sexta-feira, outubro 16, 2020

Nuno Mindelis no Bourbon Street

 Julio Maria - O Estado de S. Paulo


E Nuno Mindelis estava no palco, sete meses depois. Entre medo, saudade e protocolos, estar em uma plateia de pessoas que não assistiram a nenhum show desde que o mundo passou a sofrer a devastação provocada pelo vírus da incerteza se tornou uma experiência para a história. Histórica para a vida de cada um. Muitos dos que estavam em uma das mesas distanciadas na plateia do Bourbon Street na noite de quinta, 15, poderão não se lembrar do primeiro show que viram na vida mas todos se lembrarão do primeiro show que viram depois da quarentena.

Antes de sair de casa, algumas perguntas são e devem ser feitas por quem resolveu se cuidar e levar a pandemia a sério. Afinal, é hora de voltar a uma casa de show? Mesmo que eu me cuide, as pessoas que estarão a meu redor terão a mesma consciência? Vale a pena sair de casa para não tocar no outro e não cumprimentá-lo? 

A resposta mais honesta a cada uma delas talvez seja não, mas a reabertura traz um novo item no serviço para uma parcela da população à qual retomar alguma atividade cultural se tornou uma questão de sobrevivência: qual o nível de segurança essa casa pode me proporcionar?

A segurança. Não adianta mais ter uma boa cozinha, uma boa programação e garçons excelentes. Se o público não se sentir seguro, ele não voltará. Os empresários que quiserem retomar o faturamento que tinham antes da pandemia irão naufragar na ambição. Não é hora de ganhar, por mais necessário que o dinheiro seja para preencher o rombo dos últimos meses. 

É hora de reconquistar as plateias, convencê-las de que seu estabelecimento tem condições de recebê-las e de que elas não se sentirão agoniadas ao se virem trancadas em um ambiente insalubre. E uma dica: existe nesse momento uma plateia enorme, que por enquanto não pode ser enorme ao mesmo tempo e no mesmo lugar, querendo uma casa de shows para chamar de sua.

O Bourbon Street foi reformulado para reabrir suas portas com um show de Nuno Mindelis. Apesar de ter um espetáculo novo na manga, Angola Blues, aceitou o convite de Radesca para fazer uma noite em homenagem a BB King. Por uma razão justa. Foi BB King o homem que inaugurou a casa há 27 anos antes de voltar a ela por outras dez vezes. Havia um componente emocional extra a quem queria ouvir uma boa banda de blues ao vivo: ela iria orbitar, com a ajuda do guitarrista Tuco Marcondes, o repertório de BB King.

A entrada. Se antes era um ponto de passagem, ela se tornou um lugar de convencimento. É na entrada que nos convencemos a seguir adiante em nossos riscos ou darmos meia volta. Depois de passarem por um medidor de temperatura e pela estação de álcool gel, os clientes aguardam até que os anteriores sejam encaminhados às mesas. Por isso, é preciso chegar pelo menos meia hora antes do show.
O teto alto ajuda na sensação de respiro e o novo distanciamento das mesas são os primeiros sinais de boas vindas. Se até ali os clientes devem usar as máscaras, agora eles podem tirá-las, e aí está um momento em que entra o bom senso que não está em nenhum protocolo.

A máscara é o objeto com o qual o público precisa aprender a lidar. Ela não é desconfortável apenas quando se usa, mas também quando se tira em locais nos quais deverão ser recolocadas para falar com um garçom, receber um amigo na mesa, ir ao banheiro. As casas precisam pensar em um porta máscaras para, assim como o álcool gel, deixar em cada mesa. Um porta máscaras, como um mini cabide, evitaria que as pessoas tocassem nos tecidos ao guardá-los nas bolsas ou tentassem pendurá-las nas cadeiras, como fez esse repórter, deixando-a cair no chão. Ou isso ou oferecer máscaras descartáveis ao público.

A noite ficou mais curta, e isso também muda uma conduta. Para aproveitá-la, não dá mais para o público chegar atrasado nem o show não começar na hora. O de Nuno Mindelis começou antes das 20h30, um bom horário para que o palco estivesse vazio, como manda a lei, às 22h. Mas todos sabem o que se passa no final de um show de blues, com o dono da casa desesperado contra uma banda e uma plateia que não pretendem sair nunca mais dali. E isso piorou com a pandemia. Um fiscal pode arruinar um estabelecimento.

Quando a plateia está seguramente sentada, Nuno aparece. Ele confessa estar pegando no tranco depois de sete meses parado e talvez não consiga dimensionar a importância que terá, ele e sua banda, nos quase 120 minutos que seguirão. Cada solo, cada refrão, tudo pega como se as sensações estivessem sendo descobertas ali, pela primeira vez. 

Depois de sete meses à frente de lives frias e realmente distantes, estar a poucos metros do centro de um tornado criativo, com músicos se comunicando com os olhares e sorrindo uns aos outros, vale cada preço pago em cada pedágio de pandemia. Seu blues passa por cima dos medos e tem força para, pela primeira vez em sete meses, tirar as pessoas de um mundo contaminado por vírus visíveis e invisíveis e colocá-las em um lugar onde vale muito a pena estar vivo.

quinta-feira, setembro 03, 2020

Enquanto o novo site Combate Rock não vem...




No mês em que o Combate Rock, blog e programa de web rádio, completa dez anos de existência, a iniciativa informativa sobre música, reconhecida e respeitada no Brasil, prepara a transição para um novo ambiente depois de sete anos de produtiva parceria com o portal UOL.

O que era para ser um espaço pra discussões e "pancadarias diversas" sobre o mundo do rock evoluiu e cresceu. Tornou-se uma marca importante e um ambiente informativo relevante sobre o rock, além de muita opinião e reflexão.

Neste período de transição, desde o dia 10 de julho, o site www.mmoreirasp.blogspot.com serviu como apoio para a continuidade dos trabalhos do Combate Rock até que o novo site/ambiente ficasse pronto.

A criação desse blog no Blogger é uma maneira de resgatar a marca/domínio Combate Rock enquanto os trabalhos de elaboração do novo site não terminam.

Agradecemos imensamente a paciência e o apoio de sempre. Esperamos que seja muito breve a existência deste blog. Portanto, por enquanto, os textos do Combate Rock estarão sendo publicados aqui, em www.combaterock.blogspot.com.

Para os textos mais antigos, acesse www.combaterock.blogosfera.uol.com.br e www.mmoreirasp.blogspot.com.

terça-feira, setembro 01, 2020

Liberado trailer de documentário sobre a vida de Phil Lynott, do Thin Lizzy

Do site Roque Reverso




O canal oficial da Eagle Rock Entertainment liberou nesta quinta-feira, 20 de agosto, o trailer do documentário sobre a vida e a obra musical de Phil Lynott. O filme do saudoso líder, vocalista e baixista do lendário grupo Thin Lizzy está previsto para chegar aos cinemas entre setembro e dezembro de 2020.

O trailer foi liberado na data de aniversário de Lynott, que faria 71 anos em 2020, se não tivesse morrido precocemente, em 1986, anos 36 anos.

Com direção de Emer Reynolds, o documentário “Phil Lynott: Songs For While I’m Away” traz a história de como um jovem negro irlandês da classe trabalhadora de Dublin dos anos 1950 se transformou numa estrela do rock no seu país e no mundo.

Além de depoimentos de parceiros da banda, o documentário traz os de outras figuras importantes do rock, como James Hetfield, do Metallica, Adam Clayton, do U2, Huey Lewis e Suzi Quatro.

“Como vocalista do Thin Lizzy, Phil Lynott era um compositor, um poeta, um sonhador, um homem selvagem. Contado extensivamente por meio das palavras do próprio Phil e com foco em algumas de suas canções icônicas, o filme chega ao coração de Philip, o pai, o marido, o amigo, o filho, o ícone do rock, o poeta e o sonhador”, diz a sinopse do filme apresentada pela Eagle Rock Entertainment.

Até o momento, não há informação sobre quando e se o documentário estará nos filmes brasileiros, mas a importância de Lynott não deve deixar a película passar batida por aqui.

Notas roqueiras: Föxx Salema, Overdose Nuclear, The Cribs...




- A vocalista Föxx Salema confirmou participação na primeira edição do festival online “O Rock de Equinócio”, que será realizado no dia 19/09 no canal do Youtube do apresentador Willba Dissidente. A ideia do evento é levantar recursos para ajudar os animais em situação de rua da cidade de Varginha/MG, e quem fizer doações durante o evento, participará de um sorteio de brindes cedidos pelo comércio da cidade. Serão nove bandas brasileiras e uma estrangeira, com apresentações pré-gravadas. Cada banda participará com até quatro composições próprias, e durante o evento serão pedidas doações para a 3ª Proteção Animal. Ao lado de Föxx Salema estarão as bandas Violator, Gueppardo, Hellway Patrol, Corpse Grinder, Carro Bomba, Comando Etílico, Gore War, New Democracy e o Blind Illusion, dos EUA. Para assistir o evento, que terá início às 21:30h, basta acessar o canal https://www.youtube.com/user/willbadissidente.

