quarta-feira, março 29, 2006

Por que o Brasil não pode dar certo




Degeneração ética, cultural e educacional. Essas três pragas assolam a nação brasileira e vão impedi-la de ser um país civilizado e rico. O desenvolvimento está emperrado por conta das fragilidades de caráter do nosso povo. herança maldita da colonização portuguesa? Elite predatória típica de países colonizados que tinham muita riqueza qur foi parar nos cofres europeus?

Pode ser, pode não ser, mas o fato é que os países subdesenvolvidos, sobretudo os da América Latina, sofrem com a corrupção gereralizada, a pouca atenção à educação e com a cultura do individualismo extremo, que aumenta a distribução de desigual de renda. O trecho a seguir foi retirado da edição desta semana de Veja e resume bem o beco sem saída em que nos metemos:

"Na semana passada, o Ibope divulgou os resultados de um estudo intitulado "Corrupção na política: eleitor vítima ou cúmplice?". Duas mil pessoas foram entrevistadas ao longo do mês de janeiro, e as conclusões são incômodas. Quase 90% dos entrevistados declararam que os políticos brasileiros agem pensando apenas em seu próprio benefício, e 82% dizem que a classe política brasileira em geral é corrupta.

Para 95% dos entrevistados, superfaturar obras públicas ou desviar recursos do governo para fins próprios são práticas inaceitáveis, e 89% consideram o caixa dois igualmente inadmissível. As coisas se confundem na segunda parte do levantamento. De maneira abstrata, o brasileiro se acha melhor do que os políticos que o representam: 64% consideram que o povo, em geral, é honesto.

Ao mesmo tempo, 75% dos entrevistados admitiram que, se eleitos para um cargo público, poderiam "cair na tentação" de se locupletar. E 98% afirmaram que pessoas de suas relações já praticaram pelo menos um ato condenável – como pagar suborno para escapar de uma multa, apresentar atestados médicos falsos ou consumir produtos piratas. Os resultados da pesquisa revelam uma dicotomia: a população repudia firmemente a corrupção, mas comete e tolera desonestidades.


Constatações desse tipo não são propriamente uma novidade. As ciências sociais brasileiras têm uma longa tradição de análise desse paradoxo. No clássico Raízes do Brasil, de 1936, Sérgio Buarque de Holanda usou a expressão "homem cordial" para designar a tendência do brasileiro de se guiar sempre por princípios familiares e afetivos, mesmo no trato de questões que deveriam exigir uma postura distanciada e abstrata.

O antropólogo Roberto DaMatta retoma e atualiza esse raciocínio ao falar de uma "ética da casa", que coloca os interesses privados à frente de tudo o mais e só reconhece direitos a quem é parente, amigo ou companheiro. A implicação mais evidente dessa tendência a tratar o Estado como se fosse uma extensão da própria casa é o nepotismo.

Mas, em certa medida, a corrupção também é determinada por ela. O escritor argentino Jorge Luis Borges, em um ensaio irônico sobre seus compatriotas, deixou uma nota que poderia valer para o Brasil: "O Estado é impessoal; o argentino só concebe uma relação pessoal. Por isso, para ele, roubar dinheiro público não é crime".

A pesquisa do Ibope e argumentos desse tipo parecem dar razão aos que pensam que o público e o privado estão numa relação inextricavelmente doentia no Brasil. O antídoto contra o pessimismo é a história recente de conquistas institucionais do país. Contrariando o que disse Sérgio Buarque de Holanda numa das passagens mais amargas de Raízes do Brasil, a democracia já deixou de ser um mero "mal-entendido" no país.

Até as tradições do homem cordial vão sendo, aos poucos, derrotadas – o fim do nepotismo no Judiciário é um bom exemplo disso. Numa democracia, além disso, a idéia de que sociedade e governo são a mesma coisa não se sustenta. Ela pertence a outras realidades.

Não há argumento que permita desculpar as contravenções que os brasileiros cometem no dia-a-dia – muito menos o de que o mau exemplo vem de cima. Assim como os desmandos petistas, as sonegações, as trapaças e mesmo aqueles gestos que não são contra a lei, mas quebram a civilidade, são um atraso para o país. Mas imaginar que em algum momento futuro os dilemas éticos vão sumir é irreal. "

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