iron Maiden e do sertanejo Leonardo, por exemplo.

Descontando o saudosismo, e sem o menor rigor científico de amostragem, percebo – e não apenas eu – que mudou bastante a relação dos jovens com a música.

Os roqueiros sempre foram minoria nas escolas e nos grupos de jovens em geral, mas a impressão que tenho é que o número de garotos roqueiros que têm grande interesse pela música – que vão atrás de CDs, MP3 e qualquer tipo de informação – diminuiu em relação aos anos 80.

Por todos os ambientes em que circulo, seja em São Paulo ou em outras cidades de São Paulo e outras capitais, a intensidade da relação da maioria da juventude hoje não é mais a mesma – ou está bastante diferente.

É muito legal ver garotos e garotas acompanhados dos pais ou de responsáveis curtindo adoidado o show do AC/DC ou do Iron Maiden. Como será que esses meninos e meninas foram introduzidos no rock e no rock pesado?

Hoje tenho certeza de que não foi por meio das bandas adolescentes carentes de talento e credibilidade que infestam o mercado atualmente, lamentavelmente – gostaria que fosse, pelo menos esses artistas teriam servido ao menos para alguma coisa.

E cada vez mais circunstâncias como essas reforçam o estereótipo do pai que luta para que os filhos torçam para o mesmo time que o dele: é necessária uma marcação cada vez mais cerrada dos responsáveis para que as crianças e pré-adolescentes sejam cada vez menos suscetíveis à música ruim, já que é impossível ao menos amenizar a exposição ao lixo sonoro.

Informação é tudo em qualquer área de atuação, mas é muito mais fundamental da formação musical de um ser humano. Expor crianças ao pagode, ao axé, ao sertanejo e às MPB da pior qualidade deveria ser crime hediondo, inafiançável e passível da perda da guarda dos filhos.

quinta-feira, julho 07, 2011

‘Born Again’: por que o álbum do Black Sabbath é venerado no Brasil?


“O pior disco da minha vida é o mais cultuado no Brasil. Não consigo entender isso.” A declaração é de um surpreendentemente bem humorado Ian Gillan em 1997, na entrevista coletiva em um hotel de São Paulo, às vésperas de mais um show do Deep Purple na cidade. Ele não se estendeu muito, pois a pergunta foi feita por um fã quando ele ia para o seu quarto.

Dois dias mais tarde, após a apresentação no antigo Olympia, em um bar rock que já não existe mais, ainda mais bem humorado, que era quase inacreditável, Gillan resolveu soltar os cachorros contra “Born Again”, seu único trabalho com o Black Sabbath, em 1983.

”Tudo estava meio confuso, estava bagunçado, e sei que Tony (Iommi) não trabalhava daquela forma. Mas as coisas estavam esquistas, Bill (Ward) estava com seus problemas crônicos de saúde, Geezer (Butler) estava muito preocupado com coisas fora da banda. Algumas músicas eram realmente boas, mas a produção é muito ruim, há sons que não faço ideia do que são. Não sei se é o piode de minha carreira, mas não gosto dele. O tempo que passei no Sabbath foi maravilhoso, amo Tony e Geezer, mas o resultado não foi bom. Não consigo porque brasileiros, argentinos, mexicanos e gregos amam esse trabalho”, disse o vocalista.

Ian Gillan resumiu com sua perplexidade um fato que ninuém explica. “Born Again”, o disco que ganhou quase todas as eleições de capa mais feia e horrenda do rock, vendeu pouco, teve uma turnê complicada pela América do Norte e Europa e não pôde contar com Bill Ward nos shows, mais uma vez doente, substituído pelo apenas correto Bev Bevan (ex-Electric Light Orchestra).

A produção realmente ficou aquém do que se poderia esperar de um álbum com a grife Black Sabbath. Abafada, a mixagem ressaltou demais o baixo, tornou a voz de Gillan estridente e soterrou, em algumas faixas, a guitarra de Iommi. Mas assim mesmo é considerado uma obra-prima do heavy metal.

