sábado, novembro 03, 2001

Como destruir um país


Uma aula de como destruir um país. Assim vai ficar na história a série interminável de pacotes e trapalhadas que os governos argentinos estão praticando desde a década 90. Toda a empáfia e a arrogância dos vizinhos estã afundando junto com a economia. Aquela velha anedota de que os argentinos não passam de "italianos que falam espanhol e pensam que são ingleses ou suíços" já perdeu a graça. Mais adequado seria afirmar, na atual pindaíba, que hoje o argentino se sente como um "boliviano que pensa que é nivaraguense ou hondurenho".
O novo pacote editado em 1. de novembro só reforça essa agonia. Diminuir os prêmios para a reestruturação de uma dívida de US$ 132 bilhões é o mesmo que dizer ao mercado que nãovai pagar os compromissos da dívida em futuro próximo. Calote, não há outra palavra.
Tanto lá como aqui, pensa-se que o fim da inflação foi também o fim da penúria e da falta de dinheiro. O fim da inflação foi apenas um pré-requisito para colocar o país nos eixos. Essa frase é muito óbvia para uma criança, mas não parece aos olhos dos sucessivos governos e ministros da Economia da Argentina e do Brasil. Reformas? Para quê? Está bem assim sem inflação. Assim garantiremos nossos cargos, nossos salários, nossas comissões e nossas reeleições.
A Argentina foi destruída por uma elite burguesa burra, sem caráter e espoliadora. Essa elite se acomodou na prosperidade do fim dos século 19 e do crescimento dos 30 primeiros anos do século passado. Toda a base industrial estabelecida até meados dos anos 50 passou a servir aos interesses políticos de gente desclassificada como Perón e sua quadrilha, que inauguraram uma era de pilhagem sobre a economia nacional. Getúlio Vargas, que fazia parte da mesma escória, pelo menos estabeleceu uma política de base industrial que possibilitou a megalomania de Juscelino e dos governos militares. Os peronistas, ao contrário, se locupletaram à base do então moderno e poderoso parque industrial argentino e nunca se preocuparam com o progresso. Progresso para a elite burguesa argentina, somente de suas contas bancárias.
O país vizinho está à beira da bancarrota pela enésima vez. Para brasileiros acostumados com as favelas de nossas grandes cidades, abarrotadas de nordestinos em sua maioria, e de pele escura, é um choque observar as favelas de Buenos Aires coalhadas de garotinhos e garotinhas de pele e olhos claros É, de certa forma, ultrajante verificar que um economista com mestrado ganha a vida nas ruas do elegante bairro de Palermo engraxando sapatos nos cafés.
A Argentina foi destruída aos poucos, entre 1950 e 1982, ano da Guerra das Malvinas. Esse evento histórico foi a gota d'água que jogou o vizinho no inferno. Sem base industrial confiável, sem reservas cambiais suficientes e com equipamentos obsoletos, o governo militar argentino perdeu em dois meses de conflito o pouco que o país conseguiu economizar nos 12 anos anteriores.
Alfonsín e sua UCR só fizeram agravar a situação, com uma política suicida de subsídios fartos a uma indústria em frangalhos, apesar de fortemente protegida. Os juros foram parar em Marte para tentar conter a hiperinflação, as exportações caíam ano a ano e o funcionalismo público foi sendo gradativamente arrochado. Como resgatar um país de um buraco desses?
Para completar, um falastrão messiânico do porte de Ménem cai no conto da paridade fixa do peso com o dólar elaborado pelo equino Cavallo. A estratégia de transformar a paridade em lei, para evitar que a inflação voltasse ao sabor do mercado do dólar, serviu para dar um pouco de ordem à economia. No entanto, o que deveria ser o primeiro passo de uma série de importantes e profundas medidas moralizadoras e modernizadoras acabou se transformando na base de um modelo econômico frágil e manco. Achavam que a paridade peso-dólar era a solução de todos os problemas.
Com isso, a elite burguesa burra da Argentina sentiu-se segura para manter o status quo e continuar o butim nas contas do Estado. Reformas? Para quê? Mantemos nossos privilégios e assunto encerrado. O mundo vai melhorar...
Bastou o Mercosul engrenar e os produtos brasileiros invadirem o vizinho para que todo o atraso e a obsolescência da infra-estrutura argentina ficassem evidentes. As dificuldades aumentaram, as exportações ficaram mais caras e a competitividade desabou. Sem o truque mágico da desvalorização do peso, proibido por lei, a economia do vizinho foi sendo asfixiada aos poucos. A arrecadação despencou e as reservas também. A solução? Cortar salário de funcionários públicos. É o fundo do poço.
A conclusão: nenhum dos exemplos da destruição da Argentina parece estar sendo assimilado no Brasil. O governo FHC não está comprometido com o futuro nem com a modernidade, está comprometido em manter o poder e os privilégios da atual elite nacional. O destino da Argentina é o nosso destino.

