quarta-feira, fevereiro 20, 2008

PARCERIA INACEITÁVEL


Por MARCOS FONSECA


Retirado do Blog de Juca Kfouri e Blog Santista

Se ninguém brecar, vem coisa pior que rebaixamento por aí. E agora, o que será do Peixe? Sinceramente, na situação atual, o que menos me preocupa é o rebaixamento, porque ainda evitável, mesmo com os Betões e Marcinhos Guerreiros que formam esse não-time. Cair é contingência do esporte e já vitimou clubes quase tão grandes quanto o Santos. O Milan italiano, por exemplo. Nos momentos difíceis, quem tem história e tradição junta os cacos, esquece as picuinhas, aposta na união e ressurge ainda mais engrandecido. Faz do tombo um épico, pela elegância com que se levanta.

No Santos, após oito anos de administração oropéia e da ampliação do poder da família Teixeira sobre o clube, o buraco é mais embaixo. Pior do que o time caminhar a passos largos para a segundona é entregar-se ao bando de urubus que voam cheios de apetite no céu da nossa desgraça. Os primeiros passos nessa direção foram dados em 2004, quando o futebol santista passou a ser terceirizado por Vanderlei Luxemburgo. A ida do treinador para o Real Madrid, em 2005, representou unicamente um intervalo, para que nossa brilhante diretoria testasse definitivamente a própria incompetência e para que Cafa Luxa voltasse, no ano seguinte, ainda mais prestigiado, onipotente e voraz.

Nos últimos dois anos, a rapinagem virou coisa de profissionais e ganhou estrutura empresarial. O Santos foi a encubadora que gerou a associação mafiosa e o laboratório em que as ações criminosas foram experimentadas. A rede – inicialmente limitada aos negócios do treinador com fornecedores preferenciais e restrita ao âmbito do clube –, rapidamente cresceu, criou ramificações e ampliou seu campo de atuação. Pelo menos na maior parte do ano passado, Luxemburgo foi pago pelo Santos, mas de fato trabalhou full time pela WL Sports e seus parceiros.

Não é segredo que, por trás da contratação de cinco jogadores do Bragantino pelo Corinthians, em meados do ano passado, esteve o dedo do treinador santista. Também foi o Santos que bancou a montagem da equipe profissional multidisciplinar que hoje Luxemburgo distribui entre os clubes com os quais mantém vínculos formais e informais. Grande parte foi com ele para o Palmeiras, mas há alguns bem situados no Corinthians (o ex-jogador Antonio Carlos Zago e o médico Joaquim Grava), outros menos festejados no Joinville e sabe-se lá quantos mais em outras agremiações.

Quando se juntam os fios que ligam Traffic, Luxemburgo, Juan Figger, Wagner Ribeiro, Sondas, Chedid e outros investidores e agenciadores, têm-se a dimensão da trama. Nela, unificam-se as pontas dos negócios do futebol, com vistas exclusivamente aos interesses do grupo. É uma ameaça e tanto, ainda não percebida pelos clubes, em especial aqueles dirigidos com visão imediatista e em maiores dificuldades. Para estes, a aproximação com esse tipo de gente é encarada como solução para o descalabro administrativo a que estão submetidos.

O Santos parece perto de cair no canto da sereia. Esgotada toda sua capacidade de planejamento – historicamente resumida à entrega alternada do time, ora a Leão ora a Luxemburgo –, Marcelo Teixeira está sendo seduzido pelo ex-inimigo público número 1 Wagner Ribeiro, aquele que se notabilizou pelo assédio despudorado a jovens jogadores e seus familiares. É esse aliciador de menores que está convencendo nosso perspicaz presidente a fechar acordo com a holding da quadrilha.

Na Vila, apenas Leão parece pressentir o perigo. Mas o treinador não enxerga muito além de suas desavenças pessoais com Luxemburgo e determinados empresários de jogador de futebol. Não vê por completo o tamanho da encrenca reservada aos que sucumbirem à tentação de vender a alma ao diabo. Porque é isso mesmo o que vai acontecer com o Santos e com todo clube que cair nessa conversa. Todos se transformarão em meros participantes de um consórcio, sujeitos às regras impostas pelo administrador do negócio e submetidos aos seus desígnios comerciais.

