sexta-feira, outubro 07, 2011

Coverdale-Page: quem perdeu fomos nós

No auge da fama do Whitesnake, entre 1987 e 1990, David Coverdale concedeu uma entrevista a uma revista inglesa onde desdenhava de algumas músicas do Led Zeppelin e sobre supostas acusações que estava recebendo por ter plagiado ou ao menos ter copiado trechos de outras músicas em suas composições. “Isso é bastante questionável. Se formos levar a fundo mesmo, então mudaremos a história e o Led Zeppelin terá de pagar um dinheirão para Willie Dixon (bluesman norte-americano). Ele é o ‘verdadeiro’ autor do primeiro LP do Led”, disse Coverdale. A falta de jeito e de educação espantou quem o conhecia. Afinal, desde os tempos de Deep Purple que ele havia deixado o estilo polêmico para lá. Recentemente, um jornalista brasileiro tentou lembrá-lo sobre a declaração durante uma entrevista por telefone, mas o cantor inglês desconversou e afirmou não se lembrar daquelas palavras. O curioso é que, para se defender à época, acabou atacando Jimmy Page, o principal compositor do Led Zeppelin. Pouco tempo depois, Coverdale pareceu não se importar em trabalhar com um “plagiador”. O projeto que reuniu os dois era secreto em meados de 1991. Foi de ideia do estafe de Page convidar Coverdale para um projeto de hard rock mais pesado, já que Robert Plant recusara nova proposta de reativar o Led Zeppelin. Coverdale ficou entusiasmado e aceitou conversar e tomar umas cervejas com Page e seu empresário para ver se rolava algo. Dois depois, estavam na casa do guitarrista para algumas jams no estúdio caseiro do local; um mês depois, estavam assinados os contratos para que o Coverdale-Page, nome escolhido para o projeto. E tudo foi feito em segredo, que conseguiu ser mantido até o começo de 1993, quando ninguém conseguia entender o porquê de o vocalista ter desfeito o Whitesnake após a turnê de estrondoso sucesso de 1990. “Coverdale-Page”, álbum homônimo lançado no meio de 1993, é uma obra-prima do hard rock, mesclando a veia mais popular de Coverdale e o peso das guitarras zeppelinianas de Page. O vocalista foi criticado à época por exagerar nos agudos em algumas músicas, o que foi encarado como uma tentativa de emular as performances de Robert Plant nos tempos áureos do Led, na década de 70. É fato que Coverdale forçou um pouco, mas nada que tire o brilho de músicas fantásticas como “Absolution Blues”, “Shake My Tree”, “Take Me For a Little While”, “Whisper a Prayer for the Dying”, “Pride and Joy” e “Over Now”. O entrosamento entre os dois músicos foi total, desde as jams na casa de Page até as jams realizadas no Japão como aquecimento para a turnê. O problema é que tudo estava indo bem demais, todo mundo estava feliz demais, e isso é um perigo em se tratando de Jimmy Page. Há quem diga que o guitarrista é notório por ser perseguido pelo azar ou por “maus fluidos”. Seja como for, o que deu muito certo nos bastidores e nos ensaios ficou esquisito nos palcos. As primeiras performances no Japão foram ótimas, mas depois a coisa começou a complicar. Os empresários de Page começaram a se incomodar com as performances bombásticas de Coverdale, além das vendas decepcionantes, apesar de boas, do CD. Eles achavam que choveriam convites para turnês pela Europa e Estados Unidos, mas isso não ocorreu. Após sete shows no Japão Page foi praticamente obrigado pelos empresários a “descontinuar” a dupla por medo de fracasso financeiros no resto do mundo. Isso não afeitou a amizade entre os dois, mas Coverdale não poupou críticas e acusações pesadas contra os empresários de Page. Nem mesmo um CD excelente fui suficiente para manter esse projeto em pé. Alguns anos depois, em 2000, durante entrevistas para divulgar o álbum solo “Into the Light”, Coverdale insinuou que a parceria não foi em frente porque já havia conversas bastante adiantadas entre os empresários de Robert Plant e Jimmy Page para retomar o Led Zeppelin ou fazerem um trabalho em dupla. Seja como for, Coverdale parecia ter razão. Page e Plant voltaram a tocar juntos em 1994, quando gravaram um especial para a MTV que aabou sendo lançado em DVD e CD com o nome de “No Quarter: Jimmy Page and Robert Plant Unledded”. Quatro anos depois foi lançado o CD “Wlakin into Clarksdale”, totalmente com músicas inéditas, sendo que a parceria chegou ao fim no ano seguinte. Assim como o BBM – o Cream de Eric Clapton sem o mesmo, com Gary Moore em seu lugar –, o Coverdale-Page foi um grande projeto que não vingou por questões puramente comerciais. Quem perdeu fomos nós.