Nem a banda sabe ao certo o que produtor Robin Black, amigo de Iommi, conseguiu fazer. Embora no primeiro mês de lançamento o álbum tenha chegado à posição nº 4 das paradas inglesas, teve desempenho muito discreto nos Estados Unidos no mesmo período, e depois acabou decepcionando os empresários do grupo.

Seja como for, o álbum causou um choque assim que chegu às lojas, em 1983. A expectativa era enorme. Dois gigantes se unindo em uma nova superbanda, uma espécie de Deep Sabbath. O estranhamento foi imediato na primeira audição, mas depois os fãs foram se acostumando com o peso absurdo e a sonoridade bem sombria.

O resultado é que no Brasil o álbum ficou por um breve período fora de catálogo em LP entre os anos de 1983 e 1993. Em CD sempre esteve nas lojas, até mesmo nas grandes lojas. Virou objeto de culto, e foram poucas as vozes que criticaram ou detestaram o álbum.

Mas o culto e a veneração fazem algum sentido? Totalmente. Apesar do processo caótico da gravação e da aparente informalidade e bagunça que dominavam o Black Sabbath, o grupo cometeu uma obra-prima. Por muitos anos foi sinônimo de heavy metal no Brasil. Se alguém qeria saber o que era som pesado, era só mostrar álbum e afirmar: “Isso é heavy metal.”

“Trashed” é uma paulada na abertura, um heavy poderoso e acelerado, com Ian Gillan cantandom muito. “Born Again” tem mesmo astral de “Black Sabbath”, com seu andamento lento e sombrio, riffs pesados e cortantes e uma dramaticidade assustadora. “Disturbing the Priest” é outra faixa assustadora, que não faria feio na trilha sonora do inferno, de tão pesada. “Keep It Warm” traz um excelente trabalho de guit antigas darras. “Zero the Hero” e “Digital Bitch” foram os hits, faixas pesadas e curtas.

A turnê que se seguiu teve bons momentos, mas não foi aquilo que todos esperavam. Gillan não cantou tudo o parecia poder cantar no Black Sabbath, as canções antigas da banda evidenciaram o desconforto do vocalista em interpretá-las – fato que ele confirmounaquele boteco em 1997: “São clássicos, é lógico, mas não eram minhas músicas, não gostava dos temas, era algo totalmente fora da minha realidade. Mesmo as músicas da época de Ronnie (Dio) me causavam desconforto.”

Uma curiosidade, e que acabou virando raridade para colecionadores, foi a inclusão de “Smoke on the Water”, do Deep Purple, no repertório da turnê. Iommi desconversa sempre e diz que foi uma gentileza da banda para Gillan, que gostaria de cantar a música. Butler disse uma vez que não gostou muito, mas que acabou sendo divertido. Nos bastidores, entretanto, a historinha era outra: teria sido uma exigência do vocalista.

Seja como for, nas gravações mais audíveis da turnê, escutar “Smoke on the Water” com o Black Sabbathé maravilhoso, com o timbre gordo e pesado da guitarra de Iommi e o baixo extremamente pesado de Butler. Não poderia haver coroamento para um período curto, mas vibrante do heavy mtal, onde foi produzidauma verdadeira obra-prima.

Apesar de ter adorado aquele período, Gillan não via muito futuro no Black Sabbath. O convite apareceu em um momento crucial, quando ele convalescia de uma cirurgia feita na garganta no final de 1982.

“Mas o fato é que eu não tinha certeza se queria continuar e se a banda comigo nos vocais teria condições de melhorar. Enquanto eu pensava, surgiram as negociações para a volta da formação clássica do Deep Purple, algo que eu não botava muita fé. Mas depois que vi que a reunião do Purple era para valer, no começo de 1984, ao final de nossa turnê pela Europa, nem pensei duas vezes. Agradeci a Geezer e Tony e voltei para minha banda de verdade”, disse Gillan em 1997.

