Espaço coordenado pelo jornalista paulistano Marcelo Moreira para trocas de idéias, de preferência estapafúrdias, e preferencialmente sobre música, esportes, política e economia, com muita pretensão e indignação.
sexta-feira, novembro 09, 2012
Como destruir um grande jornal
sexta-feira, outubro 19, 2012
O lamento de um dinossauro
quarta-feira, outubro 17, 2012
A volta da censura, por Hélio Schwartsman*
sábado, outubro 13, 2012
Guerra suja e o risco à liberdade de expressão
quarta-feira, outubro 10, 2012
Politicamente correto e mediocridade elegem novo alvo: a crítica
sábado, outubro 06, 2012
“Mensalão”, hipocrisia e corrupção preservada
quarta-feira, outubro 03, 2012
Repórter da Folha é afastado após sofrer ameaças
quarta-feira, setembro 19, 2012
Analfabetismo histórico
sábado, setembro 01, 2012
Tendências/Debates: Verbos que não se ensinam
Jornalismo é um exercício basicamente simples, que depende da boa execução de apenas quatro verbos: saber ler, ouvir, ver e contar. Se alguém acha que ao menos um desses verbos (o ideal seria que fossem todos) pode ser ensinado em uma faculdade de jornalismo, deve mesmo ser a favor do diploma específico. Quem, como eu, duvida dessa possibilidade só pode ser contra. Eu sou.
Pegue-se o verbo ler, em ambos os sentidos, o mais primário, de alfabetização para compreender palavras escritas, e o mais nobre, o de gosto pela leitura. No primeiro caso, ou se aprende a ler na escola primária ou nunca mais, salvo raros casos de autodidatas.
No segundo, tampouco a faculdade pode ensinar o gosto pela leitura. Ou vem do berço ou se adquire nos primeiros tempos pós-alfabetização.
Como não creio que se possa escrever bem sem ler bastante, depender da faculdade de jornalismo para desenvolver esse gosto só fará o profissional chegar ao mercado de trabalho com um deficit talvez irreparável.
Alguma faculdade pode ensinar a ver? Ou a ouvir? Duvido.
Pode, sim, desenvolver o talento, de todo modo natural, para contar histórias. Mas qualquer faculdade pode fazê-lo, acho.
Pulemos da teoria para os fatos concretos. Ricardo Kotscho não fez faculdade de jornalismo. Nem qualquer outra, a não ser depois que já estava solidamente instalado na profissão. Nada disso o impediu de se tornar um dos melhores repórteres de todos os tempos no jornalismo brasileiro.
Se, quando eu lhe dei o primeiro emprego na chamada grande imprensa (no "Estadão"), já vigorasse a exigência do diploma, o jornalismo brasileiro teria perdido um imenso talento.
Se a obrigatoriedade do diploma valesse nos anos 1960, o jornalismo brasileiro teria ficado sem o gênio de Cláudio Abramo (1923-1987), que foi corresponsável pelas reformas que tornaram o "Estadão", primeiro, e a Folha, depois, os grandes jornais que são.
Abramo não tinha diploma algum. Não obstante, foi convidado pela USP para ministrar curso de aperfeiçoamento para estudantes de pós-graduação. Irônico, não?
Desconfio que boa parte das equipes com as quais Cláudio trabalhou tampouco tinha diploma de jornalista, o que não impediu que fizessem grandes jornais.
Esclareço, antes que alguém suspeite que estou advogando em causa própria, que eu, ao contrário de Kotscho e Abramo, tenho, sim, diploma específico, aliás o único. Mas garanto que aprendi mais, na prática, com gente como Kotscho, Abramo e tantos outros sem diploma do que na faculdade.
Um segundo ponto que me leva a ser contra o diploma específico é a evidência de que nem a mais perfeita faculdade de jornalismo do mundo pode ter um currículo que ensine a seus alunos todos os temas que, um dia ou outro, podem lhes cair sobre a cabeça. Não dá para ensinar agricultura e transportes, tênis e política, legislação e teatro --e por aí vai. Não dá.
Quem pensa em entrar para o jornalismo com um objetivo definido (jornalismo econômico, digamos) deve fazer economia e não jornalismo. Se tiver desenvolvido os quatro verbos-pilares (ver, ouvir, ler e contar), estará mais pronto para a profissão, na área específica, do que se fizer jornalismo.