quinta-feira, novembro 01, 2001



A volta das óperas-rock e álbuns conceituais




Houve um tempo em que álbuns conceituais e óperas-rock eram considerados o que havia de mais criativo dentro da música pop. Seus autores eram incensados como gênios e eram comparados aos grandes mestres da música universal. Isso ocorreu no final dos anos 60 e perdurou até por volta de 1975, com ênfase aos artistas ligados ao rock progressivo.
Com a chegada do punk rock e a explosão da música disco e do funk negro norte-americano, já nos estertores da década de 70, álbuns conceituais e óperas-rock foram banidos do dicionário musical acusados de prepotência, arrogância e auto-indulgência, que muitos afirmavam nada terem a ver com a essência do rock.
Pois a onda retrô que assolou o final dos anos 90, com o retorno de vários “dinossauros” à ativa, acabou também trazendo de volta a curiosidade em relação às grandes obras dos anos 70. O resultado é que os álbuns conceituais voltaram à moda assim como as óperas-rock.
Grupos de heavy metal progressivo como Dream Theater e Virgin Steele, entre muitos outros, pegaram carona nessa onda influenciados por obras-primas do Rush e do Iron Maiden e produziram algumas das obras conceituais dentro do rock pesado mais elogiadas da atualidade. E muita gente foi atrás, sob as bênçãos de Yes, Emerson Lake and Palmer, King Crimson, Jethro Tull...
No caso das óperas-rock, nunca se viu tantas obras do gênero serem editadas como nesse início de milênio. Dentro do rock pesado, quatro merecem destaque.
“Nostradamus” é um CD duplo composto pelo guitarrista e maestro búlgaro Nikolo Kotzev, que vive há anos na Finlândia.
Líder do grupo Brazen Abbott, Kotzev compôs uma “sinfonia” baseada na vida e na obra do famoso “profeta” francês que viveu nos séculos 16 e 17. Ele fez a música e os arranjos e cada um dos seus convidados vocalistas, interpretando um personagem, fez a letra que cantou. Um trabalho que consumiu três anos e que reuniu músicos de alta qualidade, como Glenn Hughes (ex-Deep Purple e Black Sabbath), Joe Lynn Turner (ex-Deep Purple e Rainbow), Doogie White (ex-Rainbow), Jorn Lande, Allanah Myles e Sass Jordan.
“Leonardo” é o mais novo produto da gravadora Magna Carta e foi composto pelo guitarrista Trent Gardner, líder do Magellan. Baseada na vida de Leonardo da Vinci, tem como astro principal o maravilhoso vocalista canadense James LaBrie, do Dream Theater.
“Avantasia” é um superprojeto totalmente heavy metal liderado pelo vocalista alemão Tobias Sammet, líder da banda Edguy. Composto por vários personagens, narra uma história fantástica de lutas entre o bem e o mal em uma terra fictícia povoada por gnomos, elfos e entidades semelhantes. Sammet nunca escondeu sua admiração pela obra “O Senhor dos Anéis”, de J.R.R. Tolkien. Como convidados aparecem músicos importantes como Michael Kiske (ex-Helloween), André Matos (ex-Angra e atual Shaman), Kai Hansen (Gamma Ray) e David DeFeis (Virgin Steele), entre outros.
Da Holanda vem o projeto Ayreon, liderado pelo guitarrista Arjen Lucassen. Os últimos três trabalhos do Ayreon, “Into the Castle”, “The Flight of Migrator” e “The Dream Sequencer”, contam a história de uma civilização à beira da extinção em um planeta distante que luta contra vários inimigos ao mesmo tempo.
Esse projeto tem elenco multiestelar: Bruce Dickinson (Iron Maiden), Timo Kotipelto (Stratovarius), Ralph Scheepers (Primal Fear), Andi Deris (Helloween), Fish (ex-Genesis), Lana Lane, Erik Norlander, Floor Jansen, Anneke van Gisbergen (The Gathering), Sharon den Adel (Within Temptation) e muitos outros.
Todos os quatro projetos acima descritos estiveram entre nas listas de mais vendidos de quase todos os países da Europa Ocidental.
A onda das óperas-rock foi tão intensa nos últimos dois anos que até mesmo o Brasil entrou na festa. “Hamlet”, CD recém-lançado pela gravadora paulistana Die Hard, é baseada na obra-prima do dramaturgo inglês William Shakespeare e reúne cerca de dez das mais importantes bandas de heavy metal do Brasil. Esse é, com certeza, um dos trabalhos mais criativos do gênero.
Apenas para referência histórica: o termo ópera-rock foi criado para rotular o álbum duplo “Tommy”, do Who, lançado em 1969, que conta a história de um menino cego, surdo e mudo devido a um trauma que se transforma em campeão mundial de fliperama e líder de uma seita religiosa assim que fica curado milagrosamente.
Desde então outras obras que contavam “histórias” surgiram, como “Arthur” (1970), dos Kinks, “Quadrophenia” (1973), do Who, “Jesus Christ Superstar” e “Hair” (musicais compostos em meados dos 80), “The Wall” (1979), do Pink Floyd, “The Elder” (1980), do Kiss, entre outros.

