sábado, dezembro 31, 2011

Cerveja pode ser banida de qualquer tipo de propaganda

Se você é contra o excesso de intervenção do Estado na vida privada, determinando até mesmo onde você pode fumar ou não, então prepare-se para mais um “atentado”: qualquer tipo de publicidade, propaganda ou menção envolvendo marcas de cerveja – incluindo patrocínio de eventos diversos – poderá ser proibido em todo o País. Isso pode acontecer se o relatório do deputado federal Givaldo Carimbão (PSB-AL) for aprovado pela Comissão Especial de Políticas Públicas de Combate às Drogas da Câmara dos Deputados, no próximo dia 7 de dezembro. Com o aval da Comissão, a proposta será encaminha à presidente Dilma Rousseff, que poderá transformá-la em medida provisória. Carimbão afirma que fez o relatório a partir de um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): adolescentes estão começando a beber cada vez mais cedo, o que influencia a dependência química e o uso de drogas ilegais. “A Unifesp lançou um livro informando que há anos 20 anos se começava a beber aos 15 anos de idade. Hoje a iniciação começa aos 11. Quem começa a beber antes dos 18 tem cinco vezes mais chance de se tornar um dependente. Como a propaganda incentiva este consumo, concluímos que o fim dela é uma forma de prevenção”, declarou o deputado ao Jornal da Tarde. O problema é que este assunto não é novo: vetar este tipo de publicidade tem respaldo em todo o País, já que entidades civis, parlamentares locais e órgãos públicos de todos os Estados brasileiros enviaram à comissão pedidos de proibição às propagandas de cervejas, destilados e demais bebidas, baseados nos resultados de audiências públicas realizadas em vários municípios. O tema divide juristas, mas surpreendentemente há um apoio grande a este tipo de ação. É censura? Para alguns sim, pois interfere no direito do anunciante de oferecer informação, ainda que por meio de publicidade, ao cliente – informação de um produto legalmente autorizado e que pode ser legalmente vendido no Brasil. Também interfere no direito do consumidor de ter acesso a esse tipo de informação sem que tenha de esperar a tutela do Estado para determinar o que ele pode ou não pode ver, o que ele pode ou não saber sobre qualquer produto. Os defensores da restrição a esse tipo de propaganda – na verdade, veto total – dizem que se trata de uma questão de saúde pública e de prevenção a um vício considerado tão terrível quando o das drogas ilícitas. Debates longos e acalorados não faltarão em 2012. Além da proibição da publicidade em meios de comunicação e eventos, o relatório propõe outras medidas para reprimir o uso do álcool, como proibir a venda de bebidas alcoólicas em lojas de conveniência em postos de gasolina e colocar alertas dos riscos do consumo exagerado nos rótulos das embalagens, como já acontece com o cigarro. O documento sugere ainda o aumento de impostos sobre a venda de bebidas. A Companhia de Bebidas das Américas (Ambev), maior cervejaria do Brasil, e a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) não se manifestaram sobre o assunto.

quarta-feira, dezembro 28, 2011

Tocar CD e operar toca-discos não transforma ninguém em artista ou torna alguém músico

Um interessante personagem da vida musical brasileira atual é o músico e produtor cultural Clemente Nascimento, líder da banda Os Inocentes e profissional de múltiplas atividades: toca na sua banda e na atual formação da Plebe Rude, apresenta um programa de TV na internet e arruma tempo para “discotecar” (acho a palavra mais adequada) em algumas casas noturnas – coisa que ele acha bastante divertida. Essa sua última atividade pode eventualmente lhe rende alguma remuneração, mas é essencialmente uma curtição para quem gosta e vive de música. Mas ele não tem ilusão: é um DJ (disc-jóquei) ocasional. Essencialmente é um músico, mas nas casas noturnas ele não “toca”, ele “discoteca”. São coisas bastante distintas, mas tem gente que insiste em misturar as coisas. Lembrei de Clemente quando recebi um convite fazer uma atividade semelhante em uma festa em um bar moderninho de São Paulo neste mês de dezembro. Era um convite que necessitava de confirmação posterior, como é comum neste casos. Prevendo o tipo de mico que isso poderia se tornar, não resisti à provocação. “Você vai ‘tocar’ e fazer a seleção de uma série de músicas legais dos anos 60, essencialmente rock inglês, algumas coisas óbvias e a maioria nem tanto”, disse a simpática amiga de um amigo que agitava a festa. Em seguida ela diz: “Acho que você não vai estranhar ao operar as pick-ups (toca-discos) e toca-CDs múltiplos, vai fazer uma performance legal.” “Na boa, dá menos trabalho se eu fizer a seleção na minha casa, gravar em um CD ou mídia de DVD para deixar rolar. Ou quem sabe até mesmo um pen drive. Aí todo mundo se diverte. Afinal, DJ não passa de um tocador de disco e de CDs”, emendei sem que ela tivesse tempo de pensar. É claro que o convite não foi confirmado – e se tivesse sido, teria sido retirado, de tão feia que foi a cara de decepção e até de nojo quando expus o que achava da atividade de DJ. Respeito quem faz isso, quem gosta de discotecar e até quem ganha dinheiro com isso. Entretanto, DJ pode ser qualquer coisa, menos músico. Faz qualquer coisa, menos tocar. Aparentemente não há muito o que discutir sobre isso, mas há gente que insiste em brigar com os fatos, em espancar e torcer a realidade. Não bastasse essa ridícula confusão de conceitos, a coisa ainda piora: esse mesmo pessoal que acha que DJ “toca” acredita que música eletrônica é música. Não é. É apenas barulho, e dos mais irritantes. Esse tipo de tosqueira voltou a se proliferar neste século. A quantidade de bares e casas noturnas aumentou muito em cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, por exemplo. O mercado ficou bom para os tocadores de CDs (ou MP3, ou vinis, ou qualquer outra coisa). O lado ruim é que a música eletrônica disseminada pelos tocadores de qualquer coisa voltou com tudo, até porque a tecnologia facilitou demais a produção dos barulhinhos computadorizados. E quem faz essa coisa acha que é artista de verdade. Os recursos eletrônicos sempre foram levados em consideração a partir do momento em que se inventou o abominável sintetizador, no finalzinho dos anos 60, trambolho barulhento que encantou gente decente como George Harrison (Beatles) e Pete Townshend (The Who). Quando usado de forma inteligente e criativa, sem abuso, o sintetizador até que foi útil, como nas trilhas sonoras compostas por Harrison e nas obras-primas “Who’s Next” e “Quadrophenia”, do Who. Infelizmente, por outro lado, foi responsável por algumas das maiores porcarias já feitas dentro do rock. Boa parte dos músicos consagrados e mesmo os de apoio costumam ser diplomáticos ao falar do uso de elementos eletrônicos em seus trabalhos, mas simplesmente ignoram o que conhecemos por música eletrônica, aquele barulho artificial e insuportável das pistas de dança. Alguns aceitam que produtores criem arranjos com base em barulhos de computador, outros até brincam com os mesmos barulhinhos que os DJs e os incluem de forma discreta em seus trabalhos. Mas são poucos os artistas sérios que realmente fazem uso desses recursos de forma explícita e escancarada. Dois gigantes do rock cometeram trabalhos péssimos nos últimos 20 anos, seduzidos pela suposta “modernidade”. Eric Clapton escorregou feio com “Pilgrim”, de 1998, CD no qual suas guitarras foram soterradas por arranjos eletrônicos e barulhos artificiais. Jeff Beck, outro gênio da guitarra, caiu na armadilha e gravou os insuportáveis “Jeff”, de 2001, e “You Had It Coming”, de 2003, sendo que já flertava com o estilo em 1999 no álbum “Who Else!” Beck gostou do resultado de sua ousadia, mas muitos fãs não. O jeito foi voltar ao rock, ao blues e ao jazz para gravar “Emotion & Commotion”, seu último trabalho. É possível ficar dias e dias colhendo exemplos para torpedear o barulho eletrônico. Quem gosta deste tipo de música se contenta com muito pouco. Isso não é música, e DJ não é músico, é um tocador de CD. No máximo, animador de festa. DJs que acham que são artistas não merecem respeito. São o que são, o que já é demais.

terça-feira, dezembro 20, 2011

Rock pesado em português, uma nova e bem-vinda tendência

Enquanto artistas nacionais que fazem heavy metal em inglês estrebucham contra a suposta falta de público em seus shows – o que rendeu uma patética e rasteira entrevista de Edu Falaschi, cantor do Angra, recheada de palavrões –, começa a ganhar corpo um movimento de bandas que fazem rock pesado em português, apesar do preconceito dos puristas. Entre esses abnegados, as reclamações são poucas, e o público está crescendo ano a ano. A banda paulistana Carro Bomba desponta, por enquanto, na liderança dos metaleiros que cantam em português. O recém-lançado álbum “Carcaça”, pela Laser Company, traz tudo o que não existe mais quase desaparecido no pop rock nacional: qualidade, espontaneidade e garra. “Carcaça” é uma pedrada na cabeça do headbanger nacional. Nunca uma banda brasileira que canta em português tinha atingido um peso tão grande nas músicas e tinha alcançado uma timbragem tão forte e limpa nas guitarras, que estão na cara. E tudo isso sem recorrer tanto aos manjados temas de sempre no hard rock brasileiro – mulheres, bebidas, zoeira, bebidas, carros, bebidas, mulheres… “O som pesado sempre foi a nossa característica, sempre buscamos aprimoramento e pesquisamos novos timbres. ‘Carcaça’ é resultado de muito trabalho em estúdio, mas principalmente também de muita pesquisa para achar exatamente o que queríamos”, diz o baixista Fabrizio Micheloni, um dos fundadores. Estão ainda na formação o vocalista Rogério Fernandes, o guitarrista Marcello Schevano e o bateria Heitor Shewchenko. Os mineiros do Uganga preferem um som mais moderno e mais calcado no hardcore dos anos 90, apesar dos ecos de clássicos como AC/DC e Motorhead, as principais influências do Carro Bomba. O som pesado era o caminho natural para a banda, que tem em sua formação Manu “Joker” Henriques, ex-baterista da lendária Sarcófago, que teve bastante prestígio no metal dos anos 80. “São mais de 2o anos tocando rock pesado e passando por várias situações. Não dá para ficar reclamando de falta de público. Temos de ralar e trabalhar”, diz o músico. O Uganga lançou no primeiro semestre o álbum “Vol.3: Caos, Carma e Conceito”, também lançado na Europa, e prepara para 2012 um álbum ao vivo gravado no Razorblade Festival em 2010, na Alemanha. “Nossa primeira turnê internacional, com 18 shows em dez países, mostrou que o rock pesado em português é uma alternativa mais do que válida”, afirma Henriques. Merecem menção ainda no “movimento” o Baranga (hard rock) e o Muqueta Na Oreia (punk/harcore).

segunda-feira, dezembro 19, 2011

Pink Floyd: obra-prima inspirada em ‘fantasma’

As semanas que antecederam o começo das gravações de Wish You Were Here começaram tensas em meados de 1974. A pressão sobre o baixista e vocalista Roger Waters era enorme por conta do sucesso estrondoso de The Dark Side of the Moon, o álbum anterior, e a gravadora queria uma obra-prima do mesmo calibre. Em uma tarde, Waters chegou irritadíssimo ao estúdio: as ideias não saíam e o seu Arsenal havia perdido mais uma no Campeonato Inglês no dia anterior. Ele nem percebeu um cara gordinho e careca na recepção, empunhando uma guitarra. Um pouco mais tarde soube que era Syd Barrett, ex-companheiro de Pink Floyd que ficou pelo caminho por distúrbios mentais. Estava ali para “gravar as suas partes”. Waters chorou ao vê-lo novamente e finalmente conseguiu a inspiração para continuar os trabalhos – a faixa-título de Wish You Were Here e a longa suíte “Shine on You Crazy Diamond” foram inspiradas em Barett. A nova versão do álbum lançando em 1975, assim como a de The Dark Side of the Moon, melhorou o que já era excelente. As opções Immersion e Experience recolocam a obra em um patamar merecido: um álbum poderoso e versátil, que indicava os novos caminhos do Pink Floyd, que jamais fora um apêndice do multiplatinado antecessor. Além de todo um tratamento de mixagem e remasterização primoroso, a versão nacional Experience traz um CD extra com raridades e versões ao vivo dos temas presentes em Wish You Were Here. O destaque é uma versão de Shine On You Crazy Diamond com a participação especial de do violonista de jazz belha Stéphane Grapelli, um dos gênios europeus do gênero. “Não foi barato contratá-lo. Mas, por mais que eu tente, não sei o porquê de não termos usado essa versão”, disse recentemente o baterista da banda. Nick Mason.