quarta-feira, outubro 05, 2011

Pete Townshend lançará biografia em 2012

Um livro de mais de 30 anos de confecção finalmente vai chegar às livrarias. As memórias de Pete Townshend, guitarrista do The Who, parece que finalmente estão prontas. De acordo com a versão americana da revista Rolling Stone, o músico fechou um acordo com a editora inglesa Harper Collins para lançar seu livro em 2012. Segundo a editora, a autobiografia de Pete estará nas prateleiras no segundo semestre de 2012. “Nos anos 1970, Pete Townshend questionou em uma famosa música ‘quem é você?’. Agora, em seu livro de memórias, gerações de fãs finalmente terão essa resposta que vem sido aguardada há tanto tempo”, afirmou David Hirshey, executivo da editora, em texto da Rolling Stone. Townshead começou a trabalhar seriamente na sua autobiografia em meados dos anos 1990, tendo como base milhares de anotações escritas entre 1976 e 1980. O projeto ganhou fôlego quando ele foi acusado pela polícia britânica em 2003 por acessar sites de pornografia infantil – o músico afirmou que se tratava de material de pesquisa para o livro. “Eu tenho escrito sobre a minha infância há sete anos. Eu creio que fui abusado sexualmente aos cinco ou seis anos quando estive sob os cuidados da minha vó materna, que tinha sérios problemas mentais”, afirmou na época. “Eu não me lembro claramente do que aconteceu, mas meu trabalho pretende desvendar essas sombras. Algumas das coisas que vi na internet me ajudaram a compor o livro.” Townshend criou um blog e passou a postar partes da sua própria história. “A espinha dorsal está completa, e toda a pesquisa foi feita”, disse o guitarrista à revista norte-americana. “E porque minha vida criativa e profissional está tão ativa, eu sinto que nunca vou chegar aos tempos presentes, a não ser que eu me aposente apenas para escrever. Me aposentar, simplesmente para escrever, quando eu já sou um escritor, é uma contradição.” O blog não existe mais, assim como Townshend praticamente sumiu do Twitter e do Facebook. Seus problema de audição se agravaram nos últimos cinco anos, o que compromete o futuro do Who. A última turnê da banda aconteceu em 2009. No ano passado, eles se apresentaram no intervalo do Super Bowl. Neste ano, Townshend e o vocalista Roger Daltrey, os dois remanescentes da formação original, tocara juntos duas vezes, em eventos beneficentes em prol da Teenage Cancer Trust, patrocinada pelo cantor. Um deles foi em janeiro, quando o Who tocou em Londres tendo como convidados Jeff Beck, Bryan Adams e Debbie Harry (Blondie). Oficialmente, é a última apresentação da banda até o momento, após 47 anos de carreira (com sete de paralisação entre 1982 e 1989). Em março, Daltrey fez um show com sua banda solo também em Londres, e Townshend subiu ao palco como convidado especial para tocar em duas músicas. Após essa apresentação, boatos deram conta de uma desavença entre os dois a respeito dos músicos que participariam de uma eventual turnê no final deste ano, coisa que foi desmentida sem muito vigor pelos dois.