A banda Overdose Nuclear, de Ubatuba (SP), será a única banda brasileira presente na segunda edição do festival online “Pandemic Terror Fest”, que será realizado no dia 29 de agosto, a partir das 22h. Organizado pela Living Metal Producciones, o evento contará ainda com as seguintes bandas (confirmadas até o momento): Evilution (Colômbia), Next (México), War Kabinett (México), 4Estigma (Chile), GuerraSanta (Argetina), Savanth (México), Derian (Venezuela), Halcón 7 (México) e Atavi (Colômbia). Será a terceira aparição em festivais online da banda, que já participou do Roadie Crew Online Festival e do Metal com Batata Stay Home Festival. 
Para mais informações sobre o festival, acesse https://www.facebook.com/LivingMetal

The Cribs estão de volta em grande forma, anunciando seu oitavo álbum, Night Network. Previsto para ser lançado via Sonic Blew / [PIAS] na sexta-feira, 13 de novembro de 2020, o álbum de 12 faixas auto-produzido foi gravado no Foo Fighters Studio 606 em Los Angeles na primavera / verão de 2019. O anúncio do álbum é comemorado com o lançamento do clipe da faixa principal "Running Into You" - co-dirigido por Andy Knowles e Nick Scott e apresentando o aclamado ator Sam Riley.
Assista aqui

The Jam, um corpo estranho dentro do tumulto punk dos anos 70

Marcelo Moreira

Bem no meio do caminho entre a podreira dos Sex Pistols, a virulência do Clash e da nostalgia veloz dos Ramones havia uma banda que celebrava a cultura mod e, de certa forma, o modo de vida típico da Inglaterra, em plena era punk.

The Jam era o trio londrino que queria fazer barulho, mas mesclando as influências sessentistas que rescendiam a The Who, Small Faces e Kinks. E os três moleques decidiram que confrontariam a violência sonora e comportamental resgatando a cultura mod. Essa ousadia está completando 45 anos da guinada definitiva para o mundo do rock profissional.

Foi um tiro certeiro e que deu muito certo logo logo, com uma chuva de convites para gravar o primeiro álbum já em 1977.

E o mundo mod ressurgiu das cinzas, chegando a inspirar a produção de um filme, "Quadrophenia", em 1979, baseado na obra homônima do Who, de 1973 - dependendo do humor do dia, o guitarrista do Who, Pete Townshend, admite que isso realmente ajudou na decisão de fazer e continuar o filme após a morte do baterista Keith Moon.

A mente brilhante que impulsionou o trio é o guitarrista e vocalista Paul Weller, um garoto nostálgico metido a intelectual que tinha muito talento para compor e para (re)criar fraseados que eram puro "Swinging London" (Londres fervilhante e moderninha, como a capital inglesa ficou conhecida nos anos 60 por conta da efervescência cultural).

Em 1975, The Jam já parecia uma boa ideia, ainda que os Ramones possam ter jogando um pouco de água fria com seu som acelerado, veloz e cheirando a nostalgia sessentista pura.

Quando os punks tomaram conta da vida e das paradas, o trio de moleques de 20 anos já tinha muita coisa para mostrar, soando completamente diferente do que Siouxsie and the Banshees, Buzzcocks, Sham 69 e toda uma série de bandas importantes, mas eminentemente punks.

As composições eram diferentes, os temas diferentes e as guitarras eram diferentes. Mas, sobretudo, a atitude era diferente, o que irritava muito os punks raiz, digamos assim.

Weller e seus colegas assumiam claramente que queriam ser pop, mas tinham audácia e peito para navegar dentro do maremoto punk. Mais ainda: ofereciam um caminho que só mais tarde o Clash e outras bandas britânicas enxergariam para além do movimento punk.

A história da formação do grupo, aliás, guarda pouca semelhança com o surgimento de outros nomes fortes da cena punk britânica. Se o "do it yourself" (faça você mesmo) imperava, com muitos moleques sem saber tocar direito, no caso de The Jam era diferente.

Inicialmente um quarteto no colégio, o grupo não tinha cara definida no alto dos 14 anos, em média, de seus integrantes, em 1972. Weller era apenas o vocalista que se aventurava no violão ao lado de Bruce Foxton (baixo), Rick Buckller (bateria) e Steve Brookes (guitarra).

Não houve muito progresso no início e as expectativas continuaram baixas até que Brookes foi cuidar da vida, perdendo o interesse. Nem houve tempo para procurar um guitarrista, já que Weller se apresentou e surpreendeu a todos com sua pegada á la Pete Townshend.

Já era 1975, quando o trio finalmente decidiu abraçar o rock e se tornar um ícone do punkl sem ser realmente punk.

Em 1977 o Jam assinou um contrato com a Polydor Records e lançou seu primeiro compacto, "In The City", seguido por um álbum homônimo, que misturava influências mod e punk com as composições de Weller e versões de clássicos do R&B.

O álbum seguinte, do mesmo ano, foi "This Is a Modern World", que divide com "Setting Sons", o quarto álbum, de 1979, a primazia de ser o melhor dos seis discos de estúdio.

Havia a urgência do punk, mas a canção era privilegiada, assim como os arranjos de guitarra e de cordas, tudo sob a regência de Paul Weller

Gigantes na Inglaterra, a ponto de escorregarem para fora do punk, The Jam foi menosprezado nos Estados Unidos, em um processo parecido com o que ocorreu com os Kinks, amados na Europa e quase ignorados na América.

Com a idolatria, o hoje sempre sereno Weller ganhou fama de temperamental e de metido a intelectual. Com o punk morrendo em 1980 e as bandas procurando alternativas para sobreviver, o líder do Jam mostrava o caminho em entrevistas ousadas e, de certa forma, proféticas.

Tudo indicava que The Jam daria o seu grande salto em 1982 para liderar a nascente new wave, surgida dos escombros do punk. Só que Weller queria mais e se julgava um artista que estava limitado ao rock no seu trio.

Era o auge da banda em seus cinco anos de sucesso, ninguém entendeu quando o guitarrista decidiu que bastava: saiu da banda, deu um jeito de evitar que fosse substituído e enterrou The Jam para sempre - nunca houve uma reunião, nem festiva, entre os integrantes.

As ambições intelectuais de Weller o levaram para o jazz e para a formação de um duo, Style Council, em 1984, ao lado do baterista Mick Talbot, uma iniciativa das mais felizes, liderando um movimento que tinha artistas como Matt Bianco, Cocteau Twins (no começo), Everything But the Girl, entre outros.

O jazz pop da dupla deu certo e conquistou um público enorme na Europa, mas o sucesso mesmo nos Estados Unidos só viria a partir de 1992, com Weller em carreira solo. Seu último trabalho é deste ano, "On Sunset", uma coleção de canções sofisticadas e elegantes que variam do folk ao pop melódico.

Bruce Foxton, desnorteado, tento desistiu depois de contendas com Wellerasu manter o Jam, mas desistiu depois de contendas com Weller.

Trabalhou com vários artistas underground nos anos 80 e ensaiou uma banda com Simon Townshend, irmão de Pete, o Casbah Club que fracassou.

Hoje se dedica ao From the Jam, uma espécie de banda tributo ao jam (ou a ele mesmo), nos moldes do Call the Police, que Andy Summers, do Police fez com músicos brasileiros para tocar as canções de sua ex-banda.

Já Rick Buckler atuou por algum tempo no underground, mas sem sucesso, optando por se retirar da vida pública há muitos anos.



segunda-feira, agosto 31, 2020

Bon Jovi retrata a pandemia e conforta fãs em clipe da música ‘Do What You Can’

Do site Roque Reverso

Jon Bon Jovi (FOTO: DIVULGAÇÃO)
O Bon Jovi é mais uma banda que retratou a pandemia de covid-19 no planeta em canção e clipe. O grupo norte-americano liberou o clipe da faixa “Do What You Can”, que estará no novo álbum da banda previsto para o dia 2 de outubro.

Filmado nas ruas de Nova York, o clipe traz o líder e vocalista da banda, Jon Bon Jovi, passando por vários locais da cidade, que foi uma das que mais sofreu com a pandemia em todo o planeta.

Em vários momentos, de máscara, Jon Bon Jovi participa de várias cenas que são bastante familiares para pessoas do mundo inteiro: de locais importantes fechados, de pessoas isoladas e distantes de parentes e amigos amados, de regiões paradas e também de trabalhadores que continuam seus serviços imprescindíveis para que outras pessoas permaneçam mantendo suas vidas.

É um clipe que traz, ao mesmo tempo, a inevitável tristeza pelo período que só os insensíveis e negacionistas não enxergam, mas também uma mensagem de conforto e força aos fãs.

Denominado “Bon Jovi 2020”, o disco novo do Bon Jovi seria lançado oficialmente no dia 15 de maio. Entretanto, a pandemia do novo coronavírus atrasou o lançamento.

A produção do álbum é da dupla John Shanks e Jon Bon Jovi, que vem sendo a responsável pelos discos mais recentes da banda.

O novo trabalho é 15º disco de estúdio do Bon Jovi e ainda o segundo sem qualquer contribuição do guitarrista Richie Sambora, que saiu do grupo em 2013.

“Bon Jovi 2020” sucederá o álbum “This House Is Not For Sale”, que foi lançado em 2016, gerou vários clipes e contou com boa repercussão dos fãs.

O disco novo terá 10 músicas e já está disponível para venda nos formatos digital, vinil e CD.

