David Gilmour acústico
Cantando uma ária de "Os Pescadores de Pérolas (1863)", de Georges Bizet, e uma canção do lisérgico Syd Barret (ex-companheiro no Pink Floyd), além de uma composição nova, "Smile", está de volta aos palcos o grande guitarrista do Pink Floyd, David Gilmour. Há dez anos ele não fazia turnês-solo - mas acompanhou recentemente Paul McCartney no disco e na turnê "Run Devil Run" e nos shows no Cavern Club, em Liverpool.
Chega na próxima semana às lojas o DVD "Live at the Royal Festival Hall" (EMI/Capitol), registrando apresentações que Gilmour fez em Londres com uma banda semi-acústica, quase um unplugged. "Tenho prazer em dizer que não fui acometido do desejo de voltar a tocar em estádios", afirmou Gilmour ao jornal The Independent, dizendo-se satisfeito com o formato intimista dos concertos. Ele também disse que pretende excursionar com o novo show, mas não tem datas ainda fechadas.
Poucos guitarristas da história do rock conseguiram tirar um som tão distinto e personalizado do instrumento quanto Gilmour. E a sorte ainda ajudou: com apenas 20 anos, David Gilmour, até então modelo na França, foi convidado a entrar numa das maiores bandas de rock da história, o Pink Floyd.
No princípio, a banda seria um quinteto, já Syd Barrett, o guitarrista original, estava apresentando cada vez mais desequilíbrios psíquicos. Dois meses após entrar na banda, gilmour viu o amigo Barrett ser afastado do grupo (Gilmour estudou na faculdade com todos os membros do Floyd antes de partir, no final de 1965, para a França, onde trabalhou como modelo fotográfico).
O seu novo DVD, no entanto, não é um culto necrófilo ao som de seu supergrupo (que já foi definido no passado como "som espacial", pela megalomania de sua ambição). Ele decidiu reinventar aquela música com um conceito desplugado, camerístico escorado num coro gospel de nove cantores e violoncelo (Caroline Dale), contrabaixo acústico (Chucho Mechan) e piano (Michael Kamen).
Gilmour convidou apenas três pessoas para acompanhá-lo no concerto: o ex-parceiro de Pink Floyd, o tecladista Rick Wright, o cantor Bob Geldof (o ator principal do filme The Wall) e o organizador do festival, Robert Wyatt. Os dois últimos lêem a letra de canções em papéis, enquanto cantam.
"Essa é uma nova canção que escrevi e, se vocês estão pirateando, é melhor ligarem suas máquinas agora", avisou Gilmour, antes de cantar Smile pela primeira vez. Há muito tempo não apresentava uma nova canção e parecia aposentado.
O repertório é impecável. Ele abre com uma delicada apresentação de "Shine on You Crazy Diamond", do Pink Floyd, e depois canta "Terrapin". A primeira foi feita para Syd Barrett e a segunda é uma composição do próprio, do disco "Madcap Laughs" (1970).
Três solos inesquecíveis podem ser revistos pelos fãs do Pink Floyd de duas maneiras diferentes: em "Comfortably Numb", ele toca violão e guitarra no solo, assim como em "Wish You Were Here". Então, ele emenda outras do Floyd, como "Fat Old Sun" (de Atom Heart Mother, 1970) e "Coming back to Life" e "A Great Day for Freedom" (ambas de The Division Bell, 1994).
O parceiro do Pink Floyd, Rick Wright, entra e sai de cena sem nenhuma demonstração mais entusiasmada de afeto, apenas um cumprimento de cabeça entre ambos. Gilmour apresenta um a um o nome dos integrantes de sua banda, incluindo os cantores.
O músico troca os violões todo o tempo, buscando efeitos de eco e distorção em instrumentos diferentes. Em geral, há um certo clima flamenco no som. Quando canta "Je Croix Entendre Encore", ária da ópera "Os Pescadores de Pérolas", de Bizet, ele compõe uma delicada trama entre sua voz e o coro, entre violoncelo e contrabaixo.