sexta-feira, dezembro 16, 2011

As verdadeiras divas da atualidade: Beth Hart e Imelda May

O mundo pop só fala de Adele, Beyoncé, Ke$ha, Shakira, Lana del Rey e outras cantoras de voz boa e repertório péssimo. Sobra pouco espaço para coisa de qualidade com Joss Stone, que ainda consegue resgatar o bom e velho rhythm and blues original. Então é hora de diversificar e tentar ir mais a fundo no purismo. É hora de ouvir a irlandesa Imelda May e a norte-americana Beth Hart, ilhas de qualidade na escolha do repertório jazzístico e blueseiro sem apelar para clichês e modinhas, muito menos se render a armações modernosas revestidas por elementos eletrônicos. Imelda May, de 37 anos, hoje é a mais nova queridinha do gênio da guitarra Jeff Beck. Ela empresta a sua voz para o grande pacote DVD/CD “Rock’n Roll Party”, gravado ao vivo em 2010 nos Estados Unidos durante homenagem ao músico/luthier/empresário Les Paul. Transitando entre o rock básico, o rockabilly, o country e o blues, a moça acaba de lançar o estupendo “More Mayhem”, uma coleção fantástica de standards e canções delicadas e acessíveis, transitando entre o tradicional e o festeiro. “Pulling the Rug”, que abre o disco, dá a tônica de todo o álbum. Já Beth Hart, dois anos mais velha, tem uma carreira mais antiga no pop rock e no folk americanos, mas começou a ganhar reconhecimento somente na década passada. Seu grande sucesso até o momento é “LA Song (Out of This Town)”, que foi trilha sonora de um episódio da 10ª temporada do seriado “Beverly Hills 90210”. Entretanto, foi o blues que catapultou o nome da cantora em 2011, junto com a guitarra excelente do compatriota Joe Bonamassa. “Don’t Explain” é o álbum que a dupla lançou no meio deste ano e que surpreendentemente teve um aceitação bem acima do esperado nas paradas tradicionais de sucessos. A parceria começou no álbum “Dust Bowl”, do guitarrista, lançado no primeiro semestre, na ótima faixa “”No Love On The Street”. Bonamassa, que é artista solo e guitarrista do supergrupo Black Country Communion (ao lado do baixista e vocalista Glenn Hughes, ex-Black Sabbath e Deep Purple), selecionou ao lado de Hart um punhado de clássicos e pancadas do blues e lhes conferiu um tratamento respeitoso e reverenciado, mas sem despencar nos clichês do gênero. “Sinner’s Prayer” e o clássico “I’d Rather Go Blind” já valem o CD. E o mais curioso é que a excelente cantora esteve no Brasil duas vezes no primeiro semestre e passou quase anônima. Se não fosse uma aparição bem descontraída na TV Gazeta de São Paulo, no programa “Eu e Você”, de Ronnie Von, ninguém saberia de sua rápida passagem por aqui. Que não demore muito para voltar.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Compras virtuais: cuidado para não estragar o seu Natal

Você ainda pretende fazer comprar virtuais? Então é bom ficar alerta com a campanha que os órgão de defesa do consumidor estão iniciando ao comércio pela internet neste Natal. As empresas de comércio virtual então entre as que mais têm registros de reclamações nos Procons do Brasil – e geralmente os problemas nas entregas pioram a partir de dezembro devido o alto volume de vendas. Somente a B2W, que administra os sites Americanas.com, Shoptime e Submarino, teve quase 20 mil queixas registradas entre 1º de outubro de 2010 e 30 de setembro de 2011, número corresponde a 4,72% do total de demandas recebidas no período pelo Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (Sindec), que integra Procons de 23 estados e do Distrito Federal. A Ricardo Eletro (que também atua no comércio eletrônico) aparece logo atrás (com 3,64% dos atendimentos), seguida pelo Ponto Frio (3,63%). Os problemas com entrega representam 23,32% das reclamações sobre produtos nos Procons do país (com 102.788 queixas). E, mesmo quando o produto é entregue, às vezes já chega com vícios e defeitos – causa de 99.428 reclamações nos Procons (22,56%do total). Esse cenário revela uma realidade aterradora: a grande quantidade de reclamações sobre entrega no comércio eletrônico é sintoma de um problema crônico de quebra de confiança. Não basta vender com comodidade, tem de entregar os produtos, montar, dar segurança no pós-venda, dizem os especialistas em defesa do consumidor. Repórteres do Grupo Estado procuraram as empresas mais reclamadas para entender os motivos de tantas queixas – e o que está sendo feito para amenizar os problemas. As empresas B2W e Ricardo Eletro não responderam. O Pontofrio.com informa que “promove melhorias constantes em sua operação para garantir o pleno atendimento e a satisfação dos seus clientes e reduzir o índice de queixas no Sindec, a exemplo de que vem verificando em suas auditorias internas”. A empresa ainda informa em nota que “continuará firme em seu propósito de proporcionar a melhor experiência de compra ao seu cliente e reafirma seu compromisso com os consumidores e órgãos de Defesa do Consumidor”. O comércio virtual no Brasil ainda não é confiável e muito menos profissional. Falta fiscalização e falta rigos na punição às empresas que lidam com esse tipo negócio. Você ainda quer comprar pela internet?

Fundamentos do ateísmo

Hélio Schwartsman Já que dois amigos meus, Ives Gandra Martins e Daniel Sottomaior, se engalfinharam em polêmica acerca de um suposto fundamentalismo ateu, aproveito para meter o bedelho nessa intrigante questão. Como não poderia deixar de ser, minha posição é bem mais próxima da de Daniel que da de Ives. Não se pode chamar de fundamentalista quem exige provas antes de crer. Aqui, o alcance do ceticismo é dado de antemão: a dúvida vai até o surgimento de evidências fortes, as quais, em 2.000 anos de cristianismo, ainda não apareceram. Ao contrário, dogmas vão contra tudo o que sabemos sobre o mundo. Virgens não costumam dar à luz e pessoas não saem por aí ressuscitando. Em contextos normais, um homem que veste saias e proclama transformar vinho em sangue seria internado. Quando se trata de religião, porém, aceitamos violações à física e à lógica. Por quê? Ou Deus existe e espera de nós atitudes exóticas -e inconsistentes de uma fé para outra-, ou o problema está em nós, mais especificamente em nossos cérebros, que fazem coisas esquisitas no modo religioso. Fico com a segunda hipótese. Corrobora-a um número crescente de cientistas que descrevem a religiosidade ou sua ausência como estilos cognitivos diversos. Ateus privilegiam a ciência e a lógica, ao passo que crentes dão mais ênfase a suas intuições, que estão sempre a buscar padrões e a criar agentes. Posta nesses termos, fé e ceticismo se tornam um amálgama de influências genéticas e culturais difícil de destrinchar -e de modificar. Como bom ateu liberal, aplaudo avanços no secularismo, já que contrabalançam o lado exclusivista das religiões, que não raro degenera em violência e obscurantismo. Mas, ao contrário de colegas mais veementes, acho que a religião, a exemplo do que se dá com filatelia, literatura e sexo, pode, se bem usada, ser fonte legítima de bem-estar e prazer. **Texto publicado originalmente na Folha de S. Paulo, na edição de 10 de dezembro de 2011

sexta-feira, dezembro 02, 2011

Gostar de rock começa a pesar na avaliação profissional

Por mais preconceituoso que seja, não dá para fugir: a forma como a pessoa fala, se veste, age, trabalha, dirige e muitas coisas mais dizem muito sobre o indivíduo. Dá para julgar cada um por esse tipo de coisa? Cada um avalie da forma como achar melhor. Da mesma forma, os hábitos culturais – os livros que lê, a música que ouve, os eventos frequenta – também dizem bastante sobre as pessoas. Existe a chance de se errar por completo, mas faz parte do jogo. Dois fatos importantes, apesar de corriqueiros, mostram que os apreciadores de rock podem ter esperança de dias melhores, apesar dos casos recorrentes de preconceito explícito e perseguição por conta do gosto pessoal em pleno século XXI – algumas dessas excrescências têm sido narradas aqui em textos no Combate Rock. No começo de agosto um gerente de uma grande multinacional instalada no ABC (Grande São Paulo) penava para contratar um estagiário para a área de contabilidade e administração. Analisou diversos currículos e entrevistou 24 jovens ainda na faculdade ou egressos de cursos técnicos. Conversou com todo o tipo de gente, do mais certinho ao mais despojado, do mais conservador à mais desinibida e modernosa. Preconceitos à parte, procurou focar apenas a questão técnica e os conhecimentos exigidos. Alguns candidatos até possuíam a maioria dos requisitos exigidos, mas acabaram desclassificados em um quesito fundamental para o gerente: informação geral, que inclui hábitos culturais. O escolhido foi um rapaz de 20 anos, o penúltimo a ser escolhido. Bem vestido, mas de forma casual, usando rabo de cavalo, mostrou segurança e certa descontração, além de bom vocabulário e de se expressar de forma razoável, bem acima da média. Durante as perguntas, o gestor observou que o garoto segurava um livro e carregava um iPod. O livro era a biografia de Eric Clapton. Após a quinta pergunta, direcionou a conversa para conhecimentos gerais e percebeu que o rapaz lia jornais e se interessava pelo noticiário. “Você gosta de rock?”, perguntou o gerente. “Sim, e de jazz também”, respondeu o garoto. O entrevistador não se conteve e indagou se o rapaz se importava de mostrar o que o iPod continha. E viu um gosto eclético dentro do próprio rock: havia muita coisa de Black Sabbath, Deep Purple, AC/DC, mas também de Miles Davis e big bands. “Não aprecio rock, não suporto o que minhas filhas ouvem, mesmo seja Rolling Stones, meu negócio é Mozart, Bach e música erudita. Mas uma coisa eu aprendi nas empresas em que passei e nos processos seletivos que coordenei: quem gosta de rock geralmente é um profissional mais antenado, que costuma ler mais do que a média porque se interessa pelos artistas do estilo. Geralmente são mais bem informados sobre o que acontece no mundo e respondem bem no trabalho quando são contratados. Nunca me arrependi ao levar em consideração também esse critério”, diz o gerente. O resultado é que o garoto foi contratado após 15 minutos de conversa, enquanto cada entrevista com os outros candidatos durava 40 minutos. “Não tive dúvida alguma ao contratá-lo. E o mais interessante disso: percebo que essa é uma tendência em parte do mercado há pelo menos três anos, pois converso muito com amigos de outras empresas e esse tipo de critério está bastante disseminado. Quem gosta de rock é ao menos diferenciado”, finalizou o gestor. Já em uma escola particular da zona oeste de São Paulo, do tipo mais alternativo e liberal, o trabalho de conclusão do ensino médio era uma espécie de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) das faculdades. A diferença é que, para não ter essa carga de responsabilidade, foi criado uma espécie de concurso para premiar algumas categorias de trabalhos – profundidade do tema, ousadia, importância social e mais alguns critérios. O vencedor geral foi o de uma menina esperta de 17 anos, filha de um jornalista pouco chegado ao rock, mas com bom gosto para ouvir jazz e blues. O trabalho tentava traduzir para a garotada a importância dos Beatles para a música popular do século XX. Para isso realizou uma ampla pesquisa sobre as origens do blues, do jazz, da country music norte-americana e traçou um panorama completo da evolução do rock desde os primórdios até os megashows de Rush, AC/DC, U2 e Metallica. Seu trabalho contou ainda com a defesa de uma tese em frente a uma banca de professores. O resultado é que, além do prêmio principal – placa de prata e uma quantia em dinheiro em forma de vale para ser gasto em uma livraria –, acabou sendo agraciada com a proposta de transformar seu trabalho em um pequeno livro, bancado pela escola. Detalhe: a reivindicação partiu dos colegas da menina, que ficaram fascinados com a história do rock – poucos deles eram íntimos do gênero, pelo que o pai da menina me contou. Os Beatles foram o ponto de partida para uma aluna de um colégio paulistano para traçar um panorama extenso e completo sobre a história do rock; o trabalho ganhou prêmio e vai se transformar em livro Seria um flagrante exagero afirmar que gostar de rock facilita a obtenção de emprego ou estágio – ou que quem gosta de rock é muito melhor aluno do que os outros nas escolas. Mas o simples fato de haver reconhecimento de que apreciar rock frequentemente leva a uma situação diferenciada já é um alento diante dos seguidos casos de intolerância e preconceito. Gostar de rock não torna ninguém melhor ou pior, mais ou menos competente, mais ou menos inteligente. Mas os casos acima mostram que o roqueiro pode se beneficiar de situações em que é possível se mostrar diferenciado, mostrando uma cultura geral acima da média e mais versatilidade no campo profissional. E o que é melhor, isso começa a ser reconhecido por um parte do mercado. Bom gosto não se discute: adquire-se.

