sábado, maio 02, 2009

No 'Estadão' de hoje, sábado, 2 de maio



Carioca ignora visita do COI





População não vai às ruas de verde e amarelo, apesar dos apelos feitos pelos dirigentes

Bruno Lousada, RIO

Foi em vão a campanha para os cariocas irem às ruas de verde e amarelo e pendurar bandeiras do País na varanda de suas casas para sensibilizar a Comissão de Avaliação do Comitê Olímpico Internacional (COI), que transitou ontem pela cidade para inspecionar várias instalações esportivas. O número de pessoas que aderiu à convocação, feita à exaustão em rádio e televisão, foi inexpressivo.

Na Avenida Atlântica, área nobre de Copacabana muito frequentada por turistas e cariocas, foi raro ver alguém, durante boa parte do dia, com as cores pedidas pelos defensores da candidatura carioca. O Rio disputa com Madri, Tóquio e Chicago o direito de ser sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

"Eu não estava junto da comissão (internacional), mas o relatório que tive de quem estava com eles diz que houve bastante apoio popular durante a passagem (da comitiva)", disse Leonardo Gryner, diretor de marketing do comitê Rio-2016.

A equipe do COI visitou o Forte de Copacabana, o Parque Maria Lenk, a Arena Olímpica, o Estádio João Havelange, o Maracanã, a Marina da Glória, o Complexo de Deodoro e seguiu de metrô da Glória a Copacabana, bairros da zona sul.

Todas as instalações ganharam banho de loja e foram repaginadas. Estavam limpas e bem decoradas para receber os 13 membros do COI, sete deles com poder de voto. Até estrelas do esporte brasileiro foram escaladas para recepcionar os delegados internacionais nos principais equipamentos da cidade.

A campeão olímpica Maurren Maggi deu as boas vindas à comitiva na pista de atletismo do Engenhão. Pelé fez o mesmo no Maracanã e disse ter ficado emocionado com a visita.

"Tenho de agradecer a Deus. Eles ficaram surpresos com tanta coisa bonita, tanta coisa boa. O pior é que meu inglês não é dos melhores e eu tive de explicar para eles que não tremi no milésimo gol (feito no estádio)", declarou, com largo sorriso. "Foi uma alegria geral e eles se sentiram à vontade. Quem sabe não ganhamos a batalha".

De acordo com Pelé, a comitiva deixou o Maracanã impressionada com o que viu. "Senti tanto entusiasmo neles que eu tenho três cartões dos membros (do COI), incluindo o da presidente (da comissão, a marroquina Nawal El Moutawakel)", contou. "Ela disse que quer vir para cá sem trabalhar."


Truculência no vagão especial do metrô




Seguranças agridem e ameaçam repórter do Estado


Pedro Dantas, RIO



Seguranças à paisana isolaram a comitiva do Comitê Olímpico Internacional (COI) no último vagão do Metrô da Glória à estação Cantagalo, em Copacabana (zona sul), uma das etapas finais da vistoria de ontem. Os demais passageiros foram orientados a "dispersar" por homens em trajes civis, que impediam a entrada do público comum. O repórter do Estado também foi barrado: teve de obedecer à ordem de seguir em outro vagão, acompanhado por dois seguranças à paisana.

No fim da viagem, três homens, identificando-se como policiais, mas sem exibir documentos, o empurraram para um banheiro, torceram-lhe o braço e o ameaçaram. "O procedimento é este", disse um deles.

Durante a viagem, o jornalista se identificou para um dos agentes que ostensivamente o seguiam. O homem pediu desculpas e se disse aliviado, mas afirmou que seria obrigado a desmontar "todo um esquema" já pronto para abordar o repórter. Pediu que não citasse nada no jornal, pois poderia "desclassificar a candidatura do Brasil". Em tom de ameaça, disse que sabia "muito bem" como encontrá-lo.

O constrangimento começou perto da escada rolante da estação Cantagalo. Um homem de camisa preta e boné mandou o profissional "desenrolar" e "seguir em frente sem olhar pra trás". O repórter se identificou e perguntou quem era o estranho. "Polícia", respondeu, ríspido. O jornalista tentou seguir em direção à escada rolante. Outro homem se aproximou e o repórter foi empurrado para um banheiro. Seu braço foi torcido e o rosto mantido junto ao azulejo. Outras pessoas que estavam no banheiro saíram, assustadas.

Após verificar o crachá do repórter, o agressor sumiu. Um deles telefonou para a sucursal do Estado, sem se identificar, e perguntou se o jornalista trabalhava lá. Outro agente, de cavanhaque, que estava na estação Glória, então reapareceu e repreendeu o jornalista, dizendo que a viagem era apenas para credenciados. A informação, contudo, não era verdadeira. Não houve credenciamento para acompanhar a viagem de metrô. Os homens interrogaram o repórter: queriam saber onde mora, se é "experiente" na profissão. Diante da alegação de que a truculência não era necessária, um deles afirmou que o "procedimento" era normal.

