terça-feira, fevereiro 19, 2008

Pena que não passa no horário nobre

JÚLIO MARIA
do Jornal da Tarde

Quando a Globo quer, a Globo faz. A estréia de Queridos Amigos, na noite de segunda, foi uma mostra da potência dramatúrgica e técnica que a emissora se tornou, mas que, por razões comerciais, prefere ela mesma ignorar.
A história da turma que se conhece na década de 70 e que se reencontra dez anos depois, motivada por Léo (Dan Stulbach), tem tudo para atingir até o telespectador mais crítico. Sensibilidade sem pieguices. Diálogos sem correria. Emoção sem imposição. É a anti-novela das oito, que prende a audiência pela beleza de imagens e diálogos.
E aí vem a ‘maldição’ do Ibope. Queridos Amigos deu 22,6 pontos, bem abaixo da expectativa. Amazônia, de Gloria Perez, estreou com 34 pontos. JK, da mesma Maria Adelaide Amaral de Queridos, abriu com 39. Os jornalistas escrevem bem de Queridos Amigos em um parágrafo e colocam o fracasso de audiência logo abaixo. Estamos em uma enroscada. Assim como não pensamos em fazer jornal para nossos queridos amigos de redação, a Globo não deve pensar em fazer televisão para jornalistas.
Quando a qualidade sobe, a quantidade cai – é a lógica desde sempre. A Globo já aprendeu com fiascos do tipo A Pedra do Reino e criou em sua programação um sistema de cotas de produções de alto nível para agradar a um público que não é exatamente a massa.
Se quiser ver algo realmente bem escrito e bem filmado, o indivíduo terá de ficar acordado até umas 23h30, horário em que acaba o Big Brother Brasil e começa Queridos Amigos. Fazer o mesmo em horário nobre, jamais. A massa, verifica a Globo, não suportaria tanto refinamento.
O equívoco está na forma que vem o tal refinamento. A Pedra do Reino não pode ser usada como parâmetro para sustentar a teoria de que o povo não gosta de beleza. Aquilo foi uma aberração, um radicalismo prepotente que só quis esfregar o veja-o-que-podemos-fazer-na-TV na cara de quem cobra qualidade de uma emissora de televisão.
Queridos Amigos está em outro nível e nada irá resistir sobretudo à história que ela tem para contar. Com um ou 80 milhões de televisores ligados, o fato é que tem tudo para criar daquelas imagens que insistem em ficar na lembrança.

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