quinta-feira, julho 22, 2010

Tempos de nostalgia


Nostalgia é um termo que normalmente remete a lembranças positivas. E lembranças positivas geralmente provocam sensação de bem-estar. Nostalgia faz bem, portanto.

Alguns nostálgicos adoram relembrar os tempos em que a música caipira era sinônimo de qualidade e pureza cultural, e não um pastiche colonizado do pior que a música country norte-americana produziu.

Outros adoram ressaltar as duvidosas qualidades musicais de ícones hippies do rock, como The Doors, Grateful Dead, Jefferson Airplane, Flying Burrito Brothers e outras coisas uns semelhantes da virada dos anos 60-70, em detrimento da música de qualidade de Led Zeppelin, The Who, Pink Floyd, The Kinks, Black Sabbath, Deep Purple, Yes e muitos outros.

Claro, há ainda aqueles que não cansam de choramingar como era bom ver jogos do Santos de Pelé no Pacaembu, do Palmeiras de Ademir da Guia e da Academia no Parque Antártica, do São Paulo de Gérson no Morumbi, do Corinthians de Rivellino, do Cruzeiro de Tostão e Dirceu Lopes…

E por incrível que pareça, ainda tem gente que gosta de lembrar como era bom o tempo em que existia o milagre econômico dos anos 70, de como era boa a vida no Brasil comandado com “autoridade” pelos militares, mesmo que fosse numa abjeta ditadura.

Nostalgia é um saco grande e generoso que aceita uma enormidade de conceitos e lembranças. E por mais esquisito que pareça, ainda há aqueles nostálgicos que gostam do tempo em que frequentavam centros acadêmicos infestados de estudantes pouco chegados aos livros e aos estudos, mas muito mais interessados em bordões de protesto ouvidos pela metade ou lidos em alguma orelha de livro ruim.

Esse pessoal leu pouco - na verdade, creio que não leu nada -, mas adora falar em ditadura do proletariado, em apropriação dos meios de produção, em abolição da propriedade privada, em controle da mídia, da imprensa e em restrição das liberdades política, de opinião e expressão, tudo em favor do combate “às elites, à burguesia e em favor do povo”.

É o mesmo pessoal que gosta de eventualmente discursar e reverberar ideias enterradas e sepultadas com a queda do Muro de Berlim. Por mais estranho que pareça, essas ideias ainda causam bem-estar, em alguns, por mais deslocadas que estejam. Que assim seja.

O que não se admite em pleno século XXI é que a nostalgia guie e influencie comportamentos, procedimentos e debates sobre assuntos relevantes na política e na economia - e até mesmo na vida cotidiana.

O PT é um exemplo de adaptação rápida e modernização de discurso após as mudanças de ventos dos últimos 20 anos. Mudou para melhor, tanto em termos práticos e pragmáticos como em conteúdo.

Libertou-se das algemas e das correntes ideológicas do passado e usou o que melhor existe na ideologia socialista e o que de melhor a esquerda produziu em termos de ideias e práticas administrativas para finalmente chegar ao poder no Brasil em 2002 - e fazer um governo incomparavelmente melhor e mais responsável do que qualquer outro anterior.

Portanto, a nostalgia política que resgata lembranças esfumaçadas de alguns conceitos, para a sorte da população brasileira, está restrita a guetos como PSOL, PCO e PSTU, enquanto que a moderna esquerda hoje é representada pelo PT, mesmo com tropeços políticos nos últimos anos.

Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo, e Mário Reali, de Diadema, são representantes dessa modernidade, assim como Elói Pietá, ex-prefeito de Guarulhos, Emídio de Souza, ex-prefeito de Osasco, Aloizio Mercadante, candidato a governador de São Paulo pelo PT, José Eduardo Martins Cardozo, que é deputado federal, e muitos outros.

É uma nova geração de políticos comprometidos com ideais e conteúdos que fazem parte do que há de mais avançado no pensamento político-administrativo atual. É evidente que esse grupo de líderes políticos não tem a menor saudade do Muro de Berlim, ao contrário do que se observa no Itamaraty e em algumas assessorias no Palácio do Planalto.

Para mim, nostalgia é um sentimento que normalmente fica confinado nas primeiras páginas e só. De vez em quando é interessante rever as reprises da final da Copa de 1970, dos jogos do Brasil em 1982 e até mesmo da Copa de 1994.

No começo é nostalgia, mas depois a coisa se enquadra em seu devido lugar, vira mera curiosidade. Em vez de Pelé, Maradona e Zico, hoje temos Kaká, Robinho, Messi, Ozil, Villa, Rooney, Sneijder e Robben. É o que temos e não está ruim.

Quanto ao futebol de várzea, aplico a ele o mesmo conceito que está disseminado em relação ao futsal: é muito melhor praticar do que assistir. Em um campo de várzea, prefiro ficar no boteco tomando cerveja e jogando dominó. É bem mais divertido.

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