terça-feira, novembro 29, 2011

O blues rock energético e virtuoso de Big Gilson and Blues Dynamite

Gilson Szrajbman é um carioca pacato e tranquilo de 52 anos que se transforma em um insano e furioso guitarrista de blues rock. Na pele de Big Gilson, é o principal representante do subestilo no Brasil. E, para variar, assim como Nuno Mindelis, tem mais prestígio no exterior do que em sua terra. O que pouca gente sabe é que ele é, provavelmente, o músico brasileiro de blues que mais lançou álbuns, ao lado de outro carioca blueseiro da maior qualidade, o gaitista Flávio Guimarães, do Blues Etílicos. Big Gilson é devoto fervoroso do estilo que abraçou. Seu pacote de lançamentos recém-chegados às lojas, “Big Gilson & Blues Dynamite Live”, que envolve DVD e CD gravados em 2010 em um pequeno bar na periferia de Buenos Aires, na Argentina, retrata um músico intenso, mas completamente senhor de seu trabalho e de seu espaço. “São mais de 30 anos tocando, acho que já consegui ultrapassar diversas fases e o novo trabalho é um resumo do que venho fazendo ultimamente. É mais blues rock do que nunca”, diz o guitarrista. A experiência na estrada permitiu a Gilson montar um repertório eclético e variado, sem medo de apostar em clássicos do blues e em músicas de lendas da guitarra que infelizmente andam um pouco esquecidas hoje em dia. É o caso de Rory Gallagher, irlandês venerado e elogiado por gente como Eric Clapton e Mick Jagger e que morreu em 1995. “I Wonder Who” está presente apenas no CD, mas é um excelente cartão de visitas para quem gosta de energia e guitarra bem tocada. “Acho que consegui personalizar uma canção fantástica, que é um hino na carreira de Gallagher.” Presentes nos dois lançamentos, “Tell Mama” é um grande tributo a outra lenda britânica do blues rock, o Savoy Brown. Apegada forte e característica de Gilson dão o tom em um tema complexo, que requer muito feeling do instrumentista. O bom gosto nos “tributos” segue com a divina “Messiah Wil come Again”, do mestre Roy Buchanan, e em um bem sacado e muito bem executado medley de mais de 12 minutos com temas de Jimi Hendrix (“Hendrix Tribute”). Ao final do DVD, como bônus, uma ótima surpresa: uma versão bluesy e “original” de “Changes”, do Black Sabbath. Da carreira solo Big Gilson pinçou a ótima “Sentenced to Living”, faixa-título daquele que talvez seja o seu melhor álbum, e a bela “Tropical Feeling Blues”, além da energética “Ride the Rocket”. Os novos lançamentos, encampados pela novata gravadora Coqueiro Verde, traz uma boa novidade: a entrada da baixista Flávia Couri, que também toca na banda de pop-rock Autoramas. “O estilo dela é bem diversificado e eclético. Era o que eu precisava em razão de sua experiência. Tem conseguido dar o peso que a minha música exige, ao mesmo tempo em que faz bem o som cadenciado do blues.” O que não muda é a parceria de longa data com o produtor e amigo Pedro Garcia, baterista e percussionista do Planet Hemp. “Ele consegue captar como ninguém a minha espontaneidade. Seu ouvido é capaz de manter nos mínimos detalhes os meus timbres e minha sonoridade. Hoje não consigo me ver trabalhando com outro produtor.” Prestes a encarar uma turnê norte-americana no final de agosto e em setembro, Big Gilson é um caso raro de reverência ao próprio passado, mesmo que para isso seja necessário mantê-lo à distância. Fundador e motor do grupo carioca de blues Big Allanbik, de certo sucesso nos anos 90, Gilson consolidou o seu estilo de pegada forte e de timbres mais cristalinos típicos do blues rock, dando o contraponto ao tradicionalismo de Blues Etílicos e André Christóvam. “Tenho orgulho do Big Allanbik e dos três álbuns que fizemos, foi um período muito importante de minha carreira. E justamente por reverenciar bastante os trabalhos daquele período é que guardo distância para que possa seguir em frente”, diz o guitarrista.

sábado, novembro 26, 2011

O ‘mito’ Raul Seixas, ainda tomando pancadas – e com toda a razão

Depois de cinco anos revi um bom amigo da época de faculdade no último final de semana. Ricardo Macedo é um administrador de empresas que trabalha em uma empresa distribuidora de bebidas em Capinas e é um fã de rock pesado. A primeira coisa que lhe pergunto antes mesmo de indagar sobre família, mãe, pai, etc.: “Está tudo bem com seu irmão?” Ele abre um sorriso grande e não hesita: “Ele bateu no Raul mais uma vez”. É um alívio saber disso. O irmão, apenas por parte de mãe e que não terá o nome revelado pois o processo judicial em questão ainda está correndo), vocalista de uma boa banda de hard rock e de covers nos anos 90 no interior paulista, ficou por muitos anos senso assombrado pelo fantasma de Raul Seixas. Fazendo um show intimista e acústico em um bar de bom nível em uma cidade da região de Campinas nos anos 90, o irmão de Ricardo Macedo e sua banda (extinta, mas que também terá o nome preservado pelos mesmos motivos), foram incomodados por mais de 4o minutos por um grupo de bêbados com o indefectível “toca Raul”. O cartaz que anunciava o show no bar e no jornal local não deixava dúvidas: banda de hard rock faz acústico e covers de artistas do estilo. O que a princípio parecia uma brincadeira inocente e depois leve provocação se tornou um inconveniente, pois, de alguma forma, alguém da plateia tratou de fazer chegar á banda que o grupo de bêbados estava falando sério: queriam mesmo ouvir alguma coisa de Raul Seixas – e não somente uma música. A banda tentou ignorar, mas os cidadãos começaram a incomodar a tal ponto que o barulho que faziam obrigou a uma interrupção do show, com direito a uma intervenção de dois seguranças. O mais exaltado do grupo de quatro imbecis, aos berros, gritou: “Quero ouvir Raul! Toca Raul, porra! Quero ouvir e vocês vão tocar!” Não acreditando na baixaria que ocorria, o irmão vocalista de Macedo, muito irritado, fez algum gracejo sobre Raul Seixas e sobre a encheção tradicional a que muitos músicos são submetidos. O bêbado infeliz ficou furioso e se desvencilhou da segurança e avançou no palco para agredir alguém da banda. Acabou tomando uma pancada de pedestal de microfone no rosto e caiu cambaleando no chão. Tentou se levantar e fez menção de tentar novo ataque, conseguindo se soltar novamente dos seguranças. Mal teve tempo de olhar para o palco e tomou novo golpe com o pedestal e desabou. O resultado é que o cidadão, machucado, se achou no direito de processar criminalmente a banda, o vocalista e o bar por ter sido “agredido covardemente enquanto se divertia”. Filho de um rico comerciante da cidade que um dia fora vereador e figura conhecida na área por frequentes confusões (nada muito grave, apenas arruaças e brigas sem consequência), moveu dois processos, e perdeu os dois em todas as instâncias. Tanto o bar como o vocalista arrumaram testemunhas de sobra sobre o que rolou. Quando encontrei Ricardo Macedo, o irmão tinha acabado de “bater” pela terceira vez em Raul Seixas – a primeira nas pancadas contra o bêbado, e depois as duas vitórias na Justiça. O advogado do agredido prometeu recorrer das decisões no Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde certamente sofrerá novas derrotas. A pequena história me motivou a fazer alguns breves comentários sobre Raul Seixas, morto há 22 anos e que estaria fazendo 66 se estivesse vivo. Involuntariamente (ou não?) se tornou alvo de ira ou ao menos de irritação de muita gente que não suporta mais o asqueroso “Toca Raul!”. Músico razoável e cantor nem tanto, teve o grande mérito de cair de cabeça no rock and roll primeiro do que todo mundo neste país tropical e de avançar até onde nenhum artista brasileiro na época ousou. Seixas era radical e culto, tinha estofo para se mostrar contestador sem ser revolucionário. Tinha jeito e coragem (ou inconsequência) para ser provocador como Chico Buarque foi em algumas de suas letras. Se os Secos & Molhados chocavam e posavam de transgressores por conta das maquiagens e posturas de palco, Seixas e seu jeitão de hippie deslocado mostrava que ia muito mais além na transgressão com o mergulho fundo no rock e nos aditivos ilícitos – em vários momentos ao lado do amigo doidão e letrista ocasional Paulo Coelho. O problema é que Raul Seixas foi o único a fazer isso, a fazer rock realmente em uma era dominada por uma música popular supostamente de protesto mas que pouco ou nada serviu de alento, ao menos culturalmente. Era a mesma MPB engessada de sempre, calcada na canção e no samba, com ecos da bossa nova encardida e plagiada do jazz norte-americano e na farsa do Tropicalismo, envolto em pseudo-intelectualismo barato. Raul foi muito mais além do que qualquer um em sua época, e tem méritos por isso. Se é que existiu alguma forma de transgressão nos anos 70, época de chumbo do regime militar, essa transgressão era Raul Seixas. E o músico baiano teve a sorte grande de ter sido o único a fazer isso de forma tão intensa, e usou o rock, o melhor instrumento para esse tipo de transgressão (ou suposta transgressão). E grande parte de sua fama decorre justamente disso, da falta de concorrentes à altura. Por conta disso, o mito Raul Seixas – artista radical, maldito, marginal – se sobrepõe à real qualidade de sua obra musical, que nunca passou de mediada. Sua melhor música é no máximo razoável. É milhões de vezes superior ao de qualquer artista que achava que fazia rock na época, como Secos & Molhados e os intragáveis Mutantes, mas ainda assim não passava de razoável. Raul Seixas e Marcelo Nova nos anos 80: vocalista do Camisa de Venus não curtia Raul quando garoto, mas se aproximou dele e engatou uma interessante parceria, que acabou com a morte de Raul em 1989 Suas músicas se tornaram trilha sonora da contracultura e de certa pseudo-intelectualidade de esquerda por ser palatável e adaptável aos lugares comuns dos discursinhos chatos e vazios de estudantes equivocados. Era a trilha sonora perfeita para ambientes pseudo-políticos infectos, como centros acadêmicos de faculdades – a maioria de quinta de categoria – e botecos de pinga nas proximidades das mesmas faculdades. E, com certeza, 85% dessa gente que se apropriou da obra de Raulzito ignorava por completo o significado das letras – e, dependendo da música, acho que até o próprio autor desconhecia. Resumindo: Raul Seixas é mais um artista superestimado e cujo mito é muito maior do que a qualidade de sua obra. E o mito ainda tem mais força do que se imagina, pois ainda é capaz de impregnar duas gerações após a sua morte com “sua mensagem”. Não creio que era esse o destino que o músico baiano imaginava para o seu legado: virar trilha sonora de gente equivocada e com pouca bagagem intelectual de um lado; de outro, de se tornar sinônimo de chatice e inconveniência com o bordão “Toca Raul!”. Ele merecia isso? Talvez sim, a julgar pela chatice de muitas de suas músicas.

quarta-feira, novembro 23, 2011

Hudson Cadorini abandona o rock e retorna de vez à música sertaneja

Quando a música “Deep Van Riff” vazou na internet, tempos atrás, chamou bastante a atenção de muita gente no rock. Composição instrumental bem construída, estrutura melódica bem definida e de bom gosto e solos muito bons. O problema é que o meio roqueiro ficou em choque quando descobriu o autor da música: Hudson Cadorini, guitarrista paulista com larga experiência musical e bom cartaz na cena roqueira de Limeira e da região e Campinas. Só que, ao mesmo tempo, ele militava na dupla sertaneja Edson & Hudson, que provoca náuseas em grande parte dos roqueiros. “Deep Van Riff” é a melhor música do álbum “Turbination”, de 2007, álbum solo de Hudson Cadorini, que passou a assinar assim em seu projeto roqueiro. Misturando heavy metal e hard rock, o álbum teve boa aceitação, apesar dos preconceitos evidentes e até certo ponto compreensíveis. Pois não é que, após dois anos separado do irmão Edson para tentar uma carreira roqueira ao lado de sua banda de apoio, a Rollermax, Hudson Cadorini anunciou nesta semana que está de volta à música sertaneja ao lado do mesmo Edson? Para surpresa de muitos, inclusive a minha, muita gente boa que entende de rock e heavy metal já tinha elogiado bastante as performances vigorosas de Hudson em sua porção sertaneja, ao lado do irmão Hudson. Em meio às abomináveis músicas da dupla sertaneja, o guitarrista fazia questão de enfiar fraseados em alta velocidade e solos de clara inspiração metaleira. Na única vez em que tive o desprazer de ver um DVD e ouvir um CD da dupla, em uma festa na cidade de Jundiaí pouco tempo depois do lançamento de “Turbination”, percebi que realmente Hudson Tinha uma performance roqueira e que de vez em quando conseguia se livrar das amarras do gênero abominável para encaixar alguns solos mais roqueiros – claro, em quantidades insuficientes para fazer qualquer apreciador de rock de bom senso a encarar uma sessão de tortura ao assistir um DVD dupla apenas por causa de meia dúzia de lampejos metaleiros. Entretanto, o fato é que a encarnação de Hudson no rock tinha boa qualidade. “Turbination” é um álbum agradável, onde o guitarrista mostra bastante qualidade como instrumentista – apesar da escorregada feita nas três musicas com vocais, remetendo ao pior dó rock nacional dos anos 80. Houve um trabalho interessante também lançado em DVD em 2009, um registro ao vivo chamado “O Massacre da Guitarra Elétrica”, ao lado da Rollermax, onde ele destila competência na execução de várias versões do hard rock. Ele e sua banda abriram o excelente show do ZZ Top em São Paulo, no ano passado, com boa receptividade, e seu segundo álbum solo estava parcialmente gravado, inclusive com as participações especiais acertadas de Mike Inez (baixista, Alice in Chains) e Matt Sorum (ex-Guns ‘N Roses). Por isso tudo é que é uma notícia péssima para quem gosta de boa música o retorno de Hudson ao meio sertanejo. Significa que ele fracassou na sua vertente roqueira – e que não legou nem mesmo um álbum de inéditas durante a separação da dupla sertaneja, já que seu segundo solo ainda não tem data para ser lançado. Que a ida de Cadorini para o rock era arriscada, não se discute. Ele decidiu conscientemente abandonar uma parceria de enorme sucesso de anos com o irmão na música sertaneja para cair de cabeça no mundo pantanoso e instável do rock pesado nacional. Por mais que tivesse nome e certo apoio de promotores de shows, acabou abandonado aos leões pelo público e pelo mercado fonográfico. O preconceito por causa de seu passado sertanejo pesou? De certa forma sim. Não foram poucos os críticos de rock que o rotularam de oportunista, a despeito das resenhas positivas que “Turbination” recebeu no Brasil e no exterior. Foi determinante para o seu fracasso? Talvez não, mas ajudou um bocado. As entrevistas que Hudson concedeu a revistas especializadas em rock à época do lançamento de “Turbination” indicavam que ele não renegava o passado, mas que a sua praia era realmente o rock, mesmo afirmando que tinha crescido ouvindo música caipira e sertaneja e gostava do estilo. Uma ruptura com o irmão era questão de tempo. É de se lamentar a decisão do guitarrista, mas é bastante compreensível e, de certa forma, justificável. Ainda é cedo para falar em erros na condução da transição para o rock, mas fica evidente que Hudson Cadorini encontrou um ambiente inóspito e hostil. Se sua iniciativa solo com o primeiro álbum foi vista como apenas uma excentricidade de um astro do sertanejo, a despeito da boa qualidade do material, a partir do momento em que decidiu mudar de ares deixou de ser levado a sério por boa parte do mercado. Fez bem menos shows do que deveria e merecia e acabou tendo problemas por conta da demora na gravação e produção do segundo álbum – e não ajudou muito o fato de que se dedicou à música instrumental, algo ainda pouco digerível pelo público brasileiro, em especial o de rock pesado. O rock nacional perde um bom artista e alguém que poderia acrescentar algo a um segmento que anda estagnado e que carece de caras novas com potencial para surpreender. Não que isso necessariamente fosse acontecer em relação ao trabalho de Cadorini, mas era uma esperança de que, com a transição do guitarrista e uma eventual carreira com algum sucesso, pudesse abrir as portas para outros nomes ainda alternativos para arejar o segmento. Infelizmente isso não vai acontecer tão cedo.

