sábado, julho 23, 2011

Pirataria é crime, mas quer virar partido político


O tema pirataria e downloads ilegais parece que está na moda, mas, infelizmente, cada vez mais atrai gente desqualificada e desclassificada para o debate.

Na verdade, as discussões sobre o assunto são completamente estéreis, já que debate-se sobre o nada: pirataria e os downloads ilegais avançam minuto a minuto e ninguém faz nada.

O governo federal e as polícias estaduais, a quem caberia fiscalizar e punir os infratores e criminosos, não o fazem. Na prática, pela omissão, o governo brasileiro já legalizou a pirataria.

Isso ocorre de forma deliberada, pelo menos desde 2002, quando o PT subiu ao poder com Luiz Inácio Lula da Silva, herdando uma estrutura viciada e caduca que caía aos pedaços já no governo anterior, de Fernando Henrique Cardoso. Mas uma coisa está mais do que clara: o governo do PT, deste que assumiu a Presidência, é, no mínimo, leniente em relação a todas as formas de pirataria.

E o pior é que já existe gente defendendo abertamente o crime e pensa em se beneficiar ainda mais disso. Interessante texto publicado na edição de 25 de abril do suplemento Folhateen, da Folha de S. Paulo, mostram que avança na Europa o Partido Pirata, já presente em 26 países. Uma sueca de 23 anos foi eleita como suplente deputada pelo partido ao Parlamento Europeu.

Aqui no Brasil existe um embrião do tal Partido Pirata, criado em 2007, mas ainda ínfimo e desconhecido. A plataforma política é totalmente estapafúrdia: legalizar os downloads de qualquer coisa na internet, lesando artistas de todas as espécies e cuspindo nos direitos autorais, entre outras bobagens.

Na França, por exemplo, pretendem derrubar no Parlamento a chamada lei Hadopi, que dá poderes ao governo desconectar, multar e até prender quem baixar arquivos ilegais na rede. Por enquanto estão muito longe do objetivo, e tomara que fiquem cada vez mais longe.

O que esses energúmenos que fazem parte do tal partido pregam é crime e incitação ao crime. Precisam ser processados e, de preferência, condenados.

Está claro que todos os que lidam com cultura e obras artísticas vão precisar encontrar meios de evitar a apropriação descontrolada de conteúdo digital ilegal. Afinal, está mais do que claro que hoje é impossível deter o avanço tecnológico que possibilita a disseminação da pirataria de forma indiscriminada, mas nem por isso devemos aceitar que a internet vire terra de ninguém.

quarta-feira, julho 20, 2011

No lugar errado, na hora errada. Será que vale a pena?


Bar novo e frequentado por roqueiros e apreciadores do blues. Nas telas de plasma, só o pior do soft rock nacional. Mas eis que surge Nando Reis, ex-Titãs, em algum programa da MTV nacional, na praia, para incomodar os presentes.

Acústico, anódino, insípido e incolor, sua música soa como ruído chato, até que alguém resolve prestar a atenção, na mesa ao lado, e consegue ver Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, fazendo uma “participação especial”, assim como viria depois outro chato do politicamente correto, Samuel Rosa, do Skank.

Os comentários radicais foram instantâneos: “Vendido”, “traíra”, “traidor”, “oportunista” foram os mais leves impropérios. Merecidos? Depende do nível de radicalismo. Seja como for, o fato de Kisser brincar de tocar violão em um “especial” de TV de Nando Reis incomodou, e ainda incomoda.

A conversa está fora de moda, em tempos nojentos e asquerosos do politicamente correto. De certa forma, o radicalismo é coisa do passado – e é bom que seja mesmo, principalmente na política brasileira, onde ainda existem remotas ameaças de grupelhos atrasados e medievais de extrema-esquerda de conseguirem passar suas “plataformas” estapafúrdias no governo Dilma Roussef.

No rock, o radicalismo, ao contrário, sempre foi saudável, pois é fundamental para manter certas coisas em seus devidos lugares e para chutar as cabeças de gente mimada que não tolera críticas aos seus artistas amados e insuportáveis – para não dizer péssimos. Talvez esse tenha sido o maior legado do movimento punk, especialmente o da vertente 1977.

Que Andreas Kisser é um arroz de festa em São Paulo não resta dúvida. Além de Nando Reis, já teve algum contato musical com seres tão díspares como Arnaldo Antunes e Júnior, o irmão da Sandy. Para os mais radicais, houve ainda a participação no CD solo de Hudson Cadorini, da dupla sertaneja horrenda Edson e Hudson – neste caso, críticas injustas, pois o CD solo do cidadão é totalmente hard e heavy.

