Uma trilha sonora para suportar a pandemia de convid-19. Para uns pode soar como uma frase reducionista. Para outros, como um elogio diante de um dos mais pavorosos momentos enfrentados pelo mundo.
É claro que o álbum instrumental "Open Source" é bem mais do que isso, mas não deixa de ser reconfortante para o autor, o guitarrista brasileiro Kiko Loureiro.
"Ando escutando e lendo comentários de que minha música está ajudando muita gente a encarar distanciamento social e que seus dias têm ficando menos penosos. É bom ouvir que meu trabalho melhora o dia a dia das pessoas", diz o músico.
Dividido entre Los Angeles, na Califórnia, e a Finlândia, terra de sua mulher, Loureiro está divulgando o seu mais recente trabalho solo depois de muitos anos, e o primeiro desde que se tornou guitarrista do Megadeth, gigante do metal mundial.
Na conversa com o Combate Rock, mostrou-se empolgado com a nova fase e orgulhoso pelos resultados obtidos dentro do estúdio. "É um um álbum mais melódico, ainda que soe pesado em alguns momentos. Talvez eu tenha freado um pouco o virtuosismo, mas a diversidade musical está lá, é uma característica minha. Gosto dessa coisa world music, de incorporar elementos distintos."
Essa característica está lá, com certeza, mas "Open Source" é um trabalho mais coeso do que os anteriores. Tem uma pegada jazzística evidente, com uma valorização enorme da melodia. Em alguns momentos, há menos notas e mais feeling, com destaque para músicas como "Overflow" e "Imminent Threat".
A veia mais pesada, com uma guitarra base mais densa e forte, com afinação baixa, aparece em "Vital Signs" e "In Motion", evidenciando o que ele mesmo chama de "influência de Los Angeles".
"Reconheço que possa haver alguma coisa de Megadeth em algum momento, mas é certo também que tenho escutado muita música diferente, instrumental, em meus períodos na Califórnia, além de estar experimentando outros tipos de guitarra, como modelos de oito cordas produzidos pela marca Ibañez", explica o guitarrista.
Recuperando as influências e de world music, o disco traz "Sertão", uma delicada composição com presença de violões e uma guitarra mais solta, digamos assim.
"Imminent Threat"é uma das principais faixas do disco e traz como convidado especial Marty Friedman, ex-guitarrista do próprio Megadeth e morando há mais de 20 anos no Japão.
Loureiro derrama elogios ao colega: "Seu trabalho com a banda foi muito importante, mas também prestei muita atenção aos seus trabalhos solos. Muitas vezes tentaram nos colocar como concorrentes e rivais, o que foge do meu pensamento como músico. Sua participação acrescentou, e muito, dentro do conjunto do novo CD."
Já em "Liquid Times" o convidado é o guitarrista Mateus Asato, um ás do instrumento que vive há alguns anos nos Estados Unidos. Sua presença relembra os tempos de Kiko como um dos mestres do virtuosismo do rock mundial. Participam do trabalho ainda a cozinha do Angra, os ex-companheiros Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria), além de Maria Ilmoniemi, mulher de Kiko, nos teclados.
"Open Source" tem um conceito que norteia o disco, "código aberto", em tradução livre, expressão que é usada para definir softwares onde a fonte original é disponibilizada de forma gratuita, podendo ser redistribuído e modificado.
Loureiro resgata o tema da universalidade e da função da música como entretenimento, mas fundamentalmente como arte, algo que é indissociável do ser humano.
"As composições fluíram de forma orgânica e acho que imprimi muita coisa de minha filosofia de vida e muito de minha alma musical. Como comentamos no começo da conversa, tem um jeitão de jazz, com mais feeling, embora seja um disco de rock bem definido. É uma obra simples, mas revigorante diante dos tempos complicados em que estamos", conclui o guitarrista brasileiro.
Parte de "Open Source" foi realizado por meio de financiamento coletivo (crowdfunding), que envolveu venda de tablaturas por US$ 50 (cerca de R$ 250), além de outras ofertas, que incluem a liberação gratuita de material em pistas de gravação separadas para que outros músicos façam suas versões em cima do instrumental.
Bem diferente das obras instrumentais que temos escutado ultimamente, "Open Source" reforça o que percebemos desde que Loureiro se tornou músico do Megadeth: fazia tempo que ele já estava em outro patamar no rock mundial e que precisava apenas reafirmar isso em um trabalho solo, o que fez de forma admirável em seu mais recente trabalho.
Escute o álbum na íntegra:
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