domingo, novembro 20, 2011

Será que ainda vale a pena ser músico?

A desorganização do mercado musical por conta da nova realidade digital no consumo e acesso a obras artísticas está provocando crises existenciais em gente já bem estabelecida no ramo. A mais nova vítima é o guitarrista Kiko Loureiro, do Angra, uma das três mais bem-sucedidas bandas heavy metal brasileiras. Em sua coluna na revista mensal Guitar Player brasileira, na edição de agosto de 2011, ele expõe a sua angústia de como será o mercado a partir de agora. Sob o título “A Dúvida”, ele vai direto ao ponto. Vale a pena ser músico atualmente, e ainda mais no Brasil? Ele é constantemente perguntado sobre isso por músicos iniciantes e alunos seus de guitarra. Por mais que ele se esforce, e diga que não tem respostas para isso, ele deixa transparecer uma alta dose de pessimismo. Loureiro cita uma recente entrevista de Prince, multi-instrumentista e cantor pop de muito sucesso nos anos 80, em que declara que “não pretende voltar a gravar ou lançar coisa nova enquanto não for regularizada essa ‘terra de ninguém’ que se tornou a venda e a distribuição de música na atualidade”. Prince termina dizendo que está confuso com sua profissão e que não sabe como ser o seu futuro. O guitarrista brasileiro, de certa forma, corrobora a tese de Prince e reclama do que ele chama de “dízimo” que é pago aos músicos desde sempre – e que deve piorar em tempos de consumo digital desenfreado. “Com razão, Prince questiona que o músico não é mais pago pelo seu ofício e quem ganha são as operadoras de celular, Apple e Google.” O artigo pretende lançar uma ponta de otimismo em seu final, onde Loureiro primeiro questiona se ainda é possível viver música e se “os músicos são pagos pelo que realmente acham que valem”. A conclusão é que não, mas, para ele, “a criação musical nunca foi abortada por causa disso e que por isso é necessário ceder às nossas vontades e se jogar de cabeça na profissão de músico”. A conclusão é bonita, legítima, respeitável e tem ares filosóficas, mas nem passa perto de tentar buscar uma luz no fim do túnel. Loureiro evitou de todas as formas ser alarmista, mas é fato que até ele, músico consagrado internacionalmente, não consegue esconder o desalento que assola a atividade musical. Se o fim da carteirinha da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) é um alento, por outro lado o contínuo desmantelamento do mercado musical impulsionado em boa parte pelos downloads ilegais está colocando a parte mais frágil, o músico profissional, em um beco sem saída. O Combate Rock tem divulgado frequentemente opiniões diversas a respeito dos supostos problemas enfrentados pelo meio musical na questão dos direitos autorais e da remuneração pela produção criativa. De forma simplista, muitos defendem que quem vive de música hoje precisa ser criativo e encontrar soluções principalmente com a ajuda da internet. E discorrem a elencar uma série de iniciativas, quase todas incipientes, de modelos de negócio para tornar rentável, ou ao menos gerar algum faturamento, a partir da produção musical. Tudo muito bonito, mas isso nem de longe resolve o problema. A indústria fonográfica e o mercado musical estão minguando e não existe solução à vista. E não serão as iniciativas incipientes defendidas pelos “modernistas” e “viciados em tecnologia” que vão resolver os problemas no médio prazo. Prince promete que não grava mais nada enquanto não houver regras para disciplinas a 'terra de ninguém' da venda e distribuição de músicas na atualidade E o mais preocupante é que, ao que parece, somente os músicos, talvez a parte mais importante do processo, estão preocupados com isso. O desmantelamento do mercado e o incentivo do “faça você mesmo” tendem a jogar lá para baixo a qualidade do que se produz e do que se ouve atualmente. E as primeiras vítimas desse rolo compressor são os pequenos selos que, mesmo diminutos, faziam um trabalho profissional de seleção e divulgação. A quem interessa a guetificação da música? Como já publicados aqui no Combate Rock, uma das consequências do desmantelamento do meio musical é o fim dos grandes legados e a mediocrização total dominando e se tornando regra. Azar nosso. P.S.: Apenas para acrescentar uma informãção relevante. O crítico musical inglês Simon Reynolds, autor do livro “Retromania – Pop Culture’s Addiction to its Own Past”, declarou recentemente à Folha de S. Paulo que os dowloads de música pela internet e a oferta infinita de música e pordutos associados são “um desastre para artistas e fãs”. Segundo ele, “a cultura digital se fundamenta na facilidade, e a facilidfade de acesso e o custo mínimo de aquisição têm levado a uma depreciação no valor da música e à degradação da experiência audiófila”. Não poderia ser mais preciso.

quinta-feira, novembro 17, 2011

Shows internacionais: ‘nova indignação’ e mais choramingos contra a concentração em SP

O rock no Brasil está concentrado em São Paulo e os promotores de shows internacionais esquecem do resto do Brasil, ignorando “milhões” de fãs em outros Estados. Essa cantilena já não é nova e aborreceu bastante gente no passado mas, lentamente, está voltando. Na última edição da revista Roadie Crew, do mês de agosto, na seção de cartas, uma revoltada leitora de Salvador fez um protesto contra o que chamou de discriminação sulista. Reclamou da concentração de eventos na capital paulista, muitas envolvendo três ou quatro bandas gringas tocarem no mesmo dia, “congestionando” a agenda de todo mundo. “O Nordeste sempre fica de fora, obrigando muita gente a gastar dinheiro que não tem para comprar ingresso, reservar hotel, pagar táxi…” O ótimo site de rock Whiplash também recebe com frequência neste 2011 queixas do tipo. E agora elas chegam ao Combate Rock via Facebook. A choradeira é cansativa, mas creio ser necessário recolocar as coisas nos seus devidos lugares. É muito mais simples culpar a entidade amorfa e difícil de identificar chamado “promotor de shows internacionais”. Por que será que ninguém se pergunta sobre os motivos de bandas legais, grandes ou médias, não tocarem em suas cidades? Um grande jornalista de economia do Brasil afirmou nos anos 80 que o empresariado brasileiro estava muito empenhado em criar o que ele batizou de “capitalismo sem risco”: a ideia é sempre ganhar bastante dinheiro, e fazer de tudo para que não haja risco, de preferência se aninhando em alguma sinecura ou mamata junto ao poder público. Guardadas as devidas proporções, esse pensamento é dominante na área de entretenimento no Brasil. Vai desde conseguir o máximo de isenções fiscais possíveis, como no caso dos cineastas brasileiros que amam se pendurar no governo para “filmar” até cantoras decadentes de MPB que buscam dinheiro público para criar “blog de poesia”. Na área musical não é diferente. São poucos os que arriscam, até para verificar qual é a resposta do público. Quem arriscou – com competência e muita informação, é básico -, como Roberto Medina, criador do Rock in Rio, se deu bem. São frequentes as críticas de supostos jornalistas musicais deste país de que as bandas internacionais só veem ao Brasil quando estão em decadência, entre outras sandices. Foi assim no caso dos Rolling Stones, quando aportaram aqui somente em 1995. “Hoje são velhos caquéticos e decadentes. Por que não vieram ao Brasil quando estavam no auge, nos anos 70?”, escreveu um idiota incensado pela imprensa musical medíocre da época. A resposta é bastante simples: porque ninguém quis pagar, bancar o risco. Simples assim. Mick Jagger e Keith Richards adoravam o Brasil naquele tempo e passavam férias longas por aqui ano sim ano não até 1977. E foi numa destas passagens pelo Rio, em 1975, que empresários do meio conseguiram acesso a Jagger e perguntaram quanto eles cobravam para tocar no Brasil. O cantor não perdeu tempo, tirou um cartão da carteira e entregou ao empresário. “Ligue para o nosso tour manager”, respondeu o músico. A conversa assustou. O preço na época do cachê seria o equivalente hoje a R$ 2 milhões, mais todas as despesas pagas, fora os custos de infraestrutura, como hospedagem e transporte. Os brasileiros desistiram no ato. Os três shows mais recentes do U2 custaram mais de US$ 10 milhões só em cachês, fora o resto. E mesmo assim lotou e todo mundo cansou de ganhar dinheiro. Portanto, os Rolling Stones não tocaram aqui em 1975 porque ninguém aceitou bancar o risco do evento. O mesmo ocorreu com o Led Zeppelin em 1977. Esse pensamento domina quem se aventura a tentar promover shows de rock fora de São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba, Brasília e Porto Alegre. Aqui no Combate Rock já escrevi sobre o Rio de Janeiro ser o “túmulo” do rock no Brasil, por conta de não receber vários eventos internacionais. Se o Rio, com sua força econômica, não consegue atrair eventos de porte com frequência, imagine então outras cidades do Brasil. O fato é que existe um agravante na questão da aversão ao risco de promotores de fora do Sudeste: a falta de um público cativo de rock para justificar a ida de uma banda de porte para o resto do Brasil. E olha que ultimamente a coisa tem melhorado um pouco, já que Iron Maiden esteve recentemente em Recife, assim como Scorpions e outras bandas. O Blind Guardian vai tocar em São Luís, no Maranhão, neste segundo semestre, e o Deep Purple se apresentará em outubro em Fortaleza. Seja como for, não dá para desprezar que cada promotor local sabe o público que tem. Um show do Iron Maiden lota estádios em São Paulo, Porto Alegre e Curitiba, mas não leva mais do que 10 mil pessoas no Rio de Janeiro e com muito custo levou 15 mil em Recife. É uma quantidade insuficiente para justificar a realização de um show caro e de porte. Por isso é que o U2 só toca em São Paulo e, de vez em vez, no Rio. Assim sendo, antes de reclamar da “discriminação sulista” ou da suposta miopia dos “promotores de shows internacionais”, é bom que se olhe para os “parceiros” locais e que se pergunte a eles por que não arriscam a levar mais eventos para estes locais. O problema é que a resposta não será interessante, porque não será que os chorões e comodistas querem ouvir.