Stones chegam aos 40



Os Rolling Stones já começam a se preparar para um dos eventos mais importantes da história do rock: a comemoração de seus 40 anos de carreira em 2002. Após o show beneficente de 20 de outubro em Nova York, Mick Jagger e o guitarrista Keith Richards, os líderes do grupo, confirmaram que o grupo irá fazer uma grande turnê mundial a partir de março ou maio do ano que vem, mas não deram mais detalhes sobre o assunto, ressaltando apenas que será o evento mais importante do quadragésimo aniversário. Um novo CD não está previsto.
Com isso, os Rolling Stones consolidam mais uma marca dentro da música pop: o de banda de rock mais antiga em atividade. Existe uma disputa desse “título” com também ingleses Kinks, liderado pelo guitarrista e vocalista Ray Davies. Como os Stones, os Kinks foram criados em 1962.
A questão, no entanto, pende para o lado da turma de Mick Jagger, já que os primeiros registros de apresentações dos Stones são do primeiro semestre de 1962, antes da criação da banda de Ray Davies.
Além do mais, os Stones estão na estrada ininterruptamente nos últimos 40 anos, enquanto os Kinks, que viraram apenas uma banda de apoio para Davies a partir de 1971, mudaram diversas vezes de formação e lançaram poucos CDs com músicas originais, sempre com intervalos gigantescos entre os lançamentos.
A “efeméride” dos Stones para 2002 só confirma que o grupo definitivamente se transformou numa instituição da cultura ocidental. Assim como os Beatles e Elvis Presley, os Rolling Stones viraram um substantivo. Falar que esses ícones eram músicos de rock é inadequado, é pouco abrangente. Beatles deixaram de ser músicos de rock, os Beatles são simplesmente os Beatles. O mesmo ocorre com os Rolling Stones.
E, apesar dos 40 anos de carreira, foram poucas as mudanças de formação no conjunto. Mick Jagger, Keith Richards e o baterista Charlie Watts fundaram a banda e ainda permanecem.
Desprezando-se as presenças não-oficiais de alguns músicos que passaram voando pelos ensaios iniciais no início de 1962 e a retirada compulsória do pianista Ian Stewart no meio daquele ano (ele nem chegou a figurar oficialmente na primeira formação), foram somente três alterações em 40 anos: a saída do guitarrista Brian Jones em 1969 (por abuso de drogas, entre outras alegações), substituído por Mick Taylor; a saída de Mick Taylor no finalzinho de de 1974 (por divergências generalizadas com Jagger e Richards), sendo substituído por Ron Wood, que era dos Faces; e a saída do baixista Bill Wyman em 1992, ele que também era membro fundador e que não foi substituído oficialmente.
Há quem diga que a estabilidade na formação é o grande segredo da longevidade dos Rolling Stones. Isso não faz diferença. O fato é que são 40 anos de Stones, para nosso supremo prazer.

