domingo, setembro 05, 2010

Onde a civilidade venceu o oportunismo


Um empresário de São Bernardo, leitor assíduo do ABCD Maior, me alertou outro dia ( ou será que, na verdade, ele me cobrou?) sobre uma questão: a campanha da Associação Viva São Bernardo para impedir a construção do cadeião da cidade no bairro Baeta Neves, perto do centro, não pode ser enquadrada nos casos que citei outro dia a respeito de Higienópolis, Pompeia, Perdizes e Moema?

Não, eu respondi. É unânime entre especialistas em urbanismo e segurança pública a tese de que presídios e centros de detenção precisam estar em regiões isoladas ou com pouca densidade demográfica, como nos Estados Unidos e na Europa. Não foi por outro motivo que a Penitenciária do Carandiru foi desativada.

O cadeião seria construído no terreno atrás do 1º Distrito Policial para substituir a carceragem destruída e inviável daquela delegacia. Manter estruturas penitenciárias em locais densamente povoados dificulta a manutenção e eventuais combates a rebeliões e fugas – como acontece hoje em Santo André, no cadeião que fica ao lado do 4º DP, na Vila Palmares.

Além do mais, tanto em São Bernardo como em Santo André os cadeiões chegariam bem depois dos moradores, e em áreas densamente povoadas.

Sob qualquer ponto de vista a construção do cadeião de São Bernardo na avenida Armando Ítalo Setti seria um despropósito.

O Baeta Neves e o centro são áreas densamente povoada e com movimento digno de uma metrópole. Construí-lo ali seria o maior erro, pois se trataria apenas de mera conveniência, já que o terreno da delegacia é do governo do Estado.

A mobilização iniciada pela Associação Viva São Bernardo conseguiu a rara proeza de unir políticos locais que eram adversários ferrenhos. Juntos, vereadores, deputados estaduais e federais fizeram um barulho danado e chamaram a atenção do governo do Estado.

A princípio alheio à movimentação, o então prefeito Maurício Soares (na época no PSB), então com boas relações com o Palácio dos Bandeirantes, evitou se envolver no assunto para não melindrar aliados, até que sua aguçada sensibilidade política percebeu o tamanho da encrenca.

Soares decidiu encampar o pleito depois de certa pressão de aliados municipais e usou seu ótimo relacionamento com o governador Mário Covas para ajudar a administração estadual a desistir da ideia e alterar o local do cadeião.

Mesma sorte não tiveram os moradores da Vila Palmares, de Santo André. Não houve movimentação popular forte o suficiente para chamar a atenção de políticos andreenses do prefeito de então para barrar o cadeião na área do 4º DP. Isso só aumenta o mérito da Associação Viva São Bernardo.

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