Marcelo Moreira
Primeiro foram os policiais e agentes de segurança que ameaçaram toda a sociedade assim que as urnas confirmaram a vitória do nefasto: "Agora as coisas vão mudar, tudo mundo vai ter de seguir a cartilha, senão o pau vai comer".
Depois vieram as ameaças e intimidações físicas e psicológicas nas escolas, nos clubes, nas filas de ônibus e nas mesas de bares e restaurantes.
Os agressores escolheram suas cores e trataram de empestear todos os ambientes.
Ninguém estava a salvo das garras dos beligerantes, que patrulhavam tudo e espalhavam sua moral duvidosa e seu comportamento delirante, insano e criminoso, tudo sob a aprovação de grande parte da população depois de apenas três meses de governo totalitário.
Esse é o resumo do que os alemães viveram entre janeiro e maio de 1933, os primeiros atos do governo nazista liderado por Adolf Hitler, que assume após nova crise política em que nenhum partido consegue formar a maioria parlamentar. Hitler resolveu isso implantando um ditadura com amplo apelo popular e destrói a democracia em menos de 40 dias.
O resuminho, com certa parcimônia, pode ser aplicado aos primeiros meses do governo Jair Bolsonaro, de inspiração fascista e tendências altamente autoritárias. E lendo o livro "As Primeiras Vítimas de Hitler - Em Busca de Justiça", de Timothy Wybeck, as semelhanças e "coincidências" assustam.
Mesmo frágil, a democracia brasileira mostra vitalidade e resistência, ainda que tenha de enfrentar a indiferença burra de grande parte da população brasileira.
Diante da resistência, o fascismo insidioso tenta outros caminhos. Bolsonaristas, em todos os níveis de governo, buscam intimidar adversários e todo opositor com os famigerados dossiês, coisa típica de ditaduras da pior espécie.
E parte do Ministério da Justiça aparelhado por tipinhos dos mais espúrios os ataques à democracia, seja com a produção de dossiês pra perseguir funcionários públicos "dissidentes", seja para usar a Polícia Federal para intimidar jornalistas que criticam o incompetente presidente.
Infringindo a lei, o ministro lamentável da Justiça negou a responsabilidade pelo dossiê, foi desmentido e simplesmente ignorou uma convocação do Congresso para se explicar, o que muitos juristas consideram crime.
O mesmo tempo, o ser deplorável, que se chama André Mendonça, coloca a Polícia Federal para intimidar jornalistas, Hélio Schvartsman, colunista da Folha de S. Paulo, por ter feito fortes críticas ao presidente nefasto e por escrever que poderia ser bom para o país e para o combate à pandemia a morte de Bolsonaro, então contaminado pela covid-19.
O tese é estapafúrdia e o texto ruim - coisa raríssima, pois o jornalista é culto, bom profissional e escreve muito bem. Para ele, a eventual morte de Bolsonaro seria um boa notícia, já que, como negacionista e sabotador dos esforços contra o vírus, só atrapalhava na crise sanitária.
A Polícia Federal, a mando de Mendonça, o intimou a depor em um inquérito constrangedor, ao qual ele provavelmente deve ignorar e não comparecer. E faz muito bem diante da escalada de ataques contr a imprensa.
Os dois fatos - o dossiê e o ataque ao jornalista - infelizmente estão sendo normalizados pela própria imprensa e pelos setores mais combativos e esclarecidos da sociedade. São dois fatos gravíssimos que, em países sérios, teriam derrubado facilmente o governo.
Escancaradamente fascista, neste momento, o governo Bolsonaro, inexistente em todos sentidos e sob qualquer tipo de ponto de vista, acirra o confronto na tentativa de controlar a narrativa política que lhe dê algum fôlego para a corrida eleitoral de 2022. Só a sua base fiel de eleitores estúpidos não será suficiente para a sua reeleição.
E é aterrador constatar que muitos setores importantes da sociedade chafurdam momentaneamente na indigência intelectual ao relativizarem os perigos e ameaças à democracia e á liberdade de expressão.
São muitos os artistas e intelectuais que menosprezam o episódio do dossiê contra antifascistas e a ridícula intimação do jornalista pela Polícia Federal.
Dependendo das consequências e desdobramentos dos dois fatos, é possível que tenhamos o acirramento dos ânimos a "subida das apostas" por parte do governo federal.
No caso de Schvartsman, é necessário que todas as instituições civis importantes do país se manifestem contra o arbítrio e a perseguição e se unam em torno da liberdade de expressão para colocar o governo podre de Bolsonaro e sua Polícia Federal em seus devidos lugares.
Normalizar mais esses atentados aos direitos fundamentais de nossa sociedade (ainda) livre é conceder preciosa munição aos fascistas que esperam por brechas para minar a democracia e atacar seus adversários.
Esse governo genocida e que depreda direitos humanos, civis e trabalhistas está sendo pouco acossado pela sociedade que pensa e que exige o respeito à Constituição e às leis. Está muito reativa e pouco ofensiva.
É necessário um clamor mais forte para forçar o governo a abandonar as tendências autoritárias e encerrar qualquer iniciativa de perseguição a adversários.
Dossiês e "listas de inimigos" são tudo o que as milícias extremistas de direita querem para "neutralizar" os supostos inimigos. Para esses lixos humanos, inimigos são todos os que criticam esse governo ridículo, ou seja, todos os seres que pensam em nossa sociedade.
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