Slayer é absolvido de "indução ao crime"


Mais uma das série "absurdos cometidos contra o rock" (menos mal que o juiz teve bom senso): os integrantes do SLAYER foram absolvidos no processo movido pelos pais da adolescente Elyse Pahler. David e Lisanne Pahler alegam que a filha foi assassinada por influência das letras e da música da banda. Elyse foi morta por três garotos que afirmaram precisar fazer um sacrifício humano para que a banda deles, chamada Hatred, pudesse alcançar o sucesso profissional. O juiz E. Jeffrey Burke concluiu que “a música do Slayer não é obscena, indecente ou prejudicial aos menores" de idade. É a segunda vez que banda é absolvida; entretanto, o casal tem 60 dias para recorrer da decisão.

quarta-feira, outubro 31, 2001

Justiça cassa obrigatoriedade de diploma para jornalistas


A notícia abaixo foi publicada em 31 de outubro pela Folha de S. Paulo, que é declaradamente contrária à exigência de diploma para a prática jornalística. O que seria um bom debate acaba ofuscado pelo casuísmo e pelo oportunismo do referido veículo, que nunca se preocupou com a qualidade do ensino de jornalismo nas faculdades, nunca se preocupou em contribuir para a melhora desse ensino.
O único objetivo da Folha de S. Paulo é desreguamentar a profissão para achatar cada vez mais os salários, impedir a organização dos profissionais de jornalismo e encher a redação de aventureiros e "pára-quedistas", mais interessados em aparecer nas páginas dos jornais para promoverem suas atividades paralelas. Além disso, é mais um subterfúgio para os proprietários e seus filhos encherem as redações de amiguinhos desclassificados e sem a menor condição de exercer a atividade jornalística, como os matinas da vida.
Como jornalista, defendo a manutenção da obrigatoriedade, em um primeiro momento, como forma de manter o pouco da dignidade que resta ao jornalismo, mas defendo também uma profunda mudança nos currículos das faculdades e em vários aspectos da legislação que regula a nossa profissão.
Aí vai o texto com a decisão judicial que acaba com a obrigatoriedade do diploma para jornalistas:

"Justiça suspende a obrigatoriedade do diploma de jornalismo

da Folha de S.Paulo

A 16ª Vara Cível da Justiça Federal em São Paulo suspendeu, em todo o país, a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para a obtenção do registro profissional no Ministério do Trabalho. A juíza substituta Carla Abrantkoski Rister afirma em sua decisão que o decreto lei 972/69, editado durante o regime militar e que exige o diploma, fere a Constituição promulgada em 1988.

A Carta define, em seu artigo quinto, parágrafo nono, que "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença".