Outra amostra do disco foi a música “Limitless”, que ganhou clipe no fim de fevereiro. A faixa “American Reckoning” também ganhou um lyric video.

Especificamente em relação à letra da música, ela foi feita por Jon Bon Jovi, mas contou com a colaboração de fãs, por meio de ação em redes sociais. Ele pediu para que os fãs escrevessem algum verso e contassem as suas histórias.

Por meio da hashtag #DoWhatYouCan, a banda foi recebendo milhares de trechos dos fãs.

“A letra de ‘Do What You Can’ conta uma história comovente”, diz o texto que acompanha a apresentação do vídeo no site da banda. “Enquanto a pandemia fechava a cidade de Nova York, Jon saiu às ruas com uma máscara nas mãos para o relato de uma testemunha ocular da resiliência e força das pessoas comuns que enfrentam uma crise que o mundo nunca viu em nossas vidas.”

Lista extensa

A bela ação do Bon Jovi incrementa uma extensa lista de representantes do rock com músicas e clipes ligados ou influenciados pela pandemia. Bono, do U2, foi um dos primeiros, com a música “Let Your Love Be Known”.

Depois dele, os Rolling Stones trouxeram um clipe para a música “Living In A Ghost Town”. A faixa também veio acompanhada de um clipe que mostra cidades vazias do planeta.

Na sequência, foi a vez do Evanescence, com a música “Wasted on You”, que ganhou um clipe emocionante, retratando os músicos em suas respectivas casas, durante o isolamento social imposto pelo cenário de pandemia.

Ainda na lista, o Ministry lançou a música “Alert Level”, na qual a banda pediu para que os fãs respondesse sobre o atual nível de preocupação.

O Scorpions também lançou no dia 28 de abril o clipe da música “Sign of Hope”. A bela e inédita balada traz uma mensagem de conforto aos fãs em época de isolamento social motivado pela pandemia do novo coronavírus.

No caso do Metallica, a banda liberou uma versão acústica da música “Blackened”, clássico do heavy metal.

O Weezer, por sua vez, lançou no dia 6 de maio o clipe da música inédita “Hero” com um clipe no qual o grupo faz uma homenagem aos profissionais essenciais na pandemia.

Também o lendário Alice Cooper ressurgiu com o lançamento de uma música. “Don’t Give Up” também é mais uma mensagem de apoio e conforto a fãs.

Aqui no Brasil, a cantora Pitty também contribuiu com o lançamento do clipe da música “Submersa”, no qual ela concebeu e filmou todo material com objetos cotidianos que se relacionam com a letra da canção.

Emoção

Reconhecido por vários trabalhos de filantrópicos e famoso por ter se empenhado na ajuda a várias pessoas nesta pandemia, Jon Bon Jovi relatou sua emoção com o clipe.

“Gravar um vídeo em ruas quase vazias de Manhattan em meio a uma crise global realmente contou a história de “Faça o que puder” do lugar onde eu o vivi. E eu sei que aquelas ruas vazias se parecem com tantas partes da América lutando contra esta pandemia”, destacou Jon. “Mas a história dos heróis do dia-a-dia mostrando uma coragem incrível foi inspiradora de ver e o vídeo, assim como a música, tem muita esperança também.”

Notas roqueiras: Apokrisis, Thiago Bianchi, Fighter...




- A banda de progressive death/thrash metal paulistana Aprokrisis lançou hoje o single "Absinthe From The Gods", primeiro single extraído do vindouro álbum de estreia, "Misanthropy", com data prevista de lançamento para o final desse ano. Confira "Absinthe From The Gods" em:
https://youtu.be/UI6zKla5NLs. "Absinthe From The Gods" foi composta por Rodrigo Sanner, Evandro Bezerra, Emerson Soares, Alexandre Tamarossi e Thiago Schulze, com letras por Rodrigo Sanner e capa por Emerson Soares.

- O próximo programa do respeitado talk show “Bom dia! Com Rock e Filosofia!” será muito especial. No dia 19 de agosto, às 10h, no YouTube da rádio Kiss FM, o apresentador Thiago Bianchi (Noturnall/ex-Shaman) convida o historiador Leandro Karnal e o guitarrista Rafael Bittencourt (Angra). O programa é apresentado no canal do YouTube da Kiss FM, no formato LIVE, todas as quartas-feiras, à partir das 10h, com presença ao vivo de vários convidados. Em São Paulo, a Kiss FM está em 92,5 FM. Acompanhe o talk show em https://www.youtube.com/user/RadioKissFMoficial. Até aqui já passaram convidado scomo Mário Sérgio Cortella (Historiador), Kiko Loureiro (Megadeth), Henrique Fogaça (Cheff de Cozinha e Músico), Luís Mariutti (Shaman), Edu Falaschi (Ex-Angra) e Eduardo Marinho (Artista de Rua).

- A banda gaúcha Fighter está lançando um vídeo clipe para o single “Arte da Guerra”, também disponível nas plataformas digitais. O lançamento da faixa inédita em diversos formatos complementa uma divulgação paralela aos vídeos do álbum ao vivo "VII (Live Session)”, onde a banda lança, a cada mês, um vídeo com uma música diferente, presente no registro em formato “Live Session”.

Black Sabbath em ritmo de jazz, uma ideia que deu certo

Marcelo Moreira

A campanha de marketing foi ridícula, mas não afetou o produto final. E então as músicas do Black Sabbath, considerado o inventor do heavy metal, viraram jazz ao comando do excelente pianista e tecladista Adam Wakeman.

Integrante mais novo do clã britânico especializado nas teclas, Wakeman, filho de Rick (ex-Yes) e irmão de Oliver, acompanhou a banda e também Ozzy Osbourne em sua carreira solo por muitos anos. Mais do que familiarizado, tem verdadeira obsessão pelo repertório do quarteto de Birmingham.

"Jazz Sabbath", o nome do CD lançado recentemente e, aparentemente, nome do projeto, tinha tudo para dar errado. O próprio Ozzy reclamou bastante, certa vez, de várias passagens jazzísticas no álbum "Never Say Die", de 1978, o seu último com a banda antes da volta, em 1996.

Entretanto, o álbum funciona se for encarado estritamente como um álbum de jazz. Esqueça que são músicas do Black Sabbath, já que ops arranjos da banda que o gravou quase que eliminam as similaridades, digamos assim. Conservaram as bases, mas os arranjos são muito interessantes.




É antiga ainda é a tradição de pegar clássicos roqueiros e transformá-los em jazz. Vem dos anos 70 essa "mania", especialmente, com canções dos Beatles e Rolling Stones.

Neste século, temos os magistrais trabalhos de Alx Skolnick Trio (projeto do guitarrista do Testament) e do Crimson Jazz Trio (que recria temas do King Crimson), para não falar em trabalhos maravilhosos no Brasil, como o Moda de Rock (clássicos transpostos para a viola caipira) e o último álbum do pianista e tecladista Ari Borger.

O marketing ruim quase estraga a boa iniciativa. No texto distribuído à imprensa, acompanhado de um pequeno vídeo supostamente sério, com entrevistas com músicos importantes, os "produtores" falam de um músico genial que teria composto um álbum em 1968 e 1969, mas que teria sido engavetado pela gravadora enquanto se recuperava de uma doença prolongada.

Recuperado, descobriu que sua gravadora não existia mais, que o dono da empresa estava preso e que o depósito onde as fitas das gravações estava pegou foto, queimando tudo.

No final do ano passado, as tais fitas teriam sido achadas num canto em um porão qualquer e o músico autor, Milton Keanes, um pianista, teria conseguido apoio para editar o material e finalmente "desmascarar" os charlatões que teriam roubado suas músicas e as transformado em rock pesado. Tudo piada, mas sem muita graça.

"Iron Man", clássico dos clássicos, tem uma performance excelente de Adam Wakeman, que fez arranjos criativos ao lado de uma banda de apoio, na segunda parte da música, afiadíssima e mostrando um jogo de cintura contagiante. É outra música.

"Rat Salad", tema instrumental por natureza, foi a música que mais se adaptou ao projeto e ganhou "novos riffs", digamos assim, onde piano e instrumentos de sopros fazem duelos memoráveis.

Assombrosa, no entanto, é a versão de "Children of the Grave", uma daquelas canões que simbolizam o peso o do heavy metal, com os riffs do baixo tenebrosos e uma guitarra que costuma demolir as paredes. 

Em "Jazz Sabbath" ela se transforma um uma verdadeira suíte, com passagens intrincadas e uma miríade de riffs sobrepostos executados no piano e com um acompanhamento soberbo de metais. Outro exemplo de música completamente transformada. 

Ouvindo-a sem saber que se trata de uma canção do Black Sabbath e sem conhecer a original, pouquíssimas pessoas teriam, condições de de cravar de que se trata de uma versão de "Children of the Grave". O mesmo pode ser dito de "Fairies Wear Boots".

Wakeman e os produtores foram felizes em escolher sete músicas dos primeiros álbuns, sendo que três hits estrondosos - "Changes", "Iron Man" e "Children of the Grave". 

Optando por músicas como "Rat Salad" e "Evil Woman" (quem nem foi composta pelo Black Sabbath), os instrumentistas tiveram um pouco mais de liberdade para ousar e criar arranjos inusitados.

