terça-feira, agosto 29, 2006

Crime consentido



Inacreditável a capacidade que os dirigentes do Corinthians têm de criar e aumentar cada vez mais a crise profunda atual. De longe é a pior confusão que já atingiu um clube brasileiro. A fuga de Tevez e Mascherano é tão vergonhosa, mas tão vergonhosa, que dificilmente alguém proporcionará vexame maior no futebol mundial nos próximos anos.

Como é possível que o esporte brasileiro proporcione situações tão absurdas como essas? É no futebol, é no basquete, é no judô, é notória a atração que o esporte nacional provoca nos bandidos. E, por consequência, é inacreditável a omissão e a conivência que as autoridades policiais e judiciárias mantêm com essa gente.


O esporte é a mais nítida tradução do que é o caráter do povo brasileiro. E há ainda quem ache que conseguiremos atingir o Primeiro Mundo.

Para entender a crise corintiana



do blog de Juca Kfouri



O Corinthians fez uma parceria nebulosa com uma empresa que não existia, a MSI, e que jamais revelou o nome de seus investidores.

Ali, rachou.

E rachou porque as melhores cabeças -- que são poucas -- do Conselho corintiano ficaram contra a parceria e foram derrotados.

Os oportunistas de sempre apoiaram e alguns se reaproximaram de Alberto Dualib, o eterno presidente.

Hoje, brigam entre si para ganhar algum na feitura da página do clube na Internet (que era feita de graça por um conselheiro) e muito no megalomaníaco projeto do estádio.

Apoiado por Nesi Curi, eminência obscura que controla a mina de ouro das categorias de base do clube, Dualib elevou Kia Joorabchian, o presidente da MSI, à categoria de santo.

E isso apesar de as informações sobre ele permitirem, no máximo, qualificá-lo como um testa de ferro.

Ou, no dizer de um jornalista russo que Joorbchian enganou em negócio comandado pelo foragido da Rússia, Boris Berezowski, como um "ator de negócios".

Quem apresentou Joorabchian ao Corinthians foi Renato Duprat, empresário que faliu a Unicór e que vive fugindo das centenas de ações trabalhistas de seus ex-funcionários, que até mandado de prisão já obtiveram contra ele.

Contrariando todas as previsões, Joorabchian cumpriu o que prometera e trouxe Carlitos Tevez para o Parque São Jorge, numa transação que não passou pelo Banco Central brasileiro e que significou a mais cara transferência de atleta de toda a história do nosso futebol como comprador.

Técnicos do BC têm certeza de que essa negociação (na casa dos US$ 22 milhões) ainda resultará em multa contra o clube, no mínimo, no valor do contrato.

Ao mesmo tempo em que fechava a parceria, o Ministério Público estadual de São Paulo investigou a MSI e concluiu que havia fortes indícios de lavagem de dinheiro, não restando dúvida sobre a participação de Berezowski, coisa que, aliás, o próprio Dualib admitiu depois de passar algum tempo negando.

Como o eventual crime constatado pelo MP é federal, o inquérito mudou para essa esfera e, desde então, há mais de um ano, sob a responsabilidade da Polícia Federal, o mais completo silêncio passou a imperar sobre as investigações.

Curiosamente, aliás, Berezowski, recentemente, esteve no Brasil e foi recebido com tapete vermelho por membros do partido do governo federal.

Parceria feita, dívidas corintianas parcialmente pagas, a direção do clube passou a minar o parceiro, ao seguir à risca um conselho dado por Eurico Miranda: "Peguem o dinheiro dos gringos e depois dêem um chute neles".

É que Dualib tenta fazer neste momento, no exterior.

Primeiro ele começou a falar mal de Joorabchian com ciúmes de sua alta popularidade junto à torcida do Corinthians que, docil e irracionalmente, se deixou enganar pelo falso mecenas, ainda mais depois que o time foi campeão brasileiro, apesar das circunstâncias.

Estabelecido o conflito, Joorabchian recebeu o beijo da morte ao se curvar quando aceitou a volta de Marcelinho Carioca.

Cavalo de Tróia, o ex-atleta em atividade conseguiu só em parte rachar mais um pouco o grupo de jogadores.

O golpe final foi a chegada de Emerson Leão, também contra a vontade de Joorabchian, por causa da pública aversão que o técnico revelou ter em relação aos argentinos.

O alvo era o símbolo da parceria: Carlitos Tevez.

Que passou recibo. E foi embora. Autorizado pela MSI.

Agora, Dualib cobra os investidores.

Só assina a transferência de Tevez -- exigência da Fifa que apenas confere autoridade aos clubes para tanto -- se receber reforços.

Dê-se a isso o nome que quiser, chantagem, inclusive.

O fato é que a MSI só pode negociar o atleta, sem depender de Dualib, depois de 31 de janeiro de 2007, quando acaba o vínculo de Tevez com o Corinthians.

De quebra, Dualib tenta, mais uma vez, se livrar de Joorabchian.

Seu candidato para substituí-lo, no entanto, é Duprat, cuja visibilidade como, por exemplo, presidente da MSI, dada a sua folha corrida, atrairia as atenções dos oficiais de Justiça de São Paulo, tantas são as ações contra ele.

O próprio Duprat, aliás, tem feito frenéticos apelos aos seus aliados para que desmintam a possibilidade, temeroso de que volte a ter que passar algumas noites na cadeia, como aconteceu pouco tempo atrás por causa do contencioso que envolve a falência da Unicór.

A MSI, desta vez, optou por nem sequer se pronunciar oficialmente sobre a boataria e especulações de todo tipo.

Preferiu deixar que os fatos as desmintam.

Ou seja: no balaio de gatos, e ratos, que virou o Corinthians, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.