terça-feira, dezembro 08, 2009

Mundo melhor sem muros


Volker é um alemão bonachão e quase transparente de tão branco. Tem pouco mais de 50 anos e está no Brasil desde 1998. Especialista em comércio exterior, fala cinco línguas, tem um bar em Blumenau (SC) e é representante de uma importadora de bebidas da Alemanha.

Ex-jogador de futebol, atuou pelo Magdebourg, time da cidade de mesmo nome e que foi um dos mais importantes da extinta Alemanha Oriental. Segundo ele, era um volante esforçado, mas sem a menor técnica. Abandonou logo o time de sua cidade natal e se dedicou à universidade.

Volker não pensou duas vezes quando o Muro de Berlim caiu em novembro de 1989. Dois meses depois, já estava morando em uma pensão em Frankfurt, na antiga Alemanha Ocidental e se transformou em um promissor e bem-sucedido executivo de empresas do ramo de bebidas.

Já o Magdebourg, campeão da Recopa Europeia de 1974, três vezes campeão da Alemanha Oriental e sete vezes campeão da Copa da Alemanha Oriental, submergiu nas divisões inferiores do então novo futebol da Alemanha unificada, incapaz de se adaptar à modernidade do mundo pós-comunista.

As duas trajetórias definem bem o que significou para as pessoas, no mundo real, a queda do Muro de Berlim e o fim da utopia comunista, ou melhor, o fim do comunismo real, aquele que tentou ser implantado à força após a Segunda Guerra Mundial.

A opressão dos regimes totalitários do Leste Europeu explodiu em novembro de 1989, provocando um êxodo raramente visto na história da humanidade em direção ao Ocidente.

Ao mesmo tempo, as instituições podres que foram solapadas pelos regimes autoritários daquela região da Europa ruíram e submergiram, como o time de futebol do Magdebourg, e ainda correm atrás do tempo perdido para ao menos diminuir os milhares de anos-luz que as separam do mundo moderno.

Alguns dos historiadores mais importantes do nosso tempo acreditam que a queda do muro é um evento tão importante quanto a queda de Constantinopla, dominada pelos turcos otomanos em 1453, fato que colocou um fim à Idade Média.

Não chega a ser o fim da história, como cravou o pensador norte-americano Francis Fukuyama nos anos 90, mas com certeza tem o peso de ter encerrado uma era da história humana.

O fim do Muro de Berlim deixou o mundo melhor, mais livre, com perspectivas econômicas mais claras e promissoras. Expandiu a democracia e reforçou a tese de que o totalitarismo é danoso ao ser humano.

Pena que o fantasma ainda assombre por aí, especialmente na América Latina, onde existe muita gente com saudade enorme do muro.

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