Marcelo Moreira
Sua banda de rock é boa, tem ótimos músicos, mas as músicas soam fracas,
sem energia, sem originalidade. Precisa de uma cara própria, um som
característico, que identifique o artista na primeira oportunidade. Quem pode
ajudar?
Steve Harris (esq.) e Martin Birch (FOTO: DIVULGAÇÃO) |
Nos anos 70 e 80, a resposta certamente recairia em quatro nomes de
produtores musicais na Inglaterra que dariam cara e forma ao hard rock e ao
classic rock: Bob Ezrin, Robert "Mutt" Lange", Chris Tsangarides
e o decano deles, Martin Birch. Hoje, o legítimo herdeiro é Kevin Shirley, o
nome que trabalha com Iron Maiden, Dream Theater e Black Country Communion.
Birch é a grife mais estrelada do rock pesado que tem sempre a alcunha
de clássico por conta dos artistas com quem trabalhou. Ou melhor, era, porque
morreu na Inglaterra neste domingo (9), aos 71 anos de idade. A causa da morte
não foi informada.
Apaixonado por música e com um ouvido privilegiado, percebeu logo que
seu lugar não era no palco. Até empunhava com categoria alguns instrumentos,
mas foram os botões das mesas de som que o atraía.
A engenharia de som já era uma arte quando se aventurou a produzir
bandas, sempre prestando atenção no
fazia gente como George Martin (Beatles) e Felix Pappalardi (Cream e Mountain).
Inteligente e talentoso, adorava conversar e convencer - e foram essas
características que o ajudaram a suportar um músico exigente nos estúdios, o
guitarrista temperamental Ritchie Blackmore, do Deep Purple. As mesmas
qualidades renderam homenagens e elogios de outro chato do cenário inglês, o
também guitarrista Jeff Beck.
Roger Glover, baixista do Deep Purple, ele mesmo bom produtor, dizia que Birch era especialista em encontrar o som certo e o timbre certo. Muito do que o Deep Purple se tornou deve-se a Birch, que produziu todos os discos da banda entre 1970 e 1975.
O exigente Blackmore gostou tanto de seu trabalho que o contratou para produzir três álbuns do Rainbow. O impacto do Purple também influenciou a sua contratação por David Coverdale para produzir álbuns do Whitesnake, o que o levou, indiretamente a trabalhar com Judas Priest, Black Sabbath da fase com Dio nos vocais e, finalmente, Iron Maiden em mais de dez álbuns.
Birch era o produtor dos sonhos de um moleque tenista dinamarquês rico que orava em Los Angeles. Lars Ulrich, que estava trocando as raquetes pelas baquetas em 1981, se apaixonou pelos dois primeiros álbuns do Iron Maiden e colocou na cabeça que, um dia, Martin Birch produziria a sua banda, que se chamaria Metallica no futuro.
Birch não chegou a colaborar com o Metallica, mas fixou na mente do baterista o tipo de som que gostaria que soa banda tivesse em estúdio tendo os discos produzidos pelo mago das mesas de som.
Embora frequentemente comparado com os produtores citados no começo do texto, era o menos "autoral" deles. Nunca pretendeu imprimir sua marca nos discos que produziu, embora tenha feito isso em muitas de suas produções.
Seus ouvidos valiam ouro, tanto que o Iron Maiden é o que é em parte graças à pilotagem na produção, ao lado do chefe Steve Harris, o baixista genial. Não é por outro motivo que o sexteto de metal trabalha neste século com Kevin Shirley, um produtor com as mesmas características de Birch, embora não seja um seguidor direto.
"Shirley é um pesquisador e um homem dedicado ao som. Ouve demais e dialoga bem, tem a capacidade de entender, traduzir e encontrar as soluções nem sempre fáceis que os músicos pedem", disse recentemente Glenn Hughes (Black Country Communion, Dead Daisies, ex-Deep Purple e Black Sabbath) sobre Shirley em uma entrevista ao Blabbermouth.net.
Coincidência ou não, eram as principais qualidades de Martin Birch, que acrescentava muita paciência ao trabalho de "ourivesaria" que oferecia aos clientes.
Há um bom tempo afastado das mesas de som e aposentado, ainda tinha seu nome como referência em termos de hard rock e heavy metal tradicional graças ao que fez com as bandas que trabalhou. Trabalhou com quase todos os gigantes e se tornou verbete no jargão de produção musical - algo como uma jogada nova no futebol se tornar conhecida plo nome do autor.
Não tenha dúvida: pelo menos cinco dos melhores álbuns de rock que você já ouviu na vida foram produzidos por Martin Birch. Talvez só George Martin tenha um legado maior do que este.
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