*Marcos Fonseca é jornalista, foi editor do "Fantástico" nos anos 80 e é torcedor santista.

http://www.blogsantista.com.br/marcao/

PARCERIA INACEITÁVEL


*Por MARCOS FONSECA

Retirado do Blog de Juca Kfouri e do Blog Santista

Se ninguém brecar, vem coisa pior que rebaixamento por aí. E agora, o que será do Peixe? Sinceramente, na situação atual, o que menos me preocupa é o rebaixamento, porque ainda evitável, mesmo com os Betões e Marcinhos Guerreiros que formam esse não-time. Cair é contingência do esporte e já vitimou clubes quase tão grandes quanto o Santos. O Milan italiano, por exemplo. Nos momentos difíceis, quem tem história e tradição junta os cacos, esquece as picuinhas, aposta na união e ressurge ainda mais engrandecido. Faz do tombo um épico, pela elegância com que se levanta.

No Santos, após oito anos de administração oropéia e da ampliação do poder da família Teixeira sobre o clube, o buraco é mais embaixo. Pior do que o time caminhar a passos largos para a segundona é entregar-se ao bando de urubus que voam cheios de apetite no céu da nossa desgraça. Os primeiros passos nessa direção foram dados em 2004, quando o futebol santista passou a ser terceirizado por Vanderlei Luxemburgo. A ida do treinador para o Real Madrid, em 2005, representou unicamente um intervalo, para que nossa brilhante diretoria testasse definitivamente a própria incompetência e para que Cafa Luxa voltasse, no ano seguinte, ainda mais prestigiado, onipotente e voraz.

Nos últimos dois anos, a rapinagem virou coisa de profissionais e ganhou estrutura empresarial. O Santos foi a encubadora que gerou a associação mafiosa e o laboratório em que as ações criminosas foram experimentadas. A rede – inicialmente limitada aos negócios do treinador com fornecedores preferenciais e restrita ao âmbito do clube –, rapidamente cresceu, criou ramificações e ampliou seu campo de atuação. Pelo menos na maior parte do ano passado, Luxemburgo foi pago pelo Santos, mas de fato trabalhou full time pela WL Sports e seus parceiros.

Não é segredo que, por trás da contratação de cinco jogadores do Bragantino pelo Corinthians, em meados do ano passado, esteve o dedo do treinador santista. Também foi o Santos que bancou a montagem da equipe profissional multidisciplinar que hoje Luxemburgo distribui entre os clubes com os quais mantém vínculos formais e informais. Grande parte foi com ele para o Palmeiras, mas há alguns bem situados no Corinthians (o ex-jogador Antonio Carlos Zago e o médico Joaquim Grava), outros menos festejados no Joinville e sabe-se lá quantos mais em outras agremiações.

Quando se juntam os fios que ligam Traffic, Luxemburgo, Juan Figger, Wagner Ribeiro, Sondas, Chedid e outros investidores e agenciadores, têm-se a dimensão da trama. Nela, unificam-se as pontas dos negócios do futebol, com vistas exclusivamente aos interesses do grupo. É uma ameaça e tanto, ainda não percebida pelos clubes, em especial aqueles dirigidos com visão imediatista e em maiores dificuldades. Para estes, a aproximação com esse tipo de gente é encarada como solução para o descalabro administrativo a que estão submetidos.

O Santos parece perto de cair no canto da sereia. Esgotada toda sua capacidade de planejamento – historicamente resumida à entrega alternada do time, ora a Leão ora a Luxemburgo –, Marcelo Teixeira está sendo seduzido pelo ex-inimigo público número 1 Wagner Ribeiro, aquele que se notabilizou pelo assédio despudorado a jovens jogadores e seus familiares. É esse aliciador de menores que está convencendo nosso perspicaz presidente a fechar acordo com a holding da quadrilha.

Na Vila, apenas Leão parece pressentir o perigo. Mas o treinador não enxerga muito além de suas desavenças pessoais com Luxemburgo e determinados empresários de jogador de futebol. Não vê por completo o tamanho da encrenca reservada aos que sucumbirem à tentação de vender a alma ao diabo. Porque é isso mesmo o que vai acontecer com o Santos e com todo clube que cair nessa conversa. Todos se transformarão em meros participantes de um consórcio, sujeitos às regras impostas pelo administrador do negócio e submetidos aos seus desígnios comerciais.

