sábado, agosto 22, 2020

Notas roqueiras: Pitty, Josyara, Apokrisis, A Drink to Death, Mortifer Rage...


Pitty (FOTO: DIVULGAÇÃO)
- Quinze anos após seu lançamento, a música “Anacrônico”, da Pitty, ganha uma versão muito especial num dueto dela com a cantora e compositora baiana Josyara. Tudo começou quando Pitty viu, na internet , um vídeo de Josyara cantando e tocando “Anacrônico” no violão. Ela gostou tanto que teve a ideia de fazerem uma versão juntas. Assim, a cantora enviou sua gravação para Pitty, que inseriu percussão, piano e fez alguns vocais. “Algumas músicas atravessam o tempo e em cada escuta surge um novo sentir; ideias, vontade de realizar qualquer coisa: o movimento. Para mim ‘Anacrônico’ é tudo isso. Quando ouvi tive coragem, levei para o repertório do meu primeiro show aos 14 anos. Recentemente tive desejo de cantar de um jeito diferente mas com o mesmo despertar de antes. Alegria maior ainda é poder compartilhar com Pitty, grande influência que me trouxe para tantos lugares de sons e delírio de ser artista” – contou Josyara.

- A banda paulistana Apokrisis lançará dia 14 de agosto, em todas plataformas digitais, o single "Absinthe From The Gods", faixa que estará presente no tão aguardado novo álbum do quarteto, "Misanthropy", com previsão de lançamento para o final de 2020. "Absinthe From The Gods" foi composta por Rodrigo Sanner, Evandro Bezerra, Emerson Soares, Alexandre Tamarossi e Thiago Schulze, com letras por Rodrigo Sanner e capa por Emerson Soares.

- O novo single da banda A Drink To Death acaba de ser liberada em todas as plataformas digitais. “Hopeless Delusion” é une death metal com riffs que remetem ao thrash metal. Confira:
https://open.spotify.com/track/1cgp8ODVYQfDbezcGadRrO?si=2ig3k2r6RbWD5iN9QICxdA

-  O baterista, Ângelo Petterson assume as baquetas da banda Mortifer Rage. É considerado um dos melhores instrumentistas de metal extremo de Minas Gerais.  

A rebeldia purista da banda O Preço

Nelson Souza Lima - especial para o Combate Rock/Superball Express

Rebelde por natureza o punk surgiu objetivando derrubar os muros da desigualdade. Com discursos, letras, riffs furiosos e muita atitude em prol de uma sociedade equânime as bandas punks (normalmente, já que tá tudo tão louco) são contrárias a governos totalitários.

Seguindo esta linha a recém-criada O Preço mostra no álbum de estreia seu inconformismo, marcando terreno contra o atual ocupante da cadeira presidencial.

"Acho o Bolsonaro um pateta incompetente, tiozão do chinelo Rider, mas essa é a minha opinião", diz o líder da banda, Christian Targa.

Mais conhecido como Gordo o cara empunha a guitarra e vocifera versos que escancaram as mazelas sociais sendo figura carimbada na cena punk rock. Por mais de 20 anos esteve à frente do Blind Pigs, grupo emblemático da época no underground brasuca.

Com "O Preço", o cara volta ao street punk, mostrando pros "nutellas" de plantão, como se faz punk roots.  Riffs e solos cortantes de guitarra, bateria reta e baixo com linhas envolventes dão o alicerce para o vocalista evidenciar sua postura contestatória, botando a contumaz rebeldia pra fora.

"Ainda sofremos os mesmos problemas e dificuldades, nesse ponto nada mudou. Porém muitas coisas mudaram pra pior, é praxe usar as letras para protestar, montar linhas de raciocínio, conclusões, mas eu gosto de tentar escrever de uma forma que a pessoa tenha uma identificação imediata, independente de pra qual time ela torce, afinal os problemas são de todos, todo mundo no mesmo Titanic, mas também tento deixar claro de que lado estamos, o lado do bom senso, lado do povo, lado dos mais necessitados, lutar contra o racismo e contra as injustiças do mundo é uma obrigação de todos nós, independente da sua crença em A ou B", atesta Targa.

Completam o grupo Luccas (guitarra/vocal), Marcos Rolando (baixo/vocal) e Mário Rolim (bateria) , sendo este responsável pela identidade visual e todo material de divulgação dos caras. Abaixo a entrevista na íntegra que Christian Targa concedeu por e-mail, falando de punk, roqueiros reaça, governo sem direção e, claro, o álbum estreante D'O Preço. Confira:

O Preço (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Superball Express- Começando pelo básico e direto. Como surgiu a ideia da banda e por que O Preço?

Christian Targa -
O Preço começou a ser trabalhado logo após a minha saída do Blind Pigs, passamos por algumas formações até chegar na formação que gravou o disco, mas logo após o lançamento nós chamamos o Luccas para compor a segunda guitarra e dividir alguns vocais comigo.

SBE - Você já tá na estrada há um bom tempo. Esteve à frente da Blind Pigs por mais de 20 anos. Como analisa a cena punk? O movimento está em qual momento? Uma vez que com o passar do tempo houve uma mudança no cenário com bandas novas surgindo e mostrando postura mais branda em relação ao sistema?

CT -
Acho que o discurso ainda é o mesmo, lutar contra tudo que é errado no mundo, botar toda rebeldia pra fora, sobre tudo o que nos incomoda na vida, politicamente, psicologicamente, ideologicamente, já diziam os Garotos Podres, "eu não gosto do governo, não confio no presidente, eu não acredito na ordem e progresso", é incrível como essa frase e tantas outras do punk são atemporais, Ainda sofremos os mesmos problemas e dificuldades, nesse ponto nada mudou. A cena punk teve um boom nos fim de 98, 99 em São Paulo, com a abertura do Hangar 110, que fortaleceu muito todas as bandas do estilo, hoje em dia tem menos público nos shows, mas foi uma queda gradual ao longo dos anos, mas ainda existem pessoas de bom gosto musical por ai, ufa.

SBE- No caso d'O Preço a sonoridade é bem roots. Com riffs e solos diretos, baixo marcado e batera reta. As letras falam das mazelas sociais atirando contra políticos corruptos, irracionalidade humana, instituições bancárias e desigualdade. No atual momento fazem mais sentido que nunca. Fale sobre isso.

CT -
Sim, como te disse acima, muita coisa no mundão não mudou, e muitas mudaram pra pior, é praxe usar as letras para protestar, montar linhas de raciocínio, conclusões, mas eu gosto de tentar escrever de uma forma que a pessoa tenha uma identificação imediata, independente de pra qual time ela torce, afinal os problemas são de todos, todo mundo no mesmo "Titanic", mas também tento deixar claro de que lado estamos, o lado do bom senso, lado do povo, lado dos mais necessitados, lutar contra o racismo e contra as injustiças do mundo é uma obrigação de todos nós, independente da sua crença em A ou B.

SBE - A ascensão de Jair Bolsonaro ao poder produziu uma situação esquisita entre os roqueiros. Muitos que "estavam escondidos no esgoto do autoritarismo" fizeram emergir seu discurso de ódio. O que pensa disso?

CT
- É uma pena, o radicalismo, independente do lado, não leva a lugar nenhum. Eu até me esforço pra entender o porquê algumas pessoas votaram no presidente, mas não consigo entender por que ainda o apoiam, depois de tanta presepada, tanto descaso com a pandemia e com a própria cultura, da qual esses músicos fazem parte, mas, cada um acredita no que quer, desde que não afete ou acerte o próximo, desde que haja respeito, eu acho o Bolsonaro um pateta incompetente tiozão do chinelo Rider, mas essa é a minha opinião.

SBE - Como foi o processo de produção do disco? Você é o letrista principal. Como foi chegar a estas quatorze músicas?

CT -
Foi um processo longo de uns dois anos, fazendo muita letra, muita música, aos poucos elas foram criando forma e passando por algumas "peneiras", aproveitando os arranjos de cada formação, ate chegar o momento de gravar, fiz todas as músicas e letras com exceção de "Unidos Somos Reis" na qual foi feita pelo batera Mário Rolim , ai fiz algumas adaptações em letra e melodia, assinamos a música juntos, e com certeza virão mais dessas parcerias com os caras, é fundamental a participação de todos nos próximos processos de composição.

SBE- O disco foi lançado em 2019 e neste ano vocês divulgariam, principalmente em shows, contudo a pandemia paralisou todos os eventos. Como estão divulgando?

CT -
Nós fizemos todo um planejamento de shows para 2020, mas quando a pandemia começou nós tivemos que cancelar mais de 14 shows só no primeiro semestre, SP, interior de SP e em outros estados, outras datas marcadas para o segundo semestre ainda serão adiadas, mas sem previsão. A banda no momento está cumprindo a risca a quarentena, apenas lançando produtos como bonés, camisetas, patches, também divulgando o disco nas plataformas digitais e os nossos dois clipes.

SBE - Uma vez que rádios comerciais dão pouco (ou nenhum espaço) pra divulgar o trabalho das bandas que buscam alternativas nas plataformas digitais. Vocês trabalham muito isso?

CT -
Sim, temos alguns conhecidos que tocam nossos sons na rádio aberta, caso do mestre Clemente e o Thiago DJ, mas somos mais tocados em rádios independentes, Antena Zero, Mutante Rádio, Real Punk Rádio entre outras. Mas o nosso disco está disponível em todas as plataformas digitais, incluindo o Bandcamp, muito usado fora do Brasil. O disco foi lançado em uma parceria com a Detona Records e a Vertigem discos no Brasil, nos EUA pela Otitis Media Records do Texas, e na Europa pela Comandante Records, todos os selos fazem um belo trabalho conjunto de divulgação e distribuição, tive muita sorte em achar parceiros especiais para esse lançamento.

