quarta-feira, novembro 02, 2011

Raul Seixas continua sendo trilha sonora de anacronismos

O século XXI se tornou uma época bastante perigosa para certa caregoria de estudantes universitários, em especial para a aqueles que optam por áreas de ciências humanas – mais ”em especial” ainda para quem insiste em cursar história, filosofia e ciências sociais. O mundo mudou demais nos últimos 25 anos, e a própria história sepultou diversas crenças em todas as áreas do conhecimento, mas parece que isso não foi o suficiente para resgatar certos redutos da pré-história ideológica no Brasil. Resistem ainda em alguns botecos de quinta categoria ao lado de faculdades e centros acadêmicos inundados de irrelevância teses lidas somente em orelhas de livros ruins, mas que se transformaram e luzes da humanidade em pricas eras, mas que hje soam apenas como anedotas sem graça. E, como toda corrente de pensamento pseudo-intelectual tem sua trilha sonora, a desse povo citado anteriormente não poderia ser outra: o anacrônico Raul Seixas, com todos os seus anacronismos. Ainda é possível ver gente fantasiada de hippie nas escadarias da TV Gazeta, na avenida Paulista, no prédio onde funcionam uma unidade importante do cursinho Objetivo e a Faculdade de Comunicação Cásper Líbero, assassinando músicas de Raul (que no original já são geralmente ruins), tendo três ou quatro tontos em volta se deliciando com tal espetáculo bizarro amaldiçoando ter nascido na época errada. E também foi possível escutar a música de Raul Seixas no tumulto que envolveu a Polícia Militar e estudantes desocupados e irresponsáveis nas imediações da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Não poderia haver retrato melhor da confusão estapafúrdia promovida por um bando de desordeiros desconectados da realidade e sem a menor noção dos motivos e da validade de tal protesto: o anacrônico Raul Seixas como trilha de anacrônicas ideias, discursos distorcidos e mentes ocas. Quando um estudante foi morto durante assalto na FEA foram inúmeras as queixas de falta de segurança e solicitação de patrulhas da PM; na última quinta, o ‘enclave’ da USP, com suas ‘leis próprias’, quis impedir que três estudantes que fumavam maconha em público fossem presos, o que para muitos indigentes intelectuais é sinônimo de ‘repressão’ e ‘intromissão indevida do Estado’ (FOTO: TIAGO QUEIROZ/AE) A confusão na USP ocorreu porque os estudantes daquela faculdade de ciências humanas acham que a universidade é um enclave dentro do Brasil com leis próprias e costumes “diferenciados”, entre os quais fumar maconha em público, despreocupadamente e na frente de policiais. Para azar de três imbecis, a USP não é um enclave, seus costumes não são difrenciados e fumar maconha continua sendo crime. Portanto, é mais do que óbvio que os três foram presose flagrante. Só que houve uma movimentação surpreendente contra a ação legítima da polícia por parte de “comunidade” de equivocados, que agrediu PMs e jornalistas na tentativa de evitar a prisão, assim como houve depredação de carros de polícia. E como costuma ocorrer em situações parecidas, os policiais não ficaram parados e fizeram valer sua autoridade, com reforços, na base cacetadas, com todos os excessos previstos. E tudo isso ao som de Raul Seixas ao fundo, segundo relatos de quem esteve no local. Uma rápida lida nos relatos de jornais nos dias seguintes mostram como uma faculdade que já foi referência no ensino de ciências humanas virou um deserto de ideias e cérebros – sem contar a repetiçâo mântrica de conceitos e teses devidamente soterradas pelos escombros do Muro de Berlim, derrubado a marretadas em 1989. Esse bando de tolos que participou da defesa dos maconheiros nem sequer conseguem identificar um inimigo para nortear suas pobres existências neste século XXI e ousam falar em repressão policial quando estes estão nada mais do que cumprindo a lei. E usam a palavra repressão tentando impregnar conceitos politicos atrasados em uma época de plena democracia que com certeza envergonharia os próprios pais, que viveram nos anos duros do regime militar. Tudo isso embalado, principalmente, por músicas de Raul Seixas, mesmo aquelas que nenhum significado tem. Os relatos do repórter Bruno Paes Manso, de O Estado de S. Paulo, não deixam dúvidas a respeito do discurso vazio e do pensamento totalmente embolorado e equivocado desta juventude: A reportagem tentava em vão algumas entrevistas, mas os estudantes evitavam conversar com a imprensa dizendo que suas palavras seriam distorcidas. Ele temiam que fossem chamados de maconheiros, em manchetes sensacionalistas. Meu argumento derradeiro foi que assim eu só teria a versão da PM e que precisava ouvir a narrativa dos alunos. Uma jovem de 18 anos aceitou me contar. Fomos para um canto mais calmo e ela pediu anonimato. Em vez de descrever os fatos que originaram a confusão, elucubrou sobre privatização e política estudantil: “O que aconteceu é uma decorrência da privatização do ensino neoliberal e blá, blá, blá”. Com uma mistura de inocência e arrogância, ela parecia acreditar que aquilo era realmente o que eu queria ouvir. Livros de Foucault e Walter Benjamin eram mostrados aos PMs, que assistiam a tudo com cara de quem estava se divertindo ao escapar da rotina do mundo criminal da zona oeste. Os policiais estavam claramente orientados a manter a calma, fato que depois foi confirmado pelo comandante geral. Tanto que alguns estudantes acenderam baseados e passaram a fumar tranquilamente nos jardins da História, mesmo com a presença das autoridades. Havia uma concentração de hormônios adolescentes buscando extravasar, uma atmosfera de pancadão sem funk. Jovens faziam discursos face a face com soldados, alguns segurando latinhas de cerveja. Falavam sobre ditadura, assassinatos na periferia. Sim, pareciam movidos a idealismo, um idealismo mal educado, como se fossem mudar o Brasil ao esculachar os “coxinhas”. Foi uma manifestação excitante, dionisíaca, mas sem causa. Dessas que você relembra saudoso aos quarenta anos, na mesa de bar com amigos, para mostrar como já foi ousado na adolescência. Mesmo que não tenha servido para muita coisa. É claro que se trata de mais um cas de uso indevido do legado de Raul Seixas, que jamais aprovaria que sua obra fosse emporcalhada por gente tão desprovida de recursos intelectuais e com manifesta indigência intelectual. Raul Seixas era antes de mais nada um artista antenado e uma pessoa inteligente, apesar de ser mais um entre tantos músicos brasileiros superestimados e alçados a gênio por uma certa camarilha cultural. Raul era bem humorado e abusava nao só da ironia como a da auto-ironia. Mas ter sua obra, ainda que não seja nada daquilo que dizem que é, usurpada por um bando de estudantes que não conseguem distinguir liberdade de expressão da proibição de fumar maconha, principalmente em lgares públicos, é um tremendo tapa da cara. Pior do que isso é a constatação, infelizmente, que a música de Raul Seixas é a trilha mais adequada para simbolizar o vazio intelectual que domina parcela expressiva dos estudantes da principal universidade do país, bem como mostra o tamanho do equívoco ideológico que persiste em tal ambiente escolar. Está mais do que explicado o avanço do execrável sertanejo universitário no Brasil.

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