Quase sem combustível, finalmente ele achou um posto ao final de um vale na estrada deserta. Enquanto abastecia, sentiu uma forte pancada na cara. Era o vento jogando poeira, com feixes de pó açoitando-lhe a face. Refugiou-se em um pequeno empório ao lado do posto. Na verdade, era um boteco. Parecia que havia sido limpo há pouco, mas nem sinal de seres humanos. Já esperava por isso.
Com uma garrafa de uísque vagabundo de milho na mão, deu um violento pontapé em uma jokebox caindo aos pedaços que estava perto do balcão. Ela começou a cuspir uma desprezível música country tristonha e chorosa. nem prestou a atenção, apenas queria som para preencher aquele vazio quase insuportável.
A questão agora começava a complicar, mas ele se recusava a se preocupar com isso. Não tinha ânimo nem paciência. O que fazer se ele era o único habitante do planeta? Logo a comida nos supermercados estragaria. Onde obter alimentos? O mesmo ocorreria com frutas e legumes nas plantações. O combustível? Logo estragaria nas bombas e nas refinarias, mas ainda daria tempo de ele percorrer longos trechos para se distrair.
O que ele queria na verdade era conversar com alguém. Fazia tempo que ele não socava ninguém e estava sentido a mão atrofiar. Nunca poderia imaginar que um dia ficaria sem ter a quem socar.
Ao final da primeira garrafa ele tentava ordenar o pensamento para traçar a linha de ação. A idéia era... passar o tempo? Começou a imaginar o que estava acontecendo pela primeira vez no dia. Por diversas vezes tinha descartado o sonho. Tudo aquilo era bem real. Estaria em uma dimensão paralela? Como tinha ido parar lá? Estaria sob efeito de remédios? Teria sido ele o único sobrevivente de uma guerra de nêutrons ou uma guerra biológica?
Tentava buscar respostas, mas já estava no final da segunda garrafa. Tudo o que conseguiu foi decidir que iria para a praia. Nada havia a fazer naquele fim de mundo, longe de tudo e de todos (todos?).
A última coisa que conseguiu lembrar foi do boteco pegando fogo rapidamente. Entrou no carro e seguiu para o norte em alta velocidade, mesmo com a dificuldade de manter o carro na pista. Dez minutos depois o posto inteiro explodiu. Sim, ele tinha incendiado o estabelecimento, só não se lembra como.
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Esfriara muito à noite. Tentou dormir no carro, mas não deu. Achou vários papéis jogados no porta-malas e fez uma fogueira. Deitado e encolhido, encostado na roda dianteira direita, tentava lembrar da última vez em que viu um ser humano. Não conseguiu. Contentou-se em enxugar outra garrafa de uísque barato.