A dura vida dos ateus em um Brasil cada vez mais evangélico

A parábola do taxista e a intolerância. Reflexão a partir de uma conversa no trânsito de São Paulo. A expansão da fé evangélica está mudando “o homem cordial”? ELIANE BRUM - revistaepoca.com.br O diálogo aconteceu entre uma jornalista e um taxista na última sexta-feira. Ela entrou no táxi do ponto do Shopping Villa Lobos, em São Paulo, por volta das 19h30. Como estava escuro demais para ler o jornal, como ela sempre faz, puxou conversa com o motorista de táxi, como ela nunca faz. Falaram do trânsito (inevitável em São Paulo) que, naquela sexta-feira chuvosa e às vésperas de um feriadão, contra todos os prognósticos, estava bom. Depois, outro taxista emparelhou o carro na Pedroso de Moraes para pedir um “Bom Ar” emprestado ao colega, porque tinha carregado um passageiro “com cheiro de jaula”. Continuaram, e ela comentou que trabalharia no feriado. Ele perguntou o que ela fazia. “Sou jornalista”, ela disse. E ele: “Eu quero muito melhorar o meu português. Estudei, mas escrevo tudo errado”. Ele era jovem, menos de 30 anos. “O melhor jeito de melhorar o português é lendo”, ela sugeriu. “Eu estou lendo mais agora, já li quatro livros neste ano. Para quem não lia nada...”, ele contou. “O importante é ler o que você gosta”, ela estimulou. “O que eu quero agora é ler a Bíblia”. Foi neste ponto que o diálogo conquistou o direito a seguir com travessões. - Você é evangélico? – ela perguntou. - Sou! – ele respondeu, animado. - De que igreja? - Tenho ido na Novidade de Vida. Mas já fui na Bola de Neve. - Da Novidade de Vida eu nunca tinha ouvido falar, mas já li matérias sobre a Bola de Neve. É bacana a Novidade de Vida? - Tou gostando muito. A Bola de Neve também é bem legal. De vez em quando eu vou lá. - Legal. - De que religião você é? - Eu não tenho religião. Sou ateia. - Deus me livre! Vai lá na Bola de Neve. - Não, eu não sou religiosa. Sou ateia. - Deus me livre! - Engraçado isso. Eu respeito a sua escolha, mas você não respeita a minha. - (riso nervoso). - Eu sou uma pessoa decente, honesta, trato as pessoas com respeito, trabalho duro e tento fazer a minha parte para o mundo ser um lugar melhor. Por que eu seria pior por não ter uma fé? - Por que as boas ações não salvam. - Não? - Só Jesus salva. Se você não aceitar Jesus, não será salva. - Mas eu não quero ser salva. - Deus me livre! - Eu não acredito em salvação. Acredito em viver cada dia da melhor forma possível. - Acho que você é espírita. - Não, já disse a você. Sou ateia. - É que Jesus não te pegou ainda. Mas ele vai pegar. - Olha, sinceramente, acho difícil que Jesus vá me pegar. Mas sabe o que eu acho curioso? Que eu não queira tirar a sua fé, mas você queira tirar a minha não fé. Eu não acho que você seja pior do que eu por ser evangélico, mas você parece achar que é melhor do que eu porque é evangélico. Não era Jesus que pregava a tolerância? - É, talvez seja melhor a gente mudar de assunto... O taxista estava confuso. A passageira era ateia, mas parecia do bem. Era tranquila, doce e divertida. Mas ele fora doutrinado para acreditar que um ateu é uma espécie de Satanás. Como resolver esse impasse? (Talvez ele tenha lembrado, naquele momento, que o pastor avisara que o diabo assumia formas muito sedutoras para roubar a alma dos crentes. Mas, como não dá para ler pensamentos, só é possível afirmar que o taxista parecia viver um embate interno: ele não conseguia se convencer de que a mulher que agora falava sobre o cartão do banco que tinha perdido era a personificação do mal.) Chegaram ao destino depois de mais algumas conversas corriqueiras. Ao se despedir, ela agradeceu a corrida e desejou a ele um bom fim de semana e uma boa noite. Ele retribuiu. E então, não conseguiu conter-se: - Veja se aparece lá na igreja! – gritou, quando ela abria a porta. - Veja se vira ateu! – ela retribuiu, bem humorada, antes de fechá-la. Ainda deu tempo de ouvir uma risada nervosa. A parábola do taxista me faz pensar em como a vida dos ateus poderá ser dura num Brasil cada vez mais evangélico – ou cada vez mais neopentecostal, já que é esta a característica das igrejas evangélicas que mais crescem. O catolicismo – no mundo contemporâneo, bem sublinhado – mantém uma relação de tolerância com o ateísmo. Por várias razões. Entre elas, a de que é possível ser católico – e não praticante. O fato de você não frequentar a igreja nem pagar o dízimo não chama maior atenção no Brasil católico nem condena ninguém ao inferno. Outra razão importante é que o catolicismo está disseminado na cultura, entrelaçado a uma forma de ver o mundo que influencia inclusive os ateus. Ser ateu num país de maioria católica nunca ameaçou a convivência entre os vizinhos. Ou entre taxistas e passageiros. Já com os evangélicos neopentecostais, caso das inúmeras igrejas que se multiplicam com nomes cada vez mais imaginativos pelas esquinas das grandes e das pequenas cidades, pelos sertões e pela floresta amazônica, o caso é diferente. E não faço aqui nenhum juízo de valor sobre a fé católica ou a dos neopentecostais. Cada um tem o direito de professar a fé que quiser – assim como a sua não fé. Meu interesse é tentar compreender como essa porção cada vez mais numerosa do país está mudando o modo de ver o mundo e o modo de se relacionar com a cultura. Está mudando a forma de ser brasileiro. Por que os ateus são uma ameaça às novas denominações evangélicas? Porque as neopentecostais – e não falo aqui nenhuma novidade – são constituídas no modo capitalista. Regidas, portanto, pelas leis de mercado. Por isso, nessas novas igrejas, não há como ser um evangélico não praticante. É possível, como o taxista exemplifica muito bem, pular de uma para outra, como um consumidor diante de vitrines que tentam seduzi-lo a entrar na loja pelo brilho de suas ofertas. Essa dificuldade de “fidelizar um fiel”, ao gerir a igreja como um modelo de negócio, obriga as neopentecostais a uma disputa de mercado cada vez mais agressiva e também a buscar fatias ainda inexploradas. É preciso que os fiéis estejam dentro das igrejas – e elas estão sempre de portas abertas – para consumir um dos muitos produtos milagrosos ou para serem consumidos por doações em dinheiro ou em espécie. O templo é um shopping da fé, com as vantagens e as desvantagens que isso implica. É também por essa razão que a Igreja Católica, que em períodos de sua longa história atraiu fiéis com ossos de santos e passes para o céu, vive hoje o dilema de ser ameaçada pela vulgaridade das relações capitalistas numa fé de mercado. Dilema que procura resolver de uma maneira bastante inteligente, ao manter a salvo a tradição que tem lhe garantido poder e influência há dois mil anos, mas ao mesmo tempo estimular sua versão de mercado, encarnada pelos carismáticos. Como uma espécie de vanguarda, que contém o avanço das tropas “inimigas” lá na frente sem comprometer a integridade do exército que se mantém mais atrás, padres pop star como Marcelo Rossi e movimentos como a Canção Nova têm sido estratégicos para reduzir a sangria de fiéis para as neopentecostais. Não fosse esse tipo de abordagem mais agressiva e possivelmente já existiria uma porção ainda maior de evangélicos no país. Tudo indica que a parábola do taxista se tornará cada vez mais frequente nas ruas do Brasil – em novas e ferozes versões. Afinal, não há nada mais ameaçador para o mercado do que quem está fora do mercado por convicção. E quem está fora do mercado da fé? Os ateus. É possível convencer um católico, um espírita ou um umbandista a mudar de religião. Mas é bem mais difícil – quando não impossível – converter um ateu. Para quem não acredita na existência de Deus, qualquer produto religioso, seja ele material, como um travesseiro que cura doenças, ou subjetivo, como o conforto da vida eterna, não tem qualquer apelo. Seria como vender gelo para um esquimó. Tenho muitos amigos ateus. E eles me contam que têm evitado se apresentar dessa maneira porque a reação é cada vez mais hostil. Por enquanto, a reação é como a do taxista: “Deus me livre!”. Mas percebem que o cerco se aperta e, a qualquer momento, temem que alguém possa empunhar um punhado de dentes de alho diante deles ou iniciar um exorcismo ali mesmo, no sinal fechado ou na padaria da esquina. Acuados, têm preferido declarar-se “agnósticos”. Com sorte, parte dos crentes pode ficar em dúvida e pensar que é alguma igreja nova. Já conhecia a “Bola de Neve” (ou “Bola de Neve Church, para os íntimos”, como diz o seu site), mas nunca tinha ouvido falar da “Novidade de Vida”. Busquei o site da igreja na internet. Na página de abertura, me deparei com uma preleção intitulada: “O perigo da tolerância”. O texto fala sobre as famílias, afirma que Deus não é tolerante e incita os fiéis a não tolerar o que não venha de Deus. Tolerar “coisas erradas” é o mesmo que “criar demônios de estimação”. Entre as muitas frases exemplares, uma se destaca: “Hoje em dia, o mal da sociedade tem sido a Tolerância (em negrito e em maiúscula)”. Deus me livre!, um ateu talvez tenha vontade de dizer. Mas nem esse conforto lhe resta. Ainda que o crescimento evangélico no Brasil venha sendo investigado tanto pela academia como pelo jornalismo, é pouco para a profundidade das mudanças que tem trazido à vida cotidiana do país. As transformações no modo de ser brasileiro talvez sejam maiores do que possa parecer à primeira vista. Talvez estejam alterando o “homem cordial” – não no sentido estrito conferido por Sérgio Buarque de Holanda, mas no sentido atribuído pelo senso comum. Me arriscaria a dizer que a liberdade de credo – e, portanto, também de não credo – determinada pela Constituição está sendo solapada na prática do dia a dia. Não deixa de ser curioso que, no século XXI, ser ateu volte a ter um conteúdo revolucionário. Mas, depois que Sarah Sheeva, uma das filhas de Pepeu Gomes e Baby do Brasil, passou a pastorear mulheres virgens – ou com vontade de voltar a ser – em busca de príncipes encantados, na “Igreja Celular Internacional”, nada mais me surpreende. Se Deus existe, que nos livre de sermos obrigados a acreditar nele.

segunda-feira, novembro 14, 2011

Um agradecimento ao Restart, o ‘Black Sabbath’ com emoção

“Só tenho a agradecer ao Restart. Essa banda ensinou meu filho a gostar de música boa e decente, coisa que eu não consegui até hoje.” A frase caiu como uma bomba na noite da última quarta-feira, durante um churrasco de aniversário à espera do jogo Atlético-PR e Palmeiras, que foi transmitido pela TV. Fazia tempo que os xiitas do metal não se reuniam no bairro de Santana, na zona norte de São Paulo. Só se falava no show imperdível que reuniria Judas Priest e Whitesnake neste sábado, e aí o João Carlos, contador de competeência incomparável, saiu com essa, após saber das vaias que o quinteto emo de qualidade nula tinha sido vaiado na entrega do prêmio Multishow – o Restart ganhou como melhor clipe e melhor álbum (???????). “Esses moleques não tocam nada e sua música é algo tão infantil e tão ruim que deveriam ser enviados para qualquer limbo. Só que eles fizeram um bem danado para o Marquinhos (seu filho de 12 anos): O Restart fez o meu filho gostar de Black Sabbath”, disse João Carlos,para confusão e estupefação do grupo de oito amigos reunidos em torno de um iPod que explodia ao som do novo álbum do Dream Theater, “A Dramatic Turn of Events”. A explicação é a mais estapafúrdia possível: em maio, o joral paranaense Diário de Maringá repercutiu com os integrantes do Restart, que fariam show na cidade, uma crítica do baterista do Angra e do Shaman, Ricardo Confessori, de que a banda fazia um “rock infantil”. “Eu até gosto de Angra, mas estou farto de preconceito. Somos roqueiros e gostamos de rock. Ouvimos muito Black Sabbath e depois fazems as nossas músicas com emoção”, disse ao jornal o guitarrista Pe Lanza. Foi o suficiente para que a internet reperticusse, de forma deturpada, a seguinte informaçâo: “guitarrissta do Restart diz que a música da banda é ’Black Sabbath’ com emoção”. O equívoco só reforçou a ojeriza de parte expressiva do público roqueiro à bandinha emo de laboratório, além das esperadas gozações de praxe. Só que o garoto filho de João Carlos, até então fã de carteirinha do Restart, acompanhou a polêmica e se interessou em saber quem era o tal do Black Sabbath. Apaixonou-se pelo som da guitarra de Tony Iommi, baixou todos os álbuns da fase Ozzy Osbourne pela internet e fez opai gastar uma boa grana em uma guitarra Gianini de segunda mão e em 12 CDs da banda na Galeria do Rock. “Nunca me senti tão feliz gastando dinheiro com rock naquele final de semana”, disse o pai, ex-baixista de parcos recursos que tocou em bandas pop e de samba na zona norte nos anos 80. O som do Restart é abominável e, de certa forma, prejudicial à saúde auditiva – em texto mais antigo, eu até questionei se ouvir Restart servia como porta de entradapara se ouvir rock decente, no caso de criança e adolescentes. Mas não dá para ignorar: pelo menos uma única vez na vid a o Restart serviu para alguma coisa: induziu ao menos um garoto a procurar infomação sobre uma banda realmente que vale a pena. Quase quatro meses depois da polêmica, marquinhos praticamente nem lembra que existe Restart. Deixou o cabelo crescer e ganhou um presente do pai depois que conseguiu tocar a sua primeira música completa: o hino “Paranoid”. Também já toca com certa habilidade “Mob Rules”, “Neon Knights” e “N.I.B.”, todas da banda de Ozzy Osbourne. Jamais pensei que escreveria isso aqui no Combate Rock algum dia: obrigado, Restart. Pelo menos serviu para alguma coisa.

