Terrorismo 2
Li uma ponderação de um cidadão chamado Cristiano Dias no site amigo
Mauricéia Desvairada merece algumas considerações. Ele lamenta e deplora a desinformação do público americano médio a respeito da destruição em Nova York. Para ele, o público americano engole com muita facilidade e sem questionamento a indicação dos "vilões" de plantão como responsáveis pelo atentado.
Ou seja, o governo norte-americano acusa e vai atrás dos suspeitos de sempre, cidadãos de origem árabe, aumentando o preconceito contra a população de países dessa origem. De certa forma, é exatamente isso o que acontece. Corre-se o risco de os Estados Unidos se transformarem naquilo que NOva York se transformou no filme "Nova York Sitiada", estrelado por Denzel Washington e Bruce Willis.
Na fita, uma série de atentados na cidade é cometida por terroristas árabes, que são perseguidos até a exaustão. Com a piora nos atentados, o Exército toma conta de Nova York e estabelece o estado de sítio, criando campos de concentração onde é confinada quase toda a população árabe da cidade. Triste, mas uma hipótese, mesmo que remota, assustadora.
No entanto, Dias faz uma leve defesa de países considerados culpados de acobertar o terrorismo, afirmando que "Afeganistão, Irã, Iraque, Paquistão, Líbia e outros países são vítimas históricas da política econômica e internacional norte-americana".
Discordo totalmente dessa última premissa. Seria a mesma coisa que ficar o tempo todo culpando Portugal por nossos problemas econômicos e nosso subdesenvolvimento. É uma visão esquerdizante e anti-americana completamente equivocada. Os países citados têm os problemas que têm devido a uma conjuntura internacional histórico-econômica bem específicos. Sofrem consequências econômicas do mundo globalizado como todas as outras nações e, com isso, têm seus problemas econômicos agravados devido a seus próprios problemas estruturais e, por que não, culturais.
Atraíram a ira do Ocidente exatamente por patrocinarem "práticas diplomáticas" baseadas no militarismo, no obscurantismo e no terrorismo. Diplomacia é uma coisa que não existe para essas nações. Prova disso é que viverm às turras com os próprios vizinhos. Não são indicadas à toa como financiadoras de terroristas. Elegeram os mais poderosos como inimigos a serem aniquilados. É bem verdade que os norte-americanos carregam nas costas muitas culpas por males (ou por contribuir para eles) do mundo moderno, mas certamente não são culpados pela imensa maioria das razões apontadas pelas "nações terroristas".
Para encerrar esse tópico, uma interessante ponderação feita pelo jornalista Hélio Schwartzmann, da Folha de S. Paulo:
"Como que a lembrar que não estamos falando de ficção, já ouvi comentaristas na CNN dizendo que os direitos e garantias fundamentais são importantes, mas que não são o único valor, que os direitos civis não podem se tornar um 'pacote suicida'. Reconheço que o analista tem um ponto: para gozar de direitos é preciso logicamente antes estar vivo. A questão é que existem certos direitos, entre os quais incluo os civis, que são inegociáveis. Não é possível, em termos teóricos, aceitar que se torture 'ligeiramente, em casos especiais'.
De certo modo, isso equivaleria a decretar que os fins justificam os meios, e todos conhecemos as aberrações éticas em que esse tipo de raciocínio costuma resultar. Para conservar-se o 'cara bom' de que Bush falou é preciso aferrar-se solidamente aos princípios que acreditamos que fazem o bem diferir do mal, ou estaremos agindo como os terroristas, para os quais não existiriam barreiras morais capazes de fazê-los recuar de seus objetivos. (Usinas nucleares e represas são, em princípio, construídas para suportar o impacto da queda de um avião).
É claro que abordei a questão apenas do ponto de vista teórico. Na vida prática, é compreensível que os norte-americanos demonstrem reações emocionais. Os cidadãos de origem árabe enfrentarão alguns dias difíceis, durante os quais o racismo estará em alta. Acredito, porém, que os EUA sejam uma democracia robusta e, passado o choque inicial, a situação se normalize e pessoas razoáveis parem de falar em 'relativização' dos direitos civis."