sexta-feira, julho 01, 2011

Fim do Guitar Hero fecha uma porta de novos fãs para o rock


Texto de Décio Trujillo


O game Guitar Hero vai acabar. É uma pena, porque nos últimos anos ele tem sido uma porta de entrada de muita criança e adolescente para o mundo do rock, do blues e da boa guitarra. Antes de mais nada, vamos esclarecer que o game não ensina a tocar nem ajuda muito quem está aprendendo ou já sabe alguma coisa. É só um jogo mesmo.

Mas quando alguém fica horas brincando tendo ao fundo uma trilha sonora que inclui Deep Purple, Black Sabbath, The Who, Kiss, Judas Priest e por aí vai, vamos concordar que é uma forma muito especial de mergulhar no rock.

É verdade que a lista de músicas do jogo tem muita coisa duvidosa e bastante porcaria, mas testemunhei vários casos de garotos e garotas que viraram fãs de grandes bandas de tanto curtir o som enquanto jogavam. Também sei de gente que saiu do teclado do computador direto para uma escola de guitarra, inspirado no jogo. Na adrenalina do game, o jogador muitas vezes se sente no meio do concerto e em pouco tempo já mistura jogar com a curtição de tocar e cantar.

Além disso, na tensão de passar de fase, dá para perceber como o autor compôs a música e fez o arranjo, as dificuldades de cada solo, a sofisticação da criação.

Tocar nota por nota junto com Stevie Ray Vaughan, Eric Clapton ou Jimi Hendrix não é pouco e dá uma dimensão da complexidade de um solo de guitarra que a maioria das pessoas não compreende apenas ouvindo. Aliás, o game conseguiu a façanha de colocar nas paradas de sucesso dos jogadores um dos top ten de SRV, Texas Flood, para muita gente que não conhecia nem a música nem o cara.

O fim de Guitar Hero tem a ver com a estratégia de negócios da Activision, que quer investir em outras áreas. O sucessor do jogo, Rock Band, desenvolvido pela mesma Harmonix, que lançou Guitar Hero em 2005, não tem a mesma pegada, é mais uma brincadeira de grupo e não permite tão bem essa ligação entre quem está jogando e a música. E ele também tem futuro incerto. A versão 4, já prometida, não tem data para sair. Talvez nem saia.

Isso tudo é uma pena. Afinal, se você tem que conviver com bandos de adolescentes vidrados no monitor, é melhor que seja ouvindo Metallica ou Iron Maiden do que barulhinhos de tiros de laser e efeitos especiais de fantasmas desaparecendo na tela.

quarta-feira, junho 29, 2011

Decadência dos games musicais é mais um golpe contra o conteúdo musical


A porta de entrada para as coisas boas do rock, ou seja, para a música boa e de qualidade, também foi uma sobrevida para bandas e músicos na questão da remuneração por seu trabalho intelectual, situação que praticamente não existe mais em tempos de downloads.

Guitar Hero e Rock Band,os games de maior sucesso do mercado relacionados à música, mostraram que era possível ganhar dinheiro com o licenciamento de músicas por parte de artistas e gravadoras. Era só mais uma faceta da nova realidade de mercado da música digital. Na verdade, soa mais como consequência da venda de músicas para celulares e os chamados ringtones.

O declínio de vendas dos games musicais é ruim para o mercado como um todo. Tudo bem que ainda eram poucos os artistas que tiveram suas músicas executadas nos jogos para computador – alguns, como o Metallica (sempre eles) se recusaram no começo a permitir e licenciar seu trabalho para este segmento -, mas as possibilidades de remuneração pelo trabalho intelectual usado neste modelo era imensas e esperançosas. Mais gente tinha convição de seu trabalho poderia migrar para os games

Resta agora incentivar a disseminação de conteúdo pago – e de qualidade – digital para que o mercado se restabeleça e incentive a possibilidade de novos modelos de negócio que privilegiem (ou valorizem) o conteúdo musical, e não o destrua ou o entregue de graças a abutres.

Uma possibilidade bem concreta é a de desenvolvimento de programas e aplicativos que permitam a venda e execução de conteúdo legal musical para celulares, tablets e smartphones sem tantas restrições, como é o caso do iTunes.

O especialista da nossa equipe em convergência de novas mídias, Maurício Gaia, em breve vai discorrer sobre as novas possibilidades reais de artistas e gravadoras ganharem dinheiro com a venda e licenciamento de conteúdo músical legal e vai mostrar aos mais céticos, como eu, que existe sim futuro para o mercado musical no formato digital, desde que, é claro haja criatividade e investimento em tecnologia.

