segunda-feira, março 08, 2010

Resignação e esperança


O clima de desconforto passou. Ficou a resignação e só restou olhar para frente. O grupo analisado é micro, reduzidíssimo, mas reflete o que parte do dos militantes históricos do PT pensa sobre a indicação de Dilma Roussef como candidata do partido à Presidência da República.

O local não poderia ser mais lúdico: um bufê infantil no bairro do Ipiranga, chique, com milhares de atrações para as crianças e comida boa demais para apenas um bufê.

A cerveja estava gelada e o uísque era de ótima qualidade. No entanto, a predominância de petistas e esquerdistas era total, quase todos de tendência moderada.

Só se falou no Congresso do PT do final de semana no final da tarde de domingo. Pelo menos dez dos presentes estiveram no evento.

Por mais que reclamassem, como sempre, da “cobertura da imprensa em geral”, acabaram por concordar com o clima geral: aclamação geral, com pouquíssimo debate e quase nada do que foi a reunião anos atrás.

Mas a resignação não tem nada de melancólica. O pragmatismo dominou a cena e a conclusão do fim das discussões na festinha de criança foi a única possível – e bastante adequada: vamos olhar para frente e ganhar de novo.

É fato que o PT está sofrendo há tempos com a letargia de sua militância histórica. Tudo bem que as expectativas eram gigantes quando o presidente Lula assumiu em janeiro de 2003. A realidade atropelou muita gente, muitos companheiros ficaram pelo caminho.

Sobrou ressentimento para todos os gostos e todas as facções. O arco de alianças não agradou, não houve lugar para todo mundo no governo, práticas políticas outrora abomináveis começaram a ser adotadas e também desagradaram bastante, escândalos pontuais decepcionaram. Por fim, houve o pecado mortal de contratar “militantes pagos” para trabalhar nas eleições.

Tudo isso ainda não foi digerido por parte importante e histórica do PT. Mas ficar remoendo esses ressentimentos é a melhor forma de paralisar a estrutura. Pelo menos para o grupo que estava na festinha infantil, começa tudo de novo, com um novo fôlego – um fôlego diferente, até estranho, mas renovado.

Fiquei surpreendido com o que ouvi. Se a disposição daquele grupo for a mesma do resto do partido – ou ao menos dos que estiveram presentes ao Congresso do PT –, teremos um ambiente diferente na campanha de 2010.

E esta disposição é fundamental para que o PT recupere sua militância histórica e, principalmente, crie uma nova geração de filiados ou simpatizantes comprometidos com o programa do partido e com as mudanças necessárias.

E justamente esse ponto encerrou o debate entre os militantes da festinha, com uma faísca contagiante de esperança: há uma convicção firme e dominante no partido de que é preciso começar já uma campanha pela renovação dos quadros, atraindo novos e jovens militantes.

Todas as facções e tendências, em algum momento durante o evento do final de semana, discutiram a questão entre seus simpatizantes separadamente, sem que houvesse uma discussão geral formal. Ou seja, todo mundo está sintonizado em relação ao futuro.

O congresso petista terminou muito melhor do que começou. Havia ceticismo e revolta silenciosa por causa do trator Lula em favor de Dilma. O pragmatismo falou mais alto e o horizonte passou a ser mais luminoso. E que venham os novos militantes.

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