*Marcos Fonseca é jornalista, foi editor do "Fantástico" nos anos 80 e é torcedor santista.

http://www.blogsantista.com.br/marcao/

Tempos ruins para a liberdade de expressão



Tristes tempos em que a liberdade de expressão e de opinião fique à mercê de juízes incompetentes e despraparados, bem como de interesses mesquinhos de herdeiros de legados artístico-culturais importantes. As filhas do escritor Guimarães Rosa querem impedir a publicação dos diários do autor quando foi cônsul brasileiro em Hamburgo, Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial. Não bastasse isso, querem retirar de circulação a primeira parte de uma biografia que está ans livrarias em Belo Horizonte. Elas são criminosas, praticam crime contra a humanidade. Do mesmo modo que Roberto Carlos quando vetou e foi à Justiça contra a publicação de sua (elogiosa) biografia. Vergonha total.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Vamso rasgar o Código Civil?




O caso em que a nadadora Joana Maranhão narra um suposto abuso sexual que teria sofrido na infância, quando treinava em Recife, é um dos maiores absurdos ocorridos neste começo deste ano. Abre um precedente muito perigoso, onde reputações podem ser destruídas por uma simples acusação que, no caso específico, é impossível de provar.

E tem gente aplaudindo a atitude irresponsável e criminosa da nadadora e de sua mãe, provavelmente para mascarar seus fracassos cada vez mais frequentes nas piscinas. E o pior é que a a revista Veja e um de seus colunistas parabenizaram a atleta neste ato criminoso de covardia.

É inadmissível que acusações graves de pedofilia como a de Joana Maranhão sejam feitas sem que haja o menor indício de prova. Não se trata de defender o hediondo comportamento criminoso de pedófilos, mas se trata de evitar que a calúnia, a injuria, a difamação e a injustiça ganhem fôlego em nossa sociedade.

Mais qualidade, menos audiência, mais ignorância



O texto abaixo, do editor de Variedades, do Jornal da Tarde, é o fiel retrato da sociedade brasileira. Ninguém quer cultura, ninguém quer educação, só novelas de baixo nível e Big Brothers. Deixei de acreditar faz tempo nessa sociedade medíocre e nojenta. Merece sustentar toda a incompetência e corrupção que cai em sua cabeça.

Pena que não passa no horário nobre

JÚLIO MARIA
do Jornal da Tarde

Quando a Globo quer, a Globo faz. A estréia de Queridos Amigos, na noite de segunda, foi uma mostra da potência dramatúrgica e técnica que a emissora se tornou, mas que, por razões comerciais, prefere ela mesma ignorar.
A história da turma que se conhece na década de 70 e que se reencontra dez anos depois, motivada por Léo (Dan Stulbach), tem tudo para atingir até o telespectador mais crítico. Sensibilidade sem pieguices. Diálogos sem correria. Emoção sem imposição. É a anti-novela das oito, que prende a audiência pela beleza de imagens e diálogos.
E aí vem a ‘maldição’ do Ibope. Queridos Amigos deu 22,6 pontos, bem abaixo da expectativa. Amazônia, de Gloria Perez, estreou com 34 pontos. JK, da mesma Maria Adelaide Amaral de Queridos, abriu com 39. Os jornalistas escrevem bem de Queridos Amigos em um parágrafo e colocam o fracasso de audiência logo abaixo. Estamos em uma enroscada. Assim como não pensamos em fazer jornal para nossos queridos amigos de redação, a Globo não deve pensar em fazer televisão para jornalistas.
Quando a qualidade sobe, a quantidade cai – é a lógica desde sempre. A Globo já aprendeu com fiascos do tipo A Pedra do Reino e criou em sua programação um sistema de cotas de produções de alto nível para agradar a um público que não é exatamente a massa.
Se quiser ver algo realmente bem escrito e bem filmado, o indivíduo terá de ficar acordado até umas 23h30, horário em que acaba o Big Brother Brasil e começa Queridos Amigos. Fazer o mesmo em horário nobre, jamais. A massa, verifica a Globo, não suportaria tanto refinamento.
O equívoco está na forma que vem o tal refinamento. A Pedra do Reino não pode ser usada como parâmetro para sustentar a teoria de que o povo não gosta de beleza. Aquilo foi uma aberração, um radicalismo prepotente que só quis esfregar o veja-o-que-podemos-fazer-na-TV na cara de quem cobra qualidade de uma emissora de televisão.
Queridos Amigos está em outro nível e nada irá resistir sobretudo à história que ela tem para contar. Com um ou 80 milhões de televisores ligados, o fato é que tem tudo para criar daquelas imagens que insistem em ficar na lembrança.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Empresário quer intimidar a imprensa