terça-feira, novembro 08, 2011

Projeto que reuniu Jimmy Page com o Yes há 30 anos pode sair do baú

Todo mundo está negando, mas não se surpreenda se nos próximos meses aparecer no mercado um CD com gravações da banda XYZ. O projeto, abortado no começo de 1982, era uma mistura de Led Zeppelin e Yes. Jimmy Page era o guitarrista, Chris Squire, o baixista e vocalista, e Alan White, o baterista. Em entrevista à Classic Rock Magazine no ano passado, o baixista do Yes, Chris Squire, revelou que ele e o baterista Alan White quase formaram a cozinha de um grupo com Jimmy Page e Robert Plant após a morte de John Bonham. O Led Zeppelin havia acabado em dezembro de 1980 e o Yes, no começo de 1981. “Um dia, Page me ligou, falando que não podia mais ficar parado, sem fazer nada. Então, pediu que eu e Alan fôssemos até ele, só para ver se poderíamos fazer alguma música juntos. Obviamente, ele ainda estava devastado. Passamos um tempo por lá e surgiram rumores que Plant iria se juntar a nós. Mas ele mandou recado dizendo que ainda não pensava em formar um novo grupo. Se tivesse aparecido, tenho certeza que teria acontecido”, disse Squire. Em recente passagem do Yes pelo Brasil, um jornalista paulistano perguntou ao baixista sobre os tapes e sobras de estúdio perdidos do XYZ, cujos fragmentos circulam em gravações ruins pela internet. Squire deu uma risada sem graça e desconversou, dizendo que aquilo não passou de meras jam sessions. Em outra entrevista, agora neste ano a uma rádio inglesa, o baixista do Yes negou qualquer tenativa de resgatar as gravações. “Jimmy (Page) precisaria dar o seu aval, e duvido que dê. Aliás, antes de mais nada, os tapes precisam ser achados.” Alguns sites musicais da Inglaterra andaram informando também que representantes de Page negaram qualquer possibilidade de lançamento dos tapes. O fato é que as sessões na casa de Page não foram “apenas isso”. Havia realmente a intenção de criar uma banda nova, misturando o peso do Led com o virtuosismo do Yes. Desde aquelas sessões de fevereiro de 1981, o trio sabia que Robert Plant não participaria. Na verdade, o convite nunca foi levado a sério. Page lembrou de Paul Rodgers, do Bad Company, que estava atritado com seus companheiros de grupo – sairia em 1982 para uma carreira solo e depois cantar no The Firm, com o próprio Page. O cantor nem chegou a ser consultado. Enquanto discutiam se chamavam Plant ou não, mas de forma incisiva, Squire assumiu os vocais. Não ficou bom. O que se sabe é que as sessões na casa de Page, na Inglaterra, renderam ao menos quatro esboços de músicas, sem nomes e sem letras. Apareceram pela primeira vez em um bootleg em 1987, editado em vinil na Inglaterra com o nome de “After de Crash”. Trazia apenas as quatro músicas. Em 1996 reapareceu em CD na Itália, trazendo como complemento sobras de estúdio das gravações de “Shake ‘n Stirred”, álbum de Robert Plant lançado em 1985. Pelo que se ouve nestas gravações, realmente não dá para transformá-las em algo comercial, mesmo que seja apenas e tão somente para colecionadores. Existem coisas melhores, mais bem gravadas? Ninguém diz, ninguém confirma, e os próprios envolvidos parecem não levar a sério essa questão. Algums versões piratas trazem músicas com supostos nomes, como “Mind Drive”, “Can You See” e “Telephone Secrets”. Entretanto, já se viu coisa semelhante no mercado: quando se menos espera, aparece uma nova versão de alguma coisa que muita gente imaginava não existir – como uma famosa gravação de um show do Asia em 1983 no Japão com Greg Lake substituindo John Wetton no baixo e nos vocais. No começo dos anos 2000 circulou um CD nas lojs virtuais contendo essa gravação do Asia, editada por um selo inglês, mas que nunca foi reeditada e que não contou com o apoio de nenhum interante da banda. Enquanto o trio não se decidia o que faria, Jimmy Page tornou-se compositor de trilhas para o cinema e assinou a de “Death Wish II”, de 1982, estrelado por Charles Bronson – no Brasil teve o título de “Desejo de Matar”. Squire e White, decepcionados com o fracasso do XYZ, realizaram jam sessions com um jovem talentoso guitarrista de estúdio, o sul-africano Trevor Rabin, que tinha gravado dois LPs de música pop em sua terra natal. Era o final do primeiro semestre de 1982 quando o baixista reencontrou o antigo amigo Tony Kaye, que fora tecladista do Yes nos três primeiros álbuns da banda, sendo demitido em 1971 para dar lugar a Rick Wakeman. Feito o convite, Kaye participou de algumas sessões de estúdio com o trio e aceitou se tornar membro da banda, que se chamaria Cinema por um curto período, sendo que os vocais seriam divididos por Rabin e Squire. O álbum de estreia estava quase pronto no fim de 1982 quando o ex-vocalista do Yes Jon Anderson visitou o quarteto em Los Angeles e ficou maravilhado com o material que ouviu, ainda em estado bruto. Duas semanas após essa visita o empresário de Anderson propõe um retorno do Yes, que tinha parado em 1981, com o vocalista se integrando ao quarteto Cinema. Proposta aceita, o Yes ressurgiu com álbum “90125″, um enorme sucesso puxado pelo hit “Owner of a Lonely Heart”. Essa formação – Anderson, Squire, Rabin, Kaye e White – durou até 1994.

sábado, novembro 05, 2011

Blues Brothers podem virar série de TV 31 anos depois

O projeto era para ser sigiloso, mas parece que sigilo não é algo que se possa guardar por muito tempo neste século XXI. Com a enxurrada de bandas-tributo à banda-combo-trupe de TV Blues Brothers e diversos projetos já sendo preparados para 2012 - ano que marca o 30º aniversário da morte do ator John Belushi -, o comediante Dan Aykroyd finalmente cedeu e participa da elaboração de uma série de TV baseada na famosa banda fake de blues. O canadense Aykroyd, segundo site norte-americano MSN Entertainment, conseguiu o apoio da ex-esposa de Belushi, Judy, e já está consultando executivos de empresas do ramo para viabilizar o projeto. Até o momento, por enquanto, a coisa ainda está no campo das ideias, mas o mercado fonográfico já dá como certa a realização do seriado. The Blues Brothers ficaram mundialmente conhecidos com o estrondoso sucesso do filme homônimo de 1980 (no Brasil ganhou o nome de “Irmãos Cara-de-Pau”). Sua trilha sonora conta com astros da música norte-americana como James Brown, Aretha Franklin, Ray Charles, Steve Cropper e a própria dupla de atores nos vocais de alguns sucessos do blues – com Belushi se revelando um excelente intérprete. Aykroyd e Belushi se conheceram no famoso programa de TV norte-americano “Saturday Night Live”, onde faziam parte do time de comediantes residentes. Com a colaboração da banda fixa que tocava com convidados, os dois inventaram um quadro em que zoavam e tiravam sarro de clássicos da música popular. A banda se institulou Blues Brothers. Nos ensaios, no entanto, as jams e sacanagens foram se transformando em verdadeiros eventos para funcionários e convidados dos estúdios, o que levou à ideia experimental de levar os Blues Brothers para os palcos, em shows que misturavam música com esquetes humorísticos. Deu tão certo que o projeto rendeu LPs e o filme já citado. A ideia na verdade cresceu demais e acabou por se tornar, em alguns momentos, muito maior do que o quadro no programa de TV original – e mesmo maior do que as carreiras cinematográficas dos dois astros principais. Em 1978, foi lançado “Briefcase Full Of Blues”, primeiro álbum do grupo, gravado ao vivo com clássicos do blues, na maioria das vezes rearranjados. O disco foi muito bem sucedido e alavancou o projeto do filme de mesmo nome dirigido pelo mestre John Landis. A comédia conta história da saga dos irmãos Blues, Elwood (Aykroyd) e Jake (Belushi), para tentar arrumar fundos para salvar o orfanato onde cresceram do fechamento. O problema é que eles acabam de sair da prisão – com esse cartão de visitas, ficava difícil angariar fundos. Só restou a eles reunir a antiga banda de blues que tinham para fazer shows pelos Estados Unidos e conseguir o dinheiro. Ainda em 1980, aproveitando o embalo do filme, cuja trilha sonora original vendeu horrores, foi lançado “Made In America” que mostra a banda ao vivo de novo, mas sem o mesmo pique do primeiro álbum e sem o clima descontraído e festeiro da trilha. Não foi lá muito bem recebido. O projeto simplesmente acaba em 1982, quando John Belushi morre de overdose de cocaína. Aykroyd se torna um respeitado ator e comediante, com boas participações em fitas dramáticas, e se recusa a participar de bandas-tributo aos Blues Brothers que surgem nos anos 80 – uma delas chegou a contar com os músicos originais dos dois primeiros álbuns e lançou um fracassado álbum ao vivo em 1988. Aykroyd só se anima em participar de algum projeto em 1997, com um fracassado seriado de animação que praticamente nem chegou a ser rodado, com a presença de James Belushi, irmão mais novo de John e ator consagrado por filmes policiais e de ação. No embalo do que seria o lançamento do projeto abortado é lançado “Blues Brothers And Friends: Live From Chicago’s House Of Blues”, de 1997 . Devido a uma briga de interesse entre estúdios hollywoodianos, James Belushi acaba definitivamente descartado para aquele que seria a continuação do filme de 1982, “Blues Brothers 2000″, de 1998. Aykroyd foi acompanhado por John Goodman e Joe Morton. O filme foi fracasso de crítica e público, mas a trilha sonora teve boa aceitação, contando com a participação de Jonny Lang, Blues Traveller e uma superbanda que toca no final do filme, com as presenças de B.B. King, Eric Clapton e de novo Jonny Lang – a Louisiana Gator Boys. Em recente entrevista a um jornal brasileiro, Dan Aykroyd disse que “odiava” John Belushi. “Eu amava o cara, era o meu melhor amigo e o único parceiro que conseguia fazer com que eu me superasse na tela. Ele não podia ter feito isso (morrer de overdose), acabou com todos os nossos grandes projetos.” Existe uma dúvida a respeito das possibilidades de ressuscitar os Blues Brothers, já que Aykroyd está muito envolvido na criação do terceiro filme da série “Os Caça-Fantasmas”. Ele faria um bem a toda humanidade se deixasse de uma vez por todas os Irmãos Caras-de-Pau em paz.

quarta-feira, novembro 02, 2011

O pop rock sumiu do mercado

O pop rock brasileiro sumiu. Não há vestígios dele nas poucas lojas de CDs e DVDs que sobraram, nas lojas virtuais e nas emissoras de rádio – que são mais raras ainda na difusão de tal segmento. Quando muito, o que se vê no dial das FMs e no comércio são os velhos heróis dos anos 80, que ainda vendem razoavelmente bem. De resto, esterilidade total - não há nem mesmo mesmo uma única banda ou artista novo da área que chame a atenção. Mas a situação fica cada vez mais assustadora quando se observa a enorme lista de atrações do Rock in Rio 2011 é se tenta uma breve comparação com o evento inaugural, de 26 anos atrás: não existe mais pop rock nacional na segunda década do século XXI. A organização do megaevento decidiu apostar, nos vários palcos da edição de 2011, no tiro certo. Estão lá os ícones da geração dos anos 80, como Titãs, Roberto Frejat (Barão Vermelho), Capital Inicial, Jota Quest, Marcelo D2 (ex-Planet Hemp), Cidade Negra (??????) e Skank, entre outros – todos os citados com no mínimo 15 anos de carreira, na maior parte do tempo bem-sucedida. Tiveram que chamar até mesmo a nova reencarnação dos Mutantes, um grupo fundado há quase 45 anos. Pitty , Marcelo Camelo (ex-Los Hermanos) e Detonautas são atrações secundárias e também estão há uns bons dez anos na estrada – e já viveram dias bem melhores, tanto em termos de mercado como de criatividade. Ou seja, falta novidade no segmento pop rock para atrair público. O jeito foi chamar NX Zero e Gloria para tocar no palco principal – atrações que, por si só, não necessita maiores comentários e expõem de forma dramática a crise que assola o rock brasileiro. De novidade mesmo, digna de nota, temos o interessante Móveis Coloniais de Acaju e a banda de rock pesado Matanza, que não é novata, pelo contrário. Nada contra a participação de um grande número de bandas e artistas consagrados e com anos de carreira. A questão não é essa. O que chama a atenção é que a nova geração do pop rock, a rigor, está representada mesmo, para valer, apenas com NX Zero (que tem dez anos de carreira, mas despontou um pouco mais tarde) e Gloria, duas bandas que, gostem ou não, se encaixam no “perfil” emo. Cadê o rock nacional de qualidade que esteja despontando? A comparação com o Rock in Rio I, de 1985, é covardia. Havia todo um contexto político e social dos mais interessantes na época e, de certa forma, houve um despertar cultural jovem que teve a música como sua principal expressão. E os organizadores, à época, tiveram sensibilidade para perceber o momento e, dentro do possível, convocaram os principais expoentes daquela geração que nascia. Paralamas do Sucesso e Barão Vermelho foram as grandes atrações do rock nacional emergente que se apresentaram naquela edição. Fizeram shows elogiados, dentro dos parcos limites técnicos e de tempo concedido aos artistas brasileiros. As duas bandas estavam no auge. Houve espaço até mesmo para o pop mais rasteiro e comercial, como nos casos de Blitz e Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, que também desfrutavam de sucesso na época e se tornaram parte importante da cena. E o que falar então do time de bandas importantes – boas ou ruins – que também faziam bastante sucesso, vendiam muito e tocavam bastante no rádio? Titãs, Ultraje a Rigor, Ira!, Inocentes, Plebe Rude, Capital Inicial, Lobão e os Ronaldos, Legião Urbana, Léo Jaime, Mercenárias, Metrô… Isso para não falar no rock pesado e no punk rock, como Dorsal Atlântica, Ratos de Porão, Garotos Podres… Não dá para comparar, tanto em qualidade como em quantidade. O pop rock sumiu em 2011 e está restrito, pelo menos aos olhos de parcela importante do mercado, às bandas emo, como Gloria, NX Zero, Fresno, Restart e os sumidos CPM 22. Os medalhões e os veteranos bons de vendas ainda reinam e deverão reinar por um bom tempo. Mas aí um amigo dono de selo musical me faz a provocação: se o Móveis Coloniais de Acaju conseguiu, por que os outros não conseguiram? A pergunta é pertinente, e deve ser respondida pelos integrantes do Móveis. Qual foi o segredo? A banda pertence a um circuito alternativo de pop rock e tem certo prestígio neste segmento, mas não muito mais do que bandas com trabalhos – interessantes ou não – que tiveram alguma repercussão, como Cachorro Grande, Vanguart, Macaco Bong, Anjo Gabriel, Ludov e mais algumas outras – para não falar no pequeno mas efervescente cenário do rock pesado em português, com Pedra, Carro Bomba, Tomada, Bando do Velho Jack, Baranga, Cracker Blues e Motorocker. Todas têm o mesmo cacife, mas apenas o Móveis e Matanza triunfaram. Boas bandas, mas sem espaço em rádios e incapazes de formarem uma “cena”, de formar um cenário digno de ser chamado de novo rock ou pop rock nacional. A menos que haja um cataclismo cultural, permanecerão no underground – e com cada vez menos chances de participar de um Rock in Rio. Estaremos condenados por mais um bom tempo a escutar nas rádios que sobraram as mesmas velhas canções de Legião Urbana, Paralamas, Skank e Cazuza…