SBE - No texto de apresentação é citada questão de liberdade e recomeço. Você tem no Preço toda a liberdade que não teve em outras bandas/projetos? O Preço tem a cara do Gordo?

CT -
Eu sempre tive muita sorte também em trabalhar com pessoas que me deram total liberdade artística, gravei só o que eu quis gravar, como eu quis, foi assim a vida inteira, n'O Preço não seria diferente, 100% minha cara! Eu me considero um sortudo em ter essa liberdade, o aval dos selos, investidores, carta branca, me considero um afortunado por isso.

Novo Metallica com orquestra é mais do mesmo

Marcelo Moreira




Comemorar os 20 anos de um lançamento importante repetindo a dose? É o que o Metallica decidiu fazer em 2020 em meio à pandemia e também diante das crônicas épocas de estiagem criativa.

"S&M 2" é uma espécie de reprise da megabanda de heavy metal para celebrar o platinado "S&M winth San Francisco Symphonic Orchestra, de 1999, provavelmente o lançamento de rock com orquestra mais bem-sucedido da história.

Sem a presença do espertíssimo e competente maestro Michael Kamen, já falecido, restou à banda repetir a ideia com a mesma orquestra, na mesma cidade e tentando ousar no repertório. Nada original - aliás, passando bem longe da inovação.

A crise sanitária mundial enfraqueceu o impacto do novo CD duplo, que estava sendo esperado desde o ano passado, quando foi gravado. Diante da escassez de produtos novos, os fãs se apegaram a esse repeteco.

Sem muito alarde, o trabalho chegou às plataformas digitais e tem ares de superprodução, tanto em áudio com em vídeo, como era esperado no padrão Metallica.

A banda continua poderosa e deu mais espaço para a orquestra, que finalmente bastante coisa ao som pesado dos thrashers, ao contrário do primeiro volume, de 1999.

Quando ao repertório, como já sabido, poucas surpresas. Aliás, quase nenhuma, o que causou certa frustração. Nem mesmo algumas das boas canções de "Death Magnetic" e "Hardwire..." marcam presença.

A aposta foi nos clássicos certeiros, incluindo coisas dos contestados discos dos anos 90, como "Load" - a banda realmente adora a música "Memory Remains".

O fim do CD 2 traz um sopro de coisas diferentes, com a sequência "Moth Into Flame", "The Outlaw Torn", "No Leaf Clover" e "Halo On Fire", canções mais recentes e menos óbvias.

É um trabalho legal e supre a falta de coisas inéditas ou novas, mas na realidade pouco acrescenta à discografia do grupo. É mais do mesmo, o que não quer dizer que seja ruim. No entanto, em rela~~ao a bandas do tamanho do Metallica, sempre esperamos mais  e o melhor.

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Confira todos os formatos disponíveis:

CD 1
1 – The Ecstasy Of Gold
2 – The Call of Ktulu
3 – For Whom the Bell Tolls
4 – The Day That Never Comes
5 – The Memory Remains
6 – Confusion
7 – Moth Into Flame
8 – The Outlaw Torn
9 – No Leaf Clover
10 – Halo On Fire

CD 2
1 – Intro to Scythian Suite
2 – Schythian Suite, Opus 20 II: The Enemy God and the Dance of the Dark Spirits
3 – Intro to The Iron Foundry
4 – The Iron Foundry, Opus 19
5 – The Unforgiven III
6 – All Withing My Hands
7 – (Anesthesia) – Pulling Teeth
8 – Wherever I May Roam
9 – One
10 – Master of Puppets
11 – Nothing Else Matters
12 – Enter Sandman

DVD / BLU-RAY

1 – Menu (com “Moth Into Flame”)
2 – Intro (com “Wherever I May Roam” e “All Within My Hands”)
3 – The Ecstasy Of Gold
4 – The Call of Ktulu
5 – For Whom the Bell Tolls
6 – The Day That Never Comes
7 – The Memory Remains
8 – Confusion
9 – Moth Into Flame
10 – The Outlaw Torn
11 – No Leaf Clover
12 – Halo On Fire
13 – Intro to Scythian Suite
14 – Schythian Suite, Opus 20 II: The Enemy God and the Dance of the Dark Spirits
15 – Intro to The Iron Foundry
16 – The Iron Foundry, Opus 19
17 – The Unforgiven III
18 – All Withing My Hands
19 – (Anesthesia) – Pulling Teeth
20 – Wherever I May Roam
21 – One
22 – Master of Puppets
23 – Nothing Else Matters
24 – Enter Sandman
25 – Credits
26 – Behing the Scenes: Making of the Show
26 – All Within My Hands Promo

FILME DIGITAL
1 – Intro (com “Wherever I May Roam” e “All Within My Hands”)
2 – The Ecstasy Of Gold
3 – The Call of Ktulu
4 – For Whom the Bell Tolls
5 – The Day That Never Comes
6 – The Memory Remains
7 – Confusion
8 – Moth Into Flame
9 – The Outlaw Torn
10 – No Leaf Clover
11 – Halo On Fire
12 – Intro to Scythian Suite
13 – Schythian Suite, Opus 20 II: The Enemy God and the Dance of the Dark Spirits
14 – Intro to The Iron Foundry
15 – The Iron Foundry, Opus 19
16 – The Unforgiven III
17 – All Withing My Hands
18 – (Anesthesia) – Pulling Teeth
19 – Wherever I May Roam
20 – One
21 – Master of Puppets
22 – Nothing Else Matters
23 – Enter Sandman
24 – Credits
LP 1 / LADO UM
1 – The Ecstasy Of Gold
2 – The Call of Ktulu
3 – For Whom the Bell Tolls

LP 1 / LADO DOIS
1 – The Day That Never Comes
2 – The Memory Remains
3 – Confusion

LP 2 / LADO TRÊS
1 – Moth Into Flame
2 – The Outlaw Torn

LP 3 / LADO QUATRO
1 – No Leaf Clover
2 – Halo On Fire

LP 3 / LADO CINCO

1 – Intro to Scythian Suite
2 – Schythian Suite, Opus 20 II: The Enemy God and the Dance of the Dark Spirits
3 – Intro to The Iron Foundry
4 – The Iron Foundry, Opus 19
5 – The Unforgiven III

LP 3 / LADO SEIS

1 – All Withing My Hands
2 – (Anesthesia) – Pulling Teeth
3 – Wherever I May Roam

LP 4 – / LADO SETE
1 – One
2 – Master of Puppets

LP 4 / LADO OITO
1 – Nothing Else Matters
2 – Enter Sandman

sexta-feira, agosto 21, 2020

Frankie Banali, baterista do Quiet Riot, morre aos 68 anos

Marcelo Moreira

Frankie Banali (FOTO: DIVULGAÇÃO/ARQUIVO PESSOAL)
Era só uma questão de tempo, ele sabia, tanto que declarou isso em uma de suas últimas entrevistas, no ano passado. Frankie Banali, baterista do Quiet Riot e com passagem pelo W.A.S.P., entre outros, morreu nesta quinta-feira (20), aos 68 anos, em razão de um câncer no pâncreas em estágio 4, o mais grave.
Quem curte Quiet Riot costuma lembrar do auge da banda, nos anos 80, com o cantor Kevin DuBrow, morto em 2007, o guitarrista Carlos Cavazo e o baixista Rudy Sarzo, além de Banali. O baterista era o menos celebrado, mas foi o cara que segurou as pontas desde sempre.

O Quiet Riot já tinha uma história quando Banali chegou, em 1982 - a banda revelou Randy Rhoads, que estourou mundialmente com Ozzy Osbourne. A partir do terceiro disco, participou de todos e tomou para a si a tarefa de manter a banda viva quando o sucesso sumiu.

O Quiet Riot tem na formação atual o guitarrista Alex Grossi e o baixista Chuck Wright, além do vocalista Jizzy Pearl. Com pandemia de coronavírus e os pronblemas de saúde de Banali, o grupo está parado. Não há indicação de como será o futuro sem o líder.

Frankie Banali também gravou álbuns com o W.A.S.P., entre eles "The Headless Children" (1989) e "The Crimson Idol" (1992). Sua bateria pode ser ouvida também em trabalhos de Billy Idol, Faster Pussycat, Steppenwolf e Hughes/Thrall.

O baixista Glenn Hughes, muito próximo a todos os membros do Quiet Riot, lembrou com carinho, em uma das passagens pelo Brasil, como foi interessante trabalhar com os amigos Banali e DuBrow. "O clima era sempre para cima, um astral lá em cima. As portas se fechavam, trabalhávamos duro, mas sempre com bom humor. Tudo era bem fácil."

A 'nova onda' britânica que definiu o metal moderno completa 40 anos

Marcelo Moreira

Mais relevante e menos ambicioso do que o punk; mais duradouro e mais bem tocado do que o punk. mais rebelde e mais perigoso do que o punk.

São vários os argumentos que os headbangers elencam para mostrar o porquê de o heavy metal ser mais importante e merecer mais atenção do que o punk rock - e ainda assim os metaleiros se ressentem sobre o punk ter um lugar m,ais destacado na história.

A discussão e longa e provavelmente não vai chegar a lugar a nenhum. Entretanto, uma coisa é indiscutível: a longevidade e a "durabilidade" do metal, e isso ocorreu basicamente por conta de um movimento que ajudou a enterrar o rápido e efervescente punk: a nova onda do heavy metal britânico (new wave os britush heavy metal, conhecida pela sigla NWOBHM), que surgiu há 40 anos e tomou conta do planeta.

Nos anos 70 era simplesmente rock pauleira, quando Led Zeppelin, Judas Priest, Uriah Heep, Black Sabbath e Deep Purple, entre muitos outros, abusavam do som pesado e distorcido.