Último ponto: não entro na discussão sobre a diferença entre profissões (medicina, engenharia, por exemplo) que, mal exercidas, podem matar, e aquelas (jornalismo) que não podem e, portanto, não precisam de diploma específico. Jornalismo pode matar, sim, mesmo que seja moralmente. Mas é de uma presunção absurda supor que só faculdades de jornalismo ensinam ética.
CLÓVIS ROSSI, 69 anos, 49 de profissão, é colunista da Folha. Formado em jornalismo, trabalhou também nos jornais "O Estado de S. Paulo" e "Jornal do Brasil". É autor dos livros "O que É Jornalismo" (editora Brasiliense) e "Enviado Especial" (Senac)
Tendências/Debates: Que jornalista é esse?
Dizem que o diploma é uma reserva de mercado. Não é. Jornalista vocacionado e com energia para enfrentar profissão tão estressante acaba achando emprego, seja qual for a forma de ingresso na profissão. Jornal sem jornalista nunca vai ter.
Assim, para o profissional, tanto faz ter lei de diploma ou não ter. Já para a nação...
É bom que jornalista tenha sólida formação --sim, com curso superior-- tanto quanto é bom que, para toda profissão, de funileiro a dentista, haja a melhor qualificação possível. Um país se faz com bons profissionais em todas as áreas. Malandragem e jeitinho podem ser engraçados, mas não levam a nada.
Quase 70% da população adulta no Brasil não consegue entender um texto de dez linhas. A universidade brasileira, que devia estar entre as dez melhores do mundo --coerente com nossa posição de 6ª ou 7ª maior economia-- não aparece nem entre as cem. Num país assim, tão atrasado e carente, ser contra escola de jornalismo, qualquer escola, é cinismo ou má intenção.
Argumento muito usado: o decreto que regulamentou a profissão é de 1969, no governo militar, sendo assim "entulho autoritário". Primeiro: a luta pela formação superior do jornalista vinha desde os anos 1930. Segundo: gato que nasce no forno é biscoito ou é gato? Seria o caso então de dinamitar Itaipu, a ponte Rio-Niterói e acabar com a fluoretação da água potável das cidades?
Existe um axioma no jornalismo: notícia deve ser feita com isenção, não envolve opinião de quem escreveu. Opinião o leitor encontra nos editoriais, nos colunistas, nos colaboradores (não jornalistas).
Em 2009, o STF acabou com o diploma --após 40 anos, com resultados tão bons que até mudaram a "paisagem" das redações, com a chegada (hoje hegêmonica) das mulheres, antes excluídas. A sentença foi tão inapropriada que, de certa forma, não "pegou": estudantes, professores, entidades, intelectuais e políticos iniciaram movimento para restabelecer a regulamentação pelo Congresso. Já passou pelo Senado, com mais de 90% dos votos dos presentes. Agora vai para a Câmara, onde deve também ser aprovada.
O STF confundiu liberdade de expressão com regras para exercício de uma profissão. Liberdade de expressão tem a ver com partidos políticos livres, as pessoas poderem se unir em sindicatos e associações, com a porta da Justiça aberta a todos. Nada a ver com requisitos para ingresso numa profissão, como de advogado, jornalista ou médico.
Antes do diploma, os integrantes de uma redação tinham origem em frustrados de outras profissões, estudantes sem rumo, boêmios, poetas (alguns finíssimos) e... braçais das empresas jornalísticas. O jovem entrava no jornal (ou TV) como faxineiro, boy, porteiro. Ia se enturmando, acabava jornalista --principalmente pela porta da fotografia, reportagem policial e esportiva.
Pesquisa de 1997 do Sindicato de São Paulo revelou a existência, a três anos do século 21, de 19 jornalistas sindicalizados --e analfabetos. Um contou sua história para um livro que escrevi: era "chapa" de caminhão, descarregava de madrugada pacotes de jornais. Tornou-se "colega" do motorista, aprendeu a fotografar, virou "jornalista". Dizia que nunca esteve numa escola.
É um perfil diferente do jornalista que veio com a escola de comunicações, com no mínimo 16 anos de estudo, sendo quatro na universidade (com todo aquele agito) e anos de inglês. Uma estrutura cultural e psicológica aparentemente mais forte do que a do ex-carregador de caminhão...
Qual jornalista é melhor para um país que quer um dia ser sério, desenvolvido?