domingo, outubro 02, 2011

Humble Pie e a genialidade de Steve Marriott

A entrevista coletiva do guitarrista inglês Peter Frampton terminara havia minutos em um hotel em São Paulo, no ano passado. Muito solícito, foi cercado no saguão por um alguns fãs e jornalistas ávidos por respostas. Um dos jornalistas não teve pudor e sacou de uma sacola um LP do Humble Pie, “As Safe as Yesterday”, de 1969, o disco de estreia da banda. Frampton pareceu surpreso, mas na verdade estava atônito. Fazia tempo que ele não via alguém lhe mostrar um álbum de sua segunda banda. Paralisado por alguns momentos, pegou o álbum de vinil, observou-o e só depois o autografou. Quando devolveu ao dono, disparou: “Excelente álbum, som fantástico. Toquei muito nele. Longa via à memória de Steve Marriott, que morreu há 20 anos.” O ex-guitarrista e vocalista do Small Faces e do Humble Pie morreu no dia 20 de abril, em 1991, em sua casa no interior da Inglaterra. Exausto após uma viagem de avião vindo dos Estados Unidos, deitou na cama para descansar, mas acabou cochilando com um cigarro aceso entre os dedos. A casa pegou fogo. Para marcar as duas décadas sem o grande guitarrista, as gravadoras Immediate e A&M pretendiam reeditar em CD toda a obra do Humble Pie. O projeto não foi para a frente. Em vez disso, chega ao mercado no mês que vem uma reedição de “Natural Born Boogie”, uma excelente coletânea de gravações feitas para a rádio BBC de Londres entre 1969 e 1973. A Decca Records, que detém o catálogo dos Small Faces, planeja reeditar duas coletâneas desta banda: “The Autumn Stone” e “The BBC Sessions” até o final do ano. Bom guitarrista e carismático, o jovem Martiott formou os Small Faces para tocar covers de rhythm & blues norte-americanos e clássicos rockabilly. O baixista Ronnie Lane, seu companheiro de banda e exímio compositor, perturbou-o para que criassem material próprio aproveitando a voz aguda e potente de Marriott. A mesca de rock dos anos 50 e rhythm & blues acabou dando certo e foram contratados ainda em 1965 pela Decca como uma resposta ao Who e aos Animals, que estavam estourando na mesma praia. E, assim como o Who, os Small Faces fora adotados pelo movimento mod, fanáticos pela música negra dançante dos Estados Unidos e que caprichavam no visual elegante, com terninhos e gravatas. A banda detonando nos anos 70 No ano seguinte, os amigos do Who – Kenney Jones, o baterista, substituiria Keith Mon na banda em 1979 – acabaram com essa história de símbolos dos mods e caíram de cabeça no rock and roll mais visceral. Os Small Faces ainda aguentaram até 1967 nessa patacoada, até que decidissem optar pela psicodelia e por letras mais abstratas, o que desagradou Ronnie Lane. Em 1968 o quarteto entrou em declínio, ficando fora do topo das paradas na maior parte do tempo. Cada vez mais desinteressado, Steve Marriott começou a fazer jams com muitos músicos de Londres e começou a ficar fascinado com o blues pesado do Free, de Paul Rodgers. No final do ano comunicou o Small Faces que estava fora e convenceu o novo amigo, Peter Frampton, da promissora banda The Herd, a criar um novo grupo para tocar um rock mais pesado, algo entre Free e Led Zeppelin. Em 1969 surgia o Humble Pie. Ao mesmo tempo, o trio remanescente do Small Faces – Ronnie Lane, Kenney Jones (bateria) e Ian McLagan (teclados) – se uniu a Rod Stewart e ao guitarrista Ron Wood, demitidos do Jeff Beck Group. Estava formado o The Faces, de sonoridade mais pop e folk. O Humble Pie surgiu como um furacão e logo ocupou o lugar do Free no coração dos apreciadores de blues pesado – o quarteto de Paul Rodgers semrpe esteve envolto em conflitos internos e praticamente acabou em 1972. Mais entrosados do que nunca, Frampton e Marriott criaram verdadeiros clássicos do rock inglês, como “Natural Born Boogie”, “Wrist Job”, “Desperation” e “As Safe As Yesterday Is”. Mas não demorou para que o encrenqueiro Marriott começasse a implicar com Frampton, reclamando que o Humble Pie estava ficando pesado demais. Ele voltou a se interessar por soul music e rhythm and blues, enquanto que Frampton buscava algo mais acessível e pop, mesmo que fosse hard rock. As brigas constantes causaram a saída de Frampton em 1972, logo substituído por Dave “Clem” Clemson, que também era bom cantor além de guitarrista. O redirecionamento musical da banda foi imediato, mergulhando fundo na soul music clássica. O público, no começo, aprovou, mas depois abandonou o Humble Pie, que encerrou as atividades em 1975.  Disco clássico com partes ao vivo Tentou recriar os Small Faces em 1977 com Jones e McLagan, que estavam parados desde o fim dos Faces, também em 1975. Mesmo sem Ronnie Lane, que recusou para continuar sua bem-sucedida carreira solo, a nova encarnação lançou os fracos “Playmates”, em 1977 e “78 in the Shade” em 1978. Novas decepções, novas brigas e novo fim. Marriott então parte para o desespero e tenta reformar o Humble Pie. Peter Frampton recusa, assim como o baixista Greg Ridley. Ao lado do baterista original Jerry Shirley, contrata o vocalista e tecladista Bob Tench e o baixista Anthony Jones para gravarem “Go for the Throat” em 1980. Mesmo com as fracas vendas, ainda insistiram no ano seguinte com “On to Victory”, que teve desempenho pior ainda. O fim da nova encarnação do Pie era apenas uma questão de tempo. Nos anos seguintes Marriott montou bandas diversas para fazer shows solo pelo interior da Inglaterra e pela Alemanha, mas o máximo que conseguiu foi se tornar um cover de si mesmo. Pelo menos as reedições prometidas para este ano resgatam o verdadeiro talento de Steve Marriott.