O que pouca gente sabe é que Butler também estava louco para sair, mas não tinha coragem de decepcionar o amigo Iommi. A saída de Gillan foi o que Butler precisava para deixar a banda – embora ainda tenha permanecido, segundo uma entrevista de Iommi em 2003, nas audições para um novo vocalista em 1985 – primeiro Dave Donato, depois Jeff Fenholt.

A história após isso todo mundo sabe: o Black Sabbath praticamente acabou, Iommi tirou férias e decidiu gravar um álbum solo tendo o amigo Glenn Hughes (ex-Deep Purple) ns vocais e eventualmente no baixo. As músicas tinham como base as demos de “Star of India”, aquele seria um disco do Sabbath de 1985.

“Seventh Star” chegou às lojas em 1986, mas sob o nome Black Sabbath. A mudança de última hora, segundo Iommi, foi uma exigência da gravadora: ou vira um álbum do Sabbath, ou não sai – fato que irritou muito Glenn Hughes.

Para encerrar, nas palavras de Gillan, como ocorreu a sua “contratação”, indicando que a coisa não poderia dar muito certo: “Ainda estava me recuperando da cirurgia em 1983 e não tinha mais banda solo. Sempre fui amigo de Tony e Geezer, nos falávamos sempre desde 1972. Um dia estava cansado de ficar em casa e fui tomar umas cervejas e jogar bilhar com Tony e o empresário do Sabbath na época em um pub – acho que Geoff (Nicholls, tecladista de apoio do Black Sabbath) estava também. Ficamos a noite inteira bebendo, rindo e jogando, e alguém falou que eu poderia substituir Ronnie Dio no Sabbath. Todo mundo riu da ‘piada’, menos Tony, que parou de falar por uns dez minutos. Ninguém entendeu. Aí, do nada, ele mandou, ‘Por que não?’. Todo mundo ficou cara de interrogação e ele insistiu, ‘Por que não Ian no Black Sabbath?’ Ninguém levou a sério. Só sei que, de manhã, com todos muito bêbados, eu já tinha aceitado, não sei como, ser o vocalista do Black Sabbath.Tinha até assinado uma espécie de ‘contrato’ no bar. E foi assim.”

terça-feira, julho 05, 2011

Discriminação e perseguição a roqueiros em pleno século XXI


As revistas especializadas em heavy metal e classic rock brasileiras de vez em quando trazem cartas de leitores narrando situações de discriminação por gostarem de rock pesado, usarem cabelos compridos ou camisas pretas.

Na maioria esmagadora dos casos, são moradores de cidades do interior de Estados, rincões do país longe das capitais – locais onde predomina a baixa escolaridade, a mentalidade tacanha, o coronelismo político e aperniciosa e odiosa influência da Igreja Católica.

E não é que tal situação ocorre em pleno 2011 em São Paulo, a maior cidade do Brasil e sua capital cultural, ao menos em relação ao volume de eventos e opções oferecidas? E pior, em uma escola particular da zona oeste, região de alto poder aquisitivo e, presume-se, com maior incidência de pessoas com boa formação educacional – ou pelo menos acima da média?

Erick é um garoto de 18 anos que cursa o ensino médio em uma pequena cidade do interior do Paraná. Amante do rock, toca violão e está aprendendo guitarra, mas é visto como um extraterrestre em sua própria casa – imagine então no resto da cidade (evitarei citar o nome inteiro do garoto e o nome da cidade para que não haja mais ataques).

Seu cabelo nem é tão comprido assim e usa de vez em quando camisetas pretas com estampas do Iron Maiden e do Metallica. Em carta a uma revista especializada enviada no ano passado, contou que quando tinha 15 anos era xingado pelos colegas de escola e que era impedido de jogar futebol nos times de várzea da cidade.