Foi então que o termo heavy metal ganhou corpo no fim da década e batizou o movimento das bandas de rock que se apresentavam como alternativa rebelde e revolucionária ao punk, mas com mais qualidade, mais peso, mais agressividade e mais conteúdo.



Abarcando alguns subgêneros do rock, a NWOBHM mostrou coerência e compromisso com uma "revolução" em um mundo em constante e rápida transformação.

O punk fez o estardalhaço e mostrou que a volta à simplicidade e a busca por novos horizontes era necessária em uma sociedade que havia absorvido e deglutido o rock e que desdenhava da desigualdade social e do avanço da pobreza mesmo nas sociedades mais abastadas.

Levando ao extremo a máxima de Neil Young - é melhor queimar logo e rápido do que ir se consumindo aos poucos -, os punks quebraram tudo e logo implodiram, deixando cacos para todos os lados e um espaço enorme para que os metaleiros resolvessem mostrar que eles eram os verdadeiros guerreiros perigosos que poderiam incomodar o sistema. E o fizeram por um bom tempo.

O rock pesado já dava as caras no underground inglês enquanto os punks dominavam tudo na segunda metade dos anos 70, mas eram underground demais, toscos demais e sujos demais. E é claro que não gostaram nenhum pouco quando os punks de butique dos Sex Pistols se tornaram os caras mais perigosos da música.

Parecia premonição, mas os punks estavam no fim do prazo de validade em 1979 e murchavam, mesmo quando The Clash lançava seus melhores trabalhos. E aí surgem os headbangers levando à frente um som pesado, sujo e contundente, mas sem a urgência e a tosqueira punk. A música era o mais importante e primordial para a revolução.

As origens até podem ser as mesmas, mas a estética e os objetivos, bem diferentes. Eram quase todos moleques pobres e desempregados na Grã-Bretanha em crise no início do governo ultraliberal de Margaret Thatcher, como os punks.

A maioria morava em cidades industriais devastadas pela economia em baixa, como Sheffield, Birmingham, Coventry, Wolverhampton, Leeds e o cinturão metropolitano de Londres.

Por uma série de motivos, não se identificavam com a delinquência punk e com a sede de destruição. Os meninos que deram o pontapé inicial à NWOBHM queriam, antes de tudo, construir. E isso ficou claro na determinação de um baixista londrino ex-jogador de futebol.



Steve Harris era teimoso em demasia e não sossegou enquanto não transformou o seu Iron Maiden em um dos pilares do movimento.

Enquanto o punk desmoronava, o Iron Maiden e uma série de microbandas de existência efêmera transformavam os clubes da periferia de Londres em um campo fervilhante de música quente, pesada e perigosa.

Ao mesmo tempo, o Saxon vinha de Barnsley e de um sucesso relativo em Sheffield para dar sustentação ao movimento nascente com seu LP e estreia e o Def Leppard abria as portas das emissoras de rádio e começava a aparecer em fanzines e revistas de música.

"Nunca se tratou de ser melhor o pior do que o punk. Esteticamente era tudo diferente, nós queríamos coisas diferentes, apesar de haver algumas coisas convergentes. Usávamos a agressividade para construir uma cena, um novo tipo de som, com certa reverência ao passado. O punk era devastação e iconoclastia e pareceu sempre ter data da validade", disse certa vez Jess Cox, ex-vocalista do Tygers of Pan Tang e dono da Neat Records em um documentário da BBC sobre a NWOVHM.

E a nova cena veio para ficar, transformando aquela agressividade e o som pesado e rápido, às vezes esbarrando no punk, no que se convencionou chamar de heavy metal moderno, ou a essência do metal, por assim dizer, já que heavy metal mesmo não existia antes, como subgênero, antes da chegada da molecada inglesa dos anos 80.

Curiosa e coincidentemente, uma das pontas de lança do movimento era um moleque punk, delinquente e pouco chegado ao próprio heavy metal. Paul Di'Anno se tornou o vocalista do Iron Maiden e, de certa forma, a cara desse novo heavy metal com sua insana presença de palco e seus berros insanos em cima de canções rápidas, icônicas e pesadas.

Honrado a máxima, o punk que não gostava muito de metal Di'Anno preferiu se autoincinerar a se consumir aos poucos e não durou muito como cantor do Iron.



Misturando um comportamento punk autodestrutivo com uma série de desrespeitos variados, foi demitido e substituído por um fã de Ian Gillan (cantor do Deep Purple) que cantava em uma banda de hard rock - seu nome é Bruce Dickinson, que era do Samson.

A fita cassete "Soundhouse Tapes", com quatro músicas, transformou o Iron Maiden na próxima grande coisa em 1979 a estourar, conduzindo o quinteto ao estúdio tempos depois para gravar e lançar "Iron Maiden" em 1980, o disco que é considerado o marco zero do metal moderno, por assim dizer.

O álbum de estreia do Saxon, "Saxon", de 1979, não explodiu, mas deu prestígio suficiente para que o quinteto ganhasse destaque em registas e jornais para ganhar um contrato interessante com uma gravadora renomada e produzisse um petardo como "Wheels of Steel".

A outra perna do tripé, o Def Leppard, de Sheffield, talvez a banda mais talhada e preparada pera o sucesso dentro da cena, aproveitava cada segundo de oportunidade e mostrava um som mais acessível, ainda que forte e denso, baseado no hard rock em "On Through the Night", que abriu as portas do estrelato antes mesmo do estouro do Iron Maiden.

Com a porta aberta, as emissoras de rádio, jornais, revistas e clubes de Londres abraçaram a novidade e transformaram a região metropolitana na capital do rock pesado.

Veteranos como Judas Priest se beneficiaram, enquanto recepcionavam grupos promissores como Tyger of Pan Tang, Demon, Angel Witch, Tank, Witchfynde General, Satan e muitos outros, que começaram a lotar as coletâneas em LP que invadiram as lojas de discos.

Se o heavy metal foi criado pelo Black Sabbath e ganhou formas também com o som pesado do Led Zeppelin e do Deep Purple, entre outros, o metal como o conhecemos hoje, em sua forma moderna, surgiu com a NWOBHM e tendo o Iron Maiden como seu representante máximo. Sem o movimento não teríamos thrash metal, black metal, death metal e todos os sub subgêneros que vieram em seguida.

Melhor e mais relevante do que o punk? Vamos dizer que é uma disputa importância. O legado dos novos metaleiros ingleses dos anos 80 é a melhor resposta para esse tipo de polêmica

Notas roqueiras: Nuclear Warfare, Stab, Seventh Sign From Heaven, Hell Gun...




- A banda alemã de thrash metal Nuclear Warfare, que conta com a presença do baterista brasileiro Xandão Brito (Andralls), lançou o videoclipe de "Lobotomy", faixa-título do sexto álbum do grupo, que será lançado no dia 28 de agosto pela gravadora MDD, da Alemanha. "A faixa-título do novo álbum tem uma levada rápida (D-beat), riffs pegajosos e um refrão marcante, algo que irá agradar os fãs, pois se trata de uma mescla entre o thrash alemão e o punk sujo que a banda tanto ama", declarou Xandão Brito. O clipe, gravado na cidade de São José dos Campos(SP), teve produção a cargo de Felipe Rocha (Rocha Felipe Produções). "Nós contamos com participações de alguns amigos atuando, como Jairo Vaz Neto (Chaos Synopsis), Plínio Leo Sene (Head Krusher), Leandro Gavazzi (Maledettos) e Andressa Almeida", acrescentou o baterista. Veja o clipe de "Lobotomy", produzido por Felipe Rocha, em https://youtu.be/uz5xqVr9_lI. O sucessor de "Empowered By Hate" (2017) foi gravado no Estúdio Oversonic, em São José dos Campos (SP), com produção a cargo de Friggi Mad Beats (Chaos Synopsis), com masterização de Neto Grous, na Absolute Master. Já a arte de capa foi feita pelo artista e tatuador Edu Nascimentto. 

- O power-trio paulista de thrash metal Stab teve a ascendente divulgação do EP Sepulchral Lullaby interrompida por causa da pandemia da covid-19. Nos primeiros meses do ano, a banda fizera shows ao lado de nomes como Surra e Krisiun na cidade natal, Piracicaba, e tinha outros agendados, consequentemente cancelados. Sem se acomodar, Murilo (guitarra/vocal), João (baixo) e Leonardo (bateria) levaram a divulgação para as redes sociais e agora anunciam a produção profissional de live sessions de três músicas inéditas e um cover, que serão lançadas no começo de setembro. “Lies”, “We Deserve Another Day”, “Conspiracy” e “War Is Hell” (cover do Toxic Holocaust) são as novas músicas gravadas e produzidas em formato collab (tela dividida) no Casarão Music Studio, por Franco Torrezan – mesmo local onde foi produzido Sepulchral Lullaby entre o final de 2019 e começo de 2020. O material inédito já recebe os últimos ajustes. 

- Fazendo a divulgação de seu recém-lançado álbum de estúdio, “The Woman and The Dragon”, o Seventh Sign From Heaven acaba de anunciar que disponibilizou para audição em seu canal oficial no Youtube o single da faixa “Rise”. Você pode ouvi-la no seguinte link: https://youtu.be/VTFazHEonLA 

A banda paranaense Hell Gun está lançando seu primeiro álbum em todas as plataformas digitais nesta quinta-feira, 6 de agosto. Composto de nove faixas, “Kings of Beyond” está sendo lançado em formato físico pelo selo Classic Metal Records, e já pode ser adquirido diretamente com a banda através da página do Facebook. Matheus Luciano (vocal), Lucas Licheski e Jean Fallas  (guitarras), Marllon Woicizack (baixo) e Sidnei Dubiella (bateria) contaram com a experiência do produtor Arthur Migotto (Heavytron Sound Studio) e do artista gráfico Giovanne Bernardino para conceber o trabalho, que no decorrer dos últimos meses teve faixas lançadas em formato de single nas plataformas digitais, bem como um lyric video, um vídeo clipe e uma faixa disponibilizada na coletânea virtual Brazilian Metal Attack Vol. 06”. Ouça o álbum no Spotify:
https://open.spotify.com/album/5oedcTtvlkLpPgPJLTGdA6

Nova coletânea traz raridades e reforça a importância dos primórdios do metal moderno

Marcelo Moreira




Os 40 anos da explosão do moderno heavy metal ganha um lançamento fundamental
para celebrar a data e mostrar a pelo menos duas gerações de roqueiros de onde veio a música poderosa e pesada que se tornou um símbolo da juventude depois dos anos 80.

