Espaço coordenado pelo jornalista paulistano Marcelo Moreira para trocas de idéias, de preferência estapafúrdias, e preferencialmente sobre música, esportes, política e economia, com muita pretensão e indignação.
sábado, junho 30, 2012
Lojas de música na rua: Eric Discos, Pops e Compact Blue, patrimônios de SP
Um labirinto de corredores, com prateleiras lotadas de vinis, e alguns móveis com tampa de vidro com os CDs importados mais cobiçados pelos moderninhos do fim dos anos 80 e primeira metade dos anos 90. Entrar na loja Eric Discos sempre foi uma viagem no tempo, mas também um mergulho maravilhoso na cultura ocidental. Os mais chegados podiam folhear livors de rock e de arte que ficavam no fundo da loja.
A Eric Discos sempre foi um personagem da zona oeste de São Paulo – e da própria metrópole em si, tanto que serviu de inspiração para o fime “Durval Discos”, filme de 2002 dirigido por Ana Muylaert e protagonizado pelo ótimo ator Ary França. A loja foi uma omissão imperdoável do texto “A luta de quem ainda consegue vender CDs e DVDs novos em lojas de rua”, publicado ontem neste Combate Rock. Ainda bem que pedi ao final do texto por indicações aos leitores de lojas que ainda existiam.
Eric e sua loja, em Pinheiros (FOTO E MONTAGEM: LEE SWAIN)
A loja continua lá, na rua Arthur de Azevedo, lá embaixo, no bairro de Pinheiros. Eric Crauford, um inglês nascido na China radicado há 40 anos em São Paulo, ainda comanda o navio e mais forte do que nunca. Sem nenhuma modéstia, se auto-intitula o rei do vinil na capital paulista – e não é que é verdade? Sem dúvida é um dos templos sagrados da música e da arte na cidade.
Desde sempre a loja foi especializada em vinis de todas as espessuras, em LPs de todos os gêneros. Dificuldade para achar alguma coisa no labirinto? Esse é umd os charmes do lugar, frequentado por grandes nomes da música nacional e internacional, além de parada obrigatória de turistas brasileiros e estrangeiros em busca de raridades.
As aparições da loja na mídia especializada e na imprensa em geral têm rareado de forma inexplicável, o que induz muita gente – e o Combate Rock – ao erro desagradável: será que a loja ainda existe, mesmo tem tempos de CD morrendo, gravadoras falindo e downloads desenfreados e ilegais?
Um dos maravilhosos labirintos da Eric Discos (FOTO: LEE SWAIN)
“Muita gente pensa que a loja fechou por conta de muita coisa que rolou nos últimos anos, mas principalmente porque fui obrigado a retirar a plca com o nome da loja por causa da Lei Cidade Limpa, da Prefeitura de São Paulo”, diz Walcir Chalas, a alma e o coração da Woodstock Discos, meca do rock e do heavy metal em São Paulo por três décadas.
A loja ainda está lá na rua Dr. Falcão, mas passou por modificações de foco de negócio e de decoração. Agorá é dedicada somente aos vinis. de todos os tipos e todos os matizes. Sem muita atenção da imprensa e meio escondida, como no caso da Woodstock, não é de se estranhar a dificuldade em lembrar da Eric Discos.
A falta de informações e a devastação promovida pela música digital ilegal acabou por ocultar no tempo outra casa de mísica importante na cidade, a Pops Discos, localizada em uma galeria da rua Teodoro Sampaio, também em Pinheiros, em meio a dezenas de lojas de instrumentos musicais.
O acervo já não é tão vasto, mas é possível encontrar ótimas coisas lá, especialmente em DVD. Outra coisa que sempre marcou a loja foi o bom atendimento e o conhecimento que os vendedores tinham sobre o catálogo e todos os gêneros.
Fachada da Pops Discos
E aí vai a dica do jornalista Fábio Fleury, o responsável pela rádio Unesp FM, de Bauru (SP), e prifundo conhecedor de MPB e jazz: a Compact Blue, que fica na rua Augusta.
Foi uma das primeiras lojas paulistanas especializadas em trilhas sonoras de fimes nacionais e estrangeiros, de além de manter desde os anos 90 um acervo incomparável de DVDs musicais e de filmes de arte. Outra omissão imperdoável, mas plenamente consertada por um dos leitores do Combate Rock.
