A farsa do ‘meio diploma’
A propaganda na televisão e nos jornais de grande circulação não deixa dúvida: a picaretagem é explícita. Universidades e neo-universidades de qualidade sofrível oferecem “diplomas profissionais” a partir do segundo ano de curso.
Mas como assim? Diplomas parciais? Meios diplomas? É assim que a imprensa está chamando os “cursos oferecidos” por várias instituições de ensino superior, parte delas com forte atuação no ABCD. A situação é estarrecedora.
Funciona mais ou menos assim: no curso de jornalismo, por exemplo, se o aluno quiser tentar uma vaga no mercado de trabalho a partir do segundo ano, recebe um “certificado” que o habilita a se tornar um “pesquisador jornalístico” e “assistente de comunicação empresarial”, funções que não existem.
No caso de odontologia, há faculdades que oferecem “certificação em instrumentação odontológica”, coisa que o mercado ignora o que seja. Na prática, o que essas faculdades vagabundas fazem é enganar o estudante, que é um consumidor.
Há situações em que o aluno é levado a acreditar que, mesmo se resolver parar de estudar após o concluir o primeiro ano, poderá ganhar um “diploma” que o habilitará a trabalhar, por exemplo, como “agente comunitário de saúde”, no caso de quem faz o curso de enfermagem. Essa função não é reconhecida pelo mercado.
Há uma “função” muito engraçada em direito: um certificado que habilita o trouxa que acredita nessa farsa a procurar emprego como “especialista em redação normativa e técnicas legislativas”.
O que está acontecendo é que a irresponsabilidade ultrapassa todos os limites da decência quando uma faculdade diz ao aluno que ele pode abandonar o curso no primeiro ou no segundo ano e terá diplomas reconhecidos para que desempenhem funções.
O mercado ri dessas situações. Profissionais que recebem solicitações de emprego de alunos portadores do meio diploma – ou diploma intermediário, como alguns preferem chamar esse estelionato – ficam sem entender o que significa o papel que teoricamente habilita as pessoas a “trabalhar”.
No entanto, a coisa mais absurda na situação é o posicionamento de quem deveria zelar pela qualidade dos cursos oferecidos no país.
Amparadas por resoluções conflitantes e confusas do Conselho Nacional de Educação – órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC) –, as universidades distribuem aos montes os certificados ao longo do curso.
De acordo com a Sesu (Secretaria de Ensino Superior), as universidades e centros universitários têm autonomia para criar cursos independente de autorização do MEC, exceto nas áreas de medicina, psicologia, direito e odontologia.
Diante da péssima repercussão sobre o escancaramento da prática do meio deploma, o MEC saiu da letargia e resolveu agir, após a imensa maioria das associações de classes profissionais repudiarem tal expediente.
O ministério, que não reconhecia nenhum destes “certificados”, já prepara medidas judiciais contra universidades particulares que prejudicaram o currículo pedagógico de seus alunos por juntar cursos de graduação com sequenciais e por antecipar a pós-graduação lato sensu para antes do fim da formação regular de quatro ou cinco anos, segundo o Jornal da Tarde.
Para a Secretaria de Ensino Superior (Sesu), órgão ligado ao MEC, essas instituições estão reduzindo o tempo de estudo dos universitários e lesando a formação superior.
E fica a pergunta: como ficam os estudantes lesados pela propaganda enganosa e que largaram a faculdade acreditando que conseguiram emprego com esses diplomas pela metade?
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