"NWOBHM Thunder: New Wave of British Heavy Metal 1978-1986" é uma sequência excelente box set de 2018, "NWOBHM: Winds of Time", da Cherry Red Records. A sigla impronunciável até para  metal brita maioria dos ingleses é significa new wave of british heavy metal (nova onde do heavy metal britânico, em português).

Culturalmente rica e variada, a tal cena atropelou os escombros do movimento punk, que se deteriorava, e assumiu o posto de atividade rebelde por excelência com a mesma veemência, embora sem a violência que, às vezes, caracterizava a turma dos Sex Pistols e do Clash.

Entretanto, as duas cenas tinham grande relação e uma intersecção bem profunda - não é coincidência que o vocalista da banda mais emblemática, o Iron Maiden, fosse um punk que não curtia muito o heavy metal - no caso, o encrenqueiro Paul Di'Anno, que seria demitido em 1981.

Ao contrário de outras coletâneas importantes que surgiram nestes 40 anos, esta privilegia algumas bandas obscuras que não emergiram do underground, embora alguns clássicos obrigatórios estejam lá.

É o caso de Saxon, Raven e Venom, ao lado de menos conhecidos como Elixir, Cloven Hoof e Witchfynde. Tem também coisas ou pouco mais "avançadas", cronologicamente, como Battlezone, um dos projetos posteriores de Di'Anno, e o hard rock do Samson, a primeira banda de sucesso de Bruce Dickinson, que sucedeu o cantor punk no Iron Maiden em 1981.

Houe o resgate de algumas raridades, como "She’s No Angel", do Streetfighter, banda que contou com John Sykes, que faria sucesso no TRygers of Pan Tang e no Whitesnake, "Feel the Power", do Tarot, “En Cachent (Demo Version)” do power trio Shiva, assim como canções obscuras das bandas femininas Rock Goddess e Girlschool.

Outra curiosidade deste lançamento é o período de abrangência, estendendo até 1986 para abarcar uma gama maior de bandas que não necessariamente participaram do boom de bandas do movimento, geralmente compreendido entre 1980 e 1983.

Isso não ofusca, no entanto, a importância do lançamento, que relembra importantes canções da NWOBHM e resgata raridades que reforçam o caráter libertário, marginal e rebelde dos primórdios do heavy metal moderno.

quinta-feira, agosto 20, 2020

Ian Gillan, 75 anos: uma voz gigante que une gerações

Marcelo Moreira

FOTO: IAN GILLAN OFFICIAL SITE/FACEBOOK
FOTO: IAN GILLAN OFFICIAL SITE/FACEBOOK

O Brasil já estava no circuito internacional de turnês de nomes importantes do rock em 1990, mas ainda havia um certo ressentimento, pois alguns dos grandes heróis ignoravam o país, ainda que fossem veteranos. Nem mesmo o Deep Purple e Black Sabbath capengas daquele tempo se dignavam a tocar por aqui.

Dos grandes nomes do chamado rock pesado (dinossauros), um dos primeiros a pisar por aqui Ian Gillan, em carreira solo. Recém-saído do Deep Purple, causou euforia entre os roqueiros em shows concorridíssimos no mês de agosto no antigo Projeto SP, pertinho da rua da Consolação, em São Paulo.

"Era um mundo novo para todos os artistas que decidiram tocar em outros países. A América do Sul era distante, sabíamos que havia um grande público, mas nunca eu poderia imaginar o tamanho da paixão que existe pelo rock nesta região", comentou o cantor do Purple 15 anos depois, em mais uma passagem com a mítica banda inglesa. "Eu e o Purple demoramos demais para vir."

Coincidência ou não, logo uma enxurrada de craques invadiu o país naquela década - Deep Purple com Joe Lynn Turner nos vocais, Black Sabbath com Dio cantando, Uriah Heep, Nazareth, Rainbow, os retornos de Ozzy Osbourne, Iron Maiden e Kiss...

Os 30 anos da primeira passagem de Ian Gillan pelo Brasil coincide (não seria o contrário?????) com a comemoração de seus 75 anos de vida. São 58 anos de carreira, e ainda com bastante vontade nos palcos, embora a voz não seja mais a mesma - pela potência e pela exímia técnica, nunca teve medo de "esticá-la" para atingir notas impossíveis.

Seja como for, ainda à frente do interminável Deep Purple, o cantor que é chamado de "Silver Voice" faz questão de, a cada entrevista (onde muitas vezes abusa da ironia e do sarcasmo), de deixar claro: ainda tem bastante coisa a dizer.

As conversas sobre parar e se aposentar surgiram há pelo menos dois anos, quando se anunciou que a mais recente turnê mundial seria a última da banda, que decidiria pelo fim das atividades ou tornar-se um grupo de estúdio - quase todos são septuagenários.

Deep Purple nos anos 2010 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Entretanto, os planos parecem ter sido adiados. O próprio Gillan, nas redes sociais, anunciou que a banda fará uma pequena turnê inglesa com o Blue Oyster Cult em outubro (adiada para 2021 por conta da pandemia de coronavírus. "Whoosh!", o novo álbum recém-lançado, mostra que ainda há um bom fôlego, embora a fase criativa não seja tão esplendorosa.

"Ainda temos vontade de tocar", disse na mensagem. "Gravamos em Nashville e o nosso produtor, Bob Ezrin, nos convidou para um jantar legal. Perguntei se havia algum motivo para aquilo e ele disse de forma direta: 'Vamos celebrar o fato de ainda estarmos vivos'."

Há maneiras de interpretar essa "celebração" vinda de um produtor que trabalhou com Pink Floyd, Kiss e mais um monte de gente. Conhecido por seus excessos com álcool e drogas, pode significar que é um sobrevivente.

Para Gillan, no entanto, a questão é outra. É uma dádiva que um gigante como o Deep Purple ainda tenha a plena capacidade de fazer bom rock and roll após 53 anos de sua criação.

Começo difícil

Cantor desajeitado nos Javelins e aspirante a astro no Episode Six, estava prestes a entrar em parafuso - assim como ocorreu com futuro parceiro Ritchie Blackmore: "Estou próximo dos 25 anos e ainda não fiz sucesso. Será que meu tempo passou?"

Eram os anos 60, onde a molecada ditava os rumos do rock em todos os subgêneros - é bom lembrar que os Beatles viraram astros mundiais quando tinham entre 22 e 25 anos.

A sorte foi que o guitarrista Blackmore e o tecladista Jon Lord estava patinando naquele ano de 1969 mesmo após três LPs lançados na Europa, sem muito alarde.

Episode Six em 1967: da esq. para a dir., Harvery Shield, Tony Lander, Roger Glover, Sheila Carter, Graham Carter e Ian Gillan (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Episode Six em 1967: da esq. para a dir., Harvey Shield, Tony Lander, Roger Glover, Sheila Carter, Graham Carter e Ian Gillan (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O rock progressivo-psicodélico do quinteto não tinha emplacado, mesmo no auge do subgênero, e então decidiram radicalizar: rock pesado, como faziam Jimi Hendrix, The Who, Cream e uma bandinha estreante chamada Led Zeppelin.

Nick Simper (baixo) e Rod Evans (vocais) pagaram o pato e foram demitidos. E eis então que a sorte sorriu para aquele cantor alto e cabeludo de voz potente, mas que estava empacado no empacado Episode Six. A indicação foi certeira, e Jon Lord dirimiu qualquer dúvida do irascível Blackmore.

"Não havia a menor dúvida de que tinha de ser Gillan e tinha de ser Roger (Glover, também baixista do Episode Six e que acompanhou o cantor ao Purple)", disse o tecladista em uma mesa de bar em São Paulo no início dos anos 2000. "Desde o começo entenderam direitinho o que queríamos e a nossa mudança de rumo. Ritchie sempre foi cauteloso, mas depois viu que era a decisão acertada."

'Salvo' pelo Deep Purple, torna-se astro do rock

Genioso e generoso, ousado e culto, virtuoso e esperto, Ian Gillan se transformou como cantor de uma banda de primeiro time. Logo chamou a atenção e dividiu as atenções muitas vezes com Robert Plant (Led Zeppelin) e Roger Daltrey (The Who). Tornou-se espelho para toda uma geração de cantores, recebendo a admiração de gente como David Byron (Uriah Heep), Paul Rodgers (Free e Bad Company) e Glenn Hughes (na época, Trapeze)

Alçado a astro internacional do rock, frontman de uma banda fantástica e reconhecido com bom compositor e letrista, Gillan ganhou estofo e finalmente sua forte personalidade aflorou, com méritos, para assumir e incorporar a posição de destaque dentro da banda e do ainda incipiente rock pesado. Pena que havia um Blackmore no caminho.

Segunda formação do Deep Purple (mark II), considerada a clássica: em pé, da esq. para a dir, Ritchie Blackmore (guitarra), Roger Glover (baixo) e Ian Paice (bateria; sentados: Ian Gillan (esq.) e Jon Lord (teclados) (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Segunda formação do Deep Purple (mark II), considerada a clássica: em pé, da esq. para a dir, Ritchie Blackmore (guitarra), Roger Glover (baixo) e Ian Paice (bateria; sentados: Ian Gillan (esq.) e Jon Lord (teclados) (FOTO: DIVULGAÇÃO)


Após quatro anos, o clima no Deep Purple ficou insuportável. Lord tentava conciliar e mediar, mas essas eram tarefas quase impossíveis diante do competitivo e rabujento guitarrista. Estressadíssimo, Gillan tomou a decisão de sair em 1973. Pior, tomou a decisão de abandonar a música.

