quarta-feira, agosto 26, 2020

Primeiros trabalhos do Samson, com Bruce Dickinson, chegam em CD ao Brasil

Marcelo Moreira



O Samson é uma banda daquelas que deveriam ter estourado e influenciado milhões de seguidores. Na onda do renascimento do heavy metal britânico, estava destinada a brilhar e a liderar aquele novo movimento, mas acabou sucumbindo ao maior radicalismo e peso do Iron Maiden. Como punição maior, perderia para os rivais até mesmo o seu segundo maior trunfo, o vocalista.

Liderada por um ótimo guitarrista, Paul Samson, mas não carismático, a banda estava mais próxima, em termos sonoros e estéticos, do Judas Priest. 

Samson resistiu a chamar um segundo guitarrista e assistiu atordoado o atropelamento do próprio Priest, do Maiden e do Def Leppard, todos com duas guitarras, gêmeas ou não.

É essa banda controversa que terá seus três primeiros CDs lançados no Brasil pela primeira vez pela Hellion Records, selo paulistano que já foi uma importante loja de CDs na Galeria do Rock.

"Survivors", "Head On" e "Shock Tactics" mostram um grupo vigoroso em seu hard'n'heavy temperado por solos furiosos e bons riffs baseados no blues e no classic rock, lembrando levemente alguns momentos do Whitesnake daquela época.

Paul Samson já chamava a atenção no circuito mais pesado de Londres, mas era muito mais cultuado pelos músicos do que propriamente pelo público em si, tanto que "Survivors", o primeiro álbum, de 1979, não chamou a atenção, embora já trouxesse, em algumas músicas , um novato de voz poderosa, Bruce Dickinson. A versão brasileira, remasterizada, terá nove faixas bônus.

Um vocalista bom de garganta e de palco era o que faltava para a banda, diziam amigos e jornalistas ao guitarrista que se sentia desconfortável como líder e dono. 

Dickinson caiu perfeitamente no cargo e a banda deu um salto de qualidade. As letras melhoraram um pouco e o som ficou mais pesado. 

"Head On", o segundo álbum, de 1980, apresenta algumas canções importantes e colocam o Samson entre as principais bandas novas da Inglaterra. 

Observando hoje, 40 anos depois, fica claro que faltava alguma coisa para o quarteto, que demorou a descobrir o que faltava, mesmo com um cantor ótimo. A demora foi fatal, e contribuiu para isso a relutância de Samson de entender o momento e abraçar o tal do heavy metal. Ficou para trás.

O segundo álbum era melhor do que o primeiro, mas oscilava na indecisão entre o hard rock setentista e os timbres mais pesados necessários que a concorrência impunha. 

Quando a NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal), a nova onda do metal britânico, chegou de forma avassaladora, o Samson ainda estava indeciso, mesmo com o bom "Head On" para divulgar. 

Indecisão que não ocorreu com o Saxon, que fazia sucesso no norte do país com seu primeiro álbum e com um som mais encorpado e pesado, com duas guitarras rugindo. Era uma banda de hard, assim como o Def Leppard, e as duas não hesitaram em mergulhar no heavy.

Quando entraram no estúdio para gravar "Shock Tactics", em 1981, havia tensão no ar e insatisfação artística. O Iron Maiden, desprezado pelos integrantes do grupo, e o Saxon já estavam voando, carregando consigo gente como Tygers of Pan Tang, Angel Witch e Raven. Precisariam ralar para a aproveitar a onda.

O terceiro álbum é o melhor e mais consistente dos três, mas já era tarde para mergulhar na nova onda. Samson ainda relutava em adicionar peso e mais guitarras e a falta de canções memoráveis, coisa que nunca faltou ao Judas Priest, ajudaram a pregar o rótulo de cult ao Samson. A edição brasileira terá três bônus e uma remasterização que vai ressaltar a boa guitarra de Paul, ainda agarrado ao som hard da década anterior.

O som quase punk do Iron Maiden desagradava a muitos músicos das "antigas" na cena e não encantava Bruce Dickinson, mas o vocalista não pestanejou quando, surpreendentemente, foi abordado por Steve Harris, o baixista do Iron Maiden, e o empresário Rod Smallwood ao final de um festival com o convite para assumir s vocais do Iron.

Semanas depois, o Samson, com a perda irreparável, quase implodiu e entrou em um período sabático. Prosseguiu por alguns anos, meio cambaleante, mas conseguindo se segurar com a aura cult, mas nunca explodiu, infelizmente. O guitarrista morreu em agosto de 2002, aos 49 anos, em consequência de um câncer.

Em um ano pavoroso para o mea em arcado musical, em todos os sentidos, é uma boa notícia a chegada em CD, pela primeira vez no Brasil, dos mais importantes trabalhos do Samson.


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