Nunca foi agredido, mas era vítima constante de gozações e brincadeiras de péssimo gosto. Também era menosprezado pelos professores e ignorado por atendentes de lojas e botecos quando queria comprar alguma coisa.
Na zona oeste de São Paulo, Pedro (nome fictício) estuda em um colégio caro no bairro de Pinheiros. Tem 13 anos e é filho de um publicitário que toca baixo em uma banda que faz versões para clássicos do rock.

Capa de "Born Again", do Black Sabbath, lançado em 1983. Esse LP foi banido de discotecas e bibliotecas de escolas particulares e faculdades de Guarulhos e da zona norte de São Paulo na época por causa de sua casa. Vinte e oito anos depois, o preconceito contra o metal continua

Autodidata, com alguma ajuda do pai, aprendeu quase sozinho tocar guitarra, baixo e teclado. É fissurado em Dream Theater, Deep Purple, Black Sabbath, Metallica e Grand Funk Railroad.

Incentivado pelo pai, tem cabelo preto liso comprido, usa capa de caderno com a estampa do boneco Eddie, do Iron Maiden, e abusa das calças jeans e das camisetas brancas e pretas lisas, bem simples – a escola permite.
Para completar, mesmo com o jeito desencanado e despojado, é um dos melhores da classe e sua menor nota é 8, em matemática.

Ou seja, é demais para a mediocridade que reina naquele mundinho: é roqueiro, toca bem vários instrumentos, tem personalidade, é inteligente (ou CDF, como queiram) e não liga para o bullying que sofre. Sempre isolado no recreio, conta apenas com a amizade de uma menina dois anos mais velha e igualmente roqueira.

Vítima preferida da burrice dominante naquele ambiente, era zoado, sofria gozações e sempre foi preterido das brincadeiras e dos esportes, tudo isso com a deliberada omissão de “professores” igualmente medíocres, que nunca engoliram a “independência” do garoto.

Até então Pedro sempre tirou de letra toda essa situação chata, mas na semana retrasada a coisa mudou. Um grupinho de moleques que sempre zoou o garoto desta vez se sentiu ofendido com uma resposta engraçadinha que Pedro deu, provocando gargalhadas generalizadas na cantina.

Enfurecidos, três do grupo cercaram o menino, que era menor do que os agressores, e foi espancado por cerca de um minuto. Chutes, socos e xingamentos de “bicha”, “roqueiro de merda”, “delinquente” e “aberração”, fora os palavrões.
O que os três não esperavam é que Pedro, apesar de um pouco machucado, se desvencilhou dos agressores e, encostado ao balcão da cantina, pegou uma bandeja de aço inox e se defendeu: acerto com a quina a cabeça de um dos agressores. Este caiu, atordoado, e tomou mais duas pancadas, caindo desacordado.

Capa de "Black Metal", do Venom, de 1982, banda precursora do subgênero black metal, com temas satanistas; importado, o LP começou a chegar com mais regularidade a São Paulo no início da década de 1990, mas foi igualmente banido de algumas escolas paulistanas, mesmo que tenham sido levados por alunos. Uma escola da zona norte da cidade chegou a expulsar um aluno por "portar tal coisa satânica". A expulsão foi revertida na Justiça e ainda rendeu indenização por dano moral à família do aluno

Os outros dois avançaram, mas um deles foi atingido de forma certeira na boca. Caiu de costas, com a boca sangrando e sem três dentes da frente. O terceiro agressor mudou de ideia e fugiu.

Calmamente Pedro devolveu a bandeja ao atendente e foi à enfermaria em busca de curativos para as escoriações que sofreu, ignorando os dois agressores caídos – a primeira “vítima” de Pedro teve de ser hospitalizada. Chegou desacordado e passou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Apesar do número imenso de testemunhas, todas favoráveis a Pedro, a escola deve expulsá-lo e nem ao menos vai advertir os agressores.