Foram quase cinco anos como empresário - primeiro na construção de lanchas, depois como dono de hotel -, até que percebeu que estava na atividade errada, perdendo dinheiro e desperdiçando talento.

A carreira solo surpreendeu muita gente por volta de 1977, com uma mistura de rock progressivo e hard rock. Sem a proteção do Purple, era um dos bons artistas daquele fim de década e garantiu um bom circuito de shows na Inglaterra e na Europa com a Ian Gillan Band e com a banda Gillan.

ian gillan band
'Scarabus', talvez o mais conhecido trabalho da Ian Gillan Band


Carreira solo à míngua, Black Sabbath no horizonte
À perda de fôlego nos anos 80 seguiu-se uma cirurgia na garganta e o fim da banda solo, e eis que, de repente, em 1983, a voz maior do Purple assume os vocais do Black Sabbath. Foram menos de 18 meses loucos e confusos, mas que ele adorou pela camaradagem e amizade, mas nem tanto pelos resultados musicais. Só que sempre aparece um Blackmore no caminho.

A formação clássica do Deep Purple, de forma sigilosa e também surpreendente, voltou com tudo em 1984 para cinco anos de sucesso, mas, como sempre nesta história, havia um Blackmore no caminho.

Novas brigas, novas sacanagens, e Gillan sai de novo, para retornar em 1993 na turnê de 25 anos de fundação da banda. Era para ser só uma turnê comemorativa para Gillan, que depois voltaria a cuidar da vida, mas as coisas foram diferentes: desta vez Blackmore saiu do caminho - o guitarrista brigou de novo com Gillan e exigiu a sua saída, mas não teve apoio. Abandonou a banda durante a perna europeia da turnê, sendo substituído às pressas por Joe Satriani.

Nos últimos anos Gillan assumiu para si o papel de imagem do Deep Purple, ainda mais depois da aposentadoria de Jon Lord em 2003. Líder cordato, mas firme, dá as coordenadas da banda com o apoio de Glover e do baterista Ian Paice, o único remanescente da formação original.

"Nunca foi tão fácil trabalhar na banda como nos últimos 20 anos. A tensão sumiu e há muito mais cooperação e participação em todos os aspectos da banda, sejam criativos ou não", revelou o cantor à revista britânica Classic Rock no final da década passada.

Black Sabbath na turnê de 1983/1984: da esq. para a dir., Geezer Butler (baixo), Bev Bevan (bateria), Tony Iommi (guitarra) e Gillan (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Black Sabbath na turnê de 1983/1984: da esq. para a dir., Geezer Butler (baixo), Bev Bevan (bateria), Tony Iommi (guitarra) e Gillan (FOTO: DIVULGAÇÃO)


'Born Again', amado no Brasil, desprezado pelo vocalista

Exigente e detalhista, Ian Gillan tem a capacidade de ser bastante desagradável algumas vezes, mas também costuma ser atencioso e comunicativo. E isso aconteceu em uma das suas inúmeras visitas a São Paulo com o Deep Purple, após uma entrevista coletiva, falando de um assunto que não aprecia - o álbum "Born Again", que gravou com o Black Sabbath em 1983.

“O pior disco da minha vida é o mais cultuado no Brasil. Não consigo entender isso.” A declaração é de um surpreendentemente bem humorado Ian Gillan em 1997, na entrevista coletiva em um hotel de São Paulo, às vésperas de mais um show do Deep Purple na cidade. Ele não se estendeu muito, pois a pergunta foi feita por um fã quando ele ia para o seu quarto.

Dois dias mais tarde, após a apresentação no antigo Olympia, em um bar rock que já não existe mais, ainda mais bem humorado, Gillan disse que era quase inacreditável que o álbum tenha saído como saiu e soltou o verbo contra “Born Again”, seu único trabalho com o Black Sabbath, em 1983.

“Tudo estava meio confuso, estava bagunçado, e sei que Tony (Iommi) não trabalhava daquela forma. Mas as coisas estavam esquisitas, Bill (Ward) estava com seus problemas crônicos de saúde, Geezer (Butler) estava muito preocupado com coisas fora da banda. Algumas músicas eram realmente boas, mas a produção é muito ruim, há sons que não faço ideia do que são. Não sei se é o pior de minha carreira, mas não gosto dele. O tempo que passei no Sabbath foi maravilhoso, amo Tony e Geezer, mas o resultado não foi bom. Não entendo porque brasileiros, argentinos, mexicanos e gregos amam esse trabalho”, disse o vocalista.

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No Programa Combate Rock desta semana: Martin Birch, Pete Way, Lei Aldyr Blanc e livros taxados




No Combate Rock desta semana, trazemos alguns assuntos que estão afligindo o setor cultural: a demora na regulamentação da Lei Aldir Blanc, o que atinge trabalhadores da área; a proposta feita pelo Ministério da Economia em taxar os livros. Será a missão deste governo destruir a Cultura neste país?

Também falamos sobre dois nomes importantes da música que morreram na semana passada: o produtor Martin Birch (Deep Purple, Black Sabbath, Whitesnake e Iron Maiden) e o baixista Pete Way (ex-UFO e Fastway).

Clique no player e ouça.

Evanescence libera a música ‘Use My Voice’

Do site Roque Reverso




O Evanescence liberou mais uma amostra do novo álbum que deve ser lançado ainda em 2020. A escolha da vez é a música “Use My Voice”.

A canção vem em formato de single, cuja capa acompanha este texto.

Também conta com uma série de participações especiais importantes, como a da vocalista do grupo The Pretty Reckless, Taylor Momsen, a vocalista do Halestorm, Lzzy Hale, e a vocalista do grupo Within Temptation, Sharon den Adel.

Participam ainda da gravação da música a violinista Lindsey Stirling; a coautora da faixa e amiga de longa data da vocalista do Evanescence, Amy Lee, Deena Jakoubof; as irmãs de Amy, Carrie South e Lori Lee Bulloch; e Amy McLawhorn, esposa de Troy McLawhorn, guitarrista do Evanescence.

Conforme o release sobre o lançamento distribuído pela banda, a música busca conscientizar o público sobre o uso da voz da população para promover maior justiça no mundo.

Não por acaso, a faixa tem sido usada em uma campanha da ONG HeadCount para motivar as pessoas a votarem nas eleições deste ano nos Estados Unidos.

“Use My Voice” é a terceira amostra do disco “The Bitter Truth”. Antes dela, o Evanescence havia trazido duas ótimas músicas com grandes clipes: “Wasted on You” e de “The Game Is Over”.

O disco mais recente da banda foi “Synthesis”, que chegou ao público em novembro de 2017.

“Synthesis” é considerado o quarto de estúdio do Evanescence, mas tem um conceito diferente do tradicional, já que incluiu versões regravadas do material antigo do grupo com arranjo de orquestra e elementos de música eletrônica, além de duas músicas inéditas.

Antes de “Synthesis”, o Evanescence havia lançado os seguintes discos: “Fallen” (2003), “The Open Door” (2006) e “Evanescence” (2011).

Até o momento, não há mais detalhes sobre a data exata de lançamento do disco “The Bitter Truth”.

Notas roqueiras: REV, April 21st, Gustavo Mackaco...




- O segundo single do álbum de estreia da REV, “Fake It ‘Till You Make It”, está chegando acompanhado por um lyric vídeo. A música foi composta por Michel Vontobel, REV e pelo artista belga Soham Kothari. Ouça e assista aqui. Em 2017, ao mudar para Los Angeles, a gaúcha REV conheceu como funciona a indústria da música na capital mundial do entretenimento. Uma frase utilizada por muitos para a descrever é “fingir até conseguir”, “fake it ‘till you make it” em inglês.

- A banda mineira April 21st lançou recentemente, no formato digital, o seu mais novo single "Coldest July". O referido trabalho foi produzido no estúdio Sonastério em Nova Lima, Minas Gerais, contando com a assinatura de Arthur Damásio (gravação/edição/mixagem) e Bruno Barros (gravação/produção). A masterização do single ficou à cargo do renomado Tony Lindgren (Fascination Street Studios – Suécia), que já desenvolveu trabalhos similares para artistas como Sepultura, Opeth, Kreator, Dragon Force, entre outros. "Coldest July", que contou ainda com a participação do músico Leo Turbo nos vocais melódicos, tem a sua distribuição conduzida pela CD-Baby, para as principais plataformas online do mercado. Escute em https://open.spotify.com/album/0Edxw1hSkXijGEvDLD59ry

- Chega em todas as plataformas digitais o novo single de Gustavo Macacko, Anti Vírus. Composta no período de pandemia, a canção é inspirada no texto propositivo "Quem vai pagar a conta", da economista Eduarda La Rocque. Nela Macacko apresenta uma fotografia musical do nosso sensível momento com a participação especial da filósofa, escritora e poeta, Viviane Mosé, sua conterrânea capixaba. O clipe que acompanha a música é colaborativo e pautado na prevenção, contando com imagens de artistas, personalidades, amigos e parceiros lavando as mãos e colocando a máscara. Nomes como Jean Wyllys, Gabriel O Pensador, Zé Geraldo e Rodrigo Lima (Dead Fish) também participam do vídeo. Ouça aqui "Anti Virus": https://sl.onerpm.com/AntiVirus; Assista ao clipe:
https://www.youtube.com/watch?v=6woJKGLpabw&feature=youtu.be

Omissão do Estado obriga setor da cultura a recorrer a empresas e doações

Marcelo Moreira




O governo federal ignora a crise devastadora que devasta o setor cultural, mas faz questão de se intrometer onde não é chamado, como no caso da escolha do filme brasileiro que concorrerá ao Oscar. 2021.