JOSÉ HAMILTON RIBEIRO, 77 anos, 57 de profissão, é repórter do "Globo Rural" (TV Globo). Formado em jornalismo, trabalhou nas revistas "Realidade", "Quatro Rodas" e na Folha. É autor de "O Gosto da Guerra" (Objetiva) e "Jornalistas 37/97" (Imesp), entre outros
quarta-feira, agosto 29, 2012
Carta de Rodger Hodgson condenando o lançamento do DVD 'Paris'
“Queridos amigos,
Muitos de vocês têm me perguntado sobre o lançamento do DVD Paris, então eu gostaria de escrever diretamente para vocês sobre as últimas novidades. Infelizmente muitas leis, tanto legal quanto moral, foram quebradas e o DVD Paris agora está sendo lançado através de métodos ilegais e antiéticos.
Ele está agora nas mãos de advogados para resolver a disputa legal entre a editora e os rótulos (marcas). Eu não sei qual lado vai ganhar ainda, apesar de eu ter aprendido que na indústria da música geralmente são os advogados que têm a maior parte do rendimento, e não necessariamente aqueles que estão corretos.
O que a Eagle Rock, John, Bob e Dougie (que estão chamando-se de “Parceria Supertramp”), estão tentando fazer é tirar os nossos direitos legais como compositores. Legalmente, um rótulo (marca), precisa de aprovação dos compositores e dos editores para lançar esse tipo de material, e ao invés disso eles estão tentando algum mecanismo e dizendo que não precisam de licença para lançar o DVD.
Compositores têm direitos legais e mesmo assim na indústria da música, eles estão sendo roubados em todos os tipos de formas, e isso tudo torna as coisas ainda mais difíceis para os compositores. O que eles estão tentando fazer agora, alegando que podem tirar os direitos dos compositores e das editoras, pode fazer com que outros rótulos (marcas) façam a mesma coisa com outros compositores e editoras no futuro.
Um amigo meu que é advogado e também editor na indústria da música por mais de 40 anos, tendo trabalhado até no catálogo dos Beatles, disse para mim que nunca ouviu falar de alguém fazendo isso na indústria da música – um rótulo (marca) lançar um DVD sem a aprovação da editora de música e dos compositores. Toda esta questão é muito maior do que esse DVD. Eles não estão apenas tentando tirar os direitos de Rick e eu como compositores, estão também modificando as leis dos direitos autorais, dos compositores, no mundo todo.
Voltando para a primavera e verão de 2011, eu estava trabalhando com a Eagle Rock, em espírito de colaboração para o lançamento do DVD Paris. Eu passei por muitas e muitas horas de revisão para dar a minha opinião artística, e isso foi apenas no início de montar o DVD.
Havia muitas coisas que eu tinha me comprometido com eles, e ainda disse que eu daria a minha aprovação como compositor e outros direitos legais que eu tenho como um dos membros fundadores do Supertramp; eles concordaram por escrito e então eu nunca mais ouvi nada sobre isso.
No verão passado fomos informados de que o DVD foi arquivado devido a problemas de qualidade, verificados por Rick, e ele não aprovou o lançamento. Nós dissemos a Eagle Rock para não lançar o DVD até que tivessem a aprovação da editora musical que representa os compositores - então eu pensei que o projeto estava morto.
Depois de algumas semanas atrás, eu descobri que eles estavam trabalhando o tempo todo nesse DVD, secretamente pelas minhas costas, violando completamente o espírito de colaboração que tinham recebido de mim, até então.
A única razão de eu mesmo já ter recebido uma cópia desse DVD foi porque um fã me avisou sobre o lançamento desse DVD, e eu pedi para a Eagle Rock me enviar uma cópia.
Eu fiquei chocado ao receber o DVD completamente fabricado e produzido antes de eu ter visto o produto! Há toda uma montagem de fotos, materiais de bônus e encarte que eu nunca vi e nunca tive a oportunidade de opinar. Eles estão lançando um produto que supostamente representa todos os cinco de nós, e isso não é verdade. É representado apenas por três de nós.
Bob, John e Dougie estão declarando-se a Eagle Rock como a "Parceria Supertramp" e que o contrato é só entre os três e a Eagle Rock. Se você é um fã de Rick ou de Roger, ou ainda de ambos, então eu suponho que todos vocês vão concordar que isso não é correto; os três não são os compositores das músicas e não podem controlar o catálogo do Supertramp alegando que eu não tenho voz artística, e nem direitos de participar na criação de qualquer produto relacionado ao Supertramp, e mesmo assim ainda usam minhas atuações, minhas imagens e minhas canções.
Receber esse DVD todo embalado no último minuto, feriu a minha integridade. Eles não cumpriram os seus acordos e não honraram os meus direitos como compositor, músico e artista.