A empreitada era arriscada e tinha tudo para dar errado, mas deu bastante certo. Que Wakeman e os produtores mantenham o projeto e realizem novas versões para as músicas do Black Sabbath.


domingo, agosto 30, 2020

Notas roqueiras: Malvada, Calligram, Gravekeepers...


Malvada (FOTO: DIVULGAÇÃO)
- Nesta semana, a Malvada lançou o vídeo onde elas mandaram ver numa versão do clássico “Barracuda”, da banda Heart. Essa música foi registrada no primeiro ensaio das garotas, sem produção, e gravado pelo celular. Enquanto isso elas estão trabalhando na gravação de suas músicas autorais. Confira: https://m.youtube.com/watch?v=QZq4fzJ8uLU

- "The Eye Is The First Circle "(Prosthetic Records, 2020) faz o black metal atravessar o caminho até o post-hardcore numa mistura genuína de estilos e este é o disco de estreia do quinteto Calligram, verdadeira Torre de Babel da música pesada, mas que se entrosa com perfeição. Escute o álbum em Spotify - bit.ly/calligram-spotify. Formada por dois brasileiros, um inglês, um francês e um italiano, Calligram, com seu The Eye Is The First Circle, álbum escrito em período de grandes dificuldades pessoais para todos os integrantes, tem conseguido se tornar grande referência para o black metal moderno e recente em diversas partes da Europa onde o trabalho tem sido recebido com entusiasmo pelos ouvintes e grandes veículos como Metal Hammer, Metal Injection, Decibel e Blabbermouth.The Eye Is The First Circle, título do álbum, deriva de um ensaio de Ralph Waldo Emerson intitulado Circles, que começa: "O olho é o primeiro círculo: o horizonte que ele forma é o segundo; e por toda a natureza essa figura primária se repete sem fim".


- O novo single do Gravekeepers acaba de ser liberado para audição completa em todas as plataformas digitais. “Fuga” foi lançada exclusivamente no disco homônimo da banda lançado em versão física. Escute em https://open.spotify.com/track/1uoMIzpnwCUWjI8TjiICYz?si=1eJDm5xdRYi82W6FPF0U7A

Racismo, fascismo e a militância necessária de Napalm Death e Detonautas

Marcelo Moreira

Napalm Death: Barney Greenway está ao centro (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Uma comoção mundial por conta de dois fatos umbilicalmente relacionados: a dolorosa morte de um ator símbolo e a permissividade criminosa e assassina para que um adolescente não seja incomodado por policiais mesmo portanto um rifle automático de uso do Exército norte-americano.

Qualquer demonstração antifascista em qualquer lugar do mundo virou ofensa para a extrema direita assassina e asquerosa.

Várias demonstrações de antirracismo por conta de mais um ataque covarde de policiais brancos contra um negro em Wisconsin, nos Estados Unidos desencadearam uma série de protestos mundiais, mas a elite branca norte-americana decidiu revidar com tiros e jogando a Guarda Nacional contra os manifestantes.

Um moleque nojento de 17 anos aparece com um rifle a um dos protestos, mata duas pessoas e sequer é incomodado pelos policiais brancos igualmente asquerosos. Só mais tarde, identificado, é que foi preso - ou melhor, teve de ser preso diante da pressão contra uma polícia inerte e criminosa, que foi "obrigada" a detê-lo. Quer maior desprezo pela vida humana do que essa conduta?

Esse fato lamentável, infelizmente, divide as manchetes com vários protestos pelo mundo, com a lamentável convenção do Partido Republicano que escolheu Donald Trump como candidato à reeleição presidencial, e a a morte do ator Chadwick Boseman, o Pantera Negra das telas.

Boseman foi o primeiro herói negro das sagas de super-heróis da Marvel - ou de qualquer outra empresa/mito dos quadrinhos e HQs. Foi vítima de câncer no cólon e morreu aos 43 anos de idade.

Sua interpretação marcante do Pantera Negra representou uma quebra necessária de barreiras dentro do cinema mundial e acabou se tornando uma figura marcante para crianças e jovens negros em todo o mundo.

É óbvio que os racistas surtaram com as homenagens a Boseman - assim como me relação ao boicote dos jogadores negros norte-americanos de basquete. Nas redes sociais brasileiras, houve quem minimizasse a importância do ator norte-americano com críticas estúpidas e nojentas ao filme em questão.

Enquanto os lixos humanos que se dizem republicanos nos Estados Unidos ignoram as mortes de negros e os protestos, clamando pela "lei e a ordem" e ansiando por violência contra os manifestantes, algumas banda de rock não perdem a oportunidade de se posicionar.

Os metaleiros ingleses do Napalm Death acabam de lançar mais um álbum com pesadas críticas político-sociais e com um tom abertamente antifascista.

"Throes of Joy in the Jaws of Defeatism" é o nome do disco e parece ter sido feito sob medida pra enfrentar a onda autoritária, desumana e fascista que assola o mundo, mas especialmente os Estados Unidos.,

Em entrevista ao site MetalSucks, o vocalista Barney Creenway soltou o verbo contra o fascismo: "Procurei captar a atmosfera que o mundo está vivendo. Populismo, protecionismo, nacionalismo. E eu acho isso bastante inquietante, no mínimo. E com essas coisas que mencionei, há a separação das pessoas, há uma descriminação e desumanização de certas pessoas que é acentuado por conta do sentimento nacionalista, populista e protecionista".

Ele criticou as perseguições aos gays em muitos lugares do mundo e ataques contra imigrantes: "Isso é uma tática da… – serei bem cuidadoso para usar essa palavra porque acho que ela é usada de forma errada algumas vezes, onde não se reconhece os defensores da ideologia da mesma – mas é a ideologia fascista."

Em um exemplo bem didático do que critica, investe contra o comportamento nocivo que parece estar predominando atualmente: "Toda a ideia de usar pessoas como bode expiratório baseados em qualquer coisa que esteja acontecendo em suas vidas, e eles podem estar querendo escapar da tirania, da próprio sexualidade, da própria constituição biológica, é louco que coisas do tipo estejam sendo propagadas por governantes. E você deveria ficar inquieto com isso, porque se nos lembrarmos, essas são características de Franco (ditador espanhol), Mussolini, Hitler, isso é como começou, desumanizando minorias e dando fazendo grandes prêmios , que foi quando o genocídio começou".

 No Brasil, o posicionamento mais contundente, até agora, foi o da banda Detonautas Roque Clube, com uma pancada absurda e certeira contra o conservadorismo e o governo incompetente de extrema direita que nos governa.

Detonautas Roque Clube: Tico Santa Cruz é quarto da esq. para a dir. (FOTO: DIVULGAÇÃO)
"Carta ao Futuro" é uma canção-videoclipe sombrio em tons distópicos sobre a sociedade brasileira. A letra, de autoria do vocalista Tico Santa Cruz, explicita a desumanidade da atual administração e de seus apoiadores, ressaltando a extinção de direitos civis e trabalhistas, além de atentados contra os direitos humanos e a exacerbação da violência social.

Santa Cruz é um conhecido ativista dos direitos humanos dentro do meio artístico e se tornou um cronista social para denunciar as constantes violações de direitos sociais e ataques à democracia e à liberdade de expressão.

Cientista social por formação, o vocalista às vezes se incomoda ao ser identificado com a esquerda e suas ideias. Acredita que esses tripo de rótulo limita e até impede que se estabeleça um diálogo possível entre extremistas e pessoas que divergem profundamente.

Entretanto, em sua contas nas redes sociais, diante de constantes ataques e ameaças que sofre, vai lentamente percebendo que o diálogo é impossível com gente estúpida. A esmagadora maioria dos direitistas brasileiros é estúpida, sendo que os bolsonaristas, ou seja, a maioria, é totalmente burra.

"Carta ao Futuro" incomodou profundamente essa gente desonesta e asquerosa, o que, inevitavelmente, empurra Santa Cruz e os Detonautas para a oposição e pra a esquerda - que assim seja, já que são combatentes preciosos e pensadores artísticos necessários para conter a mediocridade direitista que chafurda no que de pior existe na religião e no fascismo.

Os 30 anos do ‘Persistence of Time’, clássico álbum do Anthrax

Flavio Leonel - do site Roque Reverso



O dia 21 de agosto de 2020 marca o aniversário de 30 anos do disco “Persistence of Time”, do Anthrax, o quinto da carreira de sucesso do conjunto musical. O álbum é considerado um dos mais complexos da banda norte-americana de thrash metal e representa o fechamento da fase de ouro do grupo, que concentra também os discos “Among the Living” , de 1987, e “State of Euphoria”, de 1988.

“Persistence of Time” também foi o último álbum com a formação clássica do Anthrax, já que o vocalista Joey Belladonna deixaria a banda em 1991 para voltar ao grupo definitivamente apenas em 2010, já sem a presença do bom guitarrista Dan Spitz – este saiu da banda alguns anos depois, em 1995, e até voltaria momentaneamente entre 2005 e 2007, mas não gravaria discos de estúdio novamente com os históricos parceiros musicais.

Além de Belladonna e Spitz, estão na formação clássica que gravou o “Persistence of Time” o guitarrista Scott Ian, o baterista Charlie Benante e o baixista Frank Bello.