Raul Seixas continua sendo trilha sonora de anacronismos

O século XXI se tornou uma época bastante perigosa para certa caregoria de estudantes universitários, em especial para a aqueles que optam por áreas de ciências humanas – mais ”em especial” ainda para quem insiste em cursar história, filosofia e ciências sociais. O mundo mudou demais nos últimos 25 anos, e a própria história sepultou diversas crenças em todas as áreas do conhecimento, mas parece que isso não foi o suficiente para resgatar certos redutos da pré-história ideológica no Brasil. Resistem ainda em alguns botecos de quinta categoria ao lado de faculdades e centros acadêmicos inundados de irrelevância teses lidas somente em orelhas de livros ruins, mas que se transformaram e luzes da humanidade em pricas eras, mas que hje soam apenas como anedotas sem graça. E, como toda corrente de pensamento pseudo-intelectual tem sua trilha sonora, a desse povo citado anteriormente não poderia ser outra: o anacrônico Raul Seixas, com todos os seus anacronismos. Ainda é possível ver gente fantasiada de hippie nas escadarias da TV Gazeta, na avenida Paulista, no prédio onde funcionam uma unidade importante do cursinho Objetivo e a Faculdade de Comunicação Cásper Líbero, assassinando músicas de Raul (que no original já são geralmente ruins), tendo três ou quatro tontos em volta se deliciando com tal espetáculo bizarro amaldiçoando ter nascido na época errada. E também foi possível escutar a música de Raul Seixas no tumulto que envolveu a Polícia Militar e estudantes desocupados e irresponsáveis nas imediações da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Não poderia haver retrato melhor da confusão estapafúrdia promovida por um bando de desordeiros desconectados da realidade e sem a menor noção dos motivos e da validade de tal protesto: o anacrônico Raul Seixas como trilha de anacrônicas ideias, discursos distorcidos e mentes ocas. Quando um estudante foi morto durante assalto na FEA foram inúmeras as queixas de falta de segurança e solicitação de patrulhas da PM; na última quinta, o ‘enclave’ da USP, com suas ‘leis próprias’, quis impedir que três estudantes que fumavam maconha em público fossem presos, o que para muitos indigentes intelectuais é sinônimo de ‘repressão’ e ‘intromissão indevida do Estado’ (FOTO: TIAGO QUEIROZ/AE) A confusão na USP ocorreu porque os estudantes daquela faculdade de ciências humanas acham que a universidade é um enclave dentro do Brasil com leis próprias e costumes “diferenciados”, entre os quais fumar maconha em público, despreocupadamente e na frente de policiais. Para azar de três imbecis, a USP não é um enclave, seus costumes não são difrenciados e fumar maconha continua sendo crime. Portanto, é mais do que óbvio que os três foram presose flagrante. Só que houve uma movimentação surpreendente contra a ação legítima da polícia por parte de “comunidade” de equivocados, que agrediu PMs e jornalistas na tentativa de evitar a prisão, assim como houve depredação de carros de polícia. E como costuma ocorrer em situações parecidas, os policiais não ficaram parados e fizeram valer sua autoridade, com reforços, na base cacetadas, com todos os excessos previstos. E tudo isso ao som de Raul Seixas ao fundo, segundo relatos de quem esteve no local. Uma rápida lida nos relatos de jornais nos dias seguintes mostram como uma faculdade que já foi referência no ensino de ciências humanas virou um deserto de ideias e cérebros – sem contar a repetiçâo mântrica de conceitos e teses devidamente soterradas pelos escombros do Muro de Berlim, derrubado a marretadas em 1989. Esse bando de tolos que participou da defesa dos maconheiros nem sequer conseguem identificar um inimigo para nortear suas pobres existências neste século XXI e ousam falar em repressão policial quando estes estão nada mais do que cumprindo a lei. E usam a palavra repressão tentando impregnar conceitos politicos atrasados em uma época de plena democracia que com certeza envergonharia os próprios pais, que viveram nos anos duros do regime militar. Tudo isso embalado, principalmente, por músicas de Raul Seixas, mesmo aquelas que nenhum significado tem. Os relatos do repórter Bruno Paes Manso, de O Estado de S. Paulo, não deixam dúvidas a respeito do discurso vazio e do pensamento totalmente embolorado e equivocado desta juventude: A reportagem tentava em vão algumas entrevistas, mas os estudantes evitavam conversar com a imprensa dizendo que suas palavras seriam distorcidas. Ele temiam que fossem chamados de maconheiros, em manchetes sensacionalistas. Meu argumento derradeiro foi que assim eu só teria a versão da PM e que precisava ouvir a narrativa dos alunos. Uma jovem de 18 anos aceitou me contar. Fomos para um canto mais calmo e ela pediu anonimato. Em vez de descrever os fatos que originaram a confusão, elucubrou sobre privatização e política estudantil: “O que aconteceu é uma decorrência da privatização do ensino neoliberal e blá, blá, blá”. Com uma mistura de inocência e arrogância, ela parecia acreditar que aquilo era realmente o que eu queria ouvir. Livros de Foucault e Walter Benjamin eram mostrados aos PMs, que assistiam a tudo com cara de quem estava se divertindo ao escapar da rotina do mundo criminal da zona oeste. Os policiais estavam claramente orientados a manter a calma, fato que depois foi confirmado pelo comandante geral. Tanto que alguns estudantes acenderam baseados e passaram a fumar tranquilamente nos jardins da História, mesmo com a presença das autoridades. Havia uma concentração de hormônios adolescentes buscando extravasar, uma atmosfera de pancadão sem funk. Jovens faziam discursos face a face com soldados, alguns segurando latinhas de cerveja. Falavam sobre ditadura, assassinatos na periferia. Sim, pareciam movidos a idealismo, um idealismo mal educado, como se fossem mudar o Brasil ao esculachar os “coxinhas”. Foi uma manifestação excitante, dionisíaca, mas sem causa. Dessas que você relembra saudoso aos quarenta anos, na mesa de bar com amigos, para mostrar como já foi ousado na adolescência. Mesmo que não tenha servido para muita coisa. É claro que se trata de mais um cas de uso indevido do legado de Raul Seixas, que jamais aprovaria que sua obra fosse emporcalhada por gente tão desprovida de recursos intelectuais e com manifesta indigência intelectual. Raul Seixas era antes de mais nada um artista antenado e uma pessoa inteligente, apesar de ser mais um entre tantos músicos brasileiros superestimados e alçados a gênio por uma certa camarilha cultural. Raul era bem humorado e abusava nao só da ironia como a da auto-ironia. Mas ter sua obra, ainda que não seja nada daquilo que dizem que é, usurpada por um bando de estudantes que não conseguem distinguir liberdade de expressão da proibição de fumar maconha, principalmente em lgares públicos, é um tremendo tapa da cara. Pior do que isso é a constatação, infelizmente, que a música de Raul Seixas é a trilha mais adequada para simbolizar o vazio intelectual que domina parcela expressiva dos estudantes da principal universidade do país, bem como mostra o tamanho do equívoco ideológico que persiste em tal ambiente escolar. Está mais do que explicado o avanço do execrável sertanejo universitário no Brasil.

