A maior vitória e a pior derrota do PTA periferia decidiu as eleições no segundo do turno das cidades do ABCD. Enquanto alguns candidatos esperaram que as pesquisas lhes dessem a vitória por inércia, outros trabalharam incansavelmente e obtiveram o prêmio maior. Mais do que em outra eleição na Grande São Paulo, a periferia mostrou em São Bernardo, Santo André e Mauá que decide e tem poder.
Luiz Marinho, a maior vitória do PT, andou mais do que ninguém por São Bernardo. Percorreu todos os bairros pelo menos três vezes e mostrou que tinha projeto de governo. Fez a lição de casa e se mostrou muito bem informado sobre os principais problemas de cada uma das regiões. Méritos de uma equipe de campanha muito bem entrosada e bastante próxima dos líderes comunitários.
Orlando Morando, do PSDB, apostou pesado nas áreas de classe média e acreditou que o fato de ser um empresário conhecido nas áreas mais distantes, onde possui uma rede de supermercados, poderia ser suficiente para lhe render os votos que o distanciavam de Marinho. Perdeu terreno na periferia não porque não a visitou, mas porque não a visitou o suficiente.
O PT e sua coligação soube explorar de forma magistral as contradições do programa de governo tucano, e atacou cirurgicamente as falhas da atual administração, que apoiava Morando. As divisões internas do grupo governista, que perdeu o ex-prefeito Maurício Soares e Alex Manente, se encarregaram de alargar a já enorme distâncias nas pesquisas.
De forma simplista, pode-se dizer que Marinho venceu pela competência de sua campanha em fazer política, em agregar apoios e em escancarar os problemas administrativos da gestão William Dib (PSDB).
Ao adversário restou insistir nas velhas denúncias contra o PT – mensalão, dólares na cueca e outras coisas –, fazer terrorismo a respeito da suposta revogação de benefícios tributários para a classe média caso o PT ganhasse e promessas desesperadas e irresponsáveis, como a redução do preço da passagem de ônibus para R$ 2. Vitória do PT e grande vitória – por que não? – do presidente Lula.
Em Mauá, nenhuma surpresa. Após a caótica administração Diniz Lopes-Leonel Damo, pouco sobrou da prefeitura que pudesse ser aproveitada de forma positiva em qualquer campanha.
Não bastasse isso, o PT colocou o peso pesado Oswaldo Dias, duas vezes prefeito, para soterrar qualquer pretensão dos chamados grupos políticos tradicionais da cidade. A periferia mais uma vez decidiu, embora a realização do segundo turno tenha, de certa forma, surpreendido. A vitória petista era mais do que esperada.
Já em Santo André, a maior derrota petista no país, exatamente na cidade-modelo de gestão experimental bem-sucedida e berço de um dos maiores administradores públicos do Brasil nos últimos anos (Celso Daniel).
Para muitos, surpreendente. Para outros, temerosos com o rumo da campanha de Vanderlei Siraque, não tão surpreendente.
Em que pese a guerra de guerrilha que se transformou a disputa andreense, com lances de bastidores de arrepiar, o fato é que o PT de Siraque perdeu a eleição dentro de casa. A militância, o grande trunfo do PT, desapareceu. Mais do que isso, se recusou a votar em certo sentido.
Siraque encolheu em termos de votos na comparação entre os dois turnos. A altíssima abstenção (16%), mais os votos brancos e nulos, jogaram contra o PT, que desta vez não contou com a militância – exatamente como em 1992, quando os grupos internos se digladiaram e implodiram a candidatura de José Cicote, derrotado por Newton Brandão.
Desta vez, o racha interno foi pior, pois envolveu o não cumprimento de acordos políticos, afastamento de colaboradores históricos e até mesmo a suspeita de sabotagem interna. Sem capacidade de mobilização e de agregação, é de se espantar, na verdade, que Siraque quase tenha ganho no primeiro turno, também com altíssima abstenção.
O fato é que Aidan Ravin (PTB) ganhou a eleição facilmente. A prefeitura caiu-lhe no colo, já que o adversário ajudou, e muito. A periferia aqui também decidiu, mas rejeitando o pleito e sumindo das zonas eleitorais. Rejeitou os candidatos, e decidiu não ir votar. Azar de quem mais dependia dela.