sexta-feira, novembro 21, 2008

Coerência não se compra na farmácia



O economista Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda do governo José Sarney, é muito melhor articulista do que executivo, embora seja um consultor requisitado. Seus textos, bem escritos, geralmente são um amontoado de obviedades. Entretanto, na última edição da revista Veja, ele acertou ao relembrar coisas que geralmente são esquecidas de forma proposital, especialmente pela mídia simpática ao governo lulo-petista:


No governo Collor, a abertura da economia se acelerou; no de Itamar, veio o Plano Real. O período FHC foi rico em novas mudanças: saneamento do sistema financeiro (Proer), Lei de Responsabilidade Fiscal, Comitê de Política Monetária (Copom), câmbio flutuante, metas de inflação e superávits primários. A política econômica modernizou-se.

O PT se opôs a tudo isso. Mudar a política econômica era sua obsessão. O título de seu programa de governo nas eleições de 2002 era inequívoco: "A ruptura necessária". Incorporava erros grosseiros de diagnóstico, dirigismo econômico infantil, reavaliação e revisão da privatização, corte voluntarista nos juros, controle de capitais e denúncia do acordo com o FMI. Propunha até um cartel internacional contra os credores externos. Daí por que os mercados azedaram quando perceberam que Lula poderia ser eleito.

Felizmente, Lula manteve e reforçou a política econômica (para horror dos petistas e dos que até hoje professam as mesmas idéias). Fomos salvos pela excepcional intuição do presidente e graças aos conselhos de pessoas sensatas como Antonio Palocci e Henrique Meirelles. O Brasil pôde se beneficiar da prosperidade mundial do período 2003-2007. O acúmulo de reservas internacionais permitiu antecipar o término do acordo com o FMI, como ocorreu em muitos outros países.

Lula tem reivindicado as glórias dessas realizações. Nunca antes teria havido nada igual. Dá a entender que o pagamento antecipado ao FMI foi um fato isolado e uma decisão pessoal. Coisas da política. Mesmo assim, cabe reconhecer sua coragem em jogar no lixo o programa do PT e outras más idéias sobre a política econômica. Sem isso, em vez do swap com o Fed estaríamos nos preparando para pedir ajuda ao FMI. Mudamos de patamar.

Religião infecciosa e moral mortal


Em que pese todas as restrições que pesem sobre a revista Veja entre os jornalistas em geral - a maioria bossais de esquerda que enxergam na revista a mão de uma suposta direita escabrosa e extremamente liberal -, o veículo é o único que toca na ferida em questões polêmicas.

É o caso das células-tronco e do aborto, assuntos normalmente contaminados pela visão obtusa e nojenta da religião e da "moral", seja ela qual for. O colunista André Petry coloca as coisas em seus devidos lugares:

"Obama prometeu em campanha, e reafirmou depois da eleição, que vai revogar as restrições impostas por Bush às pesquisas com células-tronco embrionárias, nas quais repousam as melhores esperanças de alívio e até de cura de doenças como diabetes, Alz-heimer e Parkinson. Bush proibiu o uso de dinheiro público para financiar essas pesquisas sob o argumento de que, ao destruir embriões, elas matam seres humanos. Bush é da opinião que óvulo e gente se equivalem."

"Nos Estados Unidos, quem melhor representa essa corrente são os radicais da direita cristã. Eles defendem o absolutismo moral, religião infecciosa segundo a qual a moral não comporta exceção. Se eles são contra o aborto, o serão em qualquer situação, mesmo no caso da menina de 13 anos que engravida ao ser estuprada pelo próprio pai. O absolutismo moral é o que leva, como no caso das pesquisas com embriões, à defesa da moral que mata. Mata portadores de doenças incuráveis e fatais. Mata gente para preservar óvulo. Eles chamam essa obtusidade de firmeza."

"A eleição de Obama é um sinal de que as coisas podem mudar. Os eleitores do estado do Colorado, além de escolher o presidente, votaram a Proposição 48, que previa incluir na Constituição estadual que um óvulo fertilizado é igual a uma pessoa – o que implicaria enormes restrições ao aborto e às pesquisas com embriões. Resultado: 73,3% rejeitaram a idéia. No estado de Michigan, a Proposição 2 removia restrições às pesquisas com células-tronco de embriões. A proposta passou por 52,6% contra 47,4%, placar mais apertado que a aprovação do uso medicinal da maconha (62,6% a 37,4%)."