O álbum pode não ser melhor do que o indispensável “Among the Living”, mas traz o Anthrax numa fase madura e querendo arriscar um som mais complexo, refletindo uma tendência na época entre as grandes bandas de thrash metal.

Na ocasião, depois que o Metallica lançou o complexo e excelente “…And Justice For All”, as bandas de thrash metal seguiram a tendência que trazia canções mais longas do que o habitual do estilo, variações de andamento, viradas repentinas e inesperadas de ritmo, além de riffs diversos e distintos dentro de uma mesma faixa.

Depois do sucesso de vendas do “…Justice”, que é de 1988, o início dos Anos 1990 trouxe o Death Angel com o ótimo e complexo “Act III” e as bandas do aclamado Big Four (que traz, além do Metallica, o Slayer, o Megadeth e o Anthrax) numa linha parecida.

O fã de thrash metal teve um verdadeiro banquete à disposição a partir do segundo semestre de 1990. O Anthrax lançou o “Persistence of Time” em agosto, o Megadeth trouxe o disco “Rust in Peace” em setembro e o Slayer lançou o álbum “Seasons in the Abyss” em outubro.

Tal qual o “… And Justice For All”, são todos álbuns mais caprichados musicalmente do que essas bandas fizeram anteriormente. Até mesmo o Slayer, considerado o mais agressivo dos 4 grandes do thrash, traz uma técnica apuradíssima no “Seasons in the Abyss”.

Parecia existir, portanto, uma espécie de competição entre os grupos com discos cada vez mais elaborados. Importante dizer que esta competição também era perigosa, pois algum excesso na complexidade dentro do thrash metal poderia gerar algo rebuscado demais e capaz de tirar a agressividade marcante do estilo.

Tique-taque acelerado

Quando se fala em complexidade no rock, logo vem à mente a imagem do rock progressivo. E poucas coisas no rock são mais progressivas do que o Pink Floyd. É justamente com uma música de mesmo nome de um clássico do grupo britânico que o Anthrax inicia o álbum.

Se “Time”, do Pink Floyd, no álbum “Dark Side of The Moon”, traz um tique-taque histórico de um relógio na introdução, porque o Anthrax não poderia trazer algo semelhante, mas muito mais rápido no começo de seu álbum? A música “Time”, do Anthrax, começa com a aceleração do tique-taque e uma avassaladora introdução thrash que faz o olho do fã da banda longo brilhar.

Charlie Benante e Frank Bello dão a deixa para Scott Ian e Dan Spitz entregarem o riff poderoso. Com isso, logo na entrada, Joey Belladonna, no auge de sua voz, faz bonito e mostra porque ele tinha na ocasião o melhor vocal (tecnicamente falando) do Big Four.

A faixa “Blood” vem na sequência e amplia a agressividade do Anthrax. Rápida, a música supera os 7 minutos, é a mais longa do álbum e traz também elementos além do thrash metal, especialmente nos vocais.

“”Keep It in the Family” é a próxima e traz o Anthrax em plena forma, mostrando porque está entre as maiores do estilo musical. Scott Ian mostra aqui o motivo de ser considerado um dos maiores criadores de riff do thrash metal, já que praticamente brinca com um riff que vai acelerando aos poucos. Tente ficar sem bater a cabeça nesta faixa ou mesmo sem pensar em simular um roda de mosh! Se você é um fã clássico do thrash, é difícil.

Também vale destacar a boa letra, mantendo a tradição crítica do Anthrax. Para quem viaja na maionese e acha que música não pode trazer conteúdo político, está aí mais uma várias amostras do Anthrax de que o rock sempre foi contestação, e não apenas melodia.

“In My World” é a faixa seguinte e uma das três do álbum que ganhou clipe. A música mantém os riffs precisos e marcantes do Anthrax e tem como destaque o vocal perfeito de Belladonna. O clipe, apesar do som de estúdio, traz imagens da banda em show da turnê e é possível ver o cenário bacana que simula a capa do álbum e traz um relógio com os ponteiros girando.

“Gridlock” fecha o então Lado A do álbum. De todas até então tocadas, é a que menos chama a atenção, apesar de manter a levada thrash

Lado B

“Intro to Reality” abre o então Lado B. Instrumental, ela mantém uma tradição que, na época, era possível ver com mais frequências entre as bandas de thrash. Não é nenhuma “Orion”, do Metallica, mas serve para mostrar as qualidades musicais dos membros do Anthrax.

“Belly of the Beast” vem na sequência e também é uma das três do álbum com clipe. O vídeo por sinal traz imagens do Anthrax em turnê e circulando ao lado de locais históricos, como o Coliseu, em Roma, e o alemão Muro de Berlim, que havia sido derrubado meses antes, em novembro de 1989.

“Got The Time” é a terceira do álbum com clipe e a terceira do Lado B. É, de longe, a faixa mais popular do Anthrax, mesmo sendo uma cover de Joe Jackson.

Sempre presente nos shows da banda, ela tinha presença constante nos programas de metal das MTVs do mundo inteiro. O clipe é uma dos mais famosos da história do heavy metal e traz o Anthrax naquele jeitão thrash que angaria fãs do estilo. É a mais curta música do disco e a que, apesar de ser cover em nova roupagem, mais agrada os fãs da banda.

“H8 Red”, “One Man Stands” e “Discharge” fecham o álbum. Depois do “arrasa-quarteirão” “Got The Time”, parecia ali que o Anthrax tinha achado sua joia para puxar as vendas do disco. Tudo que viesse depois dela no álbum seria complementar e não chegaria aos pés da grande música.

Fim do disco e a constatação de que ele é clássico. Não por acaso, concorreria na categoria de Melhor Performance de Metal do Grammy de 1991, sem, no entanto, vencer, já que perderia para “Stone Cold Crazy”, do Metallica, nessas coisas inexplicáveis do Grammy de misturar em premiação faixa com álbum. O mesmo Grammy que bizarramente, em 1989, havia dado o prêmio de Melhor Performance Hard Rock/Metal para o Jethro Tull, em vez do favoritíssimo Metallica com o álbum “…And Justice For All”.

Depois de “Persistence of Time”, Joe Belladonna ainda gravaria um EP com a banda, “Attack of the Killer B’s”, de 1991, quando o grupo fez uma boa união com o hip hop do respeitado Public Enemy na ótima faixa “Bring the Noise”. O vocalista sairia em 1991 e voltaria somente em 2005 na turnê que tocou o álbum “Among the Living” na íntegra, e voltaria em definitivo em 2010 para o local de onde nunca deveria ter saído.

sábado, agosto 29, 2020

Combater o fascismo dentro de nossas fileiras é um pesadelo dos mais cruéis

Marcelo Moreira

"Nos Estados Unidos as coisas se resolvem rapidamente. Basta um rifle e os baderneiros somem. Aqui no Brasil a Justiça é a favor do crime, da bagunça e da oposição."

As frases acima poderiam muito bem terem sido escritas em redes sociais de artistas descomprometidos com a sociedade e sedentos por medidas fascistas, como certo vocalista de banda engraçadinha dos anos anos 80 ou artista solo da mesma época com inclinações selvagens no nome. Isso não surpreenderia.

No entanto, foi proferida - e curtida por muita, mas muita gente - por um cidadão irascível, mas que não tinha mostrado inclinações para o extremismo. É um bom baixista e um guitarrista de bons recursos, de certo prestígio no meio roqueiro paulista, completamente equivocado em relação a tudo na vida.

Assim como em outros momentos em que identifiquei certas nojeiras em fóruns, chats, comentários em posts e mesmo textos nas redes sociais, não escancaro o(s) nome(s) do(s) imbecil(cis) para não dar palanque a essa gente nojenta. Uso essas "pesquisas", digamos assim, para refletir que tipo de rock nacional temos na segunda década do século XXI e como pensam esses supostos roqueiros.

É claro que, em caso de crime, como racismo, o autor seria denunciado às autoridades, mas ainda não tive o (des)prazer de me defrontar com algum caso nível.

A questão é que, quanto mais o governo nefasto de Jair Bolsonaro se esfarela na incompetência e nas abundantes denúncias de corrupção, autoritarismo e destruição de direitos e do meio ambiente, mais gente começa a sair do armário para defender o fascismo nos meios cultural e musical.

Não dá para saber se está aumentando o número de seguidores do bolsonarismo asqueroso (redundância) e ou se cresce, na verdade, q quantidade de gente que resolveu sair do armário, seja po desespero ou indigência intelectual, para se revelar apoiador de primeira hora.

O tal baixista/guitarrista não só surpreende por aderir publicamente ao extremismo de direita como por demonstrar apoio a causas indefensáveis.

Percebo, depois de muito tempo, que tal cidadão é evangélico, e de uma denominação das mais pútridas, nefastas, fisiológicas e criminosas que existem por aí - é o tipo de seita que queima o filme das agremiações sérias e respeitáveis desses espectro religioso.

FOTO: REPRODUÇÃO/YOUTUBE
Antiaborto e fervoroso defensor da violência praticada por religiosos contra a menina de dez anos que engravidou do tio no Espírito Santo - e que abortou com autorização da Justiça -, chamou a atenção neste final de semana por aplaudir o adolescente de 17 anos que matou dois manifestantes antirracismo nos Estados Unidos nesta semana.