Se algupem mais lembrar de lojas importantes que ainda existem, por favor, informem no espaço comentários abaixo do texto. A seguir, os endereços das lojas citadas neste texto e no de ontem:
Compact Blue – Rua Augusta, 1.371 – Jardins – São Paulo – http://www.compactblue.com.br/
Eric Discos – Rua Arthur de Azevedo, 1.813, Pinheiros, São Paulo – http://www.ericdiscos.com.br /
Musical Box – Rua Armando Penteado, 1 , Higienópolis – São Paulo – (11) 3825-6844 /
Woodstock Discos - Rua Dr. Falcão Filho, 155, Centro – São Paulo //
Rick and Roll - Rua Conde Francisco Matarazzo, nº 67 – sala 8 – centro, São Caetano - 11 3565 5900
Merci Discos – Av. Dr. Rudge Ramos, 17 – Rudge Ramos – São Bernardo – 11 4368-8569
Metal Discos – rua Dona Elisa Fláquer, 184 – centro, Santo André – 11 4436-5500.
Pops Discos – Rua Teodoro Sampaio, 763 – Loja: 4 - 11 3083 – 2564 – http://www.popsdiscos.com.br
Galeria do Rock – Av. São João, 439 – Centro – São Paulo – http://www.galeriadorock.com.br/blog/ - Lojas: Die Hard, Aqualung, Baratos Afins, Zeitgeist, Animal Records, Cactus, Hellion Records, entre outras.
Espaço Nova Barão – Galeria Nova Barão – R. Sete de Abril, 154, centro, São Paulo – Lojas: Big Papa Records, The Records, Art Rock, entre outras.
Music Shop – Shopping Eldorado – Av. Rebouças, 3.970 , Pinheiros, São Paulo – 11 38192246 e 11 38174835
quinta-feira, junho 28, 2012
O blues demolidor de Joe Bonamassa em São Paulo
Um nome pouco conhecido do blues no Brasil reuniu um público dos mais ecléticos o HSBC Brasil no último sábado. Em sua primeira passagem pelo país, o norte-americano Joe Bonamassa fez tudo aquilo que se esperava do nome mais importante e famoso do blues e do blues rock da atualidade: técnica, virtuosismo e muito entusiasmo.
Aos 35 anos, o guitar hero que também toca no supergrupo Black Country Communion ao lado de Glenn Hughes (ex-Deep Purple e Black Sabbath) provavelmente era mais novo do que metade da plateia que lotou o local.
Outra parte do era formado por músicos ávidos por escutar uma pegada forte e riffs bem construído, além de jovens em geral curiosos para ouvir esse discípulo direto de Stevie Ray Vaughan, Jimmy Page, Jeff Beck e Gary Moore.
Com um público majoritariamente masculino e ganho, Bonamassa não economizou nos riffs e no peso, para certa irritação de uma parcela significativa de mulheres.
Acompanhar esse tipo de show em mesas, como é de costume (infelizmente) em algumas casas em São Paulo, é o fim da picada, mas não impediu que o guitarrista e ótimo cantor fosse ovacionado durante quase todo o show, escorado por uma banda afiadíssima e extremamente competente.
Bonamassa está mais sóbrio e mais maduro, apesar do ritmo alucinante de shows e gravações que empreende desde 2006. A voz está bem melhor do que, por exemplo, no CD ao vivo “A New Day Yesterday Live”, gravado em 2001 e recém-lançado no Brasil pela Som Livre.
Enquanto tocava no Brasil, seu mais novo álbum, “Driving Towards the Daylight”, era lançado nos Estados Unidos e na Europa. E foi a maravilhsoa e emocionante faixa-título que abriu o bis dele, no fim da apresentação.
No mais, foi um desfile de hits de sua carreira solo, com ênfase nos álbuns “A New Day Yesterday”, “Black Rock”, “Sloe Gin” e “Dust Bowl” – este responsável pelos momentos de maior frenesi da plateia, com as músicas “Dust Bowl” e “Slow Train”, mais conhecidas porque o álbum foi lançado aqui no final de 2011.
Os momentos de maior peso ficaram por contra de uma excelente versão de “Blues Deluxe”, clássico imortalizado por Jeff Beck em 1967, com a ajuda de Rod Stewart nos vocais, e em um hard rock beirando o heavy metal, “Young Man Blues”, clássico do bluesman Moses Alison, mas que se tornou parte indissociável do rock por conta das poderosas versões de estúdio e ao vivo de The Who – versões que inspiraram a execução de Bonamassa.
Como workaholic assumido, ele não perdeu tempo com papinhos estéreis com a plateia ou brincadeirinhas. Foram duas horas de pauladas e do melhor blues que passou pela cidade de São Paulo nos últimos tempos.
Aparentemente o guitarrista gostou da recepção calorosa que teve por aqui e também no Rio de Janeiro, onde tocou em 31 de maio, dois dias antes. Em meio aos agradecimentos, disse que adorou a primeira vez no Brasil e que voltará em breve. Tomara.
segunda-feira, junho 25, 2012
John Entwistle, do Who, é o melhor baixista para a Rolling Stone
John Entwistle foi o primeiro baixista a fazer um solo em uma canção rock. ele nunca teve essa intenção, mas foi convencido pelo guitarrista Pete Townshend e pelo produtor Shel Talmy de que seria uma boa ideia brincar com isso naquele que se tornou o maior sucesso da carreira do Who, “My Generation”.
