domingo, agosto 02, 2020

Condenação de banda no Irã faz emergir dos esgotos o pior que há no rock

Marcelo Moreira



O orgulho de ser burro e ignorante está em alta no Brasil desde que o nefasto Jair Bolsonaro assumiu a presidência com o nítido objetivo de levar a sociedade à Idade Média, mesmo que isso coloque o país no nível arcaico de algumas nações islâmicas.

Os comentários de "roquistas" bolsonaristas a respeito da banda iraniana Arsames são emblemáticos. Os mesmos inquisidores que querem prisão ou "neutralização" de comunistas e esquerdistas no meio das artes clamam contra o absurdo da condenação dos integrantes do grupo.

As autoridades iranianas divulgaram na semana passada que os integrantes do Arsames, de black metal, foram condenados a 15 anos de prisão depois de uma semana presos. Depois de muito suor, os músicos foram libertados provisoriamente, mas já se espera que eles retornem à prisão em breve.

O crime deles, segundo a imprensa inglesa: tocar heavy metal e divulgar letras blasfemas e anti-islâmicas, com conteúdo satânico. Ironicamente, as mesas acusações contra outra banda iraniana de metal, o Confess, cujos integrantes também foram condenados, mas conseguiram escapar e encontrar asilo na Holanda.

Os mesmos estúpidos que atacam a liberdade de expressão e querem a supressão dos esquerdistas da vida pública vomitam contra o "medievalismo" da sociedade iraniana islâmica xiita. É risível quando vemos essa gente clamar pela liberdade de expressão.

É evidente que é um absurdo imenso essa perseguição ao rock no Irã e em pelo menos mais uma dúzia de países pelo mundo. 

Em 2017 as bandas brasileiras Krisiun e NervoChaos foram detidas após desembarcarem no aeroporto de Dacca, capital de Bangladesh, na Ásia. 

Os músicos ficaram presos horas em uma sala e, sem explicação, foram encaminhados a um hotel sem poder sair e se comunicar. 

Avisados, consulado e embaixada foram acionados e, depois de muita conversa, as bandas foram liberadas desde que saíssem o mais rápido possível do país - foram simplesmente expulsos.

Um funcionário da embaixada informou aos integrantes das duas bandas que estiveram prestes a serem presos por tempo indefinido pelo simples fato de tocarem rock e heavy metal (parabéns para o promotor da turnê que ignorava tal coisa e como as coisas funcionam no tal país...).

Ainda que haja aqueles puristas e tradicionalistas que defendem que cada país tem suas leis e sua cultura - pensamento arcaico e perigoso que legitima torturas, assassinatos e maus tratos diversos contra populações inteiras, por exemplo -, não dá para tolerar esse tipo de comportamento que fere uma série de leis e compromissos internacionais.

No caso do Irã é um pouco mais complicado por se tratar de um evento interno, mas é chocante que a arte seja colocada no banco dos réus simplesmente por ser arte. É possível ficar dias relembrando casos em que o rock foi criminalizado nos quase 70 anos do rock, a começar pelos Estados Unidos.

É inacreditável que seres inomináveis que defendem e apoiam Bolsonaro e ideologias de inspiração fascista bradem contra o "ataque ao rock e à liberdade de expressão" no Irã e vomitem contra a "esquerda" no Brasil, pedindo intervenção militar e a aplicação de uma espécie de AI-5 ressuscitado para perseguir adversários e castrar o direito geral de se expressar e de opinar.

Dois dos idiotas que empestearam fóruns diversos - um músico e outro um suposto jornalista - investiram recentemente contra a imprensa e o STF (Supremo Tribunal Federal) reivindicando o fechamento da corte e o fim da TV Globo. E não tiveram nenhuma vergonha em apoiar os músicos iranianos.

Burrice, desonestidade intelectual ou deformação de caráter? Para mim, é a junção das três coisas. São seres humanos execráveis, quase todos bolsonaristas, que defendem criminosos que criam e disseminam fake news, as notícias falsas. Gente que apoia a difusão de fake news e defende esse tipo de bandido é tão criminosa quanto os autores.

Sem pudor de comentar favoravelmente aos músicos iranianos mas defender a ditadura militar e o fascismo no Brasil, essa gente tosca se despe de vergonha e escancara o profundo poço em que estamos. 

Está mais do que claro que as condições de diálogo com esse tipo de gente desapareceram há muito. Polarização é um termo que não é mais adequado para caeracterizar o atual estado de putrefação social em que nos encontramos. 

Ao mesmo tempo, esvaem-se as possibilidade de resgatarmos algum tipo de civilidade para reconstruir uma sociedade sem ódio e com o predomínio do preconceito, da violência e das armas. 

O roqueiro que apoia a violência policial contra pobres, que se mostra racista e adorador de pastor evangélico da pior espécie - e que clama pela morte de bandidos e adversários políticos - é o mesmo que se sente valente paladino da liberdade de expressão ao defender uma banda de black metal qaue nunca ouviu falar de um país cuja localização ignora. 

Pagaremos caro por ter permitido essa gente sair dos esgotos e eleger um facínora.
 

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