Mário Frias, o desconhecido e despreparado secretário da Cultura do Ministério do Turismo, entrou em contato com a diretoria da Associação Brasileira de Cinema, responsável pelas indicações, reivindicando que as escolhas estejam "alinhadas" com o pensamento do governo nefasto de Jair Bolsonaro.

Diante dessa imbecilidade, foi solenemente ignorado, sem falar que o secretário foi ridicularizado pela imprensa e por agentes culturais sérios.

Nada surpreendente vindo de um governo que tem a cultura como inimiga e que não faz nenhuma força para acelerar a ajuda emergencial para trabalhadores do setor e artistas, bem como equipamentos culturais.

A aprovação da Lei Aldyr Blanc, que prevê R$ 3 bilhões em ajuda ao setor, está encalacrada na burocracia e pode somente chegar aos bolsos de quem precisa no ano que vem, quando será tarde demais.

Para tentar minimizar a crise, artistas se cotizam e se juntam para criar financiamentos coletivos, doações e festivais colaborativos na internet, meros paliativos que estão longe de abraçar as necessidades de artistas e profissionais sem renda.

Entre as empresas, a Natura decidiu apoiar o segmento com um projeto louvável vinculado à
Natura Musical, plataforma de cultura da Natura.

Com foco em inclusão, diversidade e impacto cultural, social e econômico positivo, a empresa criou um programa que pretende disponibilizar R$ 8,5 milhões de reais para iniciativas de economia criativa, frutos da combinação de recursos próprios da marca com investimentos via leis de incentivo estaduais.

"A cultura tem um papel fundamental na construção de um mundo mais bonito, cada vez mais plural, inclusivo e sustentável. Em momentos de crise, a cultura é decisiva para enfrentar o caos, reconstruir o tecido social e ajudar a projetar o futuro", explica Fernanda Paiva, principal executivo da Global Cultural Branding, que participa do projeto.

Para a revisão e criação de categorias, formatos de projetos e critérios que guiarão o Edital Natura Musical 2020, a plataforma trabalhou em conjunto com um time de profissionais do mercado da economia criativa.

Segundo Paiva, as diretrizes consideram novas perspectivas sobre impacto e recuperação do ecossistema da música, critérios de inclusão, representatividade e acesso, além de relevância, inovação e novas linguagens e tecnologias - as principais diretrizes estão no Instagram - clique aqui para saber mais.

Já que as verbas federais da Lei Aldyr Blanc estão esbarrando em uma série de entraves e legislações estaduais e municipais, a Natura correu atrás de soluções locais e fez parcerias com os fundos de cultura estaduais de Minas Gerais, da Bahia e do Rio Grande do Sul.

Essas iniciativas possibilitarão a doação de verbas incentivadas para ações de formação, capacitação e impacto cultural nas comunidades que estão inseridas.

O investimento, gerido pelas Secretárias de Cultura dos estados, será direcionado a projetos e iniciativas de âmbito regional, que muitas vezes encontram dificuldades de receber os benefícios provenientes das leis de incentivo.

O Edital Natura Musical receberá inscrições de projetos em âmbito nacional e terá seleções regionais na Bahia, com a Lei Faz Cultura; em Minas Gerais, com Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais; no Pará, com a Lei Semear; e no Rio Grande do Sul, com a LIC. Ao todo, o Edital Natura Musical distribuirá R$ 8,5 milhões de reais, sendo R$ 1,5 milhão para a projetos de todo o Brasil; R$ 1 milhão para Minas Gerais; R$ 1 milhão para a Bahia; R$ 1 milhão para o Pará ; R$ 1 milhão para o Rio Grande do Sul. As doações aos fundos de cultura têm valor total de R$ 3 milhões, repartidos igualmente entre Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul.

"Acreditamos que quando temos a ambição de tornar o mundo mais bonito, é necessário ter em perspectiva que esse é um processo de médio e longo prazo. Então, ao olhar a trajetória do Natura Musical, sabemos que estamos no caminho correto em busca de uma mudança efetiva", diz Fernanda Paiva.

quarta-feira, agosto 19, 2020

Blink-182 lança clipe do novo single ‘Quarantine’

Do site Roque Reverso




O Blink-182 veio com novidade para os fãs nesta primeira quinzena de agosto. A banda norte-americana lançou o clipe da música “Quarantine”, entrando para a lista de artistas e grupos que aproveitaram o isolamento gerado pela pandemia do novo coronavírus para criar coisa nova.

O single, cuja capa acompanha este texto, foi lançado oficialmente no dia 7 de agosto e deve integrar um novo EP, que deverá chegar aos fãs ainda em 2020.

Na letra, a banda descarrega todas as frustrações geradas pela pandemia de covid-19, desde as coisas que foram impossibilitadas pela doença como os novos hábitos gerados pelo período de isolamento.

A lista de representantes do rock com músicas e clipes ligados ou influenciados pela pandemia é grande. Bono, do U2, foi um dos primeiros, com a música “Let Your Love Be Known”.

Depois dele, os Rolling Stones trouxeram um clipe para a música “Living In A Ghost Town”. A faixa veio acompanhada de um clipe que mostra cidades vazias do planeta.

Na sequência, foi a vez do Evanescence, com a música “Wasted on You”, que ganhou um clipe emocionante, retratando os músicos em suas respectivas casas, durante o isolamento social imposto pelo cenário de pandemia.

Ainda na lista, o Ministry lançou a música “Alert Level”, na qual a banda pediu para que os fãs respondesse sobre o atual nível de preocupação.

O Scorpions também lançou no dia 28 de abril o clipe da música “Sign of Hope”. A bela e inédita balada traz uma mensagem de conforto aos fãs em época de isolamento social motivado pela pandemia do novo coronavírus.

No caso do Metallica, a banda liberou uma versão acústica da música “Blackened”, clássico do heavy metal.

O Weezer, por sua vez, lançou no dia 6 de maio o clipe da música inédita “Hero” com um clipe no qual o grupo faz uma homenagem aos profissionais essenciais na pandemia.

Também o lendário Alice Cooper ressurgiu com o lançamento de uma música. “Don’t Give Up” também é mais uma mensagem de apoio e conforto a fãs.

Aqui no Brasil, a cantora Pitty também contribuiu com o lançamento do clipe da música “Submersa”, no qual ela concebeu e filmou todo material com objetos cotidianos que se relacionam com a letra da canção.

Com a exceção da expectativa deste EP citado para 2020, não há informação, por enquanto de um novo álbum do Blink-182. O disco mais recente da banda foi “Nine”, de 2019.

Notas roqueiras: Apple Sin, ATR, Trend Kill Ghosts...




- A Apple Sin confirmou que participará de uma obra em homenagem à banda norte-americana  Slayer. O tributo, intitulado "Brazil Painted Blood...The Brazilian Tribute To Slayer", será um luxuoso digipack duplo com trinta versões. O material tem previsão de lançamento para novembro/dezembro de 2020 e faz parte de uma série de sete tributos em homenagem a grandes artistas, como Motorhead, Black Sabbath, AC/DC, Deep Purple, Kiss e Iron Maiden.

- Alargar fronteiras estéticas, criativas e culturais guiam a concepção do universo sonoro de Mundi, quinto álbum da banda ATR, produzido com o apoio do programa Natura Musical. Esse trabalho propõe um itinerário que traz à tona parcerias musicais firmadas ao longo de uma década de trajetória, como Carolina Camacho (República Dominicana), Billy Pilgrim (EUA), Vox Sambou (Haiti/Canadá), Michu Mendez (Argentina) e os brasileiros Luedji Luna e Donatinho. Terceiro single do disco, In my Stereo, lançado na sexta-feira, 31 de julho, tem a participação da cantora e guitarrista argentina Michu Mendez, conhecida por seu trabalho com os projetos Petit Mort, duo Muñoz, Antivibe e Mandale Mecha. Ouça aqui.

- O Trend Kill Ghosts apresenta o clipe versão acústica de "Believe", faixa que faz parte do repertório álbum "Kill Your Ghosts" (2019). "Esta música foi feita em homenagem à minha filha, pois nos separamos quando ela era muito jovem, por motivos que não vêm ao caso. Eu quis deixar registrado, em uma composição, a mensagem de que ela pode me procurar quando quiser, pois estarei sempre de braços abertos", declarou o guitarrista Rogério Oliveira, que foi coproduziu o vídeo ao lado de Robson Platero. "Apesar de nossas referências de power metal, o estilo desta música vai para o lado do hard rock, com uma estrutura mesclando Van Halen e Edguy. Esta versão acústica também estará nas plataformas de streaming", acrescentou. Confira o clipe, gravado no London Studios, em Guarulhos (SP), em https://youtu.be/b2nKCisq9Mo

Reedição do Tin Machine inicia as homenagens a David Bowie

Marcelo Moreira

O próximo mês de janeiro vai marcar os cinco anos da morte de David Bowie e as homenagens e o oportunismo mercadológico já deram as caras. Neste agosto os lançamentos e relançamentos da obra do mestre do pop inglês estão chegando ao mercado sem grandes novidades, mas de forma inusitada.

O CD inédito traz uma apresentação ao vivo em Paris em 1999. "Something in the Air" é o registro de um show mais intimista e com um repertório pouco usual, semiacústico em grande parte.

Entre as canções pouco executadas estão "Repetition", "Always Crashing In The Same Car", "Word On A Wing", "Can’t Help Thinking About Me" e uma versão curiosa de "I Can't Read", a maior surpresa, visto que Bowie até então nunca tinha tocado nada do Tin Machine, banda de hard rock que formou em 1989.

