terça-feira, julho 14, 2020

Os 40 anos de 'Back in Black', que catapultou o AC/DC aos estrelato

Marcelo Moreira*

Os irmãos Malcolm e Angus Young não sabiam bem como reagir à notícia. Era uma manhã fria de 19 de fevereiro de 1980 e o vocalista da banda deles, o AC/DC, fora encontrado morto dentro de um carro em um bairro meio mórbido de Londres. Logo agora que a banda preparava o seu salto definitivo opara a conquista do mundo? Quatro anos ralando na Inglaterra para ver o sonho se esfarelar?

Angus ria de nervoso quando se preparava para ir ao departamento de polícia, enquanto o taciturno Malcolm estava mais taciturno ainda. Só que sua face de pedra escondia o seus pensamentos e já projetava o futuro: o próximo álbum prometia ser a explosão do quinteto australiano, com muitas músicas quase prontas. A próxima voz tinha de ter carisma e a pegada de Bon Scott, o cantor morto na noite fria londrina.

E assim, em pleno luto, o AC/DC se preparou para continuar e finalmente se tornar uma banda gigantesca. E teve de ser sem o carismático Scott, substituído por outro operário batalhador da música, alguém que tinha aberto seu caminho a machadadas e que quase desistiu no meio da trilha.

No dia 25 de julho de 1980 o AC/DC lançava seu sétimo álbum de estúdio, "Back in Black", o primeiro com Brian Johnson nos vocais, o primeiro após a morte de Bon Scott.

Muito se especulou sobre cantores australianos amigos da banda, mas os irmãos chefões nunca se esqueceram das próprias palavras de Scott a respeito de Johnson, então cantor do Geordie, banda inglesa subestimada dos anos 70. "Esse cara canta bem e tem uma força inabalável."

A tragédia moldou a trajetória do AC/DC a partir de então, com a feliz escolha de um operário sedento de sangue e de estrada. A escolha não foi óbvia e nem fácil, demorou um pouco, mas alguma coisa inexplicável fez com que os irmãos Young adquirissem a convicção de Brian Johnson era o cara certo, apesar de pouco impressionados com o primeiro teste.

Quarenta anos atrás, "Back in Black" (título em homenagem a Scott) estapeava os incrédulos e espantava as nuvens pesadas que ameaçavam o futuro do quinteto australiano. É um dos dez álbuns de música pop mais vendidos de todos os tempos.

A capa do disco é uma homenagem a Bon Scott, porém a gravadora resistiu a ideia, queriam uma capa diferente, mas no fim concordaram com a banda. O disco foi lançado e de imediato alcançou o 1° lugar nas paradas australianas, inglesas e francesas e em 4° lugar nos Estados Unidos, o posto mais alto que a banda tinha alcançado nas paradas americanas até então.

O primeiro single, “You Shook Me All Night Long” chegou ao número 31 da Billboard, enquanto a faixa título chegou ao número 37, no entanto o álbum permaneceu por 131 semanas no Top 100 da Billboard.

Quando Brian Johnson foi convidado a fazer um teste no AC/DC, de cara pensou em recusar “Eu estava numa banda que tinha três músicas entre as Top 10, após três anos aquele era o nosso momento, estávamos numa gravadora cujo o lema era ‘Você faz música e nós o dinheiro!’, estava a muito na estrada, tinha perdido o crescimento de meus filhos. Mas aí fiquei curioso e pensei ‘que mal tem?’ em fazer uma experiência, aí fui cantar com os caras e Boing! estava feito.” comentou o vocalista numa entrevista em 2011.

O disco foi composto e gravado no Compass Point Studio em Nassau, Bahamas, enquanto os irmãos Young compunham as músicas, Johnson se encarregava das letras. Banda e vocalista pareciam predestinados ao sucesso.

Três das músicas se tornaram hinos eternos - a faixa-título, "Hells Bells" e "You Shook Me All Night Long", reforçando a marca registrada do novo cantor - voz potente, alta e resgada, com alguma semelhança com o modo de cantar de Bon Scott.

A vida foi generosa com Johnson e o AC/DC por 35 anos, mas a maré virou com os problemas de saúde de Malcolm Young a partir de 2012. O comandante foi acometido por uma série de flagelos, incluindo uma doença cerebral degenerativa. Gradualmente foi se afastando do grupo, que perdeu o rumo. Sua saída definitiva ocorreu em 2014 - morreu três anos depois, em consequência de vários problemas.

Johnson, o mais velho dos integrantes da banda, também sentiu o peso da idade e apresentou saúde debilitada durante a gravação de "Rock or Bust", o disco de 2015. Com problemas auditivos, ficou impossibilitado de sair em turnê. Acabou demitido por Angus Young, por telefone, sendo substituído temporariamente por Axl rose, dos Guns N'Roses.

O futuro misterioso da banda começou a ser desvendado a partir de 2018, quando o AC/DC deu pistas de que ressuscitaria para gravar outro disco, contando com os retornos de Johnson, do baixista Cliff Willimans (que tinha se aposentado em 2016) e do baterista Phil Rudd (outro que foi demitido em 2015 porque não podia sair da Nova Zelândia, onde morava, por conta de uma acusação de participação em um homicídio).

Comentários de bastidores dão conta de que Johnson voltou por conta de preparativos para comemorações de 45 anos do lançamento do primeiro álbum do grupo e de 40 anos de "Back in Black", que marcou a estreia de Johnson.

Se for isso, então Young acertou em cheio e reparou uma grande injustiça. Um dos vocalistas mais viscerais do rock, ainda em forma aos 73 anos, é parte vital do que tenha restado de credibilidade do AC/DC sem Malcolm Young. Uma rápida ouvida em "Back in Black" é suficiente para corroborar essa visão.

Bon Scott sedimentou a caminhada do quinteto, mas é difícil refutar a ideia de que Brian Johnson é a voz definitiva do AC/DC.

* Com informações do site RockNight

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