E apenas arrematando o interessante ponto de vista de Décio Trujillo a respeito do “fechamento” da porta de entrada para as crianças à música decente e de qualidade, como era o caso do Guitar Hero e do Rock Band, resgato aqui trechos de um texto do Jornal da Tarde de janeiro de 2010, de autoria do repórter Marco Bezzi. O personagem retratado é a maior evidência e o maior exemplo do que Trujullo narrou:

“ Com canções de clássicos do rock como Queen, Deep Purple, Motörhead e Cream, o jogo fez com que uma nova geração abrisse os ouvidos para velhas canções. Uma delas foi Spanish Castle Magic, de Jimi Hendrix.

“Conheci o jogo no shopping e pedi pro meu pai comprar. Depois de jogar por um ano e pirar no Jimi Hendrix, Joe Satriani e Slash meu pai me deu uma guitarra de presente há dois anos”, conta Bruno Ramos, de 9 anos.

Para conhecer mais o “novo” ídolo, Bruno foi atrás de suas composições e de vídeos no You Tube. “Baixei muitas músicas dele e sei tocar Spanish Castle Magic.”

Outro aficionado pela franquia Guitar Hero é o carioca Thomas Sampaio, de 11 anos. “Meu pai me comprou o jogo e eu viciei logo de cara”, fala Thomas. “Logo no primeiro dia ele me mostrou o Jimi Hendrix e eu achei muito legal. Comecei a assistir a DVDs, baixar música na internet, ler sobre sua vida.”

Thomas também trocou o instrumento de brincadeira pelo real. “Comecei a tocar violão e depois passei para a guitarra.” Hoje, tanto Thomas como Bruno sabem quem é Jimi Hendrix e sua importância para a música mundial. E pensar que a “culpada” de tudo isso foi uma simples guitarrinha de plástico.

domingo, junho 26, 2011

Seremos soterrados pela Legião Urbana em 2011


Quem gosta de boa música deve se preparar para um intenso bombardeio de poluição sonora a partir de maio. Várias organizações e fãs-clubes já preparam a partir do mês que vem uma série de homenagens a Renato Russo e à banda Legião Urbana, o combo mais superestimado da música brasileira – recuso-me a considerar o som deles como rock.

Em outubro fará 15 anos que o cantor morreu. Parte expressiva da crítica babenta e pouco crítica despejará sobre nós toneladas de porcaria sonora e impressa a respeito do “legado” deixado por Russo e suas letras pseudointelectuais. À medida que o ano avançará, ficará insuportável conviver na sociedade brasileira, que estará empesteada com a insuportável música da Legião Urbana.

De tudo aquilo que alguns resolveram chamar de rock brasileiro, de longe essa banda é a mais superestimada, e de longe é a mais fraca. Rivaliza em fragilidade artística e baixa qualidade musical com coisas como Inimigos do Rei, João Penca e seus Miquinhos Amestrados, Absyntho e outros menos votados.

Na comparação com grupos contemporâneos, o resultado é constrangedor em relação a Ira!, Golpe de Estado, Plebe Rude, Barão Vermelho, Titãs e Paralamas do Sucesso. Se forem mencionadas então bandas mais agressivas e extremas, como Garotos Podres, Ratos de Porão, Inocentes e Cólera, o constrangimento é ainda maior.

É evidente que não se pode ignorar que a Legião Urbana foi popular e conquistou um público cativo – que se contenta com muito pouco, é verdade, mas é um público fiel. É admirável a devoção ds apreciadores do grupo, de longe a banda (ou artista ) brasileiro mais cultuado.

A bem da verdade, muita coisa ruim já foi extremamente popular, como as mais “expressivas” bandas de axé e pagode, que venderam milhões de CDs e desapareceram com a mesma velocidade que surgiram. Portanto, esse é o pior dos critérios a serem considerados.

Só que o endeusamento de Russo e a elevação da Legião a “ícone” de uma geração é um dos maiores absurdos da música brasileira. Músicos fracos e pouco criativos, canções óbvias e letras pretensiosas e de conteúdo no mínimo questionável – nada que se pareça com on trabalho lírico de Cazuza, o melhor letrista do rock brasileiro da época.
E dá-lhe reedições de CDs, livros e quilômetros de reportagens vazias e repetitivas sobre a suposta genialidade de Renato Russo e a pretensa qualidade musical do trio.

E pensar que o Ira! teve de penas por 25 anos para obter algum reconhecimento, e que os ótimos Golpe de Estado, Garotos Podres e Inocentes se tornaram underground, quando não relegados ao ostracismo…