sábado, junho 19, 2010

Será o fim de mais uma aventura?


No final do ano passado comentei por aqui sobre a legião de aventureiros que acham a comunicação uma área frutífera e com dinheiro sobrando para que possam brincar de “editores” ou “publishers” e usufruir os “status” que a atividade supostamente dá.

Só que o setor é hostil demais a aventureiros. E mais ainda no ABCD. E o mercado, infelizmente, confirma essa tese. Mais uma boa ideia, mas pessimamente executada, foi para o lixo.

Os parceiros locais da Rede Bom Dia de jornais decidiram abandonar o negócio, cansados da falta de faturamento e de gastos altos para manter o Bom Dia ABC.

A crise do jornal tenta ser contornada com a rede tentando assumir as operações da franquia na região temporariamente, mas sem garantir a sua continuidade. Todos os funcionários foram demitidos e os antigos donos, que têm também uma importante gráfica em São Bernardo, se retiraram do negócio.

Gente ligada ao empresário J. Hawilla, dono da Traffic e da Rede Bom Dia, recrutou alguns dos demitidos, no esquema free-lance, para manter um jornal em circulação ao menos por uma semana, quando se espera que uma decisão definitiva seja tomada.

O destino do Bom Dia ABC é o mesmo do Hoje São Bernardo, que vaga como um fantasma nas bancas de jornal da cidade (será que ainda existe?), pois também foi criado por gente que não é do ramo. Destino previsível, mas lamentável.

É sempre ruim quando uma publicação afunda, ainda mais numa região carente de informação qualificada e ainda dominada, ao menos em parte, por um jornal em franca decadência financeira e editorial, mas ainda com uma marca forte, como o Diário do Grande ABC, que caminha firme e forte para a irrelevância, para se tornar um outro fantasma.

Concorrência é sempre bom, e o leitor ganha com mais opções. Pena que a procura única e exclusiva por lucro fácil e rápido enterre muito rápido as boas ideias.

Torci bastante pelo sucesso do Bom Dia ABC, pois foi um impulso interessante e necessário para investimentos em comunicação. Entretanto, temia pela continuidade justamente pela pouca segurança que o projeto passava.

Havia consistência editorial - de longe era o melhor jornal diário da região - mas o projeto era frágil em termos de conceito empresarial, ainda mais em uma área onde o mercado publicitário é arisco e concentrado. Em resumo, faltava base para manter a ideia a longo prazo.

Com os problemas enfrentados nesta semana, quando esteve à beira da extinção - problema que ainda não foi afastado, pelo contrário - o Bom Dia ABC corre o risco de virar mais um ectoplasma nas bancas.

E o que dizer da revista LivreMercado, fundada e administrada pelo jornalista Daniel Lima, adquirida por Walter Santos, especialista em recuperação judicial com sua empresa Best Works? Em suas mãos, houve mudança gráfica e de projeto editorial, o que piorou o produto, que também perdeu relevância.

Agora pertence ao grupo que edita o Hoje São Bernardo, o que nos faz supor que possa ter o mesmo destino do jornal do grupo que um dia foi diário: a irrelevância.

A imprensa brasileira sempre foi palco para a exibição de aventureiros ou de gente interessada em fazer do veículo de comunicação apenas um “facilitador” para outros negócios. Geralmente os aventureiros não duram muito e acabam saindo do negócio.

O empresário baiano Nelson Tanure é um exemplo. Fez fortuna atuando em diversas áreas, especialmente na área de transporte marítimo e de estaleiros.

Com um estilo agressivo e contrário às leis trabalhistas – diz a quem quiser ouvir que não acredita na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) – adquiriu empresas quebradas, isolou a parte podre e sugou ao máximo a parte saudável.

Tanure montou um pequeno império de comunicação, com jornais, revistas e editoras, império este que está se esfarelando – o octogenário Gazeta Mercantil, que foi o mais importante jornal de economia da América do Sul, morreu em suas mãos em maio de 2009; o Jornal do Brasil é apenas um fiapo de sombra do que já foi.

Comunicação, definitivamente, é um setor hostil aos aventureiros.
Crise de criatividade


A choradeira dos jornalistas esportivos em relação aos treinos da seleção brasileira é resultado de anos de aviltamento da profissão e do baixo nível de quem trabalha nesse ramo nobre.

Falta formação, falta informação e falta inteligência. A seleção está fechada e os jornalistas gritam porque não têm acesso aos jogadores, à comissão técnica e a toda uma sorte de fofocas e mentiras que sempre foram publicadas neste meio.

