sexta-feira, dezembro 16, 2011

As verdadeiras divas da atualidade: Beth Hart e Imelda May

O mundo pop só fala de Adele, Beyoncé, Ke$ha, Shakira, Lana del Rey e outras cantoras de voz boa e repertório péssimo. Sobra pouco espaço para coisa de qualidade com Joss Stone, que ainda consegue resgatar o bom e velho rhythm and blues original. Então é hora de diversificar e tentar ir mais a fundo no purismo. É hora de ouvir a irlandesa Imelda May e a norte-americana Beth Hart, ilhas de qualidade na escolha do repertório jazzístico e blueseiro sem apelar para clichês e modinhas, muito menos se render a armações modernosas revestidas por elementos eletrônicos. Imelda May, de 37 anos, hoje é a mais nova queridinha do gênio da guitarra Jeff Beck. Ela empresta a sua voz para o grande pacote DVD/CD “Rock’n Roll Party”, gravado ao vivo em 2010 nos Estados Unidos durante homenagem ao músico/luthier/empresário Les Paul. Transitando entre o rock básico, o rockabilly, o country e o blues, a moça acaba de lançar o estupendo “More Mayhem”, uma coleção fantástica de standards e canções delicadas e acessíveis, transitando entre o tradicional e o festeiro. “Pulling the Rug”, que abre o disco, dá a tônica de todo o álbum. Já Beth Hart, dois anos mais velha, tem uma carreira mais antiga no pop rock e no folk americanos, mas começou a ganhar reconhecimento somente na década passada. Seu grande sucesso até o momento é “LA Song (Out of This Town)”, que foi trilha sonora de um episódio da 10ª temporada do seriado “Beverly Hills 90210”. Entretanto, foi o blues que catapultou o nome da cantora em 2011, junto com a guitarra excelente do compatriota Joe Bonamassa. “Don’t Explain” é o álbum que a dupla lançou no meio deste ano e que surpreendentemente teve um aceitação bem acima do esperado nas paradas tradicionais de sucessos. A parceria começou no álbum “Dust Bowl”, do guitarrista, lançado no primeiro semestre, na ótima faixa “”No Love On The Street”. Bonamassa, que é artista solo e guitarrista do supergrupo Black Country Communion (ao lado do baixista e vocalista Glenn Hughes, ex-Black Sabbath e Deep Purple), selecionou ao lado de Hart um punhado de clássicos e pancadas do blues e lhes conferiu um tratamento respeitoso e reverenciado, mas sem despencar nos clichês do gênero. “Sinner’s Prayer” e o clássico “I’d Rather Go Blind” já valem o CD. E o mais curioso é que a excelente cantora esteve no Brasil duas vezes no primeiro semestre e passou quase anônima. Se não fosse uma aparição bem descontraída na TV Gazeta de São Paulo, no programa “Eu e Você”, de Ronnie Von, ninguém saberia de sua rápida passagem por aqui. Que não demore muito para voltar.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Compras virtuais: cuidado para não estragar o seu Natal

Você ainda pretende fazer comprar virtuais? Então é bom ficar alerta com a campanha que os órgão de defesa do consumidor estão iniciando ao comércio pela internet neste Natal. As empresas de comércio virtual então entre as que mais têm registros de reclamações nos Procons do Brasil – e geralmente os problemas nas entregas pioram a partir de dezembro devido o alto volume de vendas. Somente a B2W, que administra os sites Americanas.com, Shoptime e Submarino, teve quase 20 mil queixas registradas entre 1º de outubro de 2010 e 30 de setembro de 2011, número corresponde a 4,72% do total de demandas recebidas no período pelo Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (Sindec), que integra Procons de 23 estados e do Distrito Federal. A Ricardo Eletro (que também atua no comércio eletrônico) aparece logo atrás (com 3,64% dos atendimentos), seguida pelo Ponto Frio (3,63%). Os problemas com entrega representam 23,32% das reclamações sobre produtos nos Procons do país (com 102.788 queixas). E, mesmo quando o produto é entregue, às vezes já chega com vícios e defeitos – causa de 99.428 reclamações nos Procons (22,56%do total). Esse cenário revela uma realidade aterradora: a grande quantidade de reclamações sobre entrega no comércio eletrônico é sintoma de um problema crônico de quebra de confiança. Não basta vender com comodidade, tem de entregar os produtos, montar, dar segurança no pós-venda, dizem os especialistas em defesa do consumidor. Repórteres do Grupo Estado procuraram as empresas mais reclamadas para entender os motivos de tantas queixas – e o que está sendo feito para amenizar os problemas. As empresas B2W e Ricardo Eletro não responderam. O Pontofrio.com informa que “promove melhorias constantes em sua operação para garantir o pleno atendimento e a satisfação dos seus clientes e reduzir o índice de queixas no Sindec, a exemplo de que vem verificando em suas auditorias internas”. A empresa ainda informa em nota que “continuará firme em seu propósito de proporcionar a melhor experiência de compra ao seu cliente e reafirma seu compromisso com os consumidores e órgãos de Defesa do Consumidor”. O comércio virtual no Brasil ainda não é confiável e muito menos profissional. Falta fiscalização e falta rigos na punição às empresas que lidam com esse tipo negócio. Você ainda quer comprar pela internet?

Fundamentos do ateísmo

Hélio Schwartsman Já que dois amigos meus, Ives Gandra Martins e Daniel Sottomaior, se engalfinharam em polêmica acerca de um suposto fundamentalismo ateu, aproveito para meter o bedelho nessa intrigante questão. Como não poderia deixar de ser, minha posição é bem mais próxima da de Daniel que da de Ives. Não se pode chamar de fundamentalista quem exige provas antes de crer. Aqui, o alcance do ceticismo é dado de antemão: a dúvida vai até o surgimento de evidências fortes, as quais, em 2.000 anos de cristianismo, ainda não apareceram. Ao contrário, dogmas vão contra tudo o que sabemos sobre o mundo. Virgens não costumam dar à luz e pessoas não saem por aí ressuscitando. Em contextos normais, um homem que veste saias e proclama transformar vinho em sangue seria internado. Quando se trata de religião, porém, aceitamos violações à física e à lógica. Por quê? Ou Deus existe e espera de nós atitudes exóticas -e inconsistentes de uma fé para outra-, ou o problema está em nós, mais especificamente em nossos cérebros, que fazem coisas esquisitas no modo religioso. Fico com a segunda hipótese. Corrobora-a um número crescente de cientistas que descrevem a religiosidade ou sua ausência como estilos cognitivos diversos. Ateus privilegiam a ciência e a lógica, ao passo que crentes dão mais ênfase a suas intuições, que estão sempre a buscar padrões e a criar agentes. Posta nesses termos, fé e ceticismo se tornam um amálgama de influências genéticas e culturais difícil de destrinchar -e de modificar. Como bom ateu liberal, aplaudo avanços no secularismo, já que contrabalançam o lado exclusivista das religiões, que não raro degenera em violência e obscurantismo. Mas, ao contrário de colegas mais veementes, acho que a religião, a exemplo do que se dá com filatelia, literatura e sexo, pode, se bem usada, ser fonte legítima de bem-estar e prazer. **Texto publicado originalmente na Folha de S. Paulo, na edição de 10 de dezembro de 2011