Chamar o guitarrista do Sepultura de oportunista, no entanto, não é correto, já que ele nunca escondeu suas influências e jamais negou que gostaria de tocar com outros artistas. Seu primeiro álbum solo, “Hubris I and II”, é um exemplo claro de sua versatilidade, fazendo experimentações e passeando por estilos completamente opostos ao thrash metal de qualidade que sempre fez no Sepultura.

A questão que fica para fãs e críticos é a seguinte: o que acrescenta à carreira de Kisser tocar violão na praia com Nando Reis? Ou eventualmente tocar em algum show ou participar de álbum de algum artista de MPB?

Kisser integra um time de ponta do heavy metal internacional, ainda que não esteja mais no auge. Assim sendo, se a deia é ampliar horizontes, então que seja com gente do mesmo patamar técnico e criativo, que realmente possa acrescentar algo, como os amigos do Metallica e do Megadeth, como Lemmy, do Motorhead, ou o pessoal do cast da gravadora Roadrunner, que já se reuniu para várias jams e covers e eventos da empresa.

Kisser se rebaixa ao fazer concessões e participações inusitadas? Não usaria esse termo, até em respeito a ele e aos artistas que o convidam. Mas não dá para deixar o estranhamento de lado quando vejo alguém do porte de Andreas Kisser fazendo música pop insossa em um DVD de um músico que já foi roqueiro dos bons e que hoje prefere a MPB.

O guitarrista perde tempo com essas participações? Talvez sim, talvez não. Mas não consigo evitar a sensação de que há algo sendo despediçado. Não acho que chega ao ponto de macular a carreira de um dos instrumentistas mais respeitados do heavy metal internacional, ou de abalroar sua credibilidade.

Quando se fala de um artista deste porte, de qualidade inquestionável, é preciso se levar em conta suas ambições artísticas, por mais esquisitas que sejam – quem não se lembra de Kirk Hammett, guitarrista do Metallica, tocando e produzindo álbuns para artistas pop estapafúrdios nos anos 90?

Quem sabe se todo mundo não lucrasse mais com um “Hubris III” ou “Hubris IV”? Se a ideia é buscar horizontes e experiências diferentes, então seu trabalho solo está no caminho correto. Seria um “tropeço” ou um “deslize” quando Kisser resolve aceitar um convite como o de Nando Reis?

O radicalismo no rock continua sendo saudável, especialmente no metal. É um subgênero que faz questão de preservar a memória e as tradições. Certas intolerâncias são necessárias para que artistas consagrados jamais esqueçam seu legado.

Andreas Kisser jamais esquecerá o seu legado e a sua origem. O duro é er de ouvir os tais impropérios na mesa ao lado e, mesmo se eu quisesse, não ter argumentos para rebater depois de ver o guitarrista do Sepultura fazendo base no violão para as canções esquecíveis de Nando Reis…

domingo, julho 17, 2011

POr que o Rio continua sendo o túmulo do rock?


O Iron Maiden tinha acabado fazer um show debaixo de muita chuva no estacionamento do Anhembi, em São Paulo, para mais de 30 mil pessoas, em dezembro de 1998. Poucas pessoas sabiam, mas aqueles shows pela América do Sul eram a despedida do vocalista Blaze Bayley – nem ele mesmo sabia disso.

A banda voou para o Rio no dia seguinte, onde tocaria na enorme casa noturna que muda de nome a cada patrocinador (Claro Hall? ATL Hall? Imperator?). Foram colocados 10 mil ingressos à venda, mas nem 8 mil foram vendidos. O evento quase deu prejuízo aos produtores, que definiram ali mesmo: Iron no Rio novamente, só em festival, e olhe lá.

Um outro produtor de shows conhecido no mercado decretou algo que o músico Lobão sempre disse em relação à cidade do Rio de Janeiro: é o túmulo do rock. Nos últimos 15 anos, foram incontáveis as turnês internacionais que passaram pelo Brasil, com bandas de grande, médio e pequeno portes, e ignoraram o Rio. Quem insistiu, teve shows cancelados, como a excelente banda de thrash Death Angel, em outubro passado.

Até mesmo o Anvil, banda canadense que voltou à cena e a ter manchetes por conta de um maravilhoso documentário sobre a sua carreira, tocou em São Paulo e em Catanduva, mas ignorou o Rio. Os shows internacionais são cada vez mais esporádicos, e isso acontece há muito tempo.