Isso mesmo, o lixo humano postou links de notícias e fotos do garoto Kyle Rittenhouse, que portava um fuzil o local de uma manifestação contra o ataque de policiais brancos a um homem negro desarmado na cidade de Kenosha, no Estado de Wisconsin.

A polícia, depois de não detê-lo no dia do crime e "aconselhá-lo" a ir para casa, finalmente o prendeu no dia seguinte à manifestação e o indiciou pelo assassinato de dois manifestantes, com fartura de provas e testemunhas contra ele, que é um fanático apoiador do presidente Donald Trump.

Foram pelo menos três posts em redes sociais elogiando o assassino, tomando-o como um exemplo contra "baderneiros e arruaceiros" que querem gerar confusão e "atrapalhar governos). Por si só isso seria aterrador, mas assusta mesmo é a quantidade de curtidas em apoio a essa nojeira.

Há outros posts em que defende a liberação de armas para a população, políticos corruptos e criminosos ligados a Bolsonaro, grupos extremistas que disseminam fake news e ameaças generalizadas a "inimigos" porcarias generalizadas contra o Judiciário.

O post que obteve mais curtidas, em um texto claudicante recheado de erros de português, é um que desanca os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) por conta dos inquéritos contra fake news, contra as prisões dos apoiadores extremistas de Bolsonaro e contra a proibição de ações violentas da Polícia Militar do Rio de Janeiro nas comunidades enquanto durar a pandemia.

Numa rápida olhada no "público" que curtiu tais barbaridades, a imensa maioria tem alguma relação com o rock, seja por ser fã, profissional da área ou ligado, de alguma forma, a eventos/bares/casas de shows.

Ou seja, não é mera a impressão de que existe, nas grandes cidades do país, um contingente expressivo de roqueiros asquerosos que apoiam o fascismo e as medidas desse governo autoritário e inacreditável de Jair Bolsonaro.

é evidente que não temos, ainda, como dimensionar o tamanho do descalabro que é observar a existência de roqueiro fascista. Estão saindo das cavernas agora ou sempre foram desse jeito e nunca tínhamos percebido?

Como é possível existir roqueiro antidemocrático, do tipo que apoia a violência policial contra a população pobre, negra e,  última análise, contra os próprios roqueiros?

Então essa gente apoia, em tese, governos e políticos que os detestam, que sempre que possível jogarão o aparato repressivo para cima do rock?

Essa gente apoia políticos e governos que desprezam a democracia e a liberdade de expressão, ou seja, o direito de os roqueiros de se expressarem e de curtir em paz a sua música e seus shows?

Que tipo de música esse tipo de roqueiro admite? Aquela anódina, inodora e incolor, que só fala de carros, mulheres, cerveja, putaria, duendes e unicórnios?

E no metal? Só valem as letras de destruição e devastação no exterior ou em outros planetas? Ou apenas músicas sobre o "Senhor dos Anéis"?

O que será que tem a dizer o roqueiro imbecil que gosta de Pink Floyd sobre o conteúdo de letras dos álbuns "Animals" (uma fábula baseada no livro "A Revolução dos Bichos", de George Orwell e "The Wall" (um forte libelo contra o fascismo e o autoritarismo)?

Esqueçam a nojenta falácia de que "devemos respeitar as escolhas políticas dos outros". Mais do que eufemismo, isso é uma frase que embute um tremendo mau-caratismo de quem se diz isento e que, na verdade, é um omisso que esbarra nas raias da indecência.

Não dá para respeitar quem defende a violência contra minorias e segmentos da sociedade; quem defende o fascismo; quem defende políticas predatórias do meio ambiente; quem defende a supressão de direitos humanos, civis e trabalhistas; quem defende autoritarismo; quem defende governo incompetente inundado de denúncias de corrupção; que persegue adversários e opositores, ameaçando-os e intimidando-os com milícias físicas e virtuais.

Poucas pessoas imaginavam que teríamos tanto trabalho para resistir e combater o fascismo do nosso tempo, e que teríamos de começar, infelizmente, dentro do nosso meio roqueiro/musical.

Notas roqueiras: Kiko Loureiro, Armored Dawn, Pressive...




- Como parte da divulgação de seu quinto álbum solo instrumental, "Open Source", lançado no último dia 10 de julho, o renomado guitarrista brasileiro Kiko Loureiro lançou recentemente o vídeo playthrough da faixa “Vital Signs” - confira em https://www.youtube.com/watch?v=MesxR4FtSSkO álbum que foi produzido com apoio de um financiamento coletivo super bem sucedido tem participação de Felipe Andreoli no baixo e Bruno Valverde na bateria em todas as 11 faixas, além de contar com as participações especiais dos guitarristas Marty Friedman (ex-Megadeth) e Mateus Asato. Ouça "Open Source" em todas as plataformas digitais:
https://open.spotify.com/artist/5RmLUrjJz5bpP8dF4lYdy

- A banda Armored Dawn segue conquistando seu espaço no mercado da música mundial, criando uma base sólida de fãs por onde passa e consolidando-se como um dos grandes nomes do metal brasileiro na atualidade. O trabalho mais recente do grupo, o álbum "Viking Zombie", lançado mundialmente em outubro de 2019, é prova de que os caras não param de evoluir. Destaque para a versatilidade sonora, algo que todo fã de heavy metal tradicional e melódico, assim como de power metal, pode aproveitar ao máximo no trabalho atual do conjunto que ganhou versão deluxe nos Estados Unidos. Recentemente o grupo participou de um projeto solidário com uma versão ao vivo da música Ragnarok. A banda, já com a nova formação, gravou com os músicos em ambientes separados. Confira o vídeo completo: https://youtu.be/cd--0KeAJ6M

- Formada em 2005 na tradicional cidade de Guadalajara (México), o Pressive é uma banda de Rock Alternativo em ascensão internacional, caracterizada por seu som genuíno e viciante; o uso de sintetizadores e riffs agressivos de guitarra, aliados ao contraste de melodias limpas e gritadas, são as chaves para definir o som da banda que ganhou o mundo com seu novo single “Nightmare”. Assista ao vídeo clipe oficial: https://www.youtube.com/watch?v=H2ODrwlbtXU

Saiba como será a edição comemorativa dos 50 anos de 'Paranoid', do Black Sabbath

Do site Roque Reverso




Prestes a completar incríveis 50 anos de história, o clássico álbum “Paranoid”, do gigante Black Sabbath ganhará uma edição comemorativa repleta de presentes aos fãs do heavy metal. O denominado “Paranoid: Super Deluxe Edition” inclui o álbum original, box opcional que traz a opção de 4 CDs ou 5 LPs (ou tudo junto), com direito livro de capa dura e shows gravados ao vivo pela banda britânica no ano de chegada do disco em Montreux e Bruxelas.

O lançamento oficial da edição comemorativa está previsto para o dia 9 de outubro. “Paranoid” é o segundo e, para muitos, o mais importante álbum do Black Sabbath e foi lançado em 18 de setembro de 1970.

A versão completa do “Paranoid: Super Deluxe Edition” traz 4 CDs e 5 LPs. O conjunto vem com o livro de capa dura, com extensas notas de apresentação, entrevistas com todos os quatro membros da banda, fotos raras e recordações, um pôster, além de uma réplica do livro vendido durante a turnê Paranoid.

O CD 1 traz a versão remasterizada de 2012 de “Paranoid”. No CD 2, é a vez da banda trazer a versão Quadrifônica Mix do álbum.

No CD 3, o presente é o show gravado em 31 de agosto de 1970 em Montreux, na Suíça, pouco antes do lançamento do “Paranoid”.

No CD 4, é a vez de aparecer um show foi gravado alguns meses depois, em Bruxelas, durante a apresentação da banda na televisão belga. As versões não oficiais desse show clássico já haviam circulado no passado, mas agora vem numa versão mais caprichada.

Quanto aos 5 LPs, o primeiro traz a versão remasterizada do álbum original (como no CD 1) e o segundo apresenta a versão Quadrifônica Mix do álbum (como no CD 2).

Os 3 LPs restantes trazem os shows em Montreux e Bruxelas. São as estreias em vinil destas apresentações de 1970.

Se no fã não optar pelo pacote completo com estes 4 CDs e 5 LPs somados, terá a opção de comprar apenas a versão comemorativa em CD ou apenas em LP.

“Paranoid: Super Deluxe Edition” já está em período de pré-venda neste link.

sexta-feira, agosto 28, 2020

Trinta anos sem Stevie Ray Vaughan, um dos gênios da guitarra blues

Marcelo Moreira

Stevie Ray Vaughan (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Deveria ser apenas mais show, embora aquele não era um show qualquer. Ao lado do irmão mais velho, Jimmie e dos ídolos e mestres Eric Clapton e Robert Cray, entre outros ases da guitarra, Stevie Ray Vaughan fizera um concerto memorável no meio do nada para muita gente.

Sóbrio como há muito tempo não ficava, saboreava o seu renascimento justamente com o seu maior incentivador, Jimmie Vaughan, que sempre esteve ao seu lado nos piores momentos. O sucesso voltara e ele mal poderia espero pelo lançamento, dentro de alguns meses, de "The Family Style", o tardio primeiro álbum lado do irmão querido.