terça-feira, novembro 01, 2011

Agressor de Monalisa Perrone é “muito politizado” e sustentado pela mamãe

Flavio Morgenstern O portal iG entrevistou o futuro do Brasil – o rapaz que invadiu o link da Globo transmitido ao vivo e agrediu pelas costas, praticamente com uma chave de jiu-jitsu, a repórter Monalisa Perrone, que passava informações justamente sobre o estado de saúde do ex-presidente Lula. O futuro do Brasil tem a cara que segue: Eu sou você amanhã. O meninão é militante do movimento Acampa Sampa. Sabe-se que o país chegou ao fundo do poço quando ninguém faz nada contra ONGs com nomes que rimam. 26 anos de Ministério da Cultura e ninguém pra pensar nas criancinhas. Diz o meliante, identificado como Thiago de Carvalho Cunha, que o movimento não tem nada a ver com seu ato, que foi pessoal: “Na verdade, foi uma ação independente e individual. Um amigo meu, que tem um canal no Youtube, me avisou que a Globo estaria lá. Escolhi a Globo de propósito porque tinha a Rede TV!, o SBT e a Record. Escolhi a Globo porque teria mais visibilidade. A Globo nasceu na época da ditadura e manipula as pessoas. Quero provar para as pessoas que todo mundo tem voz.” A Globo nasceu na época da ditadura, entenderam? O Chico Buarque também. O núcleo que viraria o PT também é dessas épocas. Aliás, até os Beatles são da época da ditadura. Quero saber se o futuro do país agrediria todos pelas costas. E se quer provar que todos têm voz, por que a sua se resume a algo próximo de um “Ya!” de karetè. Ademais, para conhecer tão bem a programação da Globo, indaga-se seriamente se o que o gênio faz nas horas NÃO-vagas. Ele afirma que sua intenção era apenas divulgar o curta-metragem que está escrevendo, “Merda no Ventilador”. “Só queria divulgar o filme, não queria falar nada demais”, afirma. Eu também estou só tentando divulgar um filme que estou escrevendo. Chama-se “O Que Aconteceria Se O Exterminador do Futuro Fosse Mandado ao Passado e Matasse Seu Próprio Avô Antes de Engravidar Sua Avó”. Ainda não terminei de escrever, e o estúdio do James Cameron ainda não aprovou de todo o roteiro, mas quero divulgá-lo também. Posso invadir o programa do PCO (que não nasceu na época da ditadura e nem manipula ninguém) e, numa chave de braço pelas costas em alguma repórter, divulgá-lo, nada demais? Sobre a possibilidade de Monalisa registrar um boletim de ocorrência, Thiago não demonstrou arrependimento. “Eu não tenho medo, eu não quero dinheiro. Eu quero mesmo que ela faça o boletim de ocorrência e que venha a Polícia Federal agora me pegar”. Existia uma excelente comunidade no orkut chamada “Sonho liderar turba enfurecida”. De fato, é o sonho de toda a esquerda. Mas por que isso me lembra a FFLCH, em que armam uma porradaria pra PM, só para ela ser obrigada a pedir reforços, e depois reclamarem que houve “repressão” por parte da polícia? Se afirmamos isso, somos considerados conspiracionistas. Mas quando um intelectual de alto gabarito como o Thiago de Carvalho Cunha afirma que quer mesmo é que a Polícia Federal o torne um “perseguido político”, ninguém lembra de que já afirmamos que esse é o modus operandi desse tipo de militonto. Ainda resta dúvida? Ele ainda afirmou que não agrediu a jornalista, mas se disse agredido. O militante contou que os seguranças fizeram um cordão de isolamento e começaram a agredir os rapazes. Quando eles conseguiram se livrar, apareceram em frente à TV. “Se a Globo quiser me processar, temos uma equipe de 40 advogados apoiando o movimento”, afirmou Thiago. Apesar de citar os advogados do movimento para sua defesa pessoal, ele ressalta mais uma vez que sua atitude foi em causa própria. Ignorando as contradições com os advogados, isso só completa o modus operandi do que rola na pancadaria dos maconheiros da USP. Você vê que fizeram um cordão de isolamento para filmar algo (nada mais natural, se é que fizeram mesmo). Vai lá e tenta furá-lo. Quando tentam te impedir, diz que você é que “foi agredido”. É como impedir PM de levar pra delegacia pra autuar 3 maconheiros (ou seja, para impedir que os policiais os fichem, liguem pra mamãe e pro papai pra avisar que o menino gênio da família que passou na USP estava era fumando bagulho com os amiguinhos no carrão que deram de presente pra ele e depois liberem os 3 como se nada tivesse ocorrido) e, depois que a PM chama reforços para conseguir levar os 3 para a delegacia, dizer que “foram agredidos”. Por que o futuro Emir Sader não vai pra delegacia prestar B.O. se está se dizendo vítima de agressão? O que o impediria? Nem mesmo o iG, um portal rigorosamente governista (e envolvido em umas muitas e boas maracutaias), teve falta de vergonha na cara pra dar uma de Record tentando agredir a Globo: Não foi bem o que testemunhou a reportagem do iG, presente no local para cobrir o primeiro dia do tratamento do ex-presidente Lula. O repórter afirma que o que ele viu foi uma agressão covarde de dois homens contra uma mulher, e pelas costas. Segundo relato, o amigo dele (de Thiago) deu uma joelhada nas costas da repórter numa atitude violenta, sem que ninguém os tivesse cercado, ameaçado ou encostado um dedo neles. Eles agrediram a Monalisa e saíram correndo. Ou seja: aquela imagem que vemos, de dois grandalhões aparecendo correndo de longe (depois de passar por um “cordão de isolamento”?) e derrubando uma repórter pelas costas são… dois grandalhões aparecendo correndo de longe e derrubando uma repórter pelas costas. Cadê o movimento feminista nessas horas? Quando afirmei que feminismo é apenas uma vertente radicalíssima do marxismo, e não “defesa das mulheres”, reclamaram. Pois até agora as feministas padrão da blogosfera não se pronunciaram a favor da mulher agredida com uma joelhada nas costas. Lola Aronovich, uma espécie de porta-voz da ala radical do movimento radical na internet, está preocupada com fantasias de Halloween de Sex Shop. Não faz mal: quando Polanski dopou e estuprou anal e vaginalmente uma menina de 13 anos, sua grande preocupação foi defender… Polanski, ainda lembrando que só o defende porque ele é um bom cineasta (a mesma que também defende o espanca-mulheres Netinho de Paula só porque é negro e do PC do B). O Túlio Vianna, aquele fala mal do Estadão 2 tweets depois de divulgar seu texto no mesmo jornal, que dá apoio a maconheiros da USP contra a “repressão” da PM, que acha que mulher tirar foto de lingerie é machismo, mas acha que seqüestrar, estuprar até destruir o corpo e matar degolada por faca é apenas luta de classes, também ainda não defendeu a repórter agredida, afinal, se trabalha para a Globo, tem mais é que tomar porrada, mesmo. Segue a conclusão do delinqüente: Responsável pelo Comitê de Arte e Cultura do Movimento Acampa Sampa, Thiago, que largou a faculdade de Psicologia no primeiro ano, informou que o movimento é pacífico e politizado. “Sou muito politizado, tenho 23 anos e, no momento, sou sustentado pela minha mãe”. “Comitê de Arte e Cultura” costuma significar “Comitê Para Pedir Dinheiro do Governo e Dar Para Vagabundo Torrar em Filmes Chamados ‘Merda no Ventilador’”. Nenhum Shakespeare, nenhum Kubrick, nenhum Heidegger, nenhum El Greco saiu de um “Comitê de Arte e Cultura”. Mas então o rapaz tem o despautério de afirmar sem papas na língua que é “muito politizado” (o que é isso? O Maluf também não é “muito politizado”?!), e atira as fauces do incréu leitor que largou a faculdade para ser sustentado pela mamãe?! Corre o sério risco de virar muso dos blogueiros progressistas – esses odeiam “burguês”, mas só o que trabalha e é obrigado a ir de ônibus pra faculdade. Se largar o trabalho para virar guerrilheiro que dá porrada em mulheres que trabalham pra Globo, vira ídolo. E que raio de história é essa de “acampar” ser sinal de maturidade e atividade política? Se me confirmarem a regra, vou voltar a dormir para tentar conseguir meu doutorado. Inicio imediatamente uma campanha para que essa sumidade da Filosofia seja admitido na FFLCH mesmo sem prestar Vestibular. O país precisa de cultura. Flavio Morgenstern é redator, tradutor e analista de mídia. Nunca viu os filmes que a Petrobras financia por aí. É seu segredo pra ter QI acima da média. No Twitter, @flaviomorgen

segunda-feira, outubro 31, 2011

Banda Tomada resgata o peso e a psicodelia setentistas

A banda Carro Bomba ganhou um concorrente de peso na disputa do melhor álbum brasileiro de rock cantado em português neste ano. “O Inevitável” é o mais novo álbum da banda Tomada, de São Paulo, e mostra que antes de tudo o peso é fundamental para se distanciar de tudo o que lembre o atual pop rock do país, – se é que isso ainda existe. O rock básico dos anos 60 e 70 é a matéria-prima do terceiro trabalho do grupo, que completa 11 anos de carreira em dezembro. Não espere algo heavy metal na cara como “Carcaça”, do Carro Bomba. A pegada de “O Inevitável” é mais hard e mais datada, no bom sentido. Puxado pela ótima “Ela Não Tem Medo”, que virou um clipe bem feito e bem sacado, o álbum transita entre o mergulho fundo na psicodelia e rápidas passadas por soul e blues, sempre tendo a levada de guitarra de Marcião Fernandes como o fio condutor. E aqui não há outro jeito a não ser repetir: não há nada parecido no pop rock brasileiro da atualidade. Os arranjos são outro destaque do trabalho. Nada fica fora do lugar, tudo foi pensado exatamente para dar uma sonoridade moderna a temas que pedem acentos característicos de outras eras, com resultado surpreendente. “Ela Não Tem Medo” tem uma letra bem humorada e um ritmo rápido e marcante. “(Quero Ter) Uma Música Forte” também é rápida e mais pesada que o restante, mostrando diversas influências de um rock setentista mais pesado. “Catarina” e “Blá Blá Blá, Blá Blá Blá” são rocks básicos e cativantes, resgatando um pouco da atmosfera de certa ingenuidade da primeira metade dos anos 60 – e remetendo, de certa forma, aos primórdios da Jovem Guarda. Já “Calor de Abril” é a que mais se parece com o que é feito atualmente no Brasil, o que erroneamente pode levar o ouvinte a colocar a Tomada em uma seara onde transitam bandas queridinhas do cenário alternativo, como Cachorro Grande e Vanguart. Não se engane: Tomada é rock’n roll dos bons e consegue oxigenar um segmento engessado e estagnado, com trabalhos voltados cada vez mais para um pop forçado e de baixa qualidade. A formação atual conta com Ricardo Alpendre (voz), Pepe Bueno (baixo), Alexandre Marciano (bateria), Marcião Gonçalves (guitarra) e Lennon Fernandes (guitarra e teclados). Cometeram um trabalho de ótimo nível, que conseguiu se destacar da mesmice que domina o pop rock brasileiro desde a década passada. “O Inevitável” é o álbum mais maduro e coeso da carreira do grupo e coloca a Tomada em um patamar habitado pelas melhores bandas de rock brasileiras que cantam e português – e que cada vez mais dão destaque às guitaras.

sexta-feira, outubro 28, 2011

Há dez anos, o 11 de setembro obrigou o Dream Theater a trocar a capa de um CD

Os dez anos que marcaram os atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York, que culminaram com a destruição das duas torres do World Trade Center, também foram relembrados pelo mundo do rock pela banda que sofreu diretamente com o impacto do terrorismo. O Dream Theater teve projuízos e refez toda a arte de um álbum triplo ao vivo que foi lançado naquele fatídico dia. A capa do CD “Live Scenes From Nwe York” trazia imagens da banda ao vivo como pano de fundo para uma imagem de uma maçã pegando fogo envolta em arame farpado (alusão à capa de Live at the Marquee”, de 1993, com um coração em vez de uma maçã) tendo logo acima imagens menores da Estátua da Liberdade e das Torres Gêmeas. Milhares de cópias com essa capa já haviam sido distribuídas pelo mundo quando os atentados ocorreram, provocando desespero nos músicos e na equipe de suporte do Dream Theater. A solução emergencial foi tentar recolher o máximo de cópias possível e recolocá-las com outra capa. Muitos fãs conseguiram o CD com a capa original antes do recolhimento – transformaram-se em itens raríssimos e valiosos no mercado. Tive o privilégio de adquirir o álbum com a capa original. O ótimo site de rock Whiplash relembrou o impacto dos atentados na vida do Dream Theater em um interesante texto escrito por Jairo Cezar e que reproduzimos aqui. Logo em seguida, texto do mesmo site traz uma rápida entrevista feita este ano com o guitarrista John Petrucci sobre os acontecimentos daquele dia. (Marcelo Moreira)
Jairo Cezar O ano de 2001 seria um ano rotineiro para o Dream Theater. A banda acabara sua grande turnê “Metropolis 2000″ com grandes apresentações do álbum “Scenes From a Memory” e estava preparando o lançamento de “Six Degrees of Inner Turbulence”. Os shows refletiam o aspecto teatral do álbum. Uma tela de vídeo na parte de trás do palco mostrava imagens acompanhando a narrativa para a história do álbum. Além de tocar o álbum na íntegra, a banda também tocou um segundo conjunto de músicas, bem como alguns covers e improvisações de material antigo. E nesse clima foi gravado um show extra especial, no Roseland Ballroom, em Nova York, onde foram contratados atores para interpretar personagens na história, além de um coro gospel para atuar em alguns pontos da performance. Tudo estava perfeito para a banda. Um grande DVD seria lançado com toda essa temática apresentada na turnê. Mas uma triste coincidência acabaria com a felicidade da banda, principalmente do baterista Mike Portnoy, que sempre demonstra seu patriotismo pelos EUA. A capa para a versão CD que foi lançado do show, intitulado “Scenes Live from New York”, apresentava um dos primeiros logos do Dream Theater (um coração ardente, inspirado no Sagrado Coração de Cristo) modificado para mostrar uma maçã (representando o apelido de NY, “Big Apple”) em vez do coração, e o céu da cidade, incluindo as torres gêmeas do World Trade Center, com a imagem da chama acima delas. Uma capa bem bonita por sinal. A triste coincidência: o álbum foi lançado no dia 11 de Setembro, o fatídico dia em que as Torres Gêmeas foram atingidas por dois aviões em uma ação terrorista, e, após algumas horas tomadas pelas chamas (assim como na capa do álbum), elas desmoronaram matando milhares de pessoas. O álbum então foi rapidamente retirado das lojas e foi relançado pouco tempo depois com imagens do próprio show na capa. Estima-se que existam cerca de mil exemplares da capa original rodando o mundo, alguns chegam a ser vendidos por milhares de dólares, que, devido a toda essa coincidência, se tornou item raro para os fãs. No álbum “Six Dregrees of Inner Turbulence” a banda mudou o nome de uma música por conta dos ataques . “The Great Debate” era originalmente intitulada “Conflict at Ground Zero”. John Petrucci e Mike Portnoy estavam mixando o novo álbum em um estúdio de Manhattan (onde ficavam as torres gêmeas) no mesmo dia dos ataques e fizeram a alteração quando todas as notícias começaram a se referir ao local como “Ground Zero”
John Petrucci fala sobre o 11 de setembro de 2001 O guitarrista John Petrucci, do Dream Theater, falou para o site mexicano RockSalt sobre a capa do disco “Live Scenes From New York” no qual tinha uma montagem das torres gêmeas do World Trade Center e outros arranha-céus pegando fogo. Por coincidência, o dia do lançamento foi no mesmo que aconteceu o ataque terrorista, 11 de setembro de 2001. Rapidamente, o álbum foi tirado das lojas e lançaram com uma outra capa. Hoje, existem poucas cópias da primeira versão do CD. “Queríamos ilustrar Nova York, então pegamos o seu símbolo, o World Trade Center”, conta Petrucci. “e outra coisa que tínhamos usado antes, a partir do nosso álbum ‘Images and Worlds’, foi o coração em chamas. Então, tentamos unir as imagens, obviamente não antecipamos aquela coincidência horrível no dia que saiu o disco”. “Nós percebemos o problema com o álbum, assim que aconteceu (o ataque). Então, fomos falar pelo telefone imediatamente. Eu não lembro a hora, mas me lembro de que éramos um ligando para o outro e falando assim: ‘Meu Deus isto não pode está acontecendo, precisamos mudar a capa imediatamente’. De fato o álbum foi lançado no dia 11 de setembro com aquela capa bizarra. Foi apenas uma total coincidência e nós ficamos realmente desapontados. Nossa primeira reação foi mudar a capa, colocar qualquer coisa rapidamente. Infelizmente, alguns discos foram vendidos, então ainda existem algumas cópias com aquela capa”. “Não havia argumentos. Todo mundo sentiu a mesma coisa e pensou. ‘Precisamos mudar, precisamos mudar’. Consegui pegar quase todo o estoque e mudamos imediatamente. Ninguém hesitou ou resistiu, porque isto tinha que ser feito”.