A cobertura da Copa do Mundo de 2006 foi o maior exemplo do baixo nível que predomina em nossa imprensa esportiva. Havia acesso às informações, mas versões e fofocas predominavam em relação à verdade.

A grande maioria dos jornalistas fez questão de não deixar que os fatos se interpusessem às versões estapafúrdias. O resultado é a vingança de Dunga, que trancou a seleção e deixou a imprensa descoberta.

Dunga não tem ideia de como fez bem à imprensa com seu comportamento belicoso e autoritário. Expôs a fragilidade dessa cobertura e a falta de criatividade dos jornalistas.

E por falar em falta de criatividade e competência, fazia tempo que não leia crítica à imprensa tão contundente quanto à feita por Daniel Lima em seu Capital Social na internet. Leia aqui: http://www.capitalsocial.com.br/imprensa/jornalismo-condicionado-produz-pauta-de-acordo-com-publicidade/

@@@@@@@@@@@@@@@@@@@

Sempre na época de Copa do Mundo aparecem os chatos de sempre que bradam contra a “alienação” do futebol, do “patriotismo” de ocasião e do fato de que a seleção brasileira não representa mais “o povo”, entre outras sandices.

É gente que que fica tentando esgrimir argumentos ruins para torcer contra o Brasil e por outras seleções. A pauta é mais do que batida, mas tem sempre algum esperto que acha que vai “abafar” e pubica tal reportagem estapafúrdia.

Tudo bem, respeito o direito de torcer contra, pela Argentina, pelo Iêmen, pela Nova Zelândia. Faz parte do futebol e da democracia. Mas dou muita risada com os argumentos insanos de quem decide torcer contra.

@@@@@@@@@@@@@@@@@@@

Frases que merecem ser registradas e guardadas:

“Não gosto nada da ideia de nos tornarmos uma nação de blogueiros. Isso seria um retrocesso. Sou a favor de que façamos tudo o que pudermos para ajudar os jornais a encontrar maneiras de se viabilizarem economicamente cobrando por conteúdo.”
Steve Jobs, executivo-chefe da Apple, na conferência D8, organizada pelo Wall Street Journal

“O autor deve ser sempre remunerado. Mas, na medida em que reconhecemos o direito da cópia individual, estamos garantindo o acesso da sociedade ao conhecimento.”Juca Ferreira, Ministro da Cultura

“Vejo o Congresso Nacional como um bando de frouxos.”Zezé Di Camargo, cantor e compositor, em entrevista ao Jornal da Tarde

“O empresário tem de saber que pode contratar alguém sem o risco de ser roubado pelo empregado, e o empregado precisa saber que pode ser contratado com a segurança de que receberá seu salário e não será escravizado. Sem essas instituições, não há mercado. As instituições políticas, em certa medida, confundem-se com as econômicas porque também precisam garantir uma ordem legal homogênea, em que a lei seja aplicada a todos. O importante não são leis duras, mas leis que valham para todos. Há países com punições duríssimas contra roubo, como cortar a mão fora, mas a lei não vale para a elite dirigente, que pode esbaldar-se roubando quanto quiser sem perder mão nenhuma.”
Daron Acemoglu, economista turco do MIT, na revista Veja

quinta-feira, junho 17, 2010

Ainda dá para resgatar o Mercosul


O Mercosul ainda serve para alguma coisa? A julgar pelo que diz o candidato a presidente José Serra (PDSB), parece que não. Talvez por falta de conteúdo de sua candidatura, um mero comentário feito a um jornalista se transformou em “plataforma de política externa de um eventual governo tucano”.

Criticar o governo boliviano é do jogo, afinal, não são poucos os que qualificam a administração de Evo Morales como ruim e até desastrosa - ou seja, está na média, a julgar pelos últimos 50 anos na Bolívia.

Só que qualificar o governo Morales de conivente e até cúmplice de crimes de tráfico de drogas e armas para o Brasil é demais. Até mesmo acusar o vizinho de leniente é forte, quanto mais de cumplicidade. Desnecessário dizer que o candidato tucano não tem provas, o que o torna leviano e nenhum pouco confiável.

Entretanto, a discussão serviu para jogar luz ao pantanoso terreno das relações comerciais e diplomáticas entre os países da América do Sul. O Mercosul ainda serve para alguma coisa?

Não só não serve como desconfio que ele nunca existiu. Vai completar 20 anos em 2011 mais como uma peça de marketing do que realmente um bloco econômico integrado. A chegada de Venezuela, Bolívia e Chile só piorou o quadro.

O fato é que cada país implanta a política aduaneira e de impostos que bem entende. A Argentina decidiu neste mês proibir a importação de comida e simplesmente nem consultou ou comunicou os parceiros. Vinte anos perdidos são muita coisa.