Antes da viagem, desde cedo, o bairro da Glória, que recebeu os integrantes do COI para o embarque, amanheceu sem os habituais ambulantes e mendigos, que deixam pouco espaço para pedestres na Rua da Glória. Uma hora antes da chegada da comitiva, ônibus da Guarda Municipal, garis, carros de reboque da Secretaria Municipal de Trânsito e viaturas da Polícia Militar deram os últimos retoques.

A Secretaria de Segurança do Rio alegou não ter participação na segurança dos eventos ligados à Rio-2016, que são de responsabilidade de agentes privados, contratados pelo CO-Rio, e da Polícia Federal. O CO-Rio disse que não usou segurança para a visita ao metrô e que sequer foi informado sobre o episódio. O Estado procurou a PF, sem sucesso.

sexta-feira, maio 01, 2009

A farra das passagens aéreas chegou ao presidente


Que o escândalo do abuso das passagens aéreas pelos congressistas brasileiros é repugnante e asqueroso já está mais do que dito e sacramentado. Mas quando o presidente da República, que pertence a um partido outrora conhecido pela sua defesa da ética, vem a público para defender os parlamentares que debocham dos eleitores, aí não dá! É revoltante, para dizer o mínimo.

Sites de notícias reproduzem neste 1º de maio os comentários do presidente Lula dizendo que não acha “nada demais os parlamentares usarem as passagens para transportar parentes e sindicalistas e que considera hipocrisia a gritaria contra essas práticas”.

O presidente não parou por aí. “Não acho correto, mas não acho crime dar passagem para outra pessoa. O problema do Brasil não é esse. Isso pode ser corrigido por decisão da Mesa Diretora da Câmara. Esse não é o mal do Brasil. Se o mal do Brasil fosse esse, o país não teria mal”, segundo publicou a Folha Online.

Que o presidente da República demonstrou ter imensos problemas na distinção entre o que é ético e o que não é desde que assumiu o posto, em 2003, não é novidade, mas, no caso presente, é um acinte que a maior autoridade do país defenda as práticas condenadáveis e nojentas realizadas por deputados e senadores de todos os partidos.

Lula sai bem menor das comemorações deste 1º de Maio.
Os muros necessários


Um dos passeios mais bonitos que o morador do ABCD ou o turista podem fazer é percorrer os cerca de 30 quilômetros que separam São Bernardo e Suzano pela rodovia SP-31, a Índio Tibiriçá. Embora o governo do Estado esteja realizando obras de melhorias e de pavimentação, especialmente no acostamento em alguns trechos, a estrada ainda permanece um pouco descuidada, e deve mais abandonada com a entrada em operação do Rodoanel Mário Covas em seu trecho sul.

O passeio é gostoso porque é feito bem no meio de um trecho que é o início da Serra do Mar, com grandes braços da represa Billings sendo cortados, e com bonitas propriedades e clubes nas suas beiras.

Alguns trechos à margem da rodovia SP-31 são exemplos de preservação do meio ambiente, mas outros são exatamente o contrário. E é justamente por conta desses trechos que os administradores da região precisam ficar preocupados, aliás muito preocupados.

O ponto é que os núcleos habitacionais estão crescendo demais ao longo da estrada, e os que já se tornaram bairros e distritos estão inchando, a ponto de causar congestionamentos constantes.

O trecho do distrito de Ouro Fino Paulista, em Ribeirão Pires, é desolador. O vairro cresceu muito e desordenadamente, sem qualquer controle e à mercê de oportunistas e vigaristas de toda a espécie, que ainda incentivam a ocupação criminosa – e o pode público municipal, no mínimo, está sendo omisso há anos.

Ou seja, em tempos de debates acalorados sobre os muros erguidos nas favelas cariocas pela prefeitura do Rio de Janeiro, parece que a discussão é convenientemente ignorada pelos agentes públicos do ABCD. Não só do ABCD, mas também de Suzano e Mogi das Cruzes, para ficar apenas nas cidades mais próximas das sete cidades.

Aliás, fica em Suzano outro trecho preocupante à beira da Índio Tibiriçá, com ocupações desordenadas (quando não criminosas). Fica na Estrada do Koyama, que leva à rodovia Mogi-Bertioga ao parque de diversões Magic City.

