Consegui correr para a floresta quando a avalanche de normandos destruiu o nosso fanco esquerdo. A minha preocupação era com a brigada que tentava proteger o rei Haroldo, mas ela havia desaparecido. Em meio a toda a gritaria, pude escutar Mordred gritar paa que eu caísse para a esquerda, por trás do pequeno cume que se elevava bem no meio do campo de batalha. Lutando contra dois adversários e ferido no ombro esquerdo, Mordred procurava deter a penetração dos lanceiros.
A mim restava apenas seguir a ordem dele para tentar reorganizar as nossas defesas, mas foi impossível. Nem me dei conta de que havia matado três normandos quando tentava alcançar o meio do campo, à procura do rei.
Agora eu fazia parte do bando de soldados em frangalhos que tentava se refugiar no bosque de Dartmoor. Muitos de nós foram perseguidos como cães e assassinados sem piedade pelos mercenários sanguinários de William.
Ao longe, podia ouvir o clamor da corneta de Gandalf insistindo no avanço contra a bem postada infantaria dos normandos. POuco tempo depois veio o esperado toque de retirada. Na verdade, fuga, pois não havia mais o que fazer, não havia mais o que esperar daquele bando desorganizados de soldados derrotados naquele morticínio em que se transformou a planície de Hastings.
Meu coração estava dlacerado pela culpa. Mal consegui contornar o cume e os adversários caíram como águias sobre mim. Fui empurrado para perto do pântano acossado por uma coluna de normandos. Um a um meus companheiros de brigada caíam mortos, ora atingidos pelas flechas certeiras dos arqueiros, ora com as gargantas cortadas pelas pesadas espadas.
Cristand salvou minha vida ao saltar por cima de uma vegetação e empurrar dois inimigos prestes a cravar suas espadas em minhas costas, enquanto eu tentava golpear dois cavaleiros com meu machado. Mal tive tempo de me virar para ajudá-lo e ele estava caído, com um sabre enfiado no estômago, mas segurando firmemente a cabeça de um dos agressores. Um leve sorriso permanecia em seu rosto sem vida. O outro que atentava contra mim jazia com a cabeça enterrada em uma poça de água barrenta do pântano. O corpulento merciano Cristand salvara minha vida e nem ao menos pude olhá-lo nos olhos para agradecer.
Com a mesma rapidez que me virei para socorrer Cristand desviei-me de uma bola de aço lançada contra mim por dos cavaleiros, mas fui atingido por uma flecha no braço direito. Orin e Surgrath conseguiram bons resultados ao derrubar cavaleiros na entrada do bosque, mas foram abatidos logo em seguida por flechas. Toda a nossa linha de defesa fora quebrada e colunas de cavaleiros e lanceiros estavam prestes a nos cercar. Era o fim. Só me restava agora ir para a floresta.
E ali eu estava agora, atrás de uma pedra, escutando ao longe a selvageria da batalha que chegava ao fim. Exausto, Mondragon caiu ao meu lado, ao deslizar ferido por uma ribanceira. Já não tinha uma parte do rosto, arrancada por uma machadada.
- Acabou, meu amigo, acabou. Haroldo está morto.
- Como assim? Onde ele tombou?
- Na charneca perto da trilha de Ingram. Os lanceiros que o protegiam foram esmagados por uma das colunas que rompeu nossa linha à direita. Não tiveram chance.
Deixe-o recostado a uma relva e consegui atingir uma das árvores do lado norte da floresta. Mesmo ferido no braço, consegui subir e tentar vislumbrar algo do campo de batalha, a esta altura muito longe, lá embaixo na planície. O movimento estava cessando. Na parte alta da charneca, vi o que parecia ser simplesmente um massacre, com uma série de execuções sumárias.
Por mais que eu resistisse, não pude conter algumas poucas lágrimas. Nosso reino estava destruído por usurpadores. Anos de luta para consolidar a unificaão dos reinos de Mércia, Wessex e Northumbria destruídos por um exército de mercenários.
Quando voltei para ajudar Mondragon, algum tempo depois, apenas encontrei seu corpo sem a cabeça. Minha espada e meu machado haviam sumido. Eu só tinha agora uma saída: alcançar a aldeia de Warthingam antes dos normandos.