Em uma entrevista à rádio BBC, de Londres, duas décadas depois do lançamento do single – na Inglaterra, no fim de 1965 –, Talmy disse que o Who era uma banda instintiva, orgânica e furiosa, e que só percebeu o tamanho do som do baixo de Entwistle no estúdio.
“Eles tinham gravado ‘I Can’t Explain’ antes, além de ‘Zoot Suit’ como High Numbers, mas foi em ‘My Generation’ que o som alto e pesado de John preencheu a sala. Ele era um verdadeiro guitarra-base, com sua técnica apurada, precisão e velocidade. Era óbvio que seria natural aparecer um solo de baixo com o volume lá em cima. Townshend teve a mesma impressão na hora em que percebi isso”, disse o produtor.
Entwistle, apelidado de “Thunderfingers” (dedos de trovão), foi eleito neste mês pelos leitores da revista norte-americana Rolling Stone como o melhor baixista de todos os tempos no rock.
Talvez fosse desnecessária tal pesquisa, já que há muito tempo é consenso de que o baixista do Who ocupa tal posto. Se as listas de melhores vocalistas e bateristas de rock sempre são polêmicas, devido ao número elevado de candidatos, as de guitarristas e de baixistas sempre foram consideradas “barbadas”. Jimi Hendrix quase sempre liderou as de guitarristas, assim como Entwistle a de baixistas.
Formação original do Who: da esq. para a dir., Roger Daltrey, Keith Moon, John Entwistle e Pete Townshend
O instrumentista do Who sempre desdenhou de tal “título”. Com seu jeito quieto e discreto, sempre foi modesto ao analisar sua carreira. Fã de jazz e de rockabilly, costumava dizer que não conseguia encontrar algo de novo em seu trabalho. Nem sequer conseguia identificar um estilo, quanto mais afirmar ter criado um.
Quem desmitifica a questão é Glenn Tipton, guitarrista fundador do Judas Priest, amigo de Entwistle desde os anos 70 e que o teve como companheiro de banda em dois de seus trabalhos solo, “Baptizm of Fire”, de 1997, e “Edge of the World”, de 2003, creditado a Tipton, Entwistle and Powell (Cozy Powell, baterista fantástico morto em acidente de carro em 1998).
“Se é consenso que o heavy metal pode ter nascido a partir dos riffs de guitarra pesados de ‘You Really Got Me’, dos Kinks, o baixo pesado surgiu com Entwistle na mesma época. O som vibrante, gordo e intenso de seu baixo representava uma mudança de postura e de modo de encarar o instrumento. Em uma banda sem guitarra-base, o peso e a melodia que Entwistle imprimia ao som do Who era muito mais do que ritmo, era uma verdadeira base”, afirmou Tipton à revista Guitar World nos anos 2000.
Entwistle com sua pequena coleção em sua mansão na Inglaterra, em 1975
A versatilidade e a genialidade de Entwistle às vezes incomodava Roger Daltrey, o cantor do Who, no palco. Não foram poucas as vezes que o vocalista brincava, mas dando o recado, quando o baixista fazia algum riff em músicas que requeriam tal procedimento: “Para que tantas notas ao mesmo tempo, John?”, perguntava Daltrey, geralmente no começo ou no final de músicas como “Boris The Spider”, “My Wife” ou “The Quiet One”.
John Entwistle morreu em junho de 2002, em Las Vegas, às vésperas do início de mais uma turnê do Who pelos Estados Unidos. Tinha 57 anos e sofreu um ataque cardíaco após uma noite bebendo brandy (uma espécie de conhaque) e usando cocaína no hotel.
Os demais nomes da lista dos dez melhores baixistas da Rolling Stone mostram algumas surpresas, como Flea (Red HOt Chili Peppers) em segundo lugar, Les Claypool, do Primus, em quinto lugar, e o jazzista Jaco Pastorius, em sétimo lugar. Clique aqui e leia a reportagem original da revista norte-americana.
O baixista em show do Who nos Estados Unidos no ano de 2000
Ranking
1 – John Entwistle (The Who)
2 – Flea (Red Hot Chili Peppers)
3 – Paul McCartney (Beatles)
4 – Geddy Lee (Rush)
5 – Les Claypool (Primus)
6 – John Paul Jones (Led Zeppelin)
7 – Jaco Pastorius
8 – Jack Bruce (Cream)
9 – Cliff Burton (Metallica)
10 – Victor Wooten