O começo da estrada é no km 58,5, pouco depois da divisa entre Suzano e Ribeirão Pires. Essa região de divisa de municípios praticamente virou uma extensão de Ouro Fino Paulista, o bairro de Ribeirão. Do outro lado da divisa, o núcleo habitacional e comercial surge emendado e já espalha para morro adentro, na Serra do Mar.

E ninguém percebe, ninguém reclama. Os moradores do local não estão nem aí. E parece que as prefeituras também não, assim como os promotores públicos do meio ambiente.

Com essa situação totalmente favorável, é claro que o comércio informal e ilegal prolifera. E cada vez mais fica difícil organizar o caos urbano em mais um núcleo em área de manancial (área localizada nas imediações de nascentes de rios).

Avançando serra adentro, logo aparecem vereadores sedentos por votos e loucos para “legalizar” a irregularidade levando infraestrutura completa, com transporte, energia elétrica e ligações de água e esgoto.

O Ministério Público Estadual precisa se manifestar com urgência sobre a questão, antes que Ouro Fino Paulista e a Ipelândia (bairro de Suzano vizinho) se transformem na Vila São Pedro e no Montanhão, favelas que viraram bairros em São Bernardo.
Os muros da inclusão


A discussão sobre os muros nas favelas cariocas amainou, e parece que a serenidade começa a tomar conta do debate sobre a viabilidade ou não de se fazer a contenção nos morros do Rio de Janeiro.

A ideologização do tema prejudicou a compreensão da iniciativa da prefeitura do Rio, e acabou por gerar um festival de sandices, inclusive de um prêmio Nobel de literatura, o português José Saramago. Houve de tudo, de acusações de discriminação social e racial a aplicação de supostas teorias “nazistas”.

O fato é que a questão dos muros em favelas no Rio de Janeiro está voltando ao foco original, que é a aplicação de medidas para conter a expansão dos barracos.

E isso tem tudo a ver com o ABCD. É hora de os gestores públicos da região olharem para o que está sendo feito na capital fluminense e iniciar o mais rápido possível o debate sobre o avanço indiscriminado e criminoso das favelas nas cidades – exceto em São Caetano.

Não se trata de estigmatizar as favelas do ABCD e seus moradores. Os crimes contra a sociedade e contra as administrações públicas foram gestados e incentivados durante 30 anos pro políticos inescrupulosos e bandidos de toda a espécie, com as invasões de morros e de áreas de manancial (áreas que ficam nas imediações de nascentes de rios).

Desde o crescimento da indústria automotiva em São Bernardo e em Santo André que o processo de favelização na região é contínuo, contando com a cobertura criminosa de vereadores e “grileiros” desde o final dos anos 70 do século passado, com o tácito apoio das fábricas – afinal, era melhor ter os trabalhadores morando perto das linhas de montagem, mesmo que em favelas nos morros da Vila São Pedro, no Montanhão e no bairro Battistini, todos em São Bernardo.

Para completar, o acabamento: a legalização das lotes irregulares e invadidos pelas prefeituras, que se encarregaram de levar energia elétrica, asfalto, ligações de água e esgoto, legitimando na marra os “novos bairros”.

O resultado é um inchaço indecoroso na população dos sete municípios, com a precarização dos serviços básicos de saúde, educação e transportes. Na esteira da favelização, vieram os crimes e a violência – em parte como grito de socorro de um população acuada, indefesa e abandonada pelo poder público, após o apoio inicial oportunista na hora da “legalização”.

A situação piora ano a ano, com novas áreas invadidas e com a chega de novas modalidades de crimes. Tudo isso sem que haja qualquer reação do poder público. Enquanto a discussão avançou no rio de Janeiro e alguma medida foi tomada, aqui nas sete cidades nem mesmo se fala no assunto.

E vai piorar, não resta dúvida. O trecho Sul do Rodoanel Mário Covas deve ficar pronto até o primeiro trimestre de 2010. Absolutamente necessária e indutora de desenvolvimento, a obra também trará o ônus do aumento de bolsões de miséria, a exemplo do que ocorreu no trecho oeste, nas cidades de Barueri, Carapicuíba e Osasco.

Várias favelas surgiram às margens das pistas naquela cidades, numa tentativa desesperada de uma parte do povo que fugia desesperadamente da pobreza, para encontrar não mais do que miséria, só que um pouco mais perto da Capital.

A vida dos prefeitos do ABCD está cheia de desafios neste ano, e a contenção da expansão das favelas em São Bernardo, Santo André, Mauá e Ribeirão Pires talvez seja o principal deles, justamente por conter custos políticos altos, mas necessários. Neste quesito, Diadema é o modelo a ser seguido.
Perdemos mais uma vez


Sintomas de crises financeiras e econômicas costumam aparecer primeiro em relação aos níveis de emprego. A queda dos postos de trabalho está mais do que documentada em qualquer índice que se consulte desde novembro do ano passado em todo o país, em quase todos os setores.