Editorial - O Estado de S. Paulo - 18 de fevereiro de 2008



Numa ação orquestrada para intimidar jornalistas e empresas de comunicação, fiéis e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus ajuizaram dezenas de processos por dano moral contra os jornais Folha de S.Paulo e Extra. O primeiro jornal publicou em dezembro uma extensa reportagem mostrando como o fundador da seita, "bispo" Edir Macedo, usou o dinheiro do dízimo para montar um poderoso grupo empresarial, com o braço financeiro registrado no paraíso fiscal de Jersey. O segundo jornal noticiou a agressão a uma imagem de São Benedito - um santo católico - por um seguidor da Igreja, na Bahia.

Segundo a reportagem da Folha, o complexo empresarial de Edir Macedo é constituído por 23 emissoras de TV e 40 emissoras de rádio, o que o torna o maior proprietário de concessões do País. Além disso, o "bispo" evangélico é proprietário de 19 outras empresas, dentre as quais 2 gráficas, 1 imobiliária, 1 agência de turismo e 1 firma de táxi aéreo, todas registradas em nome de seus "pastores". A reportagem revelou ainda que a Universal arrenda as emissoras que integram a Rede Aleluia, que Macedo detém 99% das ações da TV Capital, geradora da Rede Record, e que ele tem à sua disposição um avião adquirido por US$ 28 milhões.

Nas dezenas de processos ajuizados contra a Folha, "pastores e fiéis" da Universal reivindicam indenizações de R$ 1 mil a R$ 10 mil, sob a justificativa de que a reportagem lhes causou prejuízos morais. Nas ações contra o Extra, os autores alegam que o objetivo do jornal não foi informar, mas provocar a "ira" dos católicos e criar um clima de "perseguição religiosa", submetendo os seguidores da seita ao "risco diário de sofrer agressões físicas e discriminações".

O que chama a atenção nessas ações de dano moral não é o baixo valor das indenizações pleiteadas nem a falta de fundamento nas justificativas, mas, sim, a estratégia utilizada pelo empresário para intimidar jornais e jornalistas. As ações contra o Extra foram ajuizadas não na cidade onde está a sede da empresa, mas em distintas comarcas no interior do Estado do Rio de Janeiro. Os processos contra a Folha foram protocolados em lugares ainda mais distantes - quase todos situados a cerca de 200 quilômetros da capital de diferentes unidades da Federação. E, embora as ações sejam individuais, quase todas as petições apresentam textos idênticos, deixando clara a existência de uma ação orquestrada.

Como os dois jornais têm de se defender em cada uma dessas comarcas, o expediente da Igreja os obrigou a contratar advogados nas cinco regiões do País, elevando significativamente os gastos das empresas que os editam. Além disso, como várias audiências foram marcadas no mesmo dia e em algumas cidades da Região Norte, cujo acesso somente se faz por barco, o departamento jurídico da Folha teve de montar uma logística especial para defender a empresa e a jornalista que assinou a reportagem. Muitos processos foram abertos em juizados especiais cíveis, o que, por lei, exige a presença do réu e aumenta os gastos das empresas com viagens e deslocamentos de advogados e jornalistas. E em vários processos os autores citam não somente os repórteres, mas também os diretores de redação - e todos são obrigados a comparecer às audiências, sob o risco de serem condenados à revelia.

Em nota de protesto, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) qualificou a estratégia da Universal como "intimidação ao livre exercício do jornalismo". Para a entidade, os "pastores" e fiéis que acionaram a Folha e o Extra não têm por objetivo "restabelecer a honra ou a verdade, mas apenas constranger empresas jornalísticas no seu dever de livremente informar a sociedade". "É uma tentativa espúria de usar o Poder Judiciário contra a imprensa e privar o cidadão do direito de ser informado", conclui a nota.

Felizmente, os magistrados encarregados de julgar esses processos já perceberam a má-fé dos reclamantes. Alguns juízes nem sequer acolheram as ações. E pelo menos um deles, Alessandro Pereira, da comarca de Bataguaçu, Mato Grosso do Sul, não só rejeitou sumariamente o pedido de indenização, como condenou o autor por litigância de má-fé. Com decisões como essa, a Justiça está tratando o querelante como o que ele realmente é - um ganancioso empresário bem-sucedido - e não como o pastor evangélico caluniado pelos inimigos da sua igreja, que é como ele se apresenta.