A sobriedade, no entanto, trouxe a necessária mudança de hábitos. Tinha perdido a vontade de confraternizar após os fim do festival, por mais que estivesse emmeio a muitos amigos.

A alegria de estar no palco recheado de astros deu lugar, nos bastidores a uma impaciência para ir embora e voltar para casa - um longo caminho que incluía um rápido voo de helicóptero até um aeroporto próximo de Alpine Valley, onde tinha acabado de tocar.

Eram pelo menos três helicópteros, por volta da 1h de 27 de agosto de 1990, à disposição dos músicos, técnicos de som e palco das estrelas e dos promotores do evento.

O tempo estava muito feio, mas assim mesmo pilotos de dois aparelhos decidiram decolar para não atrasar demais o cronograma. Um se recusou.

Sem perder tempo, Stevie largou os dois companheiros de banda e a equipe e embarcou onde deu, com muita pressa, depois de pedir autorização para Clapton e o empresário deste - o helicóptero em questão estava agendado para aquele horário para a equipe do guitarrista inglês.

Com chuva e névoa os aparelhos decolaram de Alpine Valley, no entorno da cidade de East Troy, em Wisconsin, em direção ao aeroporto mais próximo. Só um conseguiu chegar, a duras penas, ao destino. O outro se chocou contra as montanhas próximas ao local do festival. Ninguém sobreviveu. Há 30 anos o mundo perdia um dos maiores g\ênios da guitarra blues.

Lenda e magia

O guitarrista Eric Clapton costuma dizer que, quando tocava ao lado do texano Stevie Ray Vaughan, ficava muito preocupado, já que era impossível acompanhar e entender o que o mágico guitarrista de blues fazia, graças à genialidade e ao virtuosismo. Para Clapton e para a lenda do blues Buddy Guy, ninguém chegou tão perto de Jimi Hendrix como Stevie Ray.

Com sua banda de apoio, a Double Trouble – Tommy Shannon (baixo), Chris Layton (bateria) e Reese Wynans (teclados) -, Stevie Ray Vaughan passou como um furacão nos anos 80, revolucionando o jeito de tocar guitarra e resgatando o blues de mais um período de estagnação.

Foram apenas cinco álbuns de estúdio e um ao vivo, além de três vídeos obrigatórios. Apesar da genialidade, começou gravar tarde, e lançou seu primeiro álbum, “Texas Flood”, em 1983, aos 29 anos de idade.

Todo guitarrista de blues relevante do século XXI bebeu na fonte texana muito conhecido pela sigla SRV - Eric Gales, Joe Bonamassa, John Mayer, Kenny Wayne Shepherd, Derek Trucks, Jonny Lang, Gary Clark Jr, Anthony Gomes, Chris Duarte, Mitch Laddie, Nuno Mundelis e muitos outros.

“Stevie era um cara tímido, mas muito bacana. Era difícil encontrar alguém que não gostasse dele. Falava pouco, preferia se comunicar por meio da guitarra. Não há forma mais elegante e eficiente para um cara como ele.” As palavras são de Jimmie Vaughan, irmão mais velho, e endossadas por Eric Clapton. Ele comentava para a Guitar Player norte-americana nos anos 90 o legado deixado precocemente pelo mestre.

Stevie Ray Vaughan era tido como um gênio do instrumento que agregava e aglutinava. Todo mundo queria tocar com ele. Santana, Buddy Guy, B.B. King, Albert King, Eric Clapton, Steve Lukather, Jeff Beck, Johnny Winter, Davi Bowie e mais uma infinidade de artistas de primeira linha tiveram o privilégio de dividir o palco ou o estúdio com o guitarrista, que adorava essas jams.

Alguns dos melhores encontros envolveu Stevie com Jeff Beck em diversos shows no ano de 1989. Os dois gigantes haviam tocado juntos cinco anos antes em Honolulu, no Havaí. Stevie Ray fazia um show incendiário e recebeu Beck no palco com fúria nos olhos e nos dedos.

Em 1989, os dois voltariam a se cruzar pelos Estados Unidos, ambos em turnês solo. As datas entre os giros coincidiram algumas vezes e resolveram unir-se em 34 datas no segundo semestre daquele ano, quando se revezaram como atração principal.

Foi mais de uma vez ao fundo do poço nos excessos do álcool e das drogas, foram várias as internações para reabilitação, mas os mergulhos no inferno foram proporcionais às vezes em que atingiu o topo como músico, ganhando a veneração dos pares e do público.

Morto aos 36 anos de idade, não chega a ser tão cultuado como Hendrix, mas é venerado dentro meio musical. Deveria tocar em um festival de blues em Ribeirão Preto em setembro de 1990, embora ainda não tivesse assinado o contrato. Seus discípulos diretos na atualidade não hesitam: ele foi um gênio da guitarra.




Notas roqueiras: A banda Que Nunca Existiu, Augusto Licks, Spades Vandall, Lavage...







FOTO: DIVULGAÇÃO
A Banda Que Nunca Existiu (ABQNE), projeto dos compositores paulistanos Humberto Lyra e Pissutto, convidou o guitarrista gaúcho Augusto Licks, ex-Engenheiros do Hawaii, para cantar e tocar a canção “Só Uma Vez” (veja em
https://www.youtube.com/watch?v=jqCMd_GpdcM). Participaram da gravação a banda que acompanha Zeca Baleiro, padrinho do projeto, com o baterista Kuki Stolarski (Funk Como Le Gusta/Karnak) e o baixista Fernando Nunes (Cassia Eller), além de Adriano Magoo no piano e muitas guitarras em overdub de Augusto. Os guitarristas Tuco Marcondes e Augusto se juntaram ao time, assim como Jonas Moncaio (Ira!/Milton Nascimento) nas cordas. O projeto tem uma causa social, já que parte da renda será revertida para uma instituição destinada a pessoas com câncer, em memória às mães dos compositores.

Spades Vandall (da banda Savannah) acaba de lançar seu novo disco solo. Gravado no Estúdio Hurricane e produzido por Sebastian Carsin, "The Hardcore 50's" é um tributo do cantor aos pioneiros do Rock And Roll. O instrumental foi captado ao vivo no estúdio, com a adição posterior dos vocais e dos solos de guitarra. A arte da capa ficou a cargo de Ricardo Lopes e as fotos são de Marcelo Sciortino. São dez versões punk rock para clássicos da década de 1950, como "Hound Dog", "Tutti Frutti", "Come On, Let's Go", entre outras. Spades Vandall gravou bateria e voz em todas as faixas e foi acompanhado por Lee Wills (Desert) no baixo e Pery Rodriguez (Gueppardo) na guitarra. Além das participações especiais de CJ Rebel Son (Sin Avenue) e Jacques Maciel (Rosa Tattooada) dividindo os vocais com Spades na música "Good Golly, Mis Molly". O lançamento físico é uma parceria dos selos Trepada Records, Hurricane Records e Doctor Rock.
Confira a faixa "Come On, Let's Go":https://youtu.be/vAAs0sq1kec

-  O sétimo álbum da banda Lavage, de Fortaleza (CE), 'Punk/HC', foi lançado recentemente de forma independente. 'Punk/HC' é composto por oito músicas inspiradas na poesia urbana, crítica social e existencialismo de impacto. A sonoridade transita pelo rockabilly, punk e hardcore, ska e rock alternativo. Escute em https://lavage.bandcamp.com/album/punk-hc


As memórias musicais de Suricato


Nelson Souza Lima - especial para o Combate Rock/Superball Express

Rodrigo Suricato, cantor, compositor e instrumentista, resolveu viajar na pandemia. Contudo não foi uma viagem literal. O vocalista do Barão Vermelho mergulhou em seu passado rumo à infância na qual memórias afetivas e musicais afloraram.

O resultado dessa trip é o álbum virtual "Suricateando", que traz sete canções disponíveis nas plataformas digitais. Gravadas em fita de rolo num estúdio doméstico, apenas com voz e violão, são pérolas da música popular brasileira revelando um Suricato muito além do blues e do rock. 

Segundo ele, é legal perceber o quanto a memória das pessoas não é dividida em subgêneros. "Tudo que nos emociona faz parte do mesmo compartimento. Foi uma surpresa até pra mim com origem no blues e rock, me pegar no flagra emocionado por uma canção do Raça Negra (Cigana). Todas emolduraram nosso cotidiano e tenho boas lembranças, ainda mais nesse momento onde nossa mente foi revirada do avesso", diz. 

Falando nisso, "Suricateando" é como se fosse um afago em quem está quarentenado. "Foi intencional. Tecnicamente queria que as pessoas sentissem que estava cantando dentro da casa delas. Não é fácil chegar nesse som. É uma forma de estarmos próximos. Sinto falta de tudo. A intenção foi realmente dar um presente pras famílias, principalmente os mais velhos. É o momento mais difícil da nossa geração e minha profissão será a última a voltar. Então sigo fazendo projetos e engordando", conclui. 

Outras canções que integram o álbum são "Deslizes" (Fagner), "Volta Pra Mim" (Roupa Nova) e "Faltando um Pedaço", do Djavan que virou um blues emocional.

Rodrigo Suricato (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Confira abaixo a entrevista com o carioca feita por e-mail:

As canções escolhidas para "Suricateando" são patrimônio da música brasileira remetendo à sua infância e que você deve ter tomado conhecimento pelo gosto dos seus pais. Como foi mergulhar nestas lembranças? Voltar ao passado e se rever ouvindo as canções em família.

