quarta-feira, novembro 05, 2008

Correção tem de vir de cima


Os bancos voltaram a ser os vilões da sociedade, algo que não se via há uns bons sete ou oito anos. Talvez nunca deixem sê-los, mas neste período o ódio ao símbolo máximo do capitalismo foi amainado por um surto de crescimento que começou após o vexaminoso apagão energético de 2001 e foi potencializado a partir de 2003 no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

É certo que a conjuntura internacional favoreceu, e muito, a melhora econômica de nosso país, e que a política econômico-financeira responsável do governo Lula tratou de manter nos trilhos uma nação castigada por mais de 20 anos de estagnação e crises.

No entanto, na mais recente quebradeira mundial, os bancos voltaram a ficar em evidência. E não está adiantando nada o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, alardearem que o nosso sistema bancário é sólido e que não há risco de quebra ou de falta de crédito. Os bancos voltaram ser vilões, mais uma vez.

Esse pensamento é extremamente perigoso, pois traz de volta o perigo da ideologização das discussões econômicas em um momento delicado, que requer sangue frio, calma, cautela e muito rigor técnico.

O bordão “Bancos, deixem o país crescer”, é bonito e sonoro enquanto peça de marketing de uma época que já passou há muito tempo. É um bordão que soa datado em tempos de sindicatos e centrais sindicais buscando alternativas de financiamentos, novos discursos para atrair mais associados e principalmente novas idéias para ajudar a manter o ritmo crescente do nível de emprego.

Culpar os bancos pela falta de dinheiro no mercado é algo que pode ser injusto dependendo do ponto de vista.

A crise é global e a falta de crédito é generalizada.
Se o governo permite que haja mais dinheiro com os bancos – seja por conta da redução do compulsório que é necessário apresentar ao Banco Central ou por conta de qualquer outra medida de desoneração dos custos do dinheiro –, é claro que os bancos vão se preocupar em capitalizar suas operações antes de que o dinheiro chegue às empresas e aos consumidores.

Afinal, quando não há segurança institucional no mercado, o perigo do “efeito manada” – uma corrida de correntistas as bancos para retirar dinheiro, por exemplo – pode jogar no lixo qualquer tentativa de conter a crise. Afinal, nunca é bom esquecer, estamos lidando com bancos, instituições especialistas em sobrevivência e em ganhar dinheiro. E é bom que se diga, os bancos nada fizeram de ilegal até o momento.

A questão é mais complexa. Se o governo acertou ao permitir mais crédito à sociedade, por meio das ações do Banco Central, ainda peca pela falta de exigências para a sua concessão. As regras ainda estão frouxas, afinal, não bastam apenas discursos indignados do presidente da República sobre o dinheiro empacado nos guichês bancários.

A pressão tem de ser feita é nas ante-salas do Palácio do Planalto e nos corredores do Banco Central. Lula ameaçou rever a as medidas que foram tomadas para que houvesse mais crédito.

Em outras palavras, ameaçou retomar o dinheiro que deixou de ser recolhido ao Banco Central. Não surtiu efeito. Os bancos precisam ser efetivamente cobrados e fiscalizados, e não é o que está acontecendo.

Enquanto todo mundo fica embasbacado com a fusão entre o Itaú e o Unibanco, criando a maior instituição bancária do Hemisfério Sul, o crédito continua represado. Chutar porta de agência bancária não adianta nada.

A sociedade precisa cobrar uma ação mais efetiva dos deputados federais e dos senadores para que o dinheiro saia da toca. Infelizmente, os bancos não estão cometendo nenhuma ilegalidade na letra da lei, por isso eles precisam ser pressionados de forma mais incisiva pelo poder público.

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