E é justamente o Tin Machine que guarda a segunda surpresa deste início de homenagem ao cantor inglês. "Tin Machine II" ganhou reedição neste mês, mas sem nenhum atrativo, como faixas bônus ou libreto diferente.

Enquanto o primeiro álbum é mais pesado e mais direto, com clássicos como "Under the God" e o blues-rock pegajoso "Heaven's in Here", o segundo é mais sofisticado e experimental, com a sombria "You Belong to Rcok'n'Roll", a pop dançante "Baby Universal" e o blues sacana cantado pelo baterista Hunt Sales.


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Ainda permanece um mistério a escolha do segundo disco como o ponto de partida para as homenagens. O primeiro, mais pesado e mais assimilável, era a opção mais indicada para o caso de se resgatar o Tin Machine, um projeto legal que foi considerada a empreitada de Bowie que não deu (muito) certo.

Como fã do Tin Machine, nado contra a corrente e acredito que foi a melhor coisa que ele fez em toda a sua carreira de 50 anos. É rock and roll na veia e muito mais hard rock do que a maioria das bandas desta vertente naqueles anos 80.

O Tin Machine teve seus dois discos de estúdio remasterizados e remixados na Inglaterra e relançados em 2018. O terceiro álbum, o ao vivo “Oy Vey Baby”, de 1992, não entrou naquele pacote.

Guinada na carreira

O quarteto é surpreendente pelo peso e pela simplicidade. Tendo como modelo os Stooges, de Iggy Pop, pais do punk rock no início dos anos 70, o Tin Machine apostou em um rock acelerado e com guitarras na cara, além de uma bateria marcante e martelada em algumas músicas. Deu certo, mas principalmente por causa de Bowie, o grande mentor do projeto e do conceito.

“Tin Machine” foi gravado rapidamente e lançado em 1989 contendo várias músicas excelentes, como “Heaven’s in Here”, “Under the God”, “Amazing” e uma visceral versão para “Working Class Hero”, de John Lennon. As letras estavam mais raivosas e as melodias construídas por Gabrels eram marcantes.

O sucesso foi absoluto e rendeu uma bem-sucedida turnê norte-americana. Um breve intervalo para ajudar o amigo Iggy Pop na gravação e produção do album deste, “Lust for Life”, e logo grupo embarcou para mais uma turnê, desta vez pela Europa.
O quarteto resolveu dar uma pausa em 1990, enquanto Bowie cumpria compromissos na turnê solo “Sound + Vision”, do mesmo ano. Ao final desta, não parou: entrou logo em estúdio para gravar “Tin Machine II”.

O peso e as letras inspiradas ainda estavam lá, mas a mão de Bowie marcou grande presença no direcionamento mais pop do grupo, o que desagradou Reeves Gabrels, sem muito espaço para sua guitarra inventiva e barulhenta.

O álbum tem grandes momentos, como “You Belong To Rock’n Roll”, “If There is Something” (versão para uma canção do Roxy Music), “Baby Universal”, “Goodbye Mr. Ed” e o já citado ótimo blues “Stateside”, cantada pelo baterista Hunt Sales.

Ao contrário do primeiro, as vendas decepcionaram. Gabrels afirmou em 1995, em entrevista à revista Rolling Stone, que a banda acabou porque o direcionamento acentuadamente pop afugentou um público diferenciado conquistado em 1989 com a mistura de hard rock e blues do primeiro álbum.

Já Bowie afirmou algumas vezes que as músicas compostas ficaram aquém do que ele esperava em qualidade. O rompimento, amigável, ocorreu no começo de 1992.

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“Oy Vey Baby”, lançado no final daquele ano, também fracassou nas vendas. É um bom disco, mas não captou a essência da banda, que estava a todo vapor na turnê do primeiro disco.

Esse CD ao vivo traz alguns momentos pinçados durante a turnê europeia de “Tin Machine II”. O grupo estava bem, mas sem a energia demonstrada nos shows iniciais.

De qualquer forma, o Tin Machine foi uma das boa surpresas da carreira de David Bowie, marcada por viradas importantes e direcionamentos bastante criativos ao longo de quase quatro décadas.

Para quem gosta de rock mais pesado, o grupo é uma boa amostra do que o hard rock do início dos anos 90 poderia ter sido se não estivesse tão contaminado pelos excessos da "farofa" oitentista majoritariamente originada na Califórnia, com cabelos armados, laquê e muita maquiagem, além do esgotamento criativo.

terça-feira, agosto 18, 2020

Notas roqueiras: Sammliz, Rodrigo Suricato, Max Madrassi...

Sammliz (FOTO: DIVULGAÇÃO)
- Dando continuidade ao trajeto que resultará em um novo EP chamado "Leviatã Lux", Sammliz lança mais um single acompanhado de videoclipe. A inédita "Irmã" tem produção e mixagem de Mateus Estrela (mais conhecido como STRR) e chega aos serviços de streaming no dia 18 de agosto. Com videoclipe assinado por Bernie Walbenny e pela própria Sammliz, este é mais um trabalho audiovisual que tem a renomada videomaker paraense Adrianna Oliveira na equipe. Ouça "Irmã" nos serviços digitais através do link: https://tratore.ffm.to/irma; Assista ao videoclipe no Youtube: https://youtu.be/SwcNa6ssTRU

- No dia 21 de agosto, Rodrigo Suricato, vocalista do Barão Vermelho, lança seu quarto álbum, “Suricateando”, com sete faixas que ajudaram a moldar o artista enquanto jovem. As faixas do álbum são sucessos nacionais nas vozes de Fagner como “Deslizes” (Michael Sullivan/ P.Massadas), Leandro e Leonardo em “Talismã” (Michael Sullivan/P.Massadas), Raça negra em “Cigana” (Raça Negra), Roupa nova em “Volta pra mim” (Cleberson Horsth/ Ricardo Feghali), Almir Guineto em “Insensato destino” (Maurício Lins/ Chiquinho Virgula/Acyr Marques), Paralamas do Sucesso em “Um pequeno imprevisto” (Herbert Vianna/Theddy Correia) e “Faltando um pedaço” de Djavan.

- O cantor e compositor Max Madrassi acaba de lançar seu novo single, a música "Velhas Notícias". A parte instrumental foi gravada por Léo Fernandes, no Estúdio Vesúvio (SP), que também assina a produção geral. Já os vocais de Max foram gravados no Space Studio, em Caxias do Sul (RS). A canção também conta com a produção vocal de Felipe Dalpicolli. "Velhas Notíciais" é o segundo single de Max Madrassi em sua cerreira solo, o músico já havia lançado "Recomeço", no fim de 2019. Escute em https://youtu.be/YzBFQo0_G3g

Turnê do A-Ha que passaria pelo brasil em setembro é adiada para agosto de 2021


Do site Roque Reverso

A turnê mundial do A-ha que passaria pelo Brasil em setembro de 2020 foi adiada para setembro de 2021, segundo confirmação dos organizadores feita nesta terça-feira, 4 de agosto. O grupo norueguês traria ao País a turnê de celebração de aniversário de 35 anos do clássico álbum de estreia “Hunting High and Low”.

O motivo do adiamento é a pandemia do novo coronavírus que assolou o planeta em 2020.

As capitais que receberão os shows da turnê pelo Brasil permanecem as mesmas: Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. Os locais também serão os mesmos: Arena Fonte Nova, Expominas, Jeunesse Arena, Espaço das Américas e Teatro Positivo, pela ordem.

O show que seria realizado na capital baiana em 19 de setembro de 2020 vai ser feito agora no dia 14 de agosto de 2021. Na capital mineira, a apresentação, que seria feita no dia 16 de setembro de 2020, vai ser agora no dia 18 de agosto de 2021.



No Rio, o show, que seria realizado no dia 13 de setembro de 2020, será feito agora no dia 19 de agosto de 2021. Em São Paulo, a apresentação mudou do dia 11 de setembro de 2020 para 21 de agosto do ano seguinte. Por fim, em Curitiba, o show foi adiado do dia 8 de setembro de 2020 para 24 de agosto de 2021.

Considerado um dos mais importantes álbuns da história da música pop, “Hunting High And Low” apresentou ao mundo hits atemporais, como “Take On Me”, “The Sun Always Shines On TV”, “TrainOfThought” e “Hunting High And Low”.

Na turnê de comemoração, o álbum é tocado integralmente.

Segundo a produtora Move Concerts, setores, preço de ingressos e data de início de vendas serão informados em breve.

Notas roqueiras: Pit Passarell, Tarda, Segregatorum...


- Após o lançamento do single "O Mundo", o cantor e compositor Pit Passarell lança "Que Seja Eterno O Nosso Amor", que pertence ao seu primeiro álbum solo Praticamente Nada. O novo trabalho de Pit exala verdade e sentimento por meio de composições que remetem do rock' n roll Argentino de nomes como Charly Garcia, seu conterrâneo, passa pelo punk rock do The Clash, e viaja pelo rock brasileiro dos anos 1980, acrescentando peso e atitude. Ouça "Que Seja Eterno O Nosso Amor" aqui. Praticamente Nada chegará ao mercado digital e físico em 28 de agosto de 2020, via selo Wikimetal.