Rodrigo Suricato -
É muito legal perceber que nossa memória afetiva não é dividida em subgêneros. Tudo que nos emociona faz parte do mesmo compartimento. Foi uma surpresa até para mim, artista com origem no blues e rock, me pegar no flagra emocionado por uma canção do Raça Negra. Todas elas emolduraram nosso cotidiano e tenho boas lembranças, ainda mais nesse momento onde nossa mente foi revirada do avesso.

O repertório vai da MPB do Fagner e Djavan, passando pelo pop do Roupa Nova, sertanejo e samba. Você as gravou só no violão e voz. Como foi dar a sua personalidade pras canções? "Cigana" tem um assovio que convida a assoviar junto e "Faltando um Pedaço" é instrumental e virou um lamento blues.

RC -
Muito do meu exercício de composição vem da apropriação do repertório alheio. Tocar canções de outros artistas diversos me ajuda como compositor. Baixo os tons, mudo tudo até perceber que poderia ser uma canção minha.

"Suricateando" é um afago no ouvinte nestes tempos sombrios com a pandemia aquartelando as pessoas em casa. É como se você falasse diretamente pra quem tá em casa. É um set list que de certa forma serve como antiestresse. O que tá achando dessa situação terrível que atravessamos?

RC -
Que bom que você percebeu isso, obrigado. Foi intencional. Tecnicamente queria que as pessoas sentissem que estava cantando dentro da casa delas, não é fácil chegar nesse som. É uma forma de estarmos próximos, sinto falta de tudo. A intenção foi realmente dar um presente para as famílias, principalmente os mais velhos. É o momento mais difícil da nossa geração e minha profissão será a última a voltar. Então sigo fazendo projetos e engordando.

SBE - "Deslizes" e "Talismã" são composições de Michael Sullivan e Paulo Massadas (que escreveram pra todo mundo nos anos 80). Eles gostaram das suas versões. Pode ser um alento pra uma futura parceria?

RC-
O Sullivan se emocionou e me escreveu. É uma honra. Esse cara, por exemplo, conseguiu um canal direto de comunicação com a emoção das pessoas de uma geração inteira. Temo muita admiração pelo que ele realizou.

A pandemia teve inúmeras consequências para o setor cultural. Paralisou shows, exposições, peças teatrais. Enfim, jogou um cenário tenebroso na classe artística. O que espera pra cultura pós-pandemia?

RC -
Estou tanto tempo fora dos palcos que nem parece mais uma parte imensa da minha profissão. Parece que me aposentei. Por outro lado, os artistas se viram forçados à pensar em outras soluções digitais. Enquanto os youtubers cresceram e aprenderam as ferramentas, muitos de nós estávamos na estrada. Estamos atrasados. Infelizmente não tenho uma boa esperança à curto prazo para o ambiente offline, nos shows.

Além do trabalho solo você é vocalista do Barão Vermelho. Como o Barão ta fazendo na pandemia para se manter ativo?

RC -
Barão fez uma live e estudamos maneiras de ter uma presença maior online. Eu acabei de fazer uma mega live que virará disco ao vivo, no formato One Man Band que desenvolvo há anos. Será lançado pela minha gravadora, Universal Music. É um formato bem inovador de performance.

"Suricatenado" será lançado em formato físico ou somente nas plataformas digitais? Pensa em futuramente tornar este repertório maior e quem sabe fazer shows?

RC-
Adoraria que virasse vinil. Por enquanto está em todas as plataformas digitais e sim, certamente esse repertório irá se expandir. Quem sabe um show só dele? Estou aberto pra tudo.

Um recadinho pros seus fãs e do Barão Vermelho.

RC -
Queridos incentivadores e amigos, muito obrigado pelo carinho, cuidem-se e em breve estaremos juntos. A vida é urgente!

quinta-feira, agosto 27, 2020

Notas roqueiras: Mahmundi, Beto Lani, Inner Caligula...




Mahmundi faz live neste sábado, 29 de agosto, às 21h30, no Festival #CulturaEmCasa. O show faz parte da programação veiculada durante o Mês do Orgulho e da Visibilidade Lésbica pela plataforma #CulturaEmCasa (http://www.culturaemcasa.com.br). Todos os conteúdos podem ser assistidos gratuitamente por televisão, computador, tablets e celulares. A plataforma foi criada em abril pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e é gerida pela Organização Social Amigos da Arte. Nos quatro primeiros meses, já atingiu 1,5 milhão de acessos. Na live deste sábado, Mahmundi estará acompanhada do músico Bruno Cunha na guitarra e violão. O setlist terá canções como Qual é a sua?, Alegria e Tempo pra Amar.

Serviço - Festival #CulturaEmCasa - 29 de agosto (sábado) às 21h30 - Site: www.culturaemcasa.com.br

- O guitarrista mineiro Beto Lani segue trabalhando em seu segundo álbum e lança mais uma faixa inédita, intitulada “Redemption”, mais uma vez contando com Samuel Chacon (baixo) e Bruno Souza (bateria), além de mixagem e masterização a cargo de Noel Fernandes. Assista ao vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=vKf6_MjRyNs

- Após a mudança de formação entre março e abril deste ano, a banda gaúcha Inner Caligula¸ agora um quinteto, estreará esse novo line-up na quinta edição do Quarentena Rock Online Fest, no canal do Youtube Heavy Talk (https://youtube.com/heavytalkvideos), comandado por Lucas Steinmetz (mais conhecido como Moita) onde apresentará, neste sábado (29 de agosto), diversas bandas brasileiras, que a partir das 20h mostrarão seus trabalhos direto de casa para o canal. A exibição do evento será gratuita no final de semana, e a partir de segunda será restrita apenas para os membros que assinam o canal. Vinicius Colombo (vocal), Daniel Cardoso e Andy Furtado (guitarras), Igor Natusch (baixo) e Filipe Telles (bateria) apresentarão as música “Inner Caligula”, single lançado em janeiro e a inédita “The Curse that Will Be”, que deverá ser lançada no álbum de estreia. Ouça “Inner Caligula” no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=RUTVQ_NSYIA; Ouça “Lost Cosmonaut” no Spotify: https://open.spotify.com/album/2xwd6outa03f6jnTMjy41f

Riley Gale, vocalista da banda Power Trip, morre aos 35 anos

Do site Roque Reverso

Riley Gale (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Morreu na segunda-feira, 24 de agosto, o vocalista Riley Gale, da banda norte-americana de thrash metal Power Trip. Ele tinha 35 anos e a causa da morte não foi divulgada.

A confirmação foi feita pela família do músico. A banda, por sua vez, divulgou o comunicado oficial da morte na terça-feira, 25.

Formado em 2008 em Dallas, no Texas, o grupo Power Trip é tido como uma das boas bandas atuais mais novas do thrash metal.

A banda lançou dois álbuns de estúdio. O primeiro foi “Manifest Decimation”, de 2013. O segundo foi “Nightmare Logic”, de 2017.

“Queridos fãs da Power Trip em todo o mundo, é com a maior tristeza que anunciamos que nosso vocalista e irmão Riley Gale faleceu na noite passada”, diz o texto do Power Trip que lamenta a perda do músico. “Riley era um amigo, um irmão, um filho. Riley era muito mais que um rock star e um amigo humilde e generoso, que tocou a vida de tantos através de suas letras e seu grande coração. Tratava a todos como amigos e sempre cuidou de todo mundo. Vamos celebrar sua vida e nunca esquecer seus grandes trabalhos na música, caridade e amor.”

No comunicado, a banda também convidou os fãs para compartilharem suas memórias sobre o vocalista e pediu privacidade neste momento.

No mundo do heavy metal, várias bandas, como os grandes Anthrax e Kreator, foram alguns dos representantes do thash que lamentaram profundamente a morte de Gale.

Morre Arnaldo Saccomani, produtor musical e compositor

Marcelo Moreira


Arnaldo Saccomani (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Homem de rádio e música com comportamento irascível. Pode dar certo? Arnaldo Saccomani é a prova de que sim, um ranzinza e rabugento do bem pode se tornar um nome importante do entretenimento sendo muito competente e do bem.

O produtor musical morreu nesta quinta-feira (27) em São Paulo aos 71 anos, vítima de insuficiência renal complicada pela diabetes.,

Mais recentemente ficou conhecido como um jurado durão e mal humorado de programas de calouros e realities shows musicais, mas essa era apenas uma de suas atividades - que lhe rendia reconhecimento e dinheiro, mas certamente não muito prazer. Homem da música, seu trabalho de vida era produzir divulgar.

O prazer era tanto nesta área que não deixava os preconceitos aflorarem. Trabalhou com pesos pesados como Rita Lee e Tim Maia, mas também produziu coisas descartáveis (para não dizer execráveis) como Mamonas Assassinas.

O ouvido era privilegiado e seu conhecimento, vasto. Também compunha e arranjava músicas, salvando carreiras de grandes artistas e impulsionando grandes nomes ao estrelato.

Respeitadíssimo, trabalhou no rádio e ajudou a formatar programas de sucesso em todas as faixas etárias, sobretudo na rádio Jovem Pan FM. Leia aqui a repercussão da morte do produtor.