TV sem ética, jornalismo na lata do lixo
Reproduzo mensagem que recebi, com texto da jornalista Neusa Pereira, conhecida no meio televisivo, a respeito da repugnante exibição do suicídio do PM ocorrido ontem, 10 de abril, em frente ao Palácio dos Bandeirantes, que foi fartamente explorado pelo programa Cidade Alerta, da TV Record, um monumento à baixaria, ao sensacionalismo e ao mau jornalismo:
"Nós, jornalistas,fotógrafos, artistas, pessoas enfim que, de alguma forma, lidam com a comunicação de massa neste país, não podemos deixar passar impune "o verdadeiro show de baixo jornalismo" exibido pela TV RECORD, nesta quarta-feira, 10 de abril.
Apoiada na imagem de um ser humano verdadeiramente desequilibrado - um policial fardado com uma arma amarrada na mão - a emissora mostrou até a exaustão toda a trajetória dramática que o levaria a morte. No estúdio, em off, o apresentador quase que aos berros instigava o telespectador a permanecer ligado para as cenas que veria logo adiante - aquele ser humano se matando diante das câmeras. Em "slow motion" explorou todos os ângulos de expressão do suicida.
Fez do jornalismo um palco de horrores. Quando comecei na tv globo (tempos de Mercadante, Woile, Eurico) havia um rígido código de ética que impedia que se explorasse 'coisas desse tipo'.
Sem censura mas, com diretrizes bastante claras, aprendi desde cedo que suicídio não é 'notícia'. Não é notícia para quem leva o jornalismo a sério. Não é assunto para bons profissionais. Suicídio é pauta pobre. É pauta prá quem não quer ter trabalho com a notícia. Não exige nada, exige apenas que a câmera, usada como arma dessa imprensa marrom, se direcione para a infeliz vítima. Éé jornalismo covarde!
É jornalismo que nós não podemos aceitar! É preciso desmascarar essas pessoas que nem chamo de colegas porque não o são. E aqui é preciso dar nome aos bois. Llamento muito que Luís Gonzaga Mineiro, companheiro das lutas estudantis, parceiro de discussões que ajudaram a mudar este país, contemporâneo de boa safra de jornalistas - julio, valfrido, helena, carmem e outros - tenha descambado pela rota dos miseráveis do jornalismo sem pauta. Que tenha estabelecido como princípio, a ótica da exploração da ignorância humana, que tenha optado por esse jornalismo maneta que insufla o desatino.
Que tenha optado por um jornalismo 'de beiradas'. Jornalismo 'café com leite', de 'fritar bolinhos' , um tipo de jornalismo que desrespeita, dá tapa na cara, cospe sobre todos os princípios éticos e morais construídos ao longo do tempo por gente séria, honesta, batalhadora, que é desrespeitoso...
É coisa de direita que ainda alimenta a ignorância e alienação no país. O que a TV RECORD mostrou ofende princípios.
Ofende pessoas. Amassa e joga no lixo a 'ética editorial'. Mas como falar de ética prá ouvidos mercantilistas? Como discutir seriedade, quando a direção de jornalismo dessa emissora há muito vendeu os princípios que um dia amealhou aí pelos caminhos da vida?
Quem pode pensar em consistência de trabalho quando é a reverência que manda? Quando quem manda mesmo é um 'sim senhor' na ponta da língua?
Continuo com meus princípios e não abro mão deles e é por isso que não posso deixar de desabafar. A cena do infeliz policial que a TV RECORD exibiu hoje foi vista por muita gente. Pelo menos era disso que o apresentador se vangloriava e agradecia.
em muitas casas, ali na tv, o insólito...
.Ali, em frente a tv, a família, os amigos...os filhos desse homem viam na tela transformado em "circo" o drama de um ente querido.Viram de um jeito que o sr luiz gonzaga mineiro , chefe do departamento de jornalismo da tv record, jamais verá...
se acostumou a cegueira profissional.
Hoje é apenas um homem atrás de uma mesa correndo atrás de números - de salário e ibope, os do ibope, com a saída do datena, felizmente já começam faltar. Está instalado o 'salve-se quem puder'.
Pensam que é fácil fazer bom jornalismo? Jornalismo de categoria exige pauta, pesquisa, produção. Requer investimento em pessoas, equipamentos...
Exige responsabilidade, tempo e maturidade para saber se posicionar. Exige critério e cultura. Exige coração e alma.
Exige sentimento fundamentalmente. E isso o jornalismo da tv record não tem. Ela faz jornalismo inconsequente, fraco, sem conteúdo, sem referências, sem credibilidade. É jornalismo pautado apenas na desgraça humana. Jornalismo 'casca de ovo',
irresponsável....
Que o nosso o sindicato atue contra isso, afinal, prá fazer jornalismo assim ninguém precisa ir a faculdade, nem ter diploma.
Como arma, basta uma pequena câmera; como cena, um infeliz suicida. E está feito o jornalismo dessa gente."