Rister cita ainda que a obrigatoriedade do diploma é contrária à Convenção Americana de Direitos Humanos, ratificada pelo Brasil em setembro de 1992, que proíbe qualquer forma de obstáculo ao direito de informação. "(... )A profissão de jornalista não requer qualificações profissionais específicas, indispensáveis à proteção da coletividade, diferentemente das profissões técnicas (a de engenharia, por exemplo). (...) O jornalista deve possuir formação cultural sólida e diversificada, o que não se adquire apenas com a frequência a uma faculdade (muito embora seja forçoso reconhecer que aquele que o faz poderá vir a enriquecer tal formação cultural), mas sim pelo hábito da leitura e pelo próprio exercício da prática profissional", escreveu a juíza em sua sentença.

A decisão atende a uma ação civil pública com pedido de tutela antecipada, impetrada pelo procurador da República André de Carvalho Ramos, do Ministério Público Federal em São Paulo. A ação civil pública tem como objetivo garantir a proteção de direitos constitucionais e de interesses sociais e coletivos. O pedido de tutela antecipada faz com que a decisão tenha validade imediata até uma apreciação posterior. A juíza entendeu que a manutenção da obrigatoriedade do diploma poderia causar dano irreparável ou de difícil reparação àqueles que exercem a profissão de jornalista sem o registro do Ministério do Trabalho por correrem risco de autuação e constrangimentos diversos.

"A estipulação de tal requisito (o diploma profissional), de cunho elitista, considerada a realidade social do país, vem a perpetrar ofensa aos princípios constitucionais mencionados, na medida em que se impede o acesso de profissionais talentosos à profissão, ma que, por um revés da vida, que todos nós bem conhecemos, não pôde ter acesso a um curso de nível superior, restringindo-lhes a liberdade de manifestação do pensamento e da expressão intelectual", argumentou a juíza Carla Rister.

O pedido do Ministério Público para que fossem anuladas todas as multas trabalhistas, anteriores à sentença, devido à prática do jornalismo sem registro profissional foi negado pela juíza."
O fim do "bom e barato" no Palmeiras


Tomo a liberdade de reproduzir aqui um texto bastante lúcido a respeito do atual momento vivido pelo Palmeiras. A época do time "bom e barato" preconizada por Mustafá Contursi, o presidente, parece estar chegando ao fim. O texto é assinado pelo jornalista Luiz Antonio Prósperi e foi editado no dia 31 de outubro no Jornal da Tarde:

"O consórcio Palmeiras-Parmalat investiu US$ 30 milhões para Luiz Felipe Scolari montar o time que foi campeão da Libertadores da América em 1999. Depois, a Parmalat caiu fora em 2000 e Mustafá Contursi trancafiou o cofre do Parque Antártica. Adotou a política do bom e barato. E o Palmeiras não conquistou mais nada.
Contursi não investiu em jogadores nem em técnicos do grupo de elite do Brasil. Queria mostrar aos outros presidentes de clubes que um time barato pode ser bom e vencedor. Promoveu dois desmanches no primeiro semestre do ano passado trocando toda a tropa.
Por um momento, o comedido Contursi foi alvo de elogios. Era o exemplo de boa administração, aquele que gasta só o que pode. Aquele que não "comete loucuras". E o Palmeiras, sob essa filosofia, por pouco não beliscou dois títulos: a Copa Mercosul de 2000 e a Libertadores de 2001. Perdeu os dois decidindo no Palestra. A torcida, consciente de que os times eram limitados, engoliu os dois desastres.
Resignada, viu Romário levantar a taça da Mercosul no Parque Antártica e Eurico Miranda sacolejar a pança no gramado. Viu também o show de Riquelme humilhando Argels, Galeanos e similares na Libertadores que o Boca Juniors levou fácil para Buenos Aires.
Títulos perdidos, mas nenhuma queixa contra Mustafá Contursi, o ideólogo das finanças enxutas, e a sala de troféus, de 2000 e 2001, vazias. Paciente, a torcida aceitou a política do presidente e suportou os técnicos Marco Aurélio e Celso Roth até o limite. Nada contra os treinadores de salários baixos comparando-se com a maioria que está nos grandes clubes. Havia apenas uma desconfiança pairando sob o jardim suspenso do Palestra.
Algo não estava combinando. Nem era o verde cintilante dos novos uniformes da Rhummell de gosto duvidoso. O negócio era bem mais sério do que se imaginava. De repente, se acendeu a luz e a torcida descobriu que o Palmeiras não era mais o Palmeiras. As cores eram as mesmas, apenas o perfil era outro, quase um Frankenstein.
Aquele time de futebol acadêmico, a excelência no toque de bola, há muito não se via. Nem Rivaldos, Djalminhas, Edmundos, Alex, Robertos Carlos, para ficar nos mais recentes, estavam ali. O lugar era de Turras, Missos, Alexandres, Juninhos, Fernandos e similares.
Seres estranhos para tamanha tradição. Os torcedores perceberam, enfim, que desde o advento Luiz Felipe Scolari no Palestra estavam sendo ludibriados. Não era apenas uma questão de qualidade dos jogadores e técnicos, era de filosofia. Bom e barato, futebol de fracassos. Bom e barato, futebol feio, quase um filme de terror B que vem se repetindo nas matinês de domingo. Que prazer acompanhar aquele time?
A torcida perdeu a paciência. Cortou todos os créditos que havia concedido aos dirigentes. E agora quer uma resposta do presidente Mustafá Contursi. Nem é para já. É para 2002. Há mais dúvidas do que certezas. Contursi não prometeu nada. Sussurrou apenas que no próximo ano algo muito drástico acontecerá no Palestra. A expectativa é por uma mudança radical da filosofia dos últimos dois anos. O presidente já ouviu a voz das arquibancadas. Imbecil, gritaram forte para todo o Parque Antártica ouvir."