O Mercosul é uma boa ideia que nunca saiu do papel e parece que dificilmente vai sair. Uma pena, pois todos os países só teriam a ganhar.

Para quem duvida desse cenário desolador é só ler o livro “Mercosul e a Integração Regional”, do embaixador Rubens Barbosa, que foi o negociador-chefe do Brasil durante as reuniões que culminaram com a assinatura do acordo em 1991.

Em nenhum momento Barbosa usa a palavra fracasso para descrever o bloco, mas o tom de lamento e de queixa não deixa dúvidas sobre sua opinião sobre a questão.

Partindo do princípio de que de que o Mercosul é quase uma ficção, então o próximo presidente brasileiro terá de decidir, já que é o sócio-majoritário: ou acaba de vez com o que muitos acham que é uma farsa, ou força a integração dos países meio que na marra, dando uma razão para o bloco existir.

A ideia do Mercosul e merece mais uma chance, mas sem paternalismos e politicagens de apadrinhamento que sempre marcaram a diplomacia brasileira em relação aos vizinhos sempre hostis comercialmente.

quarta-feira, junho 16, 2010

Sua vida está valendo menos neste momento


No final da década de 70, quando começou a explodir a criminalidade nas grandes metrópoles, todos se horrorizavam com os trombadinhas na Praça da Sé e com os roubos de tênis nos bairros.

Era a época da chegada dos primeiros All-Star e Far White, vindos do Paraguai. O máximo que se ouvia em violência na época era alguém que sofria golpes de estilete quando tentava resistir.

Os roubos foram ficando mais violentos desde então e os latrocínios (roubo seguindo de morte) foram ficando bastante corriqueiros. Mas o que vemos hoje em São Paulo, no Rio de Janeiro e Salvador,por exemplo, é a banalização do crime e da morte.

Mata-se porque um estudante não tinha um único centavo quando foi abordado. Mata-se porque a professora deixou o carro morrer quando pretendia entregar o carro.

Mata-se um trabalhador porque este tentou falar algo contra o roubo de sua moto, seu meio de locomoção e ganha-pão. E o pior, não se vê indignação por conta disso. As pessoas comentam nos ônibus e bares tais fatos como se fossem a coisa mais normal do mundo.

Isso para ficar na classe média. Na periferia e nas favelas, mata-se apenas por diversão. Neste final de semana, um office-boy foi assassinado numa favela de Santo André porque supostamente teria mexido com a irmã de alguém ligado ao tráfico da região.

No mesmo lugar, uma semana antes, outro garoto, estudante e filho de uma dona de um boteco, foi espancado e esfaqueado à luz do dia porque alguém disse que ouviu falar que ele tinha xingado a namorada de alguém.

Ainda agonizando, não recebeu ajuda porque o esfaqueador avisou que quem ajudasse morreria ali mesmo. O corpo ficou no local por mais de dez horas, segundo relatos de moradores da região.

Enquanto isso, o crack avança em toda a Grande São Paulo. Sociedade doente? Decadente? Sevalgeria total? Escolha o seu adjetivo. Qualquer um será insuficiente para descrever o que vivemos atualmente.

segunda-feira, junho 14, 2010

Copiar CD deixa de ser crime de acordo com nova lei de direito autoral


DA FOLHA.COM


O Ministério da Cultura (MinC) trouxe a público, na manhã de hoje, suas idéias para o que pode vir a ser a nova lei do direito autoral brasileiro.

Numa entrevista coletiva concedida em Brasília, o ministro Juca Ferreira explicou as bases do texto que deve ser liberado hoje para consulta pública.

Antes, ele conversou com a Folha, por telefone.

A iniciativa do governo brasileiro inclui-se num movimento mundial de revisão de leis que, simplesmente, não cabem no mundo que, na virada do século 21, tinha se tornado digital.

O texto em vigor hoje no Brasil foi aprovado em 1998, como atualização de uma lei criada em 1973. O texto atual trata como ilegais atitudes corriqueiras, como a cópia de um CD para um pen drive.

Saiba, a seguir, quais são os planos do governo brasileiro.

Folha - O MinC coloca o texto em consulta às vésperas das eleições. Pelas minhas contas, se serão 45 dias de consulta, a nova lei acabará sendo apresentada em pleno processo eleitoral...

Juca Ferreira - No seu cálculo, só consta uma parcela do processo. Depois desses 45 dias, uma equipe do ministério do vai se debruçar sobre todas as contribuições recebidas para preparar um novo texto que assimile as propostas. Ou seja, o novo texto lei só ficará pronto depois do processo eleitoral.

