sexta-feira, julho 24, 2020

Em tempos de barbárie e genocídio, não há limites entre conivência e insensatez

Marcelo Moreira

Enquanto o mercado se mexe para garantir algum tipo de auxílio financeiro para profissionais do mundo das artes que estão sem renda alguma e passando necessidades - e enquanto todos nós procuramos soluções e ideias para revitalizar o setor -, o maior obstáculo, como era esperado, vem do Palácio do Planalto.

A sabotagem dos programas e atividades de combate à pandemia do coronavírus, criminosa por por parte do presidente Jair Bolsonaro e seus ministros asquerosos, atinge níveis inaceitáveis e afeta diretamente as perspectivas de normalização da vida das pessoas e da economia.

Não se trata apenas de negacionismo ou mera ignorância. É um conjunto de políticas genocidas e destrutivas que vão alongar a volta de qualquer normalidade.

Ou seja, as iniciativas malignas desse governo federal execrável vão esticar a pandemia e impedir que a maioria das atividades possa voltar a funcionar de alguma forma.

Primeiro setor a ser afetado e o último que vai se recuperar, a cultura/artes/entretenimento está ainda mais refém da falta de noção e das decisões lesivas e criminosas vindas de Bolsonaro e seus ministros.

Qualquer tribunal internacional não teria dificuldades em condenar Bolsonaro e seu ministro interino da Saúde por ignorar deliberadamente as instruções de estudos realizados por comitês do próprio governo e do Exército brasileiro recomendando o isolamento social - documento datado de abril.

Da mesma forma que seriam facilmente condenados pela insistência no uso de cloroquina, claramente ineficaz contra a covid-19. E o que dizer do fato de o Ministério da Saúde ter aplicado somente 35% das verbas destinadas ao combate da pandemia?

O pior, como se isso fosse possível, foi a informação de que o governo federal, por meio de alertas ao Ministério da Saúde, sabia que haveria problemas graves no Brasil inteiro no abastecimento de medicamentos necessários para o combate à pandemia.

Não só nada foi feito para resolver essa questão como há indícios de que o governo deliberadamente ignorou os alertas. Ou seja, milhares de mortes poderiam ser evitadas e os hospitais poderia ter ficado menos abarrotados.

Sem perspectivas no retorno dos espetáculos, resta apenas cumprir as determinações legais chanceladas por especialistas para tentar reduzir o tempo de propagação da doença e apoiar as medidas de controle. (FOTO: ROÇA'N'ROLL/DIVCULGAÇÃO)
Interiorização da doença, estagnação de casos e mortes em patamares altíssimos e UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) lotadas, além de falta de leitos nas emergências. Tudo previsto e esperado, diante da criminosa omissão do presidente e de seu governo inexistente.

Com as perspectivas do aumento de mortes e da falta de controle da doença, não há a menor condição de se fazer previsão minimamente crível sobre o fim do rigor no isolamento/distanciamento social. Julho de 2021 para a volta de shows, como preveem alguns especialistas? Pouco provável.

E não é que, diante de quadro pavoroso como o descrito acima, idiotas que se dizem artistas, seja por desespero, seja por desonestidade intelectual, começam a clamar pelo fim total de qualquer tipo de isolamento social?

"Precisamos trabalhar, o mundo não pode parar por causa de uma doença", vomitou um conhecido músico de banda de rock nacional nesta semana, que desde sempre manifestou apoio cauteloso ao incapaz e incompetente governo Bolsonaro.

Descrente da gravidade da pandemia e de seus efeitos, abraçou definitivamente o negacionismo e virou mercador da morte, como seu "mito", que é rechaçado até mesmo pelas emas do Palácio da Alvorada.

Como estamos registrando há tempos neste Combate Rock, temporariamente substituído pelo Superball Express, esse imbecil não está sozinho diante de tamanha barbaridade. Não scoão poucas as pessoas da área da música que o apoiam em seus jatos de vômito nas redes sociais bradando contra o distanciamento social e as medidas contra a covid-19.

Já ultrapassamos a fase da mediocrização da nossa sociedade em 2020. Assim como os Estados Unidos, "evoluímos" para o modo "imbecilização total", a julgar por ruas e praias cheias de lixos humanos que decidiram deliberadamente desrespeitar todas as leis e medidas necessárias de combate à pandemia.

Não é por outra que o execrável desembargador paulista, da cidade de Santos, se tornou a imagem emblemática do fracasso de nossa sociedade no combate à pandemia e também na construção de um povo educado e decente, consciente dos objetivos comuns e da necessária tomada de decisões em prol do coletivo.

A combinação de um governo lesivo e criminoso em relação à saúde pública, por questões ideológicas, e de um povo estúpido e ignorante fará com que a demoremos muito mais do que o previsto para controlar a doença, o que significa que demorará muito mais para que as atividades culturais voltem a ser permitidas com algum público ou com alguma perspectiva de geração de renda.

E é lamentável perceber que gente de cultura e das artes está contribuindo decisivamente para que essa tragédia se perpetue.

Sempre confiaNdo em informações de qualidade e nas palavras da cientistas e especialistas, entendemos que a volta de espetáculos deverá ser a última coisa a voltar a alguma normalidade.

Ficou claro que é possível que fiquemos sem shows, teatro, cinema, futebol e restaurantes. Que assim seja, pelo tempo que for necessário, para combater a prior pandemia em 100 anos, por mais que um povo burro e ignorante como o brasileiro, estimulado por um presidente estúpido e que age criminosamente, atuem contra.

Parece que ninguém entendeu o significado do cancelamento da Parada Gay de São Paulo e do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, para não falar do adiamento o Carnaval pra, quem sabe, em julho de 2021. Se tais medidas foram tomadas, é porque há algo de errado no mundo, né? Parece que tem algo de grave acontecendo...

Reivindicar neste momento a reabertura de bares e restaurantes e a volta de espetáculos, além de frequentar praias e ruas de comércio abarrotadas, é ser conivente com o genocídio.




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