terça-feira, agosto 11, 2020

'Paranoid', aos 50 anos, mostra a crueza e a violência do som pesado do Black Sabbath

Marcelo Moreira




Tinha tudo para dar muito errado, como a maioria das ideias meio estapafúrdias no rock. Fazer blues elétrico com volume na estratosfera, tocando mais alto do que Cream, Jimi Hendrix e Led Zeppelin? Quem ouviria tal coisa?

Um quarteto de Birmingham, na Inglaterra, achava que os bêbados de pubs ouviriam, pois eles mesmos tocavam tão alto que impediam as conversas paralelas nos balcões.

Como melhorar esse aspecto pitoresco? Fazendo letras com base em filmes e histórias de horror, que tanto atraíam espectadores nos cinemas naquele comecinho de década.

E eis então que um grupo fuleiro de Birmingham decidiu inventar o heavy metal com seu primeiro álbum, lançado em 13 de fevereiro de 1970, uma sexta-feira 13. cono manter o interesse para o segundo álbum?

"Black Sabbath", o álbum homônimo do nome da banda, era sujo, confrontador, obsceno e incômodo - e interessante, por tudo isso e muito mais.

Mais na base do improviso do que outra coisa, o quarteto de rock pesado investiu em coisas mais ultrajantes, como uma base sonora ainda mais incômoda e pesada - tão pesada que geraria protestos.

E assim surgia "Pananoid", o segundo álbum lançado no fim de 1970, aproveitando a onda de boa propaganda que o Black Sabbath obtinha. A banda inda não tinha ideia, mas aquele segundo álbum seria a catapulta definitiva para o estrelato e a fama.


O álbum cru, intenso e violento comemora os 50 anos de seu lançamento com uma super edição comemorativa, com um pacote com quatro CDs, cinco LPs e um blu-ray mostrando um minidocumentário sobre as gravações e as composições das músicas.

É claro que o pacote físico não será barato - nem poderia ser, diante de tamanha homenagem. Além do CD original remixado, haverá um um segundo disco com um tratamento sonoro ultramoderno, com remasterização especial.

Nos outros dois CDs, duas relíquias que foram muito disputadas por fãs e colecionadores nos anos 70: as gravações ao vivo registradas em Montreux, no famoso festival de jazz, e em Bruxelas, capital da Bélgica, naquele ano mágico de 1970.

Ok, não tem nada de novo ou inédito em relação ao que foi lançado há dez anos, quando da celebração dos 40 aos de lançamento. Entretanto, para quem não tem nada parecido com pacote de 2010, a nova iniciativa é um pote de ouro.

"Paranoid" estabeleceu os parâmetros do rock pesado, levando bem à frente o então radicalismo do segundo álbum do Led Zeppelin, de 1969, e os dois trabalhos mais recentes do Deep Purple, "In Rock" e "Fireball", então transformada em banda de rock pesado.

Era porrada atrás de porrada, começando com a própria faixa-título, a última a ser composta, em alguns minutos, para completar o tempo, e indo a pérolas como "War Pigs" e "Iron Man".

"War Pigs", um libelo antibelicista, com críticas veladas à Guerra do Vietnã, deveria ser o título do álbum, mas o quarteto afinou diante dos argumentos de que as vendas seriam baixas nos Estados Unidos, cujos fãs poderiam se sentir muito ofendidos aos serem diretamente expostos aos desmandos das políticas desastrosas do então presidente Richard Nixon.

Assim como o primeiro álbum, "Paranoid" tinha tudo para dar errado por conta do som muito pesado e agressivo. O público, reza a leda, não estava preparado para aquela avalanche sonora que confrontava o flower power e ajudava a enterrar o mundo hippie e sua filosofia considerada por muitos hipócrita, vazia e covarde.

Foi necessário que quatro quase delinquentes da periferia de de uma cidade industrial opressiva apostassem na destruição, no barulho e nos ruídos explosivos para explicitar as doenças de uma sociedade nem um pouco inclusiva, que ainda fazia questão de impor barreiras e preservar toda uma série de desigualdades.

"Paranoid" foi uma das respostas de uma juventude questionadora e que ensaiava protestos e rebeldia contra governos ineficientes e sociedades injustas dos dois lados do oceano Atlântico naquele começo de anos 70, que definitivamente iniciavam o atropelo dos escombros da era hippie. "Paranoid" é fundamental na história do rock.


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