Uma coordenadora pedagógica, indigna do cargo que ocupa, disse aos pais de Pedro “que já era esperado que ele cometesse algo do tipo, já que era um desajustado”, insinuando que ele era delinquente, apesar de nada constar em seu histórico na escola que pudesse ao menos dar algum indício disso.

A escola, apesar de demonstrar um perfil liberal na propaganda, nunca escondeu que as regras impostas eram conservadoras. Mas teve de recuar na intenção de expulsar Pedro diante de um protesto de cerca de 200 alunos na entrada do prédio principal, reunindo até mesmo gente que não gosta e despreza o garoto agredido.

Várias versões de Eddie, o mascote monstruoso do Iron Maiden; a banda inglesa começou a se tornar febre no Brasil em 1983, com o lançamento do magistral "Piece of Mind", e a cena se repetiu: colégios particulares da Grande São Paulo mais conservadores baniam os LPs de suas bibliotecas por causa da "figura diabólica", entretanto, escolas e os chamados "clubes sociais de famílias" não conseguiram impedir a proliferação de camisetas pretas com a estampa do mascote e não tiveram como conter a onda na época. Mas tentaram

Muitos foram espontaneamente à delegacia de polícia responsável pelo bairro para depor a favor de Pedro, no boletim de ocorrência aberto pelo pai do garoto. O tio de Pedro é advogado em um importante escritório de advocacia de São Paulo e entrou com ação contra a escola dois dias depois da agressão. Pretende pedir um valor alto como indenização por danos morais.

Estamos no século XXI, mas são cada vez mais frequentes as manifestações racistas em estádios de futebol na Europa e no Brasil, assim como manifestações homofóbicas em jogos de vôlei, agressões a homossexuais na região da avenida Paulista e perseguição a roqueiros em colégios de classe média alta na capital paulista.

Ser diferente e ter personalidade são coisas perigosas no mundo de hoje, principalmente quando a pessoa se destaca de forma gritante da mediocridade geral da sociedade e protesta contra a praga nojenta do senso comum e do politicamente correto.

Ninguém precisa gostar do que ou de quem quer que seja – ou mesmo a aderir. Basta apenas respeitar. Para uma parcela enorme da sociedade brasileira, gostar de rock e ser ateu, por exemplo, são crimes que precisam combatidos. Quem pensa deste jeito será igualmente combatido e repelido, com Slayer e Motorhead como trilha sonora de fundo.

Uma das capas de "Creatures of the Night", do Kiss: curiosamente, as capas dos LPs das bandas não eram consideradas ameaçadoras, mas foi só a banda aportar em São Paulo para seus primeiros shows no Brasil, em 1983, para que professores e alguns outros "educadores" se lembrassem de que o quarteto tinha fama de "esmagar pintinhos no palco" com suas botas e eram "enviados do demônio". Quem não se lembra da idiotice do "Kings in Satan Service"? A idiotice humana não tem limites – e ninguém nunca deixou de ganhar dinheiro apostando na idiotice humana

domingo, julho 03, 2011

Saiu da plateia e substituiu Keith Moon na bateria


Imagine um show de uma banda gigante, do Metallica, por exemplo. O show começa e Lars Ulrich, o baterista, demonstra que está esquisito, não está bem. Erra bastante e em passagens fáceis. Atravessa com frequência a música e mostra apatia, coisa que nunca acontecia.

Em determinado momento do show, desmaia sobre a bateria. Há uma paralisação de 15 minutos. Ulrich volta, meio cambaleante, e tenta continuar o show. duas músicas depois, desaba novamente sobre os bumbos, desacordado. Não volta mais para apresentação.

Muito irritado, James Hetfield, o guitarrista e vocalista, em vez de encerrar ali o evento e pedir desculpas, surpreende todo mundo e pergunta à plateia se tem algum baterista por lá. Mais surpreendente ainda, um maluco se apresenta e o show continua, de forma trágica, por mais três músicas.