E olha que 2010 nem foi tão ruim assim, com shows de gente como Manowar, Epica, Marduk e Blaze Bayley. O chato é que o público em todos os shows foi pequeno, muito aquém do esperado para atrações desse nível – parabéns para os heróis que promoveram esses eventos.

Para a grande sorte do roqueiro carioca, parece que o cenário rocker, que começou a ser ressuscitado no ano passado, promete retirar o gênero da tumba na terra do carnaval. Neste primeiro semestre tocam na cidade Ozzy Osbourne, Avenged Sevenfold, Doro Pesch, Tarja Turunen e D.R.I., entre outros. Será que serão suficientes para resgatar o interesse do público da cidade pelo rock? Acho difícil, mas a torcida será grande.

O chato é que bandas brasileiras de rock de nível internacional, como Angra, Korzus, Shaman, Krisiun e Hangar, tocam bem menos do que deveriam na cidade. Renato Tribuzy, vocalista e responsável pelo projeto Tribuzy, que gravaou CD e trouxe a São Paulo uma constelação de craques para um show – Ralf Scheepers, Bruce Dickinson, Kai Hansen e vários outros – é carioca, mas pouco se ouve falar de seus projetos na cidade.

Prejuízos

Por que o cidade natal do Rock in Rio despreza tanto o gênero quando ele resolve se manifestar fora do festival? Sobram teorias e explicações das mais diversas e contraditórias, mas o consenso está cada vez mais distante. Uma coisa é certa: produtores de shows de grande e médio portes, se puderem, fogem da cidade.

“O prejuízo é certo. Se não for um megaevento histórico, como Rush, Paul McCartney, U2, AC/DC, Rolling Stones, que vêm ao Brasil a cada cinco ou dez anos, esqueça o Rio. É mais garantido investir em Curitiba ou Porto Alegre, com um público cativo de rock. Até mesmo Belo Horizonte é mais interessante. Para shows de médio porte, o Rio perde até mesmo para Brasília, Goiânia e várias cidades do interior paulista”, diz um experiente produtor de nível internacional que atua no Brasil e na Argentina, mas que pediu para não ser identificado.

Ele evita perder tempo em procurar explicações. “Não faz diferença. Existe um fato: o carioca gosta menos de rock do que o paulista e o gaúcho, que são povos mais aficionados, e mais ligados na música internacional, mais curiosos com o que vem do exterior. Enquanto quase todos os shows de grande porte acabam tendo show extra em São Paulo, o memso evento raramente vende 70% 08 80% dos ingressos no Rio em local bem menor – isso quando o evento também é marcado para a cidade. A diferença é abissal.”

Rock sepultado

Lobão, carioca que se mudou para São Paulo em 2007, filosofa na hora de falar sobre o assunto, mesmo que em tom gerenalista. “O principal fator para eu sair do Rio foi ter sentido que a cidade perdeu o ’tom’ do rock’n roll. O cenário do rock e tudo que se refere ao gênero estão em São Paulo. Se São Paulo é o túmulo do samba, o Rio é o túmulo do rock”, afirmou à revista Quem em 2009 e ao Jornal da Tarde em 2010.

Eric Mattos tem quase 30 anos e já pasou por Curitiba antes de se estabelecer em São Paulo há sete anos. Deixou Niterói, onde nasceu e tocou em quase 20 bandas de metal e punk, para trabalhar com música e computação em outro lugar.

“Há roqueiro de monte no Rio e em Niterói, mas não há cena. Há é muita preguiça e falta de interesse. Cansei de tocar para 20 pessoas em boteco e praça na minha cidade, sabendo que todos os meus amigos preferiam estar na praia ou vendo jogo de futebol de várzea. Nem meus primos, que são todos roqueiros e tocam instrumentos, iam me ver tocar como eu ia vê-los. Chega uma hora que não dá”, diz o músico fluminense.

Em Curitiba não tocou profissionalmente, mas não perdia um show de rock aos finais de semana. “Dependendo da banda, tinha de implorar por um ingresso, de tão lotado que ficava. Tudo bem, nem eram tantos lugares assim com shows de rock, mas havia público para todos, até mesmo para os batidos covers de rock nacional. Em vários shows de bandas locais não consegui entrar no bar. Jamais vi isso em Niterói ou no Rio, onde existem bandas espetaculares, mas que não tocam mais”, afirma Mattos.

Em São Paulo, ele tenta conciliar o trabalho de programador com o de integrante da produção de vários shows internacionais. “Nem dá tempo para pensar. Há show de tudo quanto é tipo em São Paulo, as opções são tantas que fica difícil acompanhar. Claro que nem todos são um sucesso, há aqueles com pouco público, mas assim mesmo é vantajoso para quem trabalha nesta área, para quem investe. Não tem público hoje, mas tem amanhã. E as bandas locais conseguem ao menos levar uma galera para seus shows. As melhores bandas de Niterói nem sonham com uma cena dessas.”

