terça-feira, janeiro 05, 2010

Confusão deliberada e perigosa



Rádio comunitária não é rádio pirata. Parece óbvio, mas tem gente que não sabe, ou finge não saber desta diferenciação.

E o pior, entre os que ignoram essa diferenciação, estão advogados a soldo de gente da pior espécie, que podem ser empresários de radiofusão, vereadores incomodados com o surgimento de novas lideranças de bairro e até mesmo gente invejosa.

Infelizmente a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) recebe inúmeras denúncias sobre emissoras clandestinas e parece fazer questão de ignorar a legalidade de algumas rádios comunitárias. Primeiro multa, autua e cala, para depois analisar a questão.

As emissoras comunitárias são legais e têm registro no governo federal, no Ministério das Comunicações. Elas têm deveres e direitos, e uma legislação específica. Prestam um serviço inestimável de comunicação e interatividade. Difundem cultura. Estimulam a busca por direitos.

Entretanto, uma rádio comunitária incomoda muito mais que uma rádio pirata. Não é clandestina, o que lhe permite acesso a um equipamento um pouco melhor e alcance maior.

Por ter de obedecer a uma legislação mais restrita, não pode andar fora da linha. Mas também oferece liberdades e oportunidades nunca antes vivenciadas por populações isoladas, pobres e com quase nenhum acesso à informação e à cultura.

E é nesse contexto que a rádio comunitária incomoda. Atrapalha os negócios de quem eventualmente ganhava a vida com rádio sem concorrência. Atrapalha a vida do vereador cara-de-pau que só pede votos em época de eleição.

Atrapalha até mesmo a vida do crime organizado, pois começa a levar informação – e indignação e inconformismo – a uma população desamparada e subjugada por traficantes e bandidos comuns.

Incomoda também o poder público, já que começa a estimular o espírito reivindicatório de quem nunca teve nada, de quem sempre se contentou com pouco e com migalhas.

Por essas e outras é que é conveniente para certa parcela da sociedade que as comunitárias sejam tratadas como piratas, mesmo que fiquem caladas por pouco tempo.

Informação é poder e uma emissora de rádios nas mãos de uma comunidade pode se tornar um “perigo” para quem sempre ganhou com a miséria alheia.

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