segunda-feira, junho 20, 2011

O jazz e o erudito na genialidade de uma nova estrela


A garota até fala um pouco de português, graças ao marido percussionista brasileiro. Adora música brasileira e sempre grava ao menos dois temas nacionais em seus discos de jazz. Para completar, ela toca contrabaixo acústico, que é maior do que ela, e canta ao mesmo tempo. Só poderia ser mesmo uma geniozinha da raça, que dá aulas de músicas nas melhores escolas dos Estados Unidos desde os 22 anos de idade – tem hoje 26.
Alçada ao posto de “principal sensação do jazz atual”, a norte-americana Esperanza Spalding acumulou tamanha fama que até foi tocar na entrega do Nobel ao presidente Barack Obama. Mostrou suas principais qualidades ao presidente: uma exímia baixista, que sabe improvisar e canta com personalidade.
É uma ilustre representante do jazz moderno, já que também se aventura com segurança pelo universo da composição. Diferente de “Esperanza” (2008), seu novo trabalho “Chamber Music Society”, lançado em dezembro passado, traz formação erudita para estruturar arranjos intricados e muitos malabarismos vocais.
Além de utilizar do tradicional quarteto de câmara, com violino, viola, cello e contrabaixo, Spalding está acompanhada do pianista Leo Genovese, da baterista Terri Lyne Carrington e do percussionista Quintino Cinalli para executar temas densos e de qualidade quase inatingível.
A voz figura como instrumento de solo em quase todas as composições. Não há espaço para o “groove” mais funkeado. É um disco contemplativo e muito agradável.
O repertório é quase todo autoral. As únicas exceções são a versão de “Inútil Paisagem”, de Tom Jobim, “Chacacera”, de Genovese, uma versão mais pop de “Wild Is the Wind”, de Dimitri Tiomkin e Ned Washington, e um tema feito com base no poema “Little Fly”, do poeta inglês William Blake.
Entre as participações, destaque para um dos ídolos de Esperanza: o cantor brasileiro Milton Nascimento. Juntos, eles fazem a doce “Apple Blosson”. Além de Milton, a cantora Gretchen Parlato participa em "Knowledge Of Good And Evil".
“Chamber Music Society” é talvez o álbum mais importante do jazz norte-americano dos últimos cinco anos, por mais que o nível de sofisticação chegue a assustar. É um trabalho de fôlego, de uma musicista que surgiu desde o início como uma das estrelas do gênero no século XXI. Pelo que se ouve em seu novo trabalho, sua criatividade parece não ter limites.

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