- Tarda é uma banda formada pelas artistas Julia Baumfeld, Paola Rodrigues, Randolpho Lamonier, Sara Não Tem Nome e Victor Galvão. O projeto integra as múltiplas atuações das artistas entre os campos das artes visuais, música e audiovisual, abordando deslocamentos emocionais e cognitivos que caracterizam as tensões de identidade nas relações humanas e fluxos caóticos de informação. As composições musicais abrangem gêneros como post-rock, shoegaze e dream-pop, transitando de forma expressiva desde melodias plácidas a uma catarse ruidosa. A banda está em fase de finalização de seu primeiro álbum, que será lançado em Outubro de 2020. A estrutura heterogênea das composições se desenvolve como um fluxo de discordâncias que refletem possibilidades de anonimato e interações complexas. "Buraco de afundar" nas plataformas de streaming e para download: https://fanlink.to/tardaburaco. Lyric Video: https://youtu.be/KOwpDJfDKyU

- Depois de uma série de lives promovida pela Wargods Press, a banda gaúcha de death/doom metal Segregatorum divulga agora a participação que farão na terceira edição do “Metal com Batata Stay Home Festival”, que será realizada na próxima semana, no dia 21/08, à partir das 21h. O grupo participará do festival ao lado das seguintes bandas: Invokaos, Treze Black, Royal Rage, Bright Storm, Symmetrya, Revengin, Damage Corporation, Sepulchral Voice, Khorium, NoFearz, Leprosy, Imago Mortis, RamboMesser (Alemanha) e Intoxicated (EUA). O festival será transmitido no canal do Metal com Batata no Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCSyznur7yhUilZP_Dwwjzlw.




Tempos desesperados: estamos sendo enganados novamente...


Marcelo Moreira


Uma sociedade controlada, vigiada, confinada e conduzida com mão forte, onde qualquer tipo de manifestação artística é rechaçada e reprimida. Nesta distopia, surge uma centelha de rebeldia, resistência e revolução partindo da arte e da música, usando como veículo de libertação uma banda de rock.

Foi assim que o guitarrista Pete Townshend pensou o futuro há 50 anos, quando começou a rascunhar o que deveria ser a segunda ópera-rock de The Who, depois do estrondoso sucesso de "Tommy", lançado um ano antes.

"Lifehouse" era ambicioso, rebuscado, quase erudito e acabou naufragando diante dos delírios de megalomania do guitarrista compositor.

O que deveria ser a obra maior do rock de seu tempo desmoronou, mas de seus escombros surgiu um LP simples que frequenta as listas de melhores álbuns de todos os tempos, "Who's Next", lançado em 1971.

Não são poucos que, mesmo sem conhecer os bastidores de "Lifehouse", sentem-se como naquela sociedade distópica que Townshend criou, por ,mais que sejam guardadas várias proporções.

A realidade de 50 anos depois é mais feia, mais crua e mais perigosa, tudo isso potencializado por um governo corrupto, destrutivo, incompetente, paranoico, vingativo, preconceituoso, autoritário e violento. Como foi possível cairmos nesta armadilha?

'Lifehouse' não virou disco, mas originou um livro de histórias em quadrinhos (capa acima) e um monumental especial de rádio na BBC, transformado depois em uma caixa de 6 CDs (FOTO: REPRODUÇÃO)

A pandemia de covid-19 relembrou a sociedade moderna de que há limites, e de que há limites para se esgarçar os limites. Forçou uma nova vida e forçará a reorganização de um estilo de vida baseado no lucro, na aquisição, na acumulação e na extrema competição. O aquecimento global e a devastação de florestas, sobretudo no Brasil, indicaram e indicam que o planeta não aguenta.

Nesta reorganização, está claro que não haverá lugar para todos. A precarização do emprego deu a dica a partir de 2005: muita gente ficará de fora da mesa e não conseguirá sequer migalhas das sobras do pouco que será dividido.

A ilusão do pleno emprego dos tempos do governo Luiz Inácio Lula da Silva se dissolveu rapidamente diante da conjuntura internacional desfavorável (crise de 2008) e da polícia econômica incompetente de sua sucessora, Dilma Rousseff.

O país começou a derreter e afundou de vez com o impeachment de Dilma e ascensão do golpista Michel Temer.

O desemprego explodiu ao mesmo tempo em que governos corruptos e comprometidos com um empresariado covarde depredou direitos civis e trabalhistas, assumindo de vez a política de precarização de direitos trabalhistas.

Em um movimento semelhante ao que vemos nos Estados Unidos, o número de desempregados agora são contados aos milhões, quase que totalmente desamparados disputado as migalhas de um auxílio emergencial ridículo - e ainda assim outros milhões ficaram excluídos dessa esmola governamental do lamentável governo Jair Bolsonaro.

Não poderia ser diferente: a área de entretenimento, eternamente considerada "supérflua", foi a primeira a ser abalroada pela crise e cortada da lista de "necessidades" da sociedade.

E, como sempre em caso de crises graves mundo afora, a área do entretenimento será a última a ensaiar qualquer tipo de reação ou receber atenção em todos os níveis, por mais que tenha ficado mais do que explícito que arte e cultura são essenciais e fundamentais na vida das pessoas, principalmente em tempos de confinamento.

Os otimistas creem que a vida sofrerá tamanha modificação após a pandemia que o entretenimento de cunho cultural, como shows, cinema e teatro, além de museus, será de ta forma valorizado que ganhará o status de essencial, como disse recentemente o cantor Thiago Bianchi, da banda Noturnall, em entrevista ao Combate Rock.

Os pessimistas deste setor não sonham com nada de positivo antes de julho de 2021, como preveem alguns especialistas. É naquele mês, avaliam, que somente será possível a retomada, de maneira lenta, do mercado de entretenimento, com o público voltando aos shows e estádios de futebol. Até lá viveremos de quê? Lives e reprises de jogos de todos os tipos ocorridos há milênios?

Roça'n'Roll, em Minas Gerais: será que corremos o risco de perceber que os shows e eventos culturais não fazem tanta falta assim? Músicos e especialistas contestam, com razão: arte e cultura são essenciais, ainda mais em tempos de crise mundial e pandemia (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Os realistas estão mais preocupados com as contas há três meses atrasadas. É gente como os músicos que tentam vender instrumentos musicais para encarar o próximos 30 dias, ou o garoto que perdeu o emprego, assim como a mulher, e que leiloa a camisa histórica do Palmeiras com assinaturas de vários jogadores.

São aqueles que rezam para que os bares e restaurantes preferidos não fechem, não só para não engrossar as estatísticas do desemprego, mas principalmente para que esses locais reabram e recontratem músicos.

São aqueles que se desdobram para pedir contribuições nas lives, cada vez mais numerosas e concorrentes a um bolo bem pequeno e que tentam amenizar as circunstâncias de penúria em que muitos mergulharam - é enervante ver o post da cantora Angela Ro Ro pedir contribuições de R$ 10 para sobreviver.
Nestes tempos desesperados, são os realistas que estão buscando soluções além das lives para que a cultura e às artes, sobretudo na música, consiga chegar ao menos até o final do ano em meio a projeções devastadoras de perdas - R$ 34 bilhões de prejuízo com a pandemia, envolvendo entretenimento, gastronomia e turismo, significando algo entre 2 milhões a 4 milhões de empregos a menos, de acordo com estimativas das associações de empresas dos setores.

Desde maio eventos online aos montes povoam as redes sociais com debates e simpósios que procuram identificar caminhos durante a crise para resgatar o entretenimento das profundezas. São eventos importantes e necessários, com informações preciosas e dicas interessantes.

As cabeças estão trabalhando e pensando, mas as soluções teimam em não aparecer. Estamos longe de poder recomendar atividades e eventos que comecem a render algum tipo de remuneração para a longa cadeia de produção no entretenimento. Se o artista não fatura, o que dirá então quem está na infraestrutura, como produtores e trabalhadores de palco, por exemplo?
Com a falta de ajuda do Estado para a área de cultura e entretenimento - evidenciando o desinteresse (às vezes deliberado) do poder público federal e estadual -, não há perspectivas no horizonte.

Micro e pequenas empresas, de todos os tipos e áreas, são solenemente ignoradas e rejeitadas nos supostos programas oficiais de concessão de crédito emergencial.

Mesmo com mais dinheiro para os bancos emprestarem, estes contrariam as determinações do governo desnorteado e recusam empréstimos pra quem precisa. A quem recorrer neste caos administrativo e econômico?

Estimativas mais conservadoras dão conta de que 25% dos bares e restaurantes já fecharam na cidade do Rio de Janeiro; em São Paulo, esse número deve chegar a 20% no final de junho.

Na capital paulista, de acordo com sindicatos de bares e restaurantes e dos trabalhadores do setor, somente 15% dos micro e pequenos empresários do setor conseguiu algum tipo de crédito durante a pandemia. Na área de entretenimento e produção de eventos, o percentual é inferior a 5%.

A crise crônica da economia brasileira descortinou o abismo, e a pandemia empurrou todo mundo para o fundo.

O poder público se recusa de forma sádica a não ajudar no resgate, condenando todo um setor econômico à penúria e quase à extinção - uma crise sanitária que veio a calhar para um governo autoritário em guerra contra o conhecimento e às liberdades civis.


Pete Townshend em um cubículo de seu estúdio pessoal na época da composição de 'Lifehouse' (FOTO: REPRODUÇÃO)
A distopia sanitária confinou por algum tempo a população e devastou setores econômicos - e, em breve, vai devastar uma parcela ainda maior dessa mesma população irresponsável e inconsequente, em vários países, que descumpre as regras de isolamento e distanciamento social (serão mais alguns milhares de mortes que não deverão ser lamentadas).

O mundo lúgubre, sombrio e destroçado imaginado por Pete Townshend, infelizmente, não será salvo pela música e pelo rock. Lamentavelmente, não haverá The Who, como em "Lifehouse", para nos liderar, por meio da música, na revolução social, política e de costumes em direção a uma vida menos ordinária, confusa, injusta e desigual.

A música que fecha "Who's Next" e que deveria encerrar a ópera-rock "Lifehouse", a maravilhosa "Won't Get Fooled Again", é um primor de sarcasmo e desilusão, mas pregava que não seríamos enganados novamente, por mais que haja a troca do "chefe", mas sempre pelo "mesmo chefe".

Aqui Townshend errou feio: está claro que continuaremos sendo enganados novamente, continuamente.