Passados seis meses da eclosão da crise, nota-se a parte de agora um crescimento do número de mendigos e pedintes nas cidades da Grande São Paulo. Não é mera coincidência. Afinal, há tempos não se viam as degradantes e chocantes cenas de pessoas dormindo ao relento, sob o Minhocão, na avenida Amaral Gurgel, no centro de São Paulo.

As políticas de assistência social das prefeituras sempre foram pífias na região metropolitana de São Paulo, mesmo naquelas identificadas com a chamada “responsabilidade social”, notadamente administradas por partidos de esquerda.

O bom momento da economia vivido pelo Brasil a partir de 2004 ajudou a diminuir o caos social nas metrópoles, assim como o incremento de programas como o Bolsa-Família. O número de miseráveis nas ruas diminuiu, até porque aumentou também a demanda por serviços temporários informais.

A realidade mudou e os mendigos reapareceram. Mais do que ultrajante, a existência desse nível de miséria representa a maior derrota que uma sociedade pode registrar. Mostra a incapacidade da mesma sociedade de amparar qualquer necessidade dos mais pobres e mostra a incompetência da administração pública como um todo não questão da redução da atividade econômica e da assistência social.

Não que isso seja novidade na prefeitura de São Paulo. A assistência social é possivelmente uma das últimas preocupações da administração José Serra-Gilberto Kassab, iniciada em 2004. Como também não tinha espaço na administração William Dib, em São Bernardo.

É inconcebível que uma administração pública não tenha meios de amparar mendigos e lhes oferecer algo mais do que abrigos no inverno. Não é possível que cidades com arrecadações das maiores do Brasil, como São Paulo, Osasco, São Bernardo, Santo André, Guarulhos e Barueri sejam incapazes de formular políticas públicas de inclusão e assistência a pessoas que não só são mendigos, mas possivelmente portadores de doenças mentais, entre outras.

A Páscoa foi triste em São Paulo e em algumas regiões de Guarulhos e ABCD por conta do aumento do número de mendigos nas ruas. Isso significa que perdemos de novo.
A marolinha virou tsunami


O fechamento de mais uma empresa no ABCD, agora em Diadema, não apenas revolta, como assusta. Não se trata mais de ficar discutindo se estamos sendo atingidos ou não por marolinhas, mas de saber se conseguiremos atravessar a tempestade mais ou menos inteiros.

A fabricante de máquinas Cross Hueller, pertencente ao grupo americano Maxcor, fechou sua fábrica de Diadema e não pagou os direitos trabalhistas dos 130 funcionários que foram demitidos.

Segundo sindicalistas, a empresa, cuja administração vinha cambaleando nos últimos meses, não teria resistido ao cancelamento de uma encomenda da General Motors para entrega de máquinas no valor de R$ 46 milhões que seriam utilizadas na nova fábrica de motores da montadora em Joinville (SC).

O caso da Cross Hueller não é o único e, infelizmente, não será o último. Empregos industriais estão sendo exterminados e não há no horizonte luz que possa iluminar o caminho da economia da região.

Se ainda há dúvidas sobre o tamanho da crise, é só verificar o que está acontecendo fora de nosso mundinho. A General Motors anunciou nesta quinta-feira, 23, que planeja fechar temporariamente 13 fábricas na América do Norte durante o segundo e o terceiro trimestres deste ano, o que vai gerar um corte de produção de 190 mil veículos, enquanto a companhia tenta reduzir seus estoques.

A GM disse que a paralisação das fábricas também vai ajudar a proteger a montadora contra uma eventual suspensão nos trabalhos da fabricante de peças Delphi, que está em concordata. Nada se falou sobre a fábrica de São Caetano, que, em princípio, estaria fora das medidas de extermínio de empregos e fábricas.

O Estado de São Paulo, por sua vez, perdeu mais de 300 mil empregos formais no período de dezembro de 2008 a março deste ano, de acordo com o secretário do Emprego e Relações do Trabalho, Guilherme Afif Domingos.

Segundo ele, embora haja sinais que indicam uma recuperação da economia brasileira, esses efeitos ainda são pouco perceptíveis no emprego.

Por fim, o número de cheques devolvidos em pagamentos à vista e a prazo atingiu em março o maior nível dos últimos 18 anos, mostra o indicador da empresa de análise de crédito Serasa Experian.

Portanto, marolinhas à parte, é hora de enfrentar a tormenta e tomar medidas radicais na defesa do emprego, mas parece que essa não vem sendo uma preocupação no Palácio dos Bandeirantes e no palácio do Planalto.