Longe da perfeição, mas sem comparação

Claro nem tudo é a maravilha que se pensa em São Paulo, ao menos em relação aos shows menores. Não é por outro motivo que o vocalista Thiago Bianchi, do Shaman, divulgou dois manifestos recentes a respeito da dificuldade que bandas brasileiras de metal em geral encontram para tocar com regularidade, seja em São Paulo, seja no resto do país.

Os paulistanos do Kavla suaram bastante quando reformaram a banda, em 2005, para divulgar EP “Impersonal World”. Os santistas do Shadowside também tiveram de batalhar muito para conseguir tocar com regularidade em São Paulo entre 2006 e 2008. E assim caminha o esforço de quem faz rock de qualidade.

Os gaúchos do Holiness e do Hangar colhem agora o resultado de muito trabalho nos últimos três anos e têm conseguido um público considerado muito bom em shows em São Paulo, tanto na capital como interior, e no Paraná.

O Hangar até conseguiu um onibus de turnê de um patrocinador para levar seus “workshows” a vários lugares do Brasil. Lamentavelmente, as aparições das duas bandas no Rio são cada vez mais raras. “No Rio, só workshop mesmo do Aquiles Priester (bateria), e para poucas pessoas. Show ou workshow não dá para programar”, disse um produtor paulista de bandas nacionais, que também prefere o anonimato.

Resignação

O tema é tão incômodo que os músicos carioca de rock e metal evitam falar no assunto. Pelo menos quatro artistas – de quatro bandas diferentes - foram procurados pelo Combate Rock para falar sobre o assunto, mas, educadamente, se esquivaram. Um deles apenas comentou resignado: “Se para ir a show legal tenho de ir a São Paulo, imagina então esperar por público para a minha banda…”

Das muitas conversas que tive nos últimos tempos com amigos jornalistas cariocas, com produtores e músicos ainda em busca de um espaço no mercado, deu para fazer um pequeno apanhado de explicações esparsas sobre o pouco público roqueiro no Rio – e só para registrar, foram pouquíssimos os que discordaram da minha tese:

- O Rio historicamente é uma cidade com diversidade cultural muito grande, assim como Salvador e Recife. Há atrações culturais regionais e locais em grande quantidade. Haveria, então de certa forma, uma autossuficiência neste quesito;

- Assim como Salvador e Recife, o Rio é uma cidade que tem praia, o que por si só já é uma atração e tanto. Muita gente fica muito tempo na praia, que um local de diversão gratuito e com estrutura, seja ela qual for, barata, ou até mesmo gratuita. As pessoas procuram ali mesmo por diversões culturais com baixo custo. Isso explicaria, de certa forma, o “ecletismo” do carioca, que teria menos preconceito em relação a ir a um show de rock e também a um de pagode. A questão é de cunho financeiro;

- O cosmopolitismo do Rio de Janeiro, tão acentuado como o de São Paulo, não foi suficiente para abrir espaço grande para o rock, que encontrou uma sólida cultura arraigada de samba e pagode – e o funk carioca dos morros surgiu para acentuar eesa característica. Para complicar ainda mais, são todos segmentos culturais que, se não são de baixo custo, apresentam custos bem menores do que o rock.

- Um show internacional, por mais barato que custe, não sai por menos de R$ 50 no Rio. Por esse valor, o carioca médio assiste a pele menos cinco apresentações de artistas representativos de outros estilos – quando não esses eventos são gratuitos. Shows de metal de bandas brasileiras de qualidade não custam menos de R$ 30 o ingresso. As apresentações de bandas locais, por sua vez, têm dificuldade de concorrer com outras atrações de baixo custo, como ensaios de escola de samba ou rodas de samba em bairros importantes como Vila Isabel e Tijuca.

- Assim sendo, o ecletismo e a tolerância com várias manifestações culturais acabam prejudicando o rock. A cultura urbana do Rio, assim, teria sido direcionada culturalmente para valorizar as atrações locais e de baixo custo, enquanto que a cultura urbana paulistana, sem tantas opções “naturais”, abriu-se mais para o cosmopolitismo e para manifestações culturais estrangeiras com mais assiduidade.

Pode ser tudo isso ou nada isso, por mais que algumas explicações façam sentido. Ainda sigo em busca de uma explicação para o pouco caso com o rock na Cidade Maravilhosa. Alguém quer acrescentar algo?????????