A situação é absurda demais para ser imaginada, mesmo por roteiristas de cinema. Mas isso realmente aconteceu, e com uma banda gigante. O protagonista foi Keith Moon, que apagou durante um show do Who em San Francisco, na Califórnia, em 1973.

Uma das maiores presepadas do rock, se não a maior, ocorreu no dia 20 de novembro de 1973, no Cow Palace, em San Francisco. Durante a apresentação do Who, que abria a temporada norte-americana de shows do álbum “Quadrophenia”, no meio da música “Won´t Get Fooled Again”, Moon desmaia em cima da bateria.

O guitarrista Pete Townshend avisa à platéia que eles terão que esperar enquanto tentam “ressuscitar” o baterista. Foram 15 minutos de espera até o retorno do maluco Moon, que começou o show esquisito e meio grogue. No retorno, não deu certo: o baterista continuava aéreo e errando e desaba de vez durante a música “Magic Bus”. A banda surpreende e continua sem ele na música “See Me, Feel Me”, sem bateria.

Quando termina esta música, Pete Townshend apela para a platéia e faz a surpreendente pergunta: “Alguém aí pode tocar a bateria? Quero dizer, alguém bom!”

Ante a perplexidade geral, e depois de um silêncio que durou alguns segundos, o empresário de turnê Bill Graham percebe um garoto de 19 anos, morador local, chamado Scott Halpin, sendo empurrado por um amigo do lado direito do palco. Quando deu por si, Halpin já estava no backstage com Graham e com o roadie de Keith Moon, recebendo uma rápida aula sobre a bateria de Moon.

Achando que era um sonho e tremendo de nervoso, recebeu apoio imediato do cantor Roger Daltrey, apesar da indiferença aparente de Townshend e de John Entwistle. O garoto tentou tocar três músicas, seguindo de perto as orientações de Townshend, que berrava ao lado da bateria.


Halpin bem que tentou, mas o desempenho, para ser bonzinho, foi sofríve ao exremo, nas palavras de Entwistle anos depois. foram executadas “Smokestack Lightning/Spoonfull”, “Naked Eye” e a clássica “My Generaration”, no bis antecipado, já que as dificuldades do “novo” baterista eram imensas.

Após o show, Halpin e um amigo que o acompanhava foram convidados para a tradicional festa e bebedeira os final dos shows da banda no camarim e recebeu a “gratidão eterna” de Daltrey, segundo contou a um jornal de San Francisco, além da promessa de receber “em breve” um cheque de mil libras de presente. Nunca recebeu o dinheiro.

Os excessos de Moon com bebidas e estimulantes sempre foram notórios desde o início da carreira do Who. Nunca foi chegado a cocaína e heroína, embora fontes dizem que as tenha usado de vez em quanto, mas adorava beber e misturar com remédios.

Há duas versões para Moon ter apagado naquele dia: antes do início da apresentação, ele bebia com duas garotas no camarim sem saber que alguém havia colocado tranqüilizantes de macacos na bebida. Uma dessas duas garotas teria sido internada em um hospital em estado grave.

Outra versão dá conta que ele ouviu de alguém que tranquilizantes para cavalos “davam o maior barato”. Maluco e louco por “novidades”, teria ido atrás da coisa e a misturado com bebida. Seja como for, nenhuma das versões foi confirmada e o baterista sempre se recusou a falar sobre o assunto em público até a sua morte, em setembro de 1978.

Já Scott Halpin permaneceu em sua vidinha medíocre em San Francisco e nunca tocou bateria profissionalmente. Estdu e trabalhou com artes gráficas e design, além de ter administrado um clube punk e new wave na cidade nos anos 70.

Em 1995 mudou-se para o Estado de Indiana para trabalhar com artes visuais na cidade de Bloomington. Morreu em fevereiro de 2008, aos 54 anos anos, vítima de câncer no cérebro. Nunca recebeu nem mesmo um telefonema ou cartão de Natal dos membros do Who.