quinta-feira, agosto 07, 2008

O repórter que morou nas ruas de São Paulo conta o que viu e o que viveu - parte 1

Eduardo Ribeiro
da coluna Jornalistas e Cia, do site Comunique-se


Ele perdeu tudo o que tinha na vida, inclusive a esperança de viver. Sofreu todos os tipos de humilhação, passou frio e fome, viveu da caridade organizada e nem tão filantrópica assim, perambulou por aí sem lenço e sem documento, tendo as ruas de São Paulo como moradia.

Mas viu muita coisa errada, outras um tanto suspeitas e foi testemunha de uma das ações mais calhordas que alguém minimamente comprometido com a integridade humana pode aceitar: o uso dos miseráveis para promover lavagem de dinheiro, a céu aberto, no centro de São Paulo, nas barbas da polícia.

Humilhado mas com o faro jornalístico apurado, ele também viu miseráveis serem usados como massa de manobra da igreja, que tem se valido do rebanho de desamparados para ter acesso a verbas públicas generosas e também para encorpar movimentos políticos com gente que sequer sabe o que está fazendo.

Rubens Ferreira Marujo, 57 anos, é seu nome e sua história já esteve aqui presente na coluna de 14 de maio, sob o título Sem lenço sem documento e a rua como moradia, que teve imensa repercussão.

Marujo deixou as ruas, mora hoje num pequeno apartamento no centro de São Paulo e após algumas semanas frilando para o Diário do Comércio foi contratado como repórter de Política para cobrir a temporada de eleições que vem por aí. Voltou a ser um cidadão. Ironia do destino, a história da qual foi personagem transformou-se em reportagens para o próprio DC.

As duas primeiras, publicadas respectivamente nas edições de segunda e terça-feira desta semana, estão reproduzidos na íntegra a seguir, autorizadas que foram pelo diretor de Redação do jornal, Moisés Rabinovici, e obviamente pelo autor.

Nelas Marujo conta o que viu e o que viveu, ao lado de centenas de outros moradores de rua, os quais, além do abandono da sorte, sofrem também com os ataques oportunistas de quem, por incrível que pareça, se propõe a tirar vantagem da miséria.

O título da primeira matéria é “Albergado é usado para lavar dinheiro”. A abertura destaca: “Só quem viveu um drama para saber relatá-lo com fidelidade. Durante três meses, o jornalista Rubens Marujo teve de viver em um albergue da Prefeitura.

Uma dura experiência de vida, que lhe trouxe uma visão crua, mas privilegiada da cidade e dos esquemas ilegais que perseguem albergados, desempregados e moradores de rua. Difícil imaginar que aquelas pessoas maltratadas que passam os dias sentadas nas escadarias do Teatro Municipal, no Centro de São Paulo, são usadas como laranjas num amplo esquema de lavagem de dinheiro.

Aliciadores agenciados por doleiros se aproveitam da fragilidade social, emocional e financeira de albergados para, com seus documentos, comprar dólares em casas de câmbio espalhadas por hotéis e shoppings. Por ceder seus documentos, os albergados recebem R$ 15. Tudo isso acontece à luz do dia, todos os dias.”

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