No ano que vem?

Não, no final deste ano.

O governo francês, no ano passado, apresentou uma lei que tendia a enquadrar os usuários da internet. Que caminho seguirá o Brasil? A legislação tende a ser mais aberta ou mais restritiva?

Queremos um sistema mais aberto.

Em primeiro lugar, porque mesmo que não houvesse o mundo digital, a internet, a nossa lei seria muito ruim. Ela não é capaz de garantir o direito do criador porque o sistema de arrecadação de direitos é obscuro, sem nenhuma transparência.

Além disso, a lei tem aspectos caricaturais. A cópia individual, por exemplo, não é permitida. Quem compra um cd não pode, pela lei, copiá-lo para o próprio ipod.

Uma editora que não queria reeditar um livro, algo normal, torna o livro indisponível porque nem alunos nem professores podem fazer cópia. Isso contraria a tendência do mundo inteiro.

Há quem defenda que a lei brasileira é boa.

A lei brasileira é um modelo de como não deve ser. O mundo inteiro está se adaptando à realidade digital.

Mas nem sempre liberalizando...

Sim, mas todas as tentativas de se enquadrar o mundo digital em padrões analógicos se mostraram um fracasso. Nos Estados Unidos, chegaram a processar crianças de nove anos que estavam fazendo cópias para os amigos.

O governo brasileiro quer criar um sistema que estimule o pagamento do autor na internet. O que a gente quer é legalizar.

A modernização legal, além de ampliar e assegurar o direito do autor, quer harmonizar e garantir o direito do investidor.

Tudo isso sem esquecer que o acesso é um direito da população.

Mas qual o limite entre o direito ao acesso e o direito do autor?

O autor deve ser sempre remunerado. Mas, na medida em que reconhecemos o direito da cópia individual, estamos garantindo o acesso da sociedade ao conhecimento.

Hoje, um professor de um curso de cinema, não pode, legalmente, apresentar sequer cenas de um filme na sala de aula.

Em cursos de medicina ou administração são muitos os livros esgotados que não podem ser reproduzidos. A nova lei quer criar uma brecha para esse tipo de cópia, mas prevendo o pagamento do direito autoral para a cópia reprográfica.

O novo texto prevê a criminalização do jabá --execução paga de música nas rádios e emissoras de TV. Qual a ligação do jabá com o direito autoral?

O jabá criou um sistema perverso que cerceia a diversidade cultural e restringe a economia da cultura.

Quem paga para executar sua música no rádio cria a ditadura do gosto.

A partir da nova lei, quem fizer isso será processado. Se você legitima um sistema que define o que vai ser apresentado nas rádios e TVs, você está cerceando a liberdade, excluindo boa parte dos autores.

O jabá se caracteriza como concorrência desleal.

O Ecad (Escritório Central de Arrecadação de Direitos) e alguns artistas já estão se posicionando contra a reforma na lei. O MinC está preparado para o embate?

Estamos estudando essa reforma há oito anos. Envolvemos mais de 10 mil pessoas em reuniões setoriais e fizemos estudos comparativos com outros países.

O sistema brasileiro de arrecadação quer manter o status-quo. Mas esse sistema vive de processos jurídicos.

Temos, numa ponta, milhares de processos contra bares, hotéis, cinemas e, na outra ponta, os artistas desconfiados de que não estão recebendo pagamento.

Se eu fosse um sistema de arrecadação que desperta tanta desconfiança da parte dos artistas, eu adoraria que houvesse um sistema de transparência para que as pessoas parassem de questionar o meu trabalho.

Como eles estão acomodados a um sistema autoritário, unilateral, tenho certeza de que haverá reação negativa.

Mas isso é demanda histórica dos autores e intelectuais. O Brasil não se livrará da herança da ditadura enquanto não se livrar desse entulho.
A USP em frangalhos é a imagem da educação brasileira


Mais do que uma terra de ninguém, a USP se tornou um triste exemplo do que se tornou a educação brasileira em todos os níveis. Inexistem respeito e sobretudo inteligência.

A nova greve de funcionários da entidade, com direito a novas invasões das instalações da reitoria, e com o irrestrito apoio dos alunos, expõe a lama que toma conta da principal instituição de ensino superior do Brasil.

Destruição de equipamentos, paredes quebradas a marretadas e a total falta de juízo, sem que a violência e a depredação sejam contidas.

Educação? Ensino? Meros detalhes em um lugar onde predominam as “ideias” de pessoas mais preocupadas em destruir a reitoria do que respeitar a lei e a democracia.