Por exemplo, eu queria que as canções fossem corrigidas em relação aos créditos dos compositores, para que fosse esclarecido quem compôs cada música. E, ao invés disso, eles foram tão longe que enterraram os compositores do publico. Não há nenhum crédito sendo dado aos compositores e aos editores na embalagem e no filme, entretanto, está sendo dado crédito aos comerciantes, a empresa de transporte rodoviário e qualquer um usando um terno de macaco. Eles não dando crédito aos compositores, dão a ilusão ao publico de que Supertramp, toda a banda, escreveu as canções, o que não é verdade.
E eles sabem o quanto é importante para eu ser reconhecido como compositor de minhas músicas. Essa é a única coisa que me ajudou a continuar com a minha carreira após o Supertramp.
Eu sei que os três vão dizer que estão fazendo isso para os fãs, mas isso não é o que realmente está ocorrendo. Se fosse realmente pensando nos fãs, eles saberiam que os fãs gostariam de ver os meus créditos no DVD. Isso tudo não é para os fãs ou sobre música. Este DVD é sobre um jogo de poder, é sobre dinheiro, controle, inveja e táticas de negócios escusos na indústria da música e eu não quero ter nada a ver com isso.
Particularmente, eu realmente estava envolvido nesse projeto, porque eu sei que muitos de vocês queriam um DVD daqueles concertos, quando eu estava com a banda (Supertramp). E eu espero que vocês compreendam que, embora eu sempre quis algo assim, eu não posso aprovar um produto que é criado com esse tipo de manipulação e fraude.
A outra razão que eu queria trabalhar no lançamento do DVD era para garantir que to...dos os cinco membros pudessem compartilhar suas experiências daquela turnê, e eu queria ter a certeza de que seria um produto da melhor qualidade possível. Infelizmente, eu também não posso endossar um DVD que tenha deficiências técnicas, imprecisões editoriais e má qualidade.
Então, eu não quero que nenhum fã seja enganado, e para aqueles que quiserem comprar o DVD, eu quero que saibam que esse DVD foi criado de uma maneira ilegal. A banda que você vê tocando no DVD não existe há mais de 30 anos.
Agora é tudo negócio, e parte da indústria da música tem crueldade e traição, assim como qualquer outra indústria pode ter. Essa é uma das razões que eu deixei de viver em Los Angeles e sair do negócio da música, todos aqueles anos atrás. Não é como eu quero viver a minha vida, e não é por isso que eu faço música.
Esta é uma das razões que agora eu estou mais feliz do que nunca, fazendo turnês, do que antigamente - não quero participar da indústria da música e de todas as partes feias do negócio.
Nenhuma gravadora me possui, nenhuma editora me possui, nenhum empresário me possui, nenhum agente me possui. Eu posso ficar fiel a mim mesmo e fazer tournês quando eu quiser, e como eu quiser. Eu posso tocar para 3.000 ou 85.000 pessoas em qualquer lugar. Eu não preciso mais tocar em arenas enormes, o importante é tocar música para ajudar a fazer as pessoas felizes, não importa o tamanho do publico.
Tornei-me um músico quando eu tinha 12 anos. É o que eu amo fazer e é o que eu sei fazer. E eu vou continuar por quanto tempo for possível a viajar pelo mundo, fazendo shows. Para mim, uma das coisas mais importantes como artista, é tocar música para a arte, para a magia que é possível com a música ajudando e elevando os espíritos das pessoas, abrindo seus corações para receber alguma cura e alívio de todos os problemas deste mundo.
Eu quero manter este DVD Paris separado daquilo que eu fui como artista durante todos estes anos, separado das minhas razões de fazer tournês e de tocar música. Eu sei que muitos de vocês queriam saber os meus pensamentos sobre o DVD Paris, de modo que é por isso que eu estou enviando este texto para os sites de fãs e você está convidado a deixar algum comentário lá nos sites.
Para algo mais positivo e edificante, você pode visitar o meu site do Facebook ou o meu livro de visitantes no meu website e ler algumas histórias realmente incríveis e emocionantes de fãs ao redor do mundo. Eu adoro muito todos vocês e estou plenamente ciente de que se não fosse por vocês amarem a minha música ou minhas canções, eu não estaria aqui realizando estas coisas. Ler as histórias e experiências que vocês escrevem sobre os meus shows é a minha inspiração.
Com amor,
Roger
P.S. Você também pode encontrar a minha agenda de turnê no meu website e na página de eventos no meu Facebook - espero que você possa se juntar a mim.”