sexta-feira, julho 31, 2020

As grandes músicas de 1965: 'My Generation', de The Who

Marcelo Moreira


Formação original do Who em 1965: da esq. para a dir., Roger Daltrey, Keith Moon, John Entwistle e Pete Townshend (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Formação original do Who em 1965: da esq. para a dir., Roger Daltrey, Keith Moon, John Entwistle e Pete Townshend (FOTO: DIVULGAÇÃO)
 

Uma banda punk em pleno ano de 1965. Bem que poderia ser, seja pelo comportamento, seja pela ferocidade de algumas músicas e de suas apresentações ao vivo.

The Who era a banda improvável na hora errada e, talvez, no mundo errado ainda dominado pelas músicas inofensivas dos Beatles mas na iminência de mergulhar na era hippie e do psicodelismo.

Mas aí quatro moleques de 20 anos resolvem bagunçar a festa e incomodar com sua música barulhenta e seu questionamento do mundo estabelecido dos adultos. "Vamos quebrar tudo", gritava insano baterista Keith Moon, o mais novo e mais louco da turma.

O primeiro single da banda, "I Can't Explain", com seu riff tosco, mas certeiro, e suas "pancadas" guitarreiras, foi o protótipo do grito/canção/modo de vida punk, faltando apenas o vocalista Roger Daltrey, um candidato a delinquente da periferia de Londres, caprichar mais nos berros.

E então a usina de riffs e composições chamada Pete Townshend, o guitarrista magrelo, alto e narigudo, veio com a "Satisfaction" da banda.

"My Generation", assim como a canção dos Rolling Stones e "You Really Got Me", dos Kinks, lançada no ano anterior, tinha melodias irresistíveis e riffs imediatamente reconhecíveis.

A letra, um primor de rebeldia punk adolescente, demarcava territórios e mostrava que aqueles antigos amantes de rhythm and blues norte-americanos eram os garotos mais perigosos do pedaço.

Ao contrário das primeiras impressões - e acusações -, o verso "Hope I Die Before Get Old" (espero morrer antes de ficar velho) não era um incentivo ao suicídio, mas uma declaração de guerra e de intenções contra o patrulhamento moral e comportamental que ainda prevalecia na Inglaterra que começava a saborear a suposta liberdade da "Swinging London" - a Londres efervescente, com suas meninas de minissaia, a proliferação de substâncias que "expandiam a mente e ampliavam horizontes" e deglutia toda e qualquer influência do mundo, como a cultura e a música indiana.

Lançada como single perto do fim do ano, "My Generation" chacoalhou o Natal londrino e depois esparramou a atitude  da pe unk do Who pelo restante da Europa, com a quebradeira de instrumentos coroando as explosivas apresentações do quarteto.

"My Generation" era a face mais jovial e energética do rock britânico e The Who, a partir de então, apontava para novos caminhos nos anos seguintes, seja abraçando brevemente a psicodelia, seja acelerando e caindo no rock mais pesado, ao lado de Cream, Jimi Hendrix Experience e Jeff Beck Group.



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