segunda-feira, outubro 29, 2001

Intolerância na PUC gera violência


O capitão da PM paulistana Francisco Roher é um das vítimas da intolerância social que tomou conta da sociedade brasileira em geral. Ele é aluno do mestrado da PUC de São Paulo e está pagando caro por simplesmente ter cumprido a sua obrigação como comandante do batalhão que engloba a avenida Paulista.
Roher deveria ter defendido sua tese de mestrado na semana passada, mas foi impedido por uma horda de estudantes bagunceiros e violentos, que protestavam contra a atuação do capitão da PM na repressão a uma manifestação de professores estaduais em greve no dia 20 de abril na avenida Paulista.
Os estudantes da PUC só corroboram a opinião geral de que a geração de estudantes de faculdade atual é um lixo, formada por seres desqualificados e incapazes de aprender qualquer coisa na universidade. Democracia e pluralidade de opiniões não existem para essa geração de estudantes, notadamente os da PUC. Eles usaram o vandalismo, violência, intimidação e ameaças para impedir a defesa da tese de Roher, chamando-o de fascista e assassino. Esses seres invertebrados precisam ser banidos da vida acadêmica e processados como criminosos.
Roher está sendo patrulhado porque cumpriu o seu dever. Na manifestação de 20 de abril os professores em greve receberam autorização para fazer a manifestação na avenida Paulista, próximo ao Masp, mas desde que não bloqueassem a avenida. No entanto, elementos estranhos à manifestaão, como punks, anarquistas e desocupados em geral descumpriram o acordo. Pior, provocaram confusão deliberadamente ao atacar os policiais militares, que até então apenas acompanhavam a manifestação e negociavam com o comando de greve dos professores a continuidade da ordem da manifestação.
Os PMs tentaram controlar a invasão da pista, mas foram apedrejados. E, como de praxe, os despreparados e broncos PMs paulistanos revidaram à altura (infelizmente, com razão), distribuindo pancadas (muitas deles muito merecidas) para todos os lados. É lógico que acabou sobrando para professores, que se envolveram na confusão acreditando que a PM é que tomara a iniciativa de agredir os manifestantes.
A entrevista de Roher na Folha Online é reveladora a respeito do episódio. Para encerrar esse tópico, apenas duas considerações:
1 - Quem frequenta estádios de futebol aprende a lição nas primeiras vezes. Jamais se briga com PM. Eles são ignorantes, despreparados só têm a força como recurso para conter tumultos e impor a ordem. Confronto com PM é pedir para apanhar sem dó.
2 - É inaceitável que qualquer manifestação de rua, seja onde for e por mais legítima e aceitável que seja, bloqueie ruas, avenidas ou estradas. Isso é impedir as pessoas de irem e virem com liberdade e ninguém tem esse direito. Portanto, seja uma manifestação de grevistas, de estudantes, de favelados, de sem-terra, de quem for, não pode usar o bloqueio como arma para chamar a atenção. Se isso ocorrer, a PM tem a obrigação de acabar com o bloqueio e o direito de usar a violência para isso. Infelizmente esse é um dos preços da democracia.
Pancadas em pílulas


Vestibular da UFRJ - O movimento estudantil brasileiro é pífio e motivo de piadas. A UNE praticamente não existe e a UEE do Rio de Janeiro mostrou no final de semana o que esperar dessa turma de imbecis. A entidade fluminense tentou impedir na marra a realização do vestibular na UFRJ, campus da Ilha do Fundão. A Justiça havia negado liminar aos estudantes da universidade, que não conformam com o fato de que o vestibular estava sendo realizado em datas diferentes em relação a diversos cursos, entre outras coisas. Os alunos de colégios federais eram contra a aplicação da prova ontem porque se sentem prejudicados para fazer o concurso em razão da greve dos professores, que dura mais de dois meses. Sem aulas, eles reclamam de estar em desigualdade de condições. O resultado é que cerca de 14 mil estudantes tiveram suas provas anuladas após manifestantes rasgarem 20 cartões de resposta no CAP (Colégio de Aplicação da universidade). Houve violência e muitos alunos saíram feridos em confronto com a polícia, além de centenas de casos de vandalismo terem sido registrados. O exame vestibular corre o risco de ser anulado. O caso aqui é o seguinte: a PM bateu pouco nos estudantes, que mereciam muito mais pancadas para aprender a se comportar em uma manifestação. Esse tipo de violência só vai acabar quando algum estudante morrer e a entidade estudantil for responsabilizada.

Show da Mix FM - A rádio Mix FM resolveu fazer um show de aniversário em um domingo ensolarado em um local inadequado, o estacionamento do Sambódromo do Anhembi, em São Paulo. Mais de dez bandas iriam tocar, entre elas Charlie Brown Je, Ira e O Rappa. O local comprovadamente só comporta 30 mil pessoas. Os incompetentes dos organizadores colocaram 40 mil ingressos à venda e toram incpazaes de conter o afluxo de gente ao local. A PM estima que mais de 100 mil pessoas estavam dentro do local do show e que mais de 20 mil pessoas não conseguiram entrar. O resultado: depredação, protestos, invasões, confrontos com a PM e shows cancelados por causa do tumulto. O trabalho de organização foi péssimo, a divulgação pior ainda e a repressão a falsificadores de ingressos e cambistas não existiu. Para completar, um público ensandecido e desprovido de qualquer noção de civilidade e educação. Mesmo com superlotação e mesmo com informações verídicas de venda de ingrtessos falsos na frente do local do show, muita gente insistiu em entrar e invadir. A PM bateu pouco, tinha que espancar todo mundo e mandar mais de 500 para o hospital. Tem gente que só assim aprende noções de educação. É de se lamentar que não houvesse mais policiais no local para bater nos vândalos e encrenqueiros. E os organizadores precisam ser processados e presos, eles quase provocaram mortes.

Colunismo social - A revista Veja gastou quatro páginas para falar do colunismo social na imprnsa brasileira. O assunto não merece esse espaço. O colunismo social é o lixo do jornalismo em qualquer país, e não é diferente no Brasil. O colunista social é rato desprezível, um jabazeiro que se locupleta ao manchar a reputação de uma profissão importante. Mais um desserviço da revista Veja, apesar da crítica implícita a essa prática jornalística.