quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Crônicas bolivarianas


Esgarçamento social. Esse foi o termo que um microempresário brasileiro usou para descrever o que acontece hoje na Venezuela. “Uma sucessão de crises está destruindo o país. Primeiro foi a política, depois a econômica, em seguida a social e agora a moral. Ninguém mais respeita ninguém. Os debates sobre qualquer assunto foram reduzidos a embates entre torcidas organizadas em confronto.”

Especialista na área de automação empresarial e bancária, o jovem empresário que retornou de Maracaibo, uma das grandes cidade de lá na semana passada, sabe do que está falando.

Morou duas vezes em Caracas. Nos anos 90 jogou basquete por uma universidade local durante um ano. Quase dez anos depois, passou mais oito meses no país estudando economia latino-americana na mesma universidade, em nível de mestrado.

Esquerdista convicto, mas com faro enorme para bons negócios, saudou a chega a ao poder de Hugo Chávez, e conseguiu bons contratos em empresas locais. Sua pequena empresa de automação conseguiu implantar cinco grandes sistemas em Caracas Maracaibo e dois em La Paz, na Bolívia.

Sua viagem mais recente, no entanto, deve ser a última durante muito tempo. Ao final de seu último contrato de suporte técnico em vigor, foi pessoaolmente ao cliente dizer que não renovaria o compromisso e que estava deixando a Venezuela por tempo indeterminado, talvez para sempre.

“Falta o básico nos supermercados. Tudo é muito caro. Não mais opção, o mercado paralelo cresce, paga-se propina para tudo. Caracas virou uma cidade completamente vigiada, há policiais por todos os lados, há gangues chavistas que ameaçam e achacam de forma explícita”, diz desolado. “Não há mais solidariedade, só confronto. Ninguém mais conversa. O clima é tenso até mesmo em botecos de esquina.”

A recente crise política é só o reflexo de falta de rumo do país, em sua opinião. Falta inteligência, falta discernimento, falta método, falta informação.

“Hugo Chávez acha que é possível governar por decreto, que não é necessário dialogar e debater e que todo mundo lhe deve favores. Com isso destruiu a economia do país e está destruindo a sociedade. Não foi para isso que o apoiamos e o elegemos, para viver numa sociedade fechada e censurada, com perseguições políticas e econômicas. Encerrei meus negócios por lá”, concluiu o microempresário.

Um jornalista amigo conseguiu entrevistar um técnico de vôlei paulista que até dezembro trabalhava nas categorias de base de um importante clube de Caracas. Com poucas variações, o relato dele é muito parecido com o do microempresário.

“Há quase dois anos a economia está em queda livre, o dinheiro não vale nada, o mercado negro floresceu e dominou tudo. Os problemas políticos só agravaram a violência urbana. Para sair à rua hoje temos de nos preocupar não só com os assaltos, coisa comum há tempos, mas com as ‘blitz’ de gangues chavistas que odeiam estrangeiros e perseguem comerciantes e ‘ricos’. Não dá mais”, disse o treinador.

A diplomacia brasileira foi bastante rápida ao se envolver na questão política de Honduras, mas estranhamente mantém o silêncio sobre a crise venezuelana. É bom começar a se movimentar, pois